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Alta no Custo de Produção Marca a Safra 2020/21 da Seringueira
Dados
estatísticos e análises econômicas realizadas especificamente para as
atividades agrícolas contribuem para a compreensão da dinâmica da produção e
para a tomada de decisão acerca de sua gestão. Os de custos de produção na
administração de empresas agrícolas assumem importância crescente, quer na
análise da eficiência da produção de determinada atividade, quer na análise de
processos específicos de produção, os quais indicam o sucesso de determinada
empresa no esforço de produzir. A borracha
natural ocupou em 20201 a 19ª posição no ranking do valor da
produção do Estado de São Paulo, com o valor de R$639,0 milhões, 9,34% superior
ao ano anterior. É também a quinta atividade em valor da produção nos
Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs)2 das regiões de São José
de Rio Preto e Votuporanga3. Quanto à produção no Estado de São Paulo, a atividade vem perdendo área
ao longo das últimas safras (Tabela 1). Segundo o levantamento de estimativas e
previsão de safras agrícolas do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e da Coordenadoria
de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), realizado em abril desse ano4,
que cobre a época de pico de safra, no caso da seringueira, houve diminuição de
2,36% da área total plantada (132,3 mil hectares), quando comparada com o final
da safra 2019/20. A entrada de plantas em sangria propiciou aumento de 0,92% da
área em produção, enquanto a área em formação caiu 13,1%, o que evidencia queda
de novos plantios no estado. A expansão da área em produção propiciou ligeiro
aumento da produção em 0,57%, e a produtividade média apresentou queda de 0,35%,
acompanhando a tendência observada nas safras anteriores. Problemas
climáticos como falta de chuvas e conjunturais econômicos tem impactado na
diminuição da área plantada (a área nova sofreu recuo de 13,1%) e na
produtividade da cultura. O levantamento do mês de junho deverá trazer dados
consolidados da safra 2020/2021 da produção de borracha natural no estado. No
estado a produção está distribuída nas regiões dos EDRs de São José do Rio
Preto (28,7%), Votuporanga (12,6%), General Salgado (11,8%) e Barretos (11,7%).
Juntas essas regionais concentram 64,8% da produção no Estado de São Paulo5. As
diferenças que ocorrem entre oferta e demanda de borracha natural posicionam o
Brasil em situação vulnerável às importações e, consequentemente, às variações
de preço do mercado internacional, além das incertezas que cercam a oferta da
matéria-prima. Uma das formas de mitigar os riscos inerentes à produção é a
gestão profissional do seringal e dos custos de produção, numa tentativa de
racionalização do uso dos fatores de produção como forma de buscar
rentabilidade positiva. Por isso, este artigo apresenta estimativas de custo de
produção de seringueira em duas fases diferentes da cultura na região noroeste
do Estado de São Paulo, que compreende os municípios de maior produção, no mês
de setembro de 2020, considerada a fase de início da safra, quando os seringais
refolhados da época de inverno reiniciam seu ciclo produtivo, e no mês de
fevereiro, considerado a época de início do pico de produção. Será apresentada
também uma análise de resultados econômicos em função desses custos de produção,
de preços recebidos pelos produtores e de diferentes níveis de produtividade, a
fim de entender a evolução dos preços dos insumos e seus impactos na
rentabilidade. A metodologia adotada é a de custo operacional do Instituto de
Economia Agrícola6. O custo de
produção estimado com os preços referentes ao mês de setembro de 2020 (Tabela
2) apresenta custo operacional efetivo (COE) de R$10.356,70/ha ou R$3,70/kg de
coágulo produzido, enquanto o custo operacional total (COT) atingiu
R$12.089,55/ha e R$4,32/kg de coágulo. O item de maior participação percentual no
custo de produção (COT) é o da mão de obra, que soma 41,2% (comum, sangria,
tratorista e fiscal), seguido dos custos dos encargos sociais (16,5%). Na
sequência vêm defensivos (9.8%), operação de máquinas (5,8%), gastos com adubos
(5,4%) e transporte de pessoal (5,2%). Nota-se que, da parcela de custos fixos,
a depreciação do seringal assume 7,1% das despesas, sendo que esse valor se
justifica pelo alto custo de implantação da cultura, base de cálculo desse
item. Conhecendo
os itens que mais oneram os custos, pode o produtor, a partir dessas
informações, exercer maior controle em seu uso e determinar prioridades em sua
gestão. No caso da seringueira, ao se analisar os custos variáveis (COE), observa-se
que os custos associados ao uso da mão de obra representam 67,2% do COE, e que,
ao se somar o custo com transporte de pessoal, esse item atinge 73,2% do COE,
incorrendo nesse fator de produção o maior impacto nos custos de produção de
borracha. Deve-se observar que somente o custo da sangria onera a produção em
26,0% e o sangrador é o trabalhador que passa maior tempo em contato com a
planta, estando sua atividade estritamente ligada ao manejo da sangria,
responsável pela obtenção do produto final. O custo de
produção da cultura da seringueira calculado com os preços dos fatores de
produção referentes ao mês de fevereiro de 2021 (Tabela 2) apresentou valor de
COE de R$10.555,64/ha ou R$3,77/kg de coágulo, enquanto o COT atingiu
R$12.457,18/ha e R$4,55/kg de coágulo produzido. A
participação percentual dos componentes do custo de produção mostra maiores valores aos gastos com mão de obra e aos
associados à sua utilização, compondo 66,3% do COE e 72,4% adicionando-se os gastos
com transporte de pessoal. No caso do COT, essas participações atingem 56,2% e
61,3% respectivamente, corroborando a importância da gestão do custo com mão de
obra na atividade. Analisando-se
a tabela 2, observa-se o aumento da participação percentual dos itens operações
de máquinas, adubos e depreciação do seringal. Nesses casos, observou- -se forte impacto de reajustes ocorridos nos
preços dos insumos utilizados na produção do coágulo. A alta do dólar
norte-americano, em relação ao real brasileiro, bem como o aumento nos custos
internacionais de matérias-primas e transporte está entre as causas da elevação
do preço dos insumos agrícolas no Brasil7. No caso
dos fertilizantes, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (CEPEA)8, ocorreu aumento de preço do insumo em
algumas praças de São Paulo na ordem de 29,8% no último ano. A alta no preço
desse produto esteve atrelada, especialmente, aos elevados patamares do dólar e
do petróleo, e às demandas nacional e internacional bastante aquecidas. Outro item
que impactou o custo de produção da seringueira no período foram os gastos com
operações de máquinas causados pelos aumentos do diesel e seus derivados,
componentes dos custos horários de máquinas, tendo seus preços majorados em
relação à alta do dólar por seguirem a política de preços petroleira. Além
disso, houve impactos nos custos fixos da propriedade com elevação nos valores
da depreciação do seringal, pelo aumento no custo de implantação da cultura que
utiliza mais intensamente operações mecanizadas. Em relação à depreciação das
máquinas, os reajustes ocorridos no preço do aço, que chegaram em 2021 a
aumentos de preço na ordem de 46,0%9, têm impactado os preços das
máquinas e equipamentos novos, que são a base de dados utilizada em seus
cálculos. Os preços
médios mensais recebidos pelos agricultores levantados pelo IEA referem-se aos
valores obtidos na transação de venda de produtos para o primeiro comprador do
sistema de comercialização. Esses preços são importantes para avaliar, no caso
da gestão de custos, qual o nível de remuneração aos fatores de produção. A figura 1
apresenta os valores dos preços médios mensais recebidos pelos produtores de
coágulo. Observa-se que iniciaram a safra em patamares baixos, ainda em
consequência da pandemia da covid-19 em 2020, quando os preços sofreram fortes
quedas10. Esses
preços sofrem influência direta dos preços de importação da borracha que foram
impactados principalmente nos últimos meses pela alta do dólar, e têm
comportamento de elevação entre os meses de setembro a maio desse ano. Na análise
de rentabilidade, foram utilizados dois níveis de preços: o preço mínimo fixado
pelo governo federal11, de R$2,40/kg de coágulo, e o preço médio
recebido pelos produtores de borracha do Estado de São Paulo, do IEA, para
análise dos retornos econômicos em relação ao custo de produção obtido para
três níveis de produtividade de 2.200 kg/ha, 2.800 kg/ha e 3.200 kg/ha de
coágulo. Para os
custos de produção em setembro de 2020, utilizou-se no cálculo da rentabilidade
o preço mínimo de R$2,40/kg e o de R$2,36, que foi o preço médio recebido pelo
produtor paulista nesse mês (Tabela 3). Na análise
de rentabilidade para os custos de setembro de 2020, os resultados apresentam
margem bruta negativa para os níveis de produtividade de 2.200, 2.800 e
3.200,00 kg de coágulo por hectare, tanto para o preço mínimo (R$2,40) como
para o preço recebido do IEA em setembro de 2020 (R$2,36). Em nenhum dos casos,
o ponto de equilíbrio, que representa o nível de produção em que a receita é
igual ao custo, também não apresenta quantidade suficiente para remunerar os
custos, tanto no COE como no COT, o que resultou em prejuízo e, portanto, não
remunerando os custos de produção aqui estimados. Nota-se que o preço médio
recebido pelo produtor paulista em setembro de 2020 foi menor que o preço
mínimo do produto. Ao se
analisar os indicadores de rentabilidade em relação aos custos de produção do
mês de fevereiro de 2021, quando os preços recebidos pelo produtor atingiram o
valor de R$4,05/kg de coágulo, observa-se que o preço mínimo não apresentou
resultado positivo em nenhum indicador e em nenhum nível de produtividade. Os indicadores de rentabilidade, quando calculados com o preço IEA de
R$4,05/kg de coágulo, apresentaram resultados negativos para o nível de
produtividade de 2.200 kg/ha de coágulo (tabela 4). Para a produtividade de
2.800 kg/ha, esse preço cobriu o COE, apresentando margem bruta positiva de
7,4% e ponto de equilíbrio de 2.606 kg/ha (que é a quantidade produzida que
cobre o custo de produção), e não remunerando o COT. Com a
produtividade de 3.200 kg/ha, o preço do coágulo de R$4,05 é suficiente para
remunerar o COE e o COT, apresentando todos os indicadores positivos. Nota-se
que o lucro operacional é de R$502,82/ha, apontando índice de lucratividade de
3,9%. Há de ressaltar que, além dos custos aqui calculados, deve-se levar em
conta que existem outros gastos envolvidos na produção que dependem da renda
líquida para serem remunerados: o capital e a terra, o pró-labore do empresário
e ainda outras despesas da propriedade. Assim, nos casos nos quais os indicadores
se mostram negativos, há de se avaliar a sustentabilidade da atividade no médio
prazo. Com os
resultados obtidos, pode-se chegar a algumas questões importantes para a
atividade, dado o cenário aqui demonstrado. ·
Atentar-se
à questão da gestão de custos de produção que envolvem a compra de insumos
(compras conjuntas, melhores negociações nos preços), utilização de máquinas e
equipamentos adequados (com interação correta entre si, bem regulados etc.), e
as boas práticas de manejo. ·
Procurar
obter racionalidade na produção por meio da melhoria da produtividade e os
preços recebidos pelo coágulo por meio de melhores negociações de contratos
entre outras medidas coletivas de organização do produtor. ·
Por
fim, atentar-se que, nesse cenário de custo de produção e os preços recebidos
pelo produtor crescentes (apontados na figura 1), pode haver rentabilidade
positiva para a atividade nos próximos meses de final da safra, mas não se pode
afirmar que sejam suficientes para recuperar as perdas acumuladas nos últimos
anos. 1SILVA,
J. R da. Estimativa do Valor da
Produção Agropecuária do Estado de São Paulo para 2020. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 4, p. 1-7, abr. 2021.
Disponível em: http://www. 2Escritório de
Desenvolvimento Rural é a organização geográfica (40 regiões) de interesse da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a que
pertence a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS). 3SILVA, J. R da et al. Valor da Produção Agropecuária nas
Regiões do Estado de São Paulo em 2020. Análises e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 5, p. 1-7, maio 2021. Disponível em: http://www. 4CAMARGO, F. P. de et al. Previsões e Estimativas de Safra do
Estado de São Paulo, Ano Agrícola 2020/21, Abril de 2021. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 6, p. 1-13, jun. 2021.
Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-22-2021.pdf.
Acesso em: maio 2021. 5Op. cit. nota 4. 6O detalhamento da
metodologia, bem como a coleta dos dados com os
produtores é encontrado em: OLIVEIRA, M. D. M. et al. Custo de Implantação, Produção e
Rentabilidade do Cultivo da Seringueira no Estado de São Paulo, 2016. Informações Econômicas, São Paulo, v.
47, n. 1, p. 1-7, jan./mar. 2017. 7GOTTEMS, L. Por que
subiram os preços de insumos no Brasil? Agrolink,
[S. l.], 16 jun. 2021. Disponível em:
https://www.agrolink.com.br/noticias/porque-subiram-os-precos-de-insumos-no-brasil-_451631.html#:~:te 8HF BRASIL/CEPEA: valorização de fertilizante eleva custo das hortaliças
em 2021. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Piracicaba, 14 jun.
2021. Disponível em: https://cepea.esalq.usp. 9PREÇO do aço no
Brasil acumula alta de 130% em 12 meses. Terra
Notícias, [S. l.], 7 jun. 2021.
Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/preco-do-aco-no-brasil-acumula-alta-de-130-em-12-meses,e6ae69 10Os impactos causados na
produção de borracha pela da pandemia do Covid-19 podem ser vistos em:
OLIVEIRA, M. D. M.; GONÇALVES, E. C. P. Impactos da SarS-CoV-2 na produção de
borracha natural do Estado de São Paulo. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 15, n. 8, p. 1-9, ago. 2020. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-67-2020.pdf. Acesso em: jun. 2021. 11Preço
mínimo básico para o coágulo virgem a granel 53%, fixado pela Portaria MAPA n.º
190, de 09/06/2020, em R$ 2,40 (dois reais e quarenta centavos) por quilo,
sendo base para cálculo dos preços de referência. Palavras-chave: custo de produção, seringueira, borracha
natural, rentabilidade. COMO
CITAR ESTE ARTIGO OLIVEIRA,
M. D. M.; GONÇALVES, E. C. P. Alta no custo de produção marca a safra 2020/21
da seringueira. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16,
n. 7, p. 1-8, 2021. Disponível em: colocar o link do artigo.
Acesso em: dd mmm. aaaa.
iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-13-2021.pdf. Acesso em: maio 2021
iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-18-2021.pdf. Acesso em: maio 2021.
xt=A%20alta%20do%20d%C3%B3lar%20norte,dos%20insumos%20agr%C3%ADcolas%20no%20Brasil.&text=%E2%80%9COs%20pre%C3%A7os%20de%20mat%C3%A9rias%2Dprimas,resinas)%2C%20foram%20bastante%20impactados.
Acesso em: jun. 2021.
br/br/releases/hf-brasil-cepea-valorizacao-de-fertilizante-eleva-custo-das-hortalicas-em-2021.aspx.
Acesso em: jun. 2021.
71cae6a8f4a3d507ae162b6d48j88odx5a.html. Acesso em: jun. 2021.
Data de Publicação: 08/07/2021
Autor(es):
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Elaine Cristine Piffer Gonçalves (elaine.piffer@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor