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Pandemia da Covid-19 em Época de Colheita Agrícola no Estado de São Paulo, 2020
A safra da produção paulista de 2020/21 apresentava um cenário otimista,
mas, diante dos problemas apresentados pela pandemia do coronavírus, tudo se
tornou incerto. As colheitas das culturas perenes têm seu início em maio e,
dessa forma, possuem seu momento ideal de colheita independentemente de
qualquer pandemia, ou seja, ou o produtor colhe sua lavoura que tanto lhe foi
custosa em todo o seu processo produtivo, ou perde, deixando-a no pé. O
produtor está diante de inúmeros problemas, desde a contratação de pessoas para
a mais adequada forma de colheita até a comercialização do produto. A comercialização também é uma etapa preocupante ao produtor e também
para o Sistema Único de Saúde
(SUS), rede privada hospitalar e centros de epidemiologia, pois o escoamento da
produção muitas vezes acontece via deslocamento por rodovias até a Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) ou outros entrepostos comerciais
(CEASAs), feiras e supermercados locais. Isso independe para quais tipos de
culturas, se perenes ou temporárias, como legumes e folhagens. Dessa forma, o
isolamento (quarentena) é interrompido expondo o produtor rural ao contágio em
locais com aglomeração, conforme os postos de comercialização citados
anteriormente. Antes dos impactos do novo coronavírus, o mercado de trabalho
apresentava uma trajetória de lenta recuperação no início do ano, com a melhora
do emprego sazonal. No entanto, a partir de março, por conta da pandemia,
inverte-se o quadro de emprego e renda e esta torna-se preocupante. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
(IBGE) indicavam que, até fevereiro de 2020 (último trimestre), estava
ocorrendo queda consecutiva na taxa de desemprego, estimada em 11,6% para todos
os setores econômicos brasileiros; entretanto, eram resultados sem efeitos da covid-191. Ainda sem dados oficiais para medir o impacto da crise do coronavírus no
mercado de trabalho, a demissão dos que possuem registro em carteira não é a
primeira opção dos empregadores, mas sim o oferecimento de férias individuais
para os funcionários. O quadro pode piorar se a atividade não obtiver
resultados positivos comercialmente e o número de demissões cresça
significativamente. Médias e pequenas unidades produtivas em uma situação
financeira atual ruim tendem a agravar-se nos próximos meses por conta dos
baixos preços do produto ofertado e do consumo em baixa. Notadamente, existe um apagão de estatísticas sobre mercado de trabalho
rural e demais setores econômicos. Para o agropecuário especificamente, a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua) do IBGE apresenta
apenas os dados do último trimestre de 2019 sobre o total de pessoas ocupadas
no setor agropecuário. Dados sobre carteira assinada (emprego formal)2, 3,
obtidos por meio de informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) desde dezembro de 2019, não
são mais apresentados sobre quaisquer setores econômicos. O Instituto de Economia Agrícola (IEA) também vivencia esse apagão e até
poderia subsidiar essas estatísticas. Até 2006, a instituição disponibilizava
duas vezes ao ano a ocupação de trabalhadores, familiares, com carteira
assinada ou não, mas, devido às restrições orçamentárias, nunca mais foi
retomado. Dessa forma, torna-se uma tarefa de ilações prever no momento o total de
pessoas envolvidas no setor agropecuário que serão afetadas pelo desemprego,
principalmente a categoria de trabalhadores volantes no setor, demandados conforme
a necessidade de mão de obra na colheita. Diante da orientação da não aglomeração entre os cidadãos e
trabalhadores, as colheitas podem ser estendidas em seus períodos. Para o café,
já existem apontamentos de reflexos por conta da pandemia, e sua mão de obra de
reserva vinda de municípios vizinhos às regiões produtoras terão limitações
para a realização da colheita4. Em culturas mecanizadas ou
semimecanizadas, como é o caso da cana-de-açúcar, esse problema não é tão
agravante, uma vez que a ocupação de tratorista é uma função individual, não
necessitando de grandes grupos de trabalho para sua realização no talhão, a
menos quando a colheita manual se faz necessária e grupos de trabalho terão
restrição ao número de pessoas e organizados com distância mínima entre si.
Para as culturas de citros e demais frutícolas, nas quais a demanda por
trabalhadores se intensifica na colheita, tais medidas se fazem necessárias
também. Assim, sobre impactos de emprego rural, somente quando se restituírem ao
público informações sobre mercado de trabalho é que análises mais consistentes
sobre o impacto poderão ser discutidas e avaliadas, tanto pelo poder público
quanto pelo setor privado. As grandes propriedades rurais com produção destinada ao mercado externo
e/ou que possam redirecionar essa produção para outro ativo (etanol por açúcar)
terão melhores resultados, mas não ficarão isentas dos problemas apresentados
pela pandemia. De forma geral, os produtores vão aplicar as recomendações constantes do
Ministério Público publicadas pelo governo federal e também pelo governo
paulista. No entanto, algumas iniciativas de cooperativas e/ou produtores
individuais estão adotando medidas que têm por intuito diminuir os impactos do coronavírus
em suas colheitas. Com o objetivo de preservar a vida dos trabalhadores rurais e de suas
famílias durante a colheita, foram elaboradas cartilhas com orientações para
prevenção do novo coronavírus aos trabalhadores. Dessa forma, tais cartilhas
fornecem orientações gerais aos produtores, tais como medidas de prevenção do
contágio do vírus, como a adoção de boas práticas específicas em refeitórios,
no trabalho da colheita, transporte (que envolve o percurso entre a residência
dos trabalhadores e a lavoura), alojamento, além de recomendações específicas
para o início da colheita de 2020 no estado e, ainda, esclarecimentos sobre os
sintomas do novo coronavírus, diferenciando-o dos sintomas de outras gripes. Especificamente em relação ao trabalho de colheita, foram elaboradas
medidas para tentar diminuir o impacto do coronavírus5, 6. Conforme
cartilhas consultadas, foram organizadas medidas de prevenção sobre
higienização, transporte e aglomeração de pessoas (Quadro 1). Recomenda-se que as colheitas devam ser realizadas somente no ponto
ideal de maturação, para que o emprego de mão de obra seja otimizado,
especialmente nesse período de pandemia e, quando possível, que seja realizada
a colheita semimecanizada. Máquinas e equipamentos de colheita, quando forem operados por diversas
pessoas, devem ser higienizados com frequência. A adoção de medidas efetivas que permitam a continuidade dos trabalhos
no campo, com a manutenção do emprego e/ou ocupação dos indivíduos e da renda
auferida, possibilitará aos produtores, trabalhadores, cooperativas etc.
passarem por esta pandemia sem grandes prejuízos, ainda não estimados. Medidas
preventivas se fazem necessárias a essa atividade considerada mais que
essencial ao setor econômico brasileiro, em que a segurança alimentar é
prerrogativa a qualquer sociedade e governo municipais, estaduais, federal e
internacionais. Quadro 1 - Medidas de Prevenção aos Trabalhadores do
Setor Agropecuário diante da Pandemia da Covid-19 1 Promover o afastamento das atividades de
funcionários que estejam nos grupos de risco, como idosos com mais de 60
anos, ou que possuam doenças crônicas. 2 Higienizar frequentemente os veículos, as
superfícies e os locais de acondicionamento de produtos, equipamentos e
utensílios (especialmente na chegada dos funcionários ao local de trabalho e
após o encerramento das atividades). 3 Proibir o embarque de pessoas com sintomas
de doenças respiratórias. 4 Os meios de transporte devem garantir o
espaçamento adequado e reduzir a lotação para evitar aglomeração. 5 Posicionar as pessoas em distância mínima
de 1 metro. 6 Manter veículos com janelas abertas. 7 Disponibilizar álcool em gel 70% para
higienização das mãos e partes expostas, além de máscaras para os condutores
dos veículos e para os trabalhadores em suas tarefas. 8 Fazer o revezamento de turnos de trabalho
para garantir a lotação adequada para o distanciamento mínimo. 10 Realizar a higienização no local de chegada
e entre turnos. 11 Evitar aglomerações, organizando o fluxo de
pessoas nas propriedades. 12 Realizar o pagamento de maneira escalonada,
de modo a evitar filas e aglomerações. 13 Respeitar a distância mínima de 1 metro
durante as marcações de ponto ou presença nas entradas e saídas do trabalho,
quando existentes estes procedimentos. 14 Em refeitórios ou locais destinados à
alimentação, evitar a aglomeração de pessoas. 15 Não devem ser compartilhadas ferramentas e
equipamentos de colheita. 16 Deve-se utilizar estratégias como divisão
dos colhedores por talhões ou carreiras. Fonte: Elaborada
pelos autores __________________________________ 1VILLAS BÔAS, B. Emprego já deve sentir crise em março. Valor
Econômico, Rio de Janeiro, 1 abr. 2020. p A5. 2FREDO, C. E.; BAPTISTELLA. C. S. L. Plano de
Contingenciamento ao Combate à Pandemia Covid-19 sobre a Renda da População
Rural Paulista, abril de 2020. Análises e Indicadores dos Agronegócios, São
Paulo, vol. 14, n. 4, p. 1-6, abr. 2020. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-24-2020.pdf. Acesso
em: 22 abr. 2020 5REVISTA LAVOURA.
Medidas tentam diminuir impactos do Corona vírus na colheita do café. Safra, Espirito Santo, 22 abr. 2020.
Disponível em:
https//www.safras.com.br/coronavirus/medidas-tentam-diminuir-impactos-coronavirus-na-colheita-café.
Acesso em: 22 abr. 2020. 6AGÊNCIA
NACIONAL DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL (ANATER). Colheita de
Produtos Agrícolas – medidas de higiene recomendadas durante a pandemia de
Corona vírus (COVID-19). Brasília: ANATER, 2020. 19 p. Palavras-chave: mercado de trabalho, colheita, covid-19, pandemia.
3BRIGATTI,
F. Brasil não tem ferramentas para medir destruição de empregos por
coronavírus. Folha de São Paulo, São Paulo, 22 abr. 2020. Disponível
em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/brasil-vive-apagao-estatistico-sobre-mercado-de-trabalho.shtml.
Acesso em: 22 abr. 2020.
4VEGRO,
C. S. L. Um revés ao antigo normal. Associação
dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo. São Paulo, 16 abr. 2020. Disponível em: https://aeasp.org.br/um-reves-ao-antigo-normal-cafeicultura/. Acesso em: 29 abr. 2020.
Data de Publicação: 13/05/2020
Autor(es):
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor