Artigos
Trajetória dos Indicadores Socioeconômicos do EDR de São João da Boa Vista
O Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de São
João da Boa Vista (SJBV), segundo mais importante dentre os EDRs paulistas em
valor bruto da produção, possui 13.288 UPAs, ocupando área de 588,6 mil ha
contabilizados no censo agropecuário paulista 2016/17. Em relação ao censo
anterior de 2007/08, o número de propriedades rurais cresceu 11,7%, resultado
do desmembramento das UPAs no intervalo dos dois censos. No tocante à
participação regional no Estado de São Paulo, o EDR concentra 3,9% das UPAs e
ocupa 2,9% da área total das UPAs do Estado (Tabela 1). Considerando o período transcorrido
entre os censos de 2007/08 e o de 2016/17, no EDR de SJBV, em valores
corrigidos pelo IPCA (dez./2019), denota-se relativa estabilidade do valor
bruto da produção (VBP). Este, de um patamar de R$3,56 bilhões ao princípio do
período analisado, cresceu para pouco mais de R$3,77 bilhões ao seu final1.
A importância da lavoura canavieira agropecuária regional, associada à grande
crise de preços que padeceu sobre a política de controle de preços dos
combustíveis, constitui um dos aspectos explicativos da relativa estabilidade
do VBP no período (Figura 1). Muitos fatores contribuem na produção
de riqueza rural regional. A atuação de organizações sociais (cooperativas,
associações e sindicatos), assim como a difusão de tecnologia agropecuária e o
apoio dos instrumentos/instituições desenhados para robustecer as explorações
(contratos, mercados a termo e futuro, cooperativas e associações), constituem
o tripé para o êxito observado. Tal hipótese pode ser comprovada pela
comparação entre os resultados anteriores e aqueles obtidos com o atual censo. Em relação ao censo anterior,
observou-se aumento da participação dos produtores rurais nas organizações
sociais, especialmente nas cooperativas e associações, com expansão de 21,9% e
de 17,6%, respectivamente, do número de UPAs vinculadas a esses arranjos
produtivos. Ademais, maior número de UPAs passou a exibir vínculo com sindicato
de produtores rurais. Curiosamente, a dimensão territorial compreendida por
essas organizações coletivas reduziu-se, particularmente, para o caso do
sindicato e da associação, enquanto nas cooperativas houve relativa
estabilidade (Tabela 2). Aparentemente, as pequenas e médias propriedades
estão se filiando mais às organizações sociais, enquanto as médias grandes e
grandes estão se desligando delas. Empresas de insumos com a oferta de
operações de crédito casadas (antecipação de insumos mediante promessa de
entrega da produção) podem ser em parte a causa desse fenômeno, uma vez que as
transnacionais de insumos agrícolas concentram sua ação junto às unidades de
maior escala produtiva. No quesito adoção de tecnologia
agrícola destinada à produção vegetal houve expansão do número de UPAs
adotantes. No caso da análise de solo houve, comparativamente, incremento de
41% no número de UPA’s adotantes dessa tecnologia, representando 396,4 mil ha
(cerca de 67,3% da área agrícola total do EDR (Tabela 3). Esse expressivo
resultado não foi acompanhado pelo crescimento na adoção das adubações, pois as
variações das áreas compreendidas pelos diferentes tipos mantiveram-se
praticamente estáveis, ainda que o universo de UPA’s tenha apresentado aumento.
No caso do emprego de sementes melhoradas, houve
expansão tanto de UPAs adotantes como na área abrangida. O EDR possui
produtores rurais especializados na produção de sementes, contribuindo para que
a tecnologia seja mais e melhor aproveitada pelos demais agricultores. No período considerado, houve incremento tanto da
área irrigada (90,1%) como de UPAs (51,6%) no EDR. A mesma evolução foi
observada no quesito plantio direto com expansão das UPAs (86,1%) e da área em
que a tecnologia é empregada (55,1%) (Tabela 4). Para o caso da tecnologia voltada para a produção
animal, os resultados mostraram-se menos coesos. Quando se isolam as técnicas
de vermifugação e de mineralização dos rebanhos, houve queda nos indicadores,
tanto para número de UPAs como para área contabilizada. Tais resultados destoam
para os demais: pastejo intensivo, inseminação artificial e confinamento de
bovinos. A ligeira redução constatada na área destinada para o pastejo
intensivo era esperada na medida em que a prática adotada tem por objetivo
justamente a liberação de terras para outras finalidades produtivas.
Provavelmente, será preciso aprofundar as análises, segmentando por perfil de
rebanhos entre corte e leite para encontrar as razões das divergências
observadas pelos resultados agregados (Tabela 5). A região passou a demandar mais a assistência
técnica tanto a pública como a privada, mas esta última denota maior
crescimento em número de UPAs e área, comparativamente à púbica. O avanço na
contratação de crédito e de seguro rural foi notável com 103% e 215%, respectivamente,
no número de UPAs (Tabela 6). Tais instrumentos possuem a capacidade de
alavancagem da produção. A demanda dos produtores rurais por crédito e seguro
exibe salto formidável na regional, especialmente, no número de UPAs que declarou
possuir operações de crédito e de seguro. Até em decorrência desse avanço na
adesão aos instrumentos financeiros, tornou-se mais frequente a prática da
escrituração (registrar, organizar, acompanhar dados contábeis), com maior
adesão por parte dos pequenos e médios produtores, uma vez que a expansão
relativa da dimensão coberta por escrituração tenha se elevado oito vezes menos
que esse mesmo indicador para o número de UPAs. O uso de computadores no apoio às explorações agropecuárias
avançou no período considerado, tanto para o número de UPAs adotantes como para
a área compreendida. A necessidade de gerir de forma profissional os imóveis
rurais torna indispensável o apoio de sistemas de organização e métodos capazes
de incrementar a produtividade e/ou de reduzir custos, oferecendo assim maior
tenacidade econômica à exploração. Concomitantemente, acompanhou a
internalização dos computadores o acesso à web
nos imóveis rurais. Percentuais mais elevados para o acesso à web do que os constatados para os
computadores decorre, em parte, do grande avanço em processamento de dados
observado nos smartphones para além
de suas facilidades em termos de mobilidade. Numa análise panorâmica dos indicadores
socioecômicos do EDR, pode-se afirmar que as pequenas e médias propriedades
passaram a empregar procedimentos antes concentrados nas médias e grandes
propriedades, uma vez que as evoluções relativas se destacaram mais em termos
de número de UPAs do que em área abrangida. No segmento das práticas destinadas
à produção pecuária, foram observados casos isolados em que tanto em número
como em área registraram decréscimo, devendo ser aspecto que mereça maior
atenção por parte das estratégias de ação da administração pública focalizadas
nessa regional. 1Em
termos percentuais em relação ao total do VBP do estado, houve queda na
participação do EDR, pois em 2008 somava 4,89%, baixando para 4,57% em 2017. Palavras-chave: estatísticas agrícolas regionais, agricultura em São João
da Boa Vista.
Data de Publicação: 06/05/2020
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor