Trajetória Socioeconômica Agropecuária do EDR de Franca, Estado de São Paulo

 

O Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Franca, foi a 18ª mais importante dentre os EDRs paulistas em valor da produção agropecuária (VPA) em 2019 (declina da 8ª posição alcançada no ano anterior2), possuindo 7.055 Unidades de Produção Agrícolas (UPAs) e ocupando área de 515,77 mil hectares contabilizados no Levantamento das Unidades de Produção Agrícola (LUPA) 2016/173. Em relação ao censo anterior de 2007/084, o número de propriedades rurais cresceu 10,84%, resultado do desmembramento das UPAs no intervalo dos dois censos. No tocante à participação regional em São Paulo, o EDR concentra 2,08% das UPAs e ocupa 2,54% da área total das UPAs do estado (Tabela 1).

 

 

Considerando-se o decênio transcorrido entre 2010 e 2019 no EDR de Franca, denota-se, em valores corrigidos pelo IPCA (dez./2019), relativa estabilidade do VPA: de um patamar de R$2,39 bilhões ao princípio do período, para pouco mais de R$2,26 bilhões ao seu final. Entretanto, constata-se nítida flutuação do VPA, acompanhando a típica bienalidade na produção da lavoura cafeeira que encontra na regional sua maior expressão de área cultivada e produção em terras paulistas (Figura 1).

 

Nas abordagens contemporâneas da ciência econômica, as instituições de caráter coletivo, assim como os órgãos e instrumentos de apoio à produção agropecuária, contribuem na sustentação da trajetória do desenvolvimento rural. A atuação de organizações sociais (cooperativas, associações e sindicatos) associada à difusão de tecnologia agropecuária (extensão rural atuante) e ao apoio dos instrumentos/instituições desenhados para robustecer as explorações (contratos, mercados a termo e futuro, verticalização da produção) conjugam os elementos necessários para que as explorações agropecuárias alcancem êxito de escopo multidimensional (social, econômico e ambiental).

Em relação ao censo anterior, observou-se aumento da participação dos produtores rurais nas organizações sociais, especialmente nas cooperativas e sindicatos, com expansão de 16,83% e de 39,40%, respectivamente, do número de UPAs vinculadas a esses arranjos institucionais. Entretanto, a dimensão territorial compreendida por essas organizações coletivas se reduziu, particularmente para o caso das cooperativas e das associações (-3,15% e -10,36%, respectivamente), enquanto nos sindicatos houve aumento da área de abrangência em 17,44% (Tabela 2).

 

 

Aparentemente, as pequenas e médias propriedades estão se filiando mais às cooperativas e sindicatos, enquanto as médias grandes e grandes estão se desligando. Empresas de insumos com a oferta de operações de crédito casadas (antecipação de produtos mediante promessa de entrega da produção – barter5), constituem a causa desse fenômeno, uma vez que essas transnacionais concentram sua ação junto às unidades de maior escala produtiva.

No quesito adoção de tecnologia agrícola destinada à produção vegetal, houve expansão do número de UPAs adotantes. No caso da análise de solo, houve, comparativamente, incremento de 40,82% no número de UPAs adotantes, representando 332 mil hectares (cerca de 64,36% da área agrícola total do EDR) (Tabela 3). Esse expressivo resultado do avanço das análises de solo foi acompanhado pelo crescimento na adoção das adubações (mineral, orgânica e verde), com destaque para a verde (expansão de 183,23% em número de UPAs e de 81,60% em área), que tem no cultivo da braquiária na entrerruas do café uma das tecnologias mais disseminadas na região.

 

No LUPA 2017/18, a calagem do solo, tecnologia que comprovadamente aufere ganhos de produtividade sustentáveis de longo prazo, era adotado por 4.294 UPAs, correspondendo a área de 301,97 mil hectares. Combinando todas as tecnologias referenciadas, constata-se que o EDR de Franca emprega, crescentemente, novos conhecimentos agronômicos destinados ao fortalecimento da produção agropecuária, conformando um polo produtivo dos mais significativos para o estado.

Os órgãos de apoio à agropecuária do EDR precisam incentivar a retomada do emprego das sementes melhoradas, pois, pelos dados contabilizados, houve queda tanto no número de UPAs adotantes (-31,93%), quanto na área para a qual as sementes são utilizadas (-28,80%). Em parte, o avanço na ocupação do solo da cafeicultura e também da lavoura canavieira pode ter impactado as áreas destinadas a cultivo de cereais e leguminosas, deprimindo a demanda por sementes melhoradas certificadas.

No intervalo intercensitário considerado, houve incremento tanto da área irrigada (75,03%) como de UPAs (79,89%) no EDR. A irrigação tem importante papel na viabilização da adoção da tecnologia de plantio direto, com expansão das UPAs (87,36%) e da área (333,04%) em que a tecnologia passou a ser empregada (Tabela 4).

 

 

Para as principais tecnologias voltadas para a produção animal, contatou-se, no intervalo intercensitário, tendências declinantes de adoção, denotando afirmativamente a regional em sua vocação agrícola em detrimento da produção animal (Tabela 5). Aparentemente, a diminuição de UPAs com áreas de pastejo intensivo pode sinalizar em duas direções: a) liberação de áreas para a expansão dos cultivos; e b) retorno a práticas extensivas de criação. Ambas as hipóteses demandam estudos focalizados, visando averiguar como se combinam ou, ainda, se há prevalência de alguma das hipóteses relacionadas.

 

Houve no EDR acentuada substituição da assistência técnica pública pela “privada” que, neste caso, está diretamente relacionada à atuação expansão da cooperativa de cafeicultores, portanto, sob gestão dos associados. Nesse quesito, houve aumento no número total de UPAs sob acompanhamento técnico (de 3.800 para 4.300), mas em termos de área, a dimensão abrangida permaneceu estável (em torno dos 310 mil hectares) (Tabela 6).

 

O avanço na contratação de crédito e especialmente de seguro rural foi notável, com 62,44% e 357,73% no número de UPAs, respectivamente. Tais instrumentos possuem a capacidade de alavancagem da produção, na medida em que o primeiro confere capacidade para a realização de inversões necessárias, enquanto o segundo oferece a estabilidade econômica necessária na manutenção de horizonte para o negócio.

Decorrência desse avanço na adesão aos instrumentos financeiros, a prática da escrituração (registrar, organizar, acompanhar dados contábeis) tornou-se mais frequente com maior adesão por parte das pequenas e médias UPAs, uma vez que a expansão relativa da dimensão coberta por escrituração foi de apenas 5,20% no intervalo intercensitário.

O uso de computadores no apoio às explorações agropecuárias conjugadas ao acesso à internet avançou no período considerado, tanto para o número de UPAs adotantes como para a área compreendida. A democratização do acesso à internet franqueada pela popularização dos smartphones permitiu disseminação mais acelerada da busca de informações na rede mundial de computadores, comparativamente ao uso desses instrumentos na atividade. A profissionalização dos produtores rurais tem como exigência intrínseca o emprego de métodos e sistemas capazes de agregar produtividade (com qualidade e sustentabilidade) à exploração. Ao assumir maiores graus de complexidade, as atividades agropecuárias intensivas necessitam de ferramentas que permitam o processamento dos dados e informações de forma confiável e expedita. Disso resulta a crescente presença dos computadores e celulares na gestão das propriedades.

Os indicadores socioecômicos agrícolas do EDR de Franca indicam que houve importante salto tecnológico empregado nas explorações. Tal mudança de patamar foi acompanhada por expansão da rede de instituições e ferramentas de apoio à produção. Justamente a combinação desses fatores confere status de arranjo produtivo, no caso, centrado na lavoura cafeeira6, que na região encontra uma das maiores expressões em âmbito nacional. Embora de perfil nitidamente empresarial, tal movimento ocorre incluindo as propriedades familiares (pequenas e médias), que se beneficiam da maior eficácia técnico-produtiva e comercial que os arranjos conferem a seus participantes.

 

 

1Os autores agradecem a organização do banco de dados e tabulação conduzidas por Gilberto Bernardi, Assistente de Apoio à Pesquisa Agropecuária.

 

2SILVA, J. R. da. Valor da Produção Agropecuária por Escritório de Desenvolvimento Rural do Estado de São Paulo: estimativa de 2019. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 5, maio 2020. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=14797. Acesso em: 25 ago. 2020.

 

3SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Instituto de Economia Agrícola. Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável. Projeto LUPA 2016/17: Censo agropecuário do Estado de São Paulo. São Paulo: SAA: IEA: CDRS, 2019. Disponível em: http://www.cdrs.sp.gov.br/projetolupa/. Acesso em: 25 ago. 2020.

 

4_____. Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Instituto de Economia Agrícola. Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável. Projeto LUPA 2008/09: Censo agropecuário do Estado de São Paulo. São Paulo: SAA: IEA: CDRS, 2009. Disponível em: http://www.cdrs.sp.gov.br/projetolupa/. Acesso em: 25 ago. 2020.

 

5As operações barter funcionam como uma espécie de escambo entre empresa de insumos e produtor rural, que empenha sua produção futura a seu fornecedor.

 

6VEGRO, C. L. R.; ANGELO, J. A. Evolução tecnológica, rede de apoio e perfil do cafeicultor do EDR de Franca, Estado de São Paulo. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 7, jul. 2020. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=14820. Acesso em: ago. 2020.

 

Palavras-chave: censo agropecuário, indicadores socioeconômicos rurais, agropecuária em Franca.



 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

VEGRO, C. L. R.; ANGELO, J. A. Trajetória Socioeconômica Agropecuária do EDR de Franca, Estado de São Paulo. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 9, set. 2020. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 16/09/2020

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor