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Estoques Minguando Pressionam Cotações Futuras do Café
Os gastos públicos
destinados para o enfrentamento dos ônus surgidos com a pandemia (R$511 bilhões
em 2020)2 têm atingido patamares que começam a preocupar os
investidores privados. Com a sedução, de caráter populista, que tais políticas
têm suscitado, surge desconfiança com o compromisso de manter a saúde fiscal do
Estado, associado a diversas pressões ministeriais para que se rompa com o
chamado de teto dos gastos (limite legal das despesas orçamentárias). Para
manter esse ritmo de despesas públicas, serão acentuados os cortes nos
investimentos e as pressões pela majoração dos impostos, elementos que represam
as decisões privadas de investimento. Nesse contexto de aumento da incerteza, a
alavancagem do câmbio com depreciação do real é um resultado esperado. Em
agosto, a média semanal da PTAX exibiu desvalorização do real de 4,31% (Figura
1). No mercado brasileiro
as oscilações cambiais são, normalmente, acompanhadas da variação na cotação
das commodities negociadas em bolsa
de mercadorias. Em razão desse fenômeno, as cotações do arábica foram
pressionadas a partir da segunda quinzena do mês, marcando em agosto (segunda
posição de dezembro, na média da quarta semana do mês) US$?122,78/lbp, ou
seja, incremento nas cotações frente à média da primeira semana do mês de 1,53%
(Figura 2). Adicionalmente, a
manutenção por parte da autoridade monetária estadunidense de juros próximos de
zero incentiva os investidores do mercado cambial a se desfazerem das opções em
dólar, buscando refúgio nas commodities
(ouro exibe cotações recorde histórico). Dois outros componentes
contribuíram para a alavancagem das cotações no mercado futuro de café arábica:
a) continuada queda dos estoques americanos certificados que registraram o menor
volume nos últimos 24 meses; e b) redução de 4,8% na produção vietnamita3.
A média dos preços
recebidos pelos cafeicultores paulistas na região de Franca, Estado de São
Paulo, em agosto de 2020 foi de R$577,49/sc.4, com valorização do
produto ao longo do mês de 15,09%. Esse preço médio representa, ao dólar médio
de R$5,46/US$, o valor de US$105,77/sc. ou, após efetuadas as devidas
conversões, US$?139,90/lbp. Cotejando essa cotação com aquela
destacada para quarta semana do mês, em segunda posição, e descontados 20%
relativos ao diferencial, taxas e emolumentos, constata-se que existe potencial
para extração de vantagem financeira para os cafeicultores que contrataram hedge no mercado futuro. As cotações futuras no
mercado de café robusta transacionado na Bolsa de Londres acompanharam o
movimento observado para o caso do arábica, com alavancagem das cotações a
partir da segunda quinzena do mês, exibindo incremento de 3,98% entre a média
da primeira semana e da quarta semana em segunda posição (novembro de 2020)
(Figura 3). Em
julho de 2020, o Brasil, embarcou 2,96 milhões de sacas, representando o
segundo melhor mês de julho na história das exportações de café5 (Tabela
1). No período de janeiro a julho de 2020, comparativamente ao mesmo período do
ano anterior, o conilon registrou incremento de 16,45% nos embarques,
totalizando 2,58 milhões de sacas. Em agosto, os fundos e
grandes investidores do mercado de café arábica, em Nova York, mais compraram
do que venderam contratos de café no mercado futuro, resultando em posição
líquida positiva crescente, semana após semana do mês (Tabela 2).
Aparentemente, o jogo no mercado se modificou para o monitoramento da safra
2020/21 (ciclo de baixa no Brasil), antecipando altas que normalmente ocorrem
no último trimestre do corrente ano e primeiro do ano seguinte. Ademais, o
excesso de liquidez internacional (injeção monetária para mitigar os efeitos da
pandemia), tem contribuído para alavancar as cotações das commodities em geral, pois nesse mercado os investidores encontram
a proteção necessária para a preservação de seu patrimônio" A
manutenção do patamar de consumo em nível positivo apesar da crise pandêmica
surpreende os analistas desse mercado. Variações positivas de dois dígitos
foram relatadas nos principais mercados consumidores da bebida. Tal constatação
causou, inclusive, reversão do patamar de superavit
dos estoques finais por parte da OIC6. Essa revisão das estatísticas
globais, sem dúvida, contribui para um cenário mais otimista para os preços,
reconhecendo sobretudo que a safra brasileira de 2020/21 será de ciclo de
baixa. No horizonte próximo, a
entrada da safra dos lavados centrais e colombianos pode ser um elemento
baixista no mercado, assim como o pegamento da florada no Brasil (que foi
antecipada com as recentes chuvas ocorridas em agosto). Outro elemento de risco
para o mercado de commodities
consiste no resultado das eleições estadunidenses que ocorrerão em novembro
próximo. Esses elementos são capazes de modificar a tendência de preços
alavancados, sendo, portanto, boas as expectativas de manutenção de alta para
os preços. A safra 2019/20 foi um marco na história econômica do café
brasileiro, reunindo portentosa colheita, qualidade excepcional e preços
remuneradores para os cafeicultores com patamar médio de produtividade (entre
25 sc./ha e 30 sc./ha). Essa capitalização dos produtores se refletirá nas
estimativas de safra que chegarão, possivelmente, com números mais otimistas
assim que as floradas surgirem. 1O autor agradece
o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido por Paulo
Sérgio Caldeira Franco, Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do
IEA. 2CUCOLO,
E.; QUEIROLO, G. Limite de despesas impõe disciplina fiscal. Folha de São Paulo, São Paulo, p. A20,
30 ago. 2020. 3ALBUQUERQUE,
N.; PRESSINOTT, F. Commodities: Queda de estoques americanos eleva preço do
café em NY. Valor Econômico, São
Paulo, 31 ago. 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2020/08/31/commodities-queda-de-estoques-americanos-eleva-preco-do-cafe-em-ny.ghtml. Acesso em: ago. 2020. 4INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA. Preços médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo:
IEA, 2020. Disponível em:
http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6.
Acesso em: 6 jul. 2020. 5VEGRO, C. L. R. Café: qvo vadis
covid 19. Rede Social do Café, São Paulo, 25 ago. 2020. Disponível em: http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=86643. Acesso em: ago. 2020. 6Op.
cit. nota 5 Palavras-chave: mercado
futuro, bolsa de mercadorias, cotações do café. COMO
CITAR ESTE ARTIGO
VEGRO, C. L. R. Estoques Minguando Pressionam
Cotações Futuras do Café. Análises e Indicadores
do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 9, set. 2020. Disponível em: colocar o link do artigo.
Acesso em: dd mmm.
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Data de Publicação: 14/09/2020
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor