Cotações Futuras do Café: mercado volátil sob clima de incertezas e tamanho da safra


 

As adversidades climáticas enfrentadas na atual temporada da safra brasileira (estiagem, veranico e elevadas médias de temperaturas), associadas à massa polar que atingiu os cinturões cafeeiros, tornaram o ambiente de negócios (spot e futuro) bastante especulativo. Adicionalmente a esse ambiente volátil, houve pressão sobre o dólar, depreciando-o em âmbito global (Figura 1). Com a perda de valor da moeda base nas transações internacionais, e ainda sem sinalização clara de elevação da taxa de juros nos EUA, a fuga dos investidores para o mercado de commodities foi uma tendência a partir da segunda metade do mês, favorecendo a escalada das cotações.

 

Na Bolsa de Nova York, onde são negociados os contratos futuros de café arábica, houve movimentos díspares ao longo do mês. Enquanto na primeira quinzena as cotações vinham em baixa, a partir da última semana mês iniciou-se movimento de valorização do produto, coincidindo com a intensificação de perda global de valor do dólar (Tabela 1). Essa questão cambial foi ainda mais alavancada pela tradicional especulação com relação ao clima nos cinturões brasileiros. Assim que a massa polar ganhou intensidade, a busca por contratos de café se incrementou, elevando as cotações futuras na segunda metade do mês.

 

 

Em junho de 2021, a média dos preços recebidos pelos cafeicultores paulistas sediados no cinturão francano foi de R$855,38/sc2. Empregando-se o dólar médio de R$5,04/US$, esse montante representa US$169,71/sc. Efetuando-se as devidas conversões, tal valor representa US$¢128,30/lbp. Comparando-se essa cotação com a praticada na última semana do mês, ela ficou em segunda posição (US$¢158,78lbp). Descontando-    -se a estimativa de 20% dessa cotação decorrente dos custos de contratação do hedge, alcança-se uma cotação líquida de US$¢127,02/lbp, montante praticamente similar ao estabelecido no mercado sp­ot. Sem vantagem financeira significativa, a contratação do hedge não se mostra atrativa aos cafeicultores.

Movimento similar ao arábica em nova York foi observado para as médias semanais das cotações futuras do robusta em Londres. Ocorreram perdas nas duas primeiras semanas e recuperação mais para o final do mês com ganhos mais acentuados comparativamente à escalada do arábica.

Essa arrancada mais forte do robusta decorre das dificuldades encontradas pelo Vietnã em proceder com seus embarques devido ao custo apresentado pelos armadores, associado à escassez de contêineres. Tal situação também afeta o andamento das vendas externas brasileiras, mas, aparentemente, de menor intensidade que a vivenciada pelo concorrente asiático.

Acompanhando o já relatado para a média semanal das cotações do arábica, percebe-se que entre fundos e grandes investidores houve progressiva saída da posição comprada com lento retorno na quarta e quinta semanas, favorecendo as altas observadas (Tabela 2).

 

 

O raso incremento de apenas 58 mil sacas nos estoques certificados estadunidenses, entre abril e maio de 2021, conforme relatório da Green Coffee Association3, foi fator de maior interesse por posições futuras no mercado futuro, pois os operadores já se preparam para atender um fluxo de abastecimento mais intenso com a entrada do inverno no Hemisfério Norte.

As exportações brasileiras no primeiro semestre de 2021 alcançaram 20,87 milhões de sacas, quantidade 4,5% superior ao registrado em igual período do ano anterior4. Esse excelente desempenho dos embarques brasileiros contribui, em parte, para que as cotações se mantivessem mais comportadas. A sinalização de que haverá problemas com a produção da próxima safra (geada afetando gemas florais que formaram a próxima safra) poderá intensificar processos especulativos já em andamento por parte dos investidores do mercado futuro.


1O autor agradece pelo trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo agente de apoio à pesquisa científica e tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco.

 

2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2020. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6. Acesso em: jul. 2021.

 

3GREEN COFFEE ASSOCIATION. Warehouse coffee stocks. New York: GCA, jun. 2021. Disponível em: em: https://greencoffeeassociation.org/wp-content/uploads/2021/06/5-2021-Warehouse-Stocks.pdf. Acesso em: jul. 2021.

 

4CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL – CECAFÉ. Relatório Mensal Junho de 2021. São Paulo: CECAFÉ, 2021. Disponível em: https://www.cecafe.com.br/publicacoes/relatorio-de-exportacoes. Acesso em: jul. 2021.

 

 

 

 

 

Palavras-chave: mercado futuro, Bolsa de Valores, cotações do café.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

VEGRO, C. L. R. Cotações Futuras do Café: mercado volátil sob clima de incertezas e tamanho da safra. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 7, p. 1-4, 2021. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 28/07/2021

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor