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Evolução Tecnológica, Rede de Apoio e Perfil do Cafeicultor do EDR de São João da Boa Vista, Estado de São Paulo
1 – INTRODUÇÃO Posicionado no segundo lugar no Valor Bruto da
Produção Agropecuária, calculado pelo IEA/CDRS, o Escritório de Desenvolvimento
Rural (EDR) de São João da Boa Vista (SJBV) possui cafeicultura de destacada
posição no Estado de São Paulo2. A situação de relevo caracterizada
por franja da Mantiqueira exibe lavouras conduzidas na condição de montanha a
elevadas altitudes, conferindo à produção regional qualidade de bebida das mais
prestigiosas do território paulista. O EDR de SJBV é constituído por 16 municípios: Aguaí,
Águas da Prata, Caconde, Casa Branca, Divinolândia, Espírito Santo do Pinhal,
Itobi, Mococa, Santa Cruz das Palmeiras, Santo Antônio do Jardim, São João da
Boa Vista, São José do Rio Pardo, São Sebastião da Grama, Tambaú, Tapiratiba e
Vargem Grande do Sul. O território do EDR soma, aproximadamente, 588,64 mil hectares,
dos quais 16,35% ocupados com culturas perenes (LUPA 2016/17)3. O EDR de SJBV tem produção agrícola bastante
diversificada, composta por lavouras de grãos, citricultura, cafeicultura e
olerícolas (batata, tomate e folhosas), além de pastagens e produção florestal.
Na cafeicultura se destacam vários esforços como: presença de atuante
cooperativa de produção; obtenção de indicação geográfica (IG) para a região de
Espírito Santo do Pinhal, caracterizando-se por meio de marca o perfil
sensorial da bebida obtida pelo café produzido na região; e organização em
moldes de comércio justo dos cafeicultores familiares de Divinolândia que
constituíram sua própria exportadora especializada em cafés especiais. Outras
associações locais também procuram trilhar o caminho de uma melhor organização
de seus cafeicultores, como os trabalhos do Sindicato Rural de Caconde e de São
Sebastião da Grama. Portanto, em torno da cafeicultura se mobilizam os agentes
econômicos mais relevantes da região. Diante da importância da região na produção cafeeira
paulista, este estudo objetiva analisar os dados censitários da base produtiva
cafeeira, a tecnologia utilizada e a evolução do perfil dos cafeicultores do
EDR de SJBV a partir dos resultados obtidos pelo Projeto LUPA 2016/174,
comparativamente ao levantamento anterior (LUPA 2007/08)5. 2 – MATERIAL E MÉTODO A fonte utilizada dos dados correlacionados neste
estudo foi obtida a partir dos Levantamentos Censitários de Unidades de
Produção Agropecuária (Projeto LUPA), realizados pela Secretaria de Agricultura
e Abastecimento (SAA), por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural
Sustentável (CDRS) e do Instituto de Economia Agrícola (IEA), campanhas de
2016/17 e de 2007/08. A unidade básica de levantamento (UPA) coincide na
maioria das vezes com o imóvel rural, entendido como conjunto de propriedades
contíguas do mesmo proprietário. Este trabalho inclui todas as áreas plantadas
com café, inclusive aquelas que não são de interesse para estudos socioeconômicos.
A abordagem será conduzida explicitando os
resultados agregados obtidos para a cafeicultura no EDR de SJBV. Para atingir
os objetivos elencados, foram utilizados métodos quantitativos, cálculo de
frequências simples e de taxas com intuito de descrever a dinâmica da produção
cafeeira regional no período considerado. 3 – RESULTADOS O incremento de número de UPAs no intervalo
intercensitário tem sido regra nas estatísticas geradas pelo LUPA 2016/17. Em
SJBV não foi diferente, com expansão de 15,07% no número de imóveis, perfazendo
área de 96,29 mil ha (redução de -6,97%) (Tabela 1). O uso do solo se
intensificou por meio de sua maior ocupação com lavouras perenes, exibindo
crescimento de 14,29% no período considerado (excetuando-se florestas plantadas
e cana-de-açúcar). Na cafeicultura regional, os números são ainda mais
robustos em todos os quesitos considerados: UPAs (21,22%), área (7,11%) e pés
(17,20%). Esses resultados denotam que a lavoura se expande de forma
sustentável na medida em que avança com incremento da densidade de cultivo; foi
de 2.339 pés/ha para 2.559 pés/ha, ou seja, elevação de 10% na quantidade de
plantas no estande médio regional no espaço intercensitário. A diminuição em aproximadamente 10 mil ha na área
total das UPAs com exploração cafeeira não impediu que a cafeicultura
avançasse, passando a ocupar 33,03% da área disponível nos imóveis. Tal
indicador denota progressiva especialização da regional na cafeicultura,
confirmando sua vocação natural para a produção de cafés de alta qualidade.
Esse movimento ainda pode contar com outros 99 mil ha disponíveis para a
expansão futura da lavoura, respeitando evidentemente os 20% de preservação,
previstos pela legislação (Tabela 2). Em termos de tecnologia agronômica utilizada nos
cafezais, pode-se afirmar que a conservação e análise de solo são bastante
disseminadas. A expansão do número de UPAs que passou a adotar a análise de
solo exibiu forte crescimento (57,38%). A análise permite um adequado manejo da
adubação (mineral e orgânica), elemento constatado por aumento na adoção dessas
tecnologias (aproximadamente 10%), visando à recuperação da fertilidade do solo
(Tabela 3). A cafeicultura regional é bastante antiga, existindo
talhões com mais de 100 anos de implantação! Em muitas situações, sem
planejamento para uma exitosa sucessão, o produtor se vê obrigado a adotar o
regime de arrendamento para manter a exploração (111,31% de expansão em área)
(Tabela 4). Adicionalmente, o perfil tipicamente familiar da cafeicultura
regional, prevalecendo lavouras implantadas em pendentes declivosas, favorece a
convivência com o regime de parceria, uma vez que há necessidade de alocação de
mão de obra para todos os tratos culturais da lavoura. O arrendamento, em
algumas situações, atende aos requisitos de oferta de mão de obra e para
contemplar os interesses do proprietário que, muitas vezes, já passou a residir
na cidade para ter acesso facilitado aos serviços de saúde. As condições de cultivo em montanha e de altitude
(amenidade do clima) tornam a busca por sistemas de produção sob irrigação
pouco difundida na região. Essas mesmas condições pouco favorecem a
disseminação de pragas e doenças, fazendo da cafeicultura um sistema bastante
amigável ao meio ambiente, ainda que com pouca participação relativa dos
sistemas orgânicos de cultivo. No EDR de SJBV, a cafeicultura está majoritariamente
alocada em situação de montanha, sob declividades que impedem etapas do manejo
da cultura em que seria possível o emprego de máquinas, sendo a colheita uma
delas. Todavia, uma combinação de práticas mecanizadas e manuais se torna uma
alternativa factível para incrementar ganhos de produtividade necessários no
contexto de mercado hipercompetitivo. Assim, essa prática de combinação de
colheitas manual e mecânica avançou em número de UPAs (217,88%) e em área
(63,94%), enquanto o tipo de colheita somente mecanizada cresceu em UPAs (500%)
e em área (257,91%) (Tabela 5). O crescimento do número de UPAs com prática da
colheita manual (10,64%) não foi acompanhado em termos de área cultivada, uma
vez que ela se tornou menos significativa no intervalo intercensitário
(-9,19%). Na região há intensa disseminação da tecnologia de terraceamento das
lavouras implantadas, viabilizando a introdução de práticas mecanizadas. Os
custos de construção dos terraços são rapidamente compensados pelos ganhos de
produtividade do trabalho observado após sua implantação. O emprego dos computadores na lida das explorações
agropecuárias exibe crescimento bastante expressivo no intervalo
intercensitário, dobrando o número de UPAs e aumentando 33,38% em termos de
área. Essa expansão é acompanhada pelo acesso à internet que também se tornou
mais amplo (137,22% em termos de UPAs) e abrangente (56,72% em área) (Tabela
6). Outros componentes da moderna gestão dos imóveis,
como escrituração agrícola, crédito rural e seguro, evoluíram
significativamente no período, destacando-se o seguro com expansão de mais de
três vezes em termos de UPAs e de quase o dobro em área. A elevada demanda por assistência técnica rural (ATER)
na região se alinha a seu perfil, caracterizado por uma cafeicultura
predominantemente familiar. No intervalo intercensitário, houve expansão no
número de UPAs atendidas tanto pelo serviço público como privado de ATER
(28,83% e 58,20%, respectivamente) (Tabela 7). Tal assertividade da ATER terá
importantes repercussões sobre a produção cafeeira regional, incrementando sua
produtividade e sua já consagrada qualidade. Tanto o movimento associativista como o sindicalista
tiveram crescimento na base de associados (30,27% e 13,82%, respectivamente).
Entretanto, tal avanço não foi acompanhado por igual incremento na área
abrangida por ambos os movimentos. Frente aos demais movimentos, o cooperativista
demonstra maior presença. As 1.643 UPAs associadas a cooperativas indicam que
cresce a percepção dos cafeicultores de que organizar-se comercialmente
fortalece os empreendimentos rurais. A área de lavouras atendidas por
produtores cooperados não seguiu com o mesmo ímpeto que o número de imóveis, mas
aumentou apenas na margem, sinalizando que continua crescente o apelo de
fortalecimento do movimento. 4 - CONCLUSÕES O EDR de SJBV é o segundo mais importante cinturão
de produção de café do Estado de São Paulo, com o diferencial de que, nesse
território, são encontrados os tipos de mais elevada qualidade de bebida. Os
dados apurados pelo LUPA 2016/176 mostram que, comparativamente ao
registro anterior, houve evolução favorável em todos os indicadores
socioeconômicos e agronômicos da cafeicultura regional. No EDR, a cafeicultura exibe crescimento sustentável
de sua participação relativa no conjunto das atividades agropecuárias
conduzidas na região. Esse avanço da lavoura cafeeira encontra respaldo não
apenas no aprimoramento da tecnologia agronômica aplicada no manejo da cultura
(insumos e mecanização), como ainda na rede de apoio ao negócio formada por
associações, cooperativa, assistência técnica, crédito e seguro. 1Os autores
agradecem a organização do banco de dados e tabulação conduzida por Gilberto
Bernardi, Assistente de Apoio à Pesquisa Agropecuária. 2VEGRO, C. L. R.; COELHO, P. J.; ANGELO, J. A. Trajetória dos Indicadores Socioeconômicos do
EDR de São João da Boa Vista. Análises e Indicadores do Agronegócio, São
Paulo, v. 15, n. 5, p. 1-6, maio 2020. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-34-2020.pdf. Acesso em: 29 jul. 2020. 3SÃO PAULO
(Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Instituto de Economia Agrícola. Coordenadoria de Desenvolvimento Rural
Sustentável. Projeto LUPA 2016/17: Censo
agropecuário do Estado de São Paulo. São Paulo: SAA/IEA/CDRS, 2019.
Disponível em: http://www.cdrs.sp.gov.br/projetolupa/. Acesso em: 11 jun. 2019. 4Op. cit. nota 3. 5SÃO PAULO
(Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Instituto de Economia Agrícola. Coordenadoria de Desenvolvimento Rural
Sustentável. Projeto LUPA 2007/08: Censo
Agropecuário do Estado de São Paulo. São Paulo: SAA/IEA/CDRS, 2009.
Disponível em: http://www.cdrs.sp.gov.br/projetolupa/. Acesso em: 11 jun. 2019. 6Op. cit. nota 3. Palavras-chave: estatísticas agrícolas, censo agropecuário, cafeicultura
Data de Publicação: 13/07/2020
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor