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Escalada das Cotações Futuras Não se Confirma em Janeiro de 2021
A falta de planejamento governamental (pior, em que
ninguém é responsável por nada) e de compromisso com a vida e com a economia
produziu clima de incerteza quanto à perda de ritmo da retomada que vinha se
acelerando no último trimestre do ano passado. O Estado Brasileiro (e também suas
unidades federativas) foi arrebentado pela necropolítica política e pela
indiferença para com quem mais sofre. A escalada exponencial das infecções e de
mortos, em janeiro de 2021, fez desse mês o pior momento da trajetória da
pandemia no Brasil, sacramentando o diagnóstico já sedimentado, em toda parte
do mundo, de país pária global. Lamentável que as elites nacionais
(industriais, financeiras e políticas) ainda sustentem esse quadro de
barafunda. O
início da vacinação poderia até ser sinal de esperança para a retomada da vida
sem o temor de se contaminar e morrer; entretanto, a pífia quantidade de doses
disponibilizadas serviu unicamente para o marketing
dos pré-candidatos ao governo da república. A velocidade de vacinação também
ficou bem aquém da expertise brasileira no assunto. Por que pressa se não há
doses em volume adequado? Enfim, trata-se de um contexto dos mais perversos e
danosos na sociedade brasileira de que se tem notícia desde o surto de gripe
espanhola ocorrida há 100 anos. Talvez
o melhor indicador para o quadro de astenia democrática seja a oscilação do dólar. Na primeira semana do mês, a cotação média foi de
R$5,30/US$, saltando para R$5,44/US$, ou seja, 2,64% de desvalorização do real
no mês, mantendo a justíssima colocação de moeda mais desvalorizada internacionalmente (Figura 1). O
mercado de café reverbera esses condicionantes econômico-sanitário-sociais.
Ainda que a demanda por café exiba ineslaticidade típica do produto, o fim do
auxílio emergencial e o grande fluxo de exportações observado no último
trimestre de 2020 represaram possibilidades de alavancagem das cotações
internacionais ao longo do mês. O primeiro trimestre do ano é considerado a
entressafra do café por exibir menor volume de exportações do Brasil e
encerramento da colheita na Colômbia e centros americanos, fatores que
pressionam as cotações especialmente em ciclo de baixa das lavouras
brasileiras. Divulgada em janeiro, a previsão de safra da CONAB, anotando queda
de até 30% na colheita, não foi suficiente para disparar rally nas cotações2. Na
Bolsa de Nova York, a média das cotações semanais do café arábica exibiu
trajetória sem tendência definida, subindo nas três primeiras semanas, mas
recuando bastante na média da quarta semana. A média das cotações futuras para
julho de 2021 na primeira semana do mês atingiu US$¢126,55/lbp, evoluindo para
US$¢130,19/lbp na média da terceira semana do mês (alta de 2,88%), mas recuando
para US$¢128,06/lbp na média das cotações da quarta semana para a mesma posição
futura, ou seja, majoração de apenas 1,19% no mês (Figura 2). Em janeiro de 2021, a média dos preços spot recebidos pelos cafeicultores do
principal cinturão de lavoura cafeeira do Estado de São Paulo (o EDR de Franca),
sistematizados pelo Instituto de Economia Agrícola, alcançou R$638,50/sc. tipo
6 bebida dura3 ou US$119,12/sc. pelo dólar médio do mês
(R$5,36/US$). Transformando a média das cotações futuras da quarta semana de janeiro
na posição de julho na Bolsa de Nova York (US$124,08/lbp) para saca, obtêm-se
US$164,12/sc. Descontando-se os custos de contratação de hedge acrescido do deságio implícito frente ao contrato C (em média
de 20%), ela alcança US$131,29/sc., ou seja, US$12,17/sc. de vantagem
financeira estimada frente ao preço spot,
montante suficiente para atrair cafeicultores para proteção dos preços para seu
produto. As
cotações futuras para o café robusta contabilizadas na Bolsa de Londres, em
janeiro de 2021, não acompanhou as observadas no mercado de arábica da Bolsa de
Nova York, na medida em que as cotações exibiram tendência de baixa ao longo do
mês. Na posição futura de julho, a média das cotações da primeira semana do mês
comparada com a registrada na última semana recuou 2,0%. Em parte o avanço dos
embarques brasileiros do produto (4,92 milhões de sacas em 2020, representando
incremento de 24,30% frente a 20194) estabelece novo equilíbrio para
a formação dos preços nesse mercado (Figura 3). O
volume de contratos negociados em Nova York reflete o movimento exibido pelas
cotações futuras. Embora no mercado continue prevalecendo a posição comprada,
as oscilações na posição líquida, entre fundos e grandes investidores, não
indicam qualquer disparada de rally
nas cotações (Tabela 1). Aparentemente, os investidores do mercado de café
ainda não estão convencidos de que o cenário de redução no fluxo de suprimento
pode ser mais severo que as estimativas de oferta e demanda global elaboradas
pelos seus analistas. Ademais, o recrudescimento da pandemia no ocidente torna
menos previsível o comportamento da demanda mundial, fortalecendo a postura
cautelosa dos investidores desse mercado. Para
além da já decantada estimativa de redução da oferta brasileira para a safra
comercial de 2021/22, há crescente escassez de contêineres na logística do comercio
internacional. Três em cada quatro deles retornam da América do Norte para Ásia
vazios, comprometendo os fluxos de alimentos e outros gêneros demandados pelo
mercado asiático, e empoçando as exportações nos países de origem desses
produtos5. Esse elemento adiciona mais instabilidade para a formação
dos preços e merece monitoramento permanente das autoridades e agentes do
agronegócio café. 1O autor agradece o trabalho de sistematização do banco de
dados econômicos conduzido por Paulo Sérgio Caldeira Franco, Agente de Apoio à
Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA. 2COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Safra Brasileira de Café. Brasília: CONAB, 2021. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/cafe.
Acesso em: fev. 2021. 3INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA,
2020. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6. Acesso em: Acesso: 3 fev. 2021. 4CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL – CECAFÉ. Relatório Mensal dezembro de 2020. São
Paulo: CECAFÉ, 2020. Disponível em: https://www.cecafe.com.br/publicacoes/relatorio-de-exportacoes. Acesso em: jan. 2020. 5BLOOMBERG:
O comércio global de alimentos foi afetado por uma crise de contêineres. Notícias Agrícolas, Campinas, 2 fe.v
2021. Disponível em: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/logistica/279244-bloomberg-o-comercio-global-de-alimentos-foi-afetado-por-uma-crise-de-conteineres.html#.YBq Palavras-chave: mercado futuro, cotações de café, bolsa
de valores. COMO
CITAR ESTE ARTIGO VEGRO,
C. L. R. Escalada das Cotações Futuras Não se Confirma em Janeiro de 2021. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 2, fev. 2021, p. 1-6.
Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
bj-hKjIW.
Acesso em: fev. 2021.
Data de Publicação: 16/02/2021
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor