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Impacto da Pandemia na Cultura da Melancia
No Brasil, a fruticultura e a olericultura são
atividades econômicas geradoras de riqueza e distribuidoras de renda. O país é
o terceiro maior produtor mundial de frutas. A produção, em 2019, foi estimada
em 41 milhões de toneladas, dos quais 3% a 5% foram exportados. A fruticultura
responde por 6 milhões de empregos diretos, o que equivale a 27% dos empregos
gerados pela agricultura nacional, ocupando uma área em torno de 2,4 milhões de
hectares1. Em 2019, a fruticultura brasileira cresceu 16% em
volume nas exportações de frutas. Destaque para a exportação de manga, com
aumento de 30%, melão com 27%, uva com 19% e limão com 10%. A melancia (38% em
relação ao ano de 2018), banana e abacate apresentaram também crescimento
considerável no volume exportado. A melancia é uma das principais frutas em
volume de produção mundial e encontra-se entre os dez produtos hortifrutícolas
mais exportados (valor de US$43.891.165)2. É o sexto produto mais comercializado na CEAGESP. Em
2018 foram comercializadas 114 mil toneladas da fruta3. A produção
total brasileira correspondeu a 2 milhões de toneladas, sendo os principais
estados produtores: Rio Grande do Norte (17,4%), Rio Grande do Sul (12,6%) e
São Paulo (12,5%)4. China, Irã, Turquia e Brasil são os maiores
produtores mundiais, correspondendo a 75% da produção mundial. A produção
mundial total equivale a 118 milhões de toneladas. Os principais países
importadores são Estados Unidos, Alemanha, Canadá, China e França, que
acumularam em 2018 mais de 50% das importações mundiais. Em relação aos países
exportadores, a Espanha está na primeira colocação, seguida por Irã, México,
Itália e Estados Unidos5. No Brasil, as principais regiões produtoras de
melancia são o Nordeste e o Sul, que contribuem, respectivamente, com 35% e 18%
do total da produção nacional. A região Sudeste responde por 14% da produção
nacional. A produção do Estado de São Paulo representa 87% da produção da
região Sudeste6. Na região de Marília, aproximadamente 90 Unidades de
Produção Agrícola (UPAs) cultivam melancia, em um total estimado de 2 mil
hectares. Os principais municípios são: Oscar Bressane, Echaporã, Lutécia,
Ocauçu, Marília e Pompéia7. Em 2018, a produção no Estado de São Paulo foi de
aproximadamente 281 mil toneladas, em uma área plantada de 10.133 hectares,
resultando em uma produtividade média de 27 toneladas por hectare. O custo de
produção foi estimado em R$330,00 por tonelada. O preço médio de venda, em
2019, foi de R$500,00 por tonelada8. Na figura 1 encontra-se a série de preços da
melancia (em R$/kg) da CEAGESP, período 2015 a 2019. No Brasil, as variedades mais cultivadas são de
origem americana (pérola, crimson sweet e jubilee) e japonesa. No entanto, a
representatividade dos híbridos vem aumentando nos últimos anos em função da
alta produtividade. A melancia atinge o ponto de colheita entre 28 e 45
dias após a fecundação das flores femininas ou hermafroditas, dependendo do
cultivar e das condições climáticas. Normalmente, esse período corresponde a
65-75 dias após o plantio9. Na região de Marília, o período de colheita ocorre
nos meses de fevereiro e março (safrinha), e setembro e novembro (safra
normal). A colheita é manual. A área média do cultivo corresponde a até 5
hectares (95% das propriedades). Utiliza-se de 1 a 3 pessoas por hectare,
considerando todas as operações10. No país, não existe classificação oficial que atende
os diferentes mercados e tipos de cultivares. Há grande variação de tamanho e
formato de melancia. Normalmente, os frutos são classificados, com base no peso
como segue: graúda (acima de 12 kg), média (entre 10 kg e 12 kg), miúda (entre
7 kg e 10 kg)11. A pós-colheita envolve a seleção de frutos e classificação
quanto ao tamanho e peso. Nos frutos para exportação, há ainda o
acondicionamento em caixas de papelão e armazenagem em câmaras frias. As frutas
grandes (acima de 12 kg) são para o mercado interno (97% da produção) e as
pequenas para os mercados diferenciados (consumo individual ou exportação).
Como grande parte da produção é consumida domesticamente, o setor contribui
para a segurança alimentar dos brasileiros pela disponibilização de alimentos
seguros e saudáveis. Convém frisar que o risco de perdas pós-colheita é
alto e elas podem ser provocadas por danos físicos, utilização de embalagem
inadequada, condições das estradas, não utilização da refrigeração, toque
excessivo por partes dos consumidores e exposição inadequada do produto. Salienta-se
que, mesmo sob condições ótimas de armazenamento, a melancia apresenta vida
útil pós-colheita relativamente curta. Deve ser consumida até 2 a 3 semanas
após a colheita12. Ressalta-se que, apesar de o Brasil ser um dos
principais produtores agrícolas do mundo, os agricultores enfrentam o desafio
de trabalhar em um cenário, muitas vezes, adverso. O clima tropical é propício
para o desenvolvimento de insetos, fungos, plantas invasoras e outras pragas
que prejudicam a lavoura. Por isso, o uso da tecnologia é primordial. EFEITOS DA COVID-19 NA CULTURA DA
MELANCIA No campo e nas packing houses, as operações continuaram
normalmente seguindo as recomendações do Ministério da Saúde, tais como:
impedimento de aglomerações, redução da quantidade de trabalhadores,
afastamento de profissionais com idade de risco e incentivo a higienização
constante das mãos e do local de trabalho a fim de evitar a disseminação do
vírus. No entanto, o maior problema registrado na cultura
refere-se à demanda reduzida,
tanto no varejo (diante da recomendação de isolamento social) quanto no atacado
(entrepostos de abastecimento). Sem grande movimentação nas vendas no comércio,
compradores reduziram os pedidos na lavoura. As cotações da melancia recuaram no mês de abril em
todo o país devido à prorrogação da quarentena, o que minimizou a demanda pela
fruta em São Paulo, um dos principais polos consumidores. A média dos preços
mensais de venda da melancia graúda Vale ressaltar que, para facilitar o escoamento da produção,
os fruticultores negociaram a safra com preços inferiores ao esperado para a
época, mesmo com a baixa oferta do período, fato este que deveria dar
sustentação às cotações. Destaca-se que a produção do Estado de São Paulo foi
inferior às outras praças ofertantes devido
às chuvas elevadas em fevereiro, que causaram focos de bactéria nas
lavouras, comprometendo a qualidade da fruta. Em Marília, as chuvas acumularam
276,2 mm em fevereiro14, ocasionando aumento no número de
pulverizações para controlar doenças, ações estas que interferiram no custo de
produção regional. No mercado internacional, as vendas de frutas foram
consideradas positivas. As exportações de frutas continuam ocorrendo dentro da
normalidade15. A preocupação, contudo, volta-se ao fluxo logístico,
tendo em vista que muitos países estão em quarentena e a entrada de mercadoria
pode ser comprometida pelo fechamento de fronteiras. 1CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO
BRASIL. Balanço 2019 e perspectivas 2020. Brasília: CNA, 2020. Disponível em:
https://www.cnabrasil.org.br/paginas-especiais/balanco-2019-e-perspectivas-2020.
Acesso em: 1 maio 2020. 2MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO. AGROSTAT - Estatísticas de
comércio exterior do agronegócio brasileiro. Brasília: MAPA, 2020.
Disponível em: http://indicadores.agricultura.gov.br/index. 3COMPANHIA DE ENTREPOSTOS E ARMAZÉNS
GERAIS DE SÃO PAULO. Guia CEAGESP - Melancia. São Paulo: CEAGESP, 2020.
Disponível em: http://www.ceagesp.gov.br/guia-ceagesp/melancia. Acesso em: 30
abr. 2020. 4Op. cit. nota 2. 5FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. FAOSTAT. Roma: FAO, 2020. Disponível em: http://www.fao.org/faostat/en/#data/21/visualize.
Acesso em: abr. 2020. 6Op. cit. nota 2. 7COORDENADORIA DE DESENVOLVIMENTO RURAL
SUSTENTÁVEL. Levantamento Censitário das
Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo. São Paulo: CDRS, 2017.
Disponível em: http://www.cdrs.sp. 8AGRIANUAL. Anuário da agricultura brasileira. São Paulo: Agra FNP Pesquisas, 2019. 448p. 9FERRARI, G. N. et al. A cultura da melancia. Piracicaba:
ESALQ - Divisão de Biblioteca, 2013. 62 p. (Série Produtor Rural, n. 54). 10Op. cit. nota 7. 11Op. cit. nota 9. 12FURLANETO, F. P. B., BERTANI, R.M.A. Melancia - do Brasil para o mundo. Revista
Campo & Negócios – Hortifruti. Uberlândia, v. 8, n. 4, p. 13-15, 2015. 13AGROLINK.
Cotações. Brasil, 2020. Disponível
em: https://www.agrolink.com.br/cotacoes/outras/hortifruti. Acesso em: 5 maio
2020. 14INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Mapas de balanço hídrico por período -valor
acumulado. Brasília: INMET, 2020. Disponível em:
http://sisdagro.inmet.gov.br/sisdagro/app/monitoramento. Acesso em: 29 abr.
2020. 15ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES
EXPORTADORES DE FRUTAS E DERIVADOS. Dados
estatísticos. Brasília: ABRAFRUTAS, 2020. Disponível em:
https://abrafrutas.org/dados-estatisticos. Acesso em: 4 maio 2020. Palavras-chave: fruticultura,
coronavírus, comercialização, atacado/varejo, Estado de São Paulo.
(acima de 12 kg) recebidos pelo produtor corresponderam a R$0,42/kg na Bahia,
R$0,43/kg em São Paulo e R$0,45/kg no Rio Grande do Sul, quedas de,
respectivamente, 15%, 30% e 18% em comparação ao mês de março/202013.
htm. Acesso em: 3 maio 2020.
gov.br/projetolupa. Acesso em: 2 maio 2020.
Data de Publicação: 19/06/2020
Autor(es):
Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto (fernandafurlaneto@aptaregional.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Anelisa de Aquino Vidal Lacerda Soares Consulte outros textos deste autor
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor