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Jabuticaba do Quintal para Produção de Mercado
Para grande maioria das pessoas a jabuticaba sempre
está ligada à memória afetiva da infância: uma jabuticabeira no quintal, onde
se colhia e se saboreava o fruto no pé. No decorrer dos anos essa fruta
tipicamente Sul Americana, especificamente da Mata Atlântica, com seu aroma e
sabor inconfundíveis vem ocupando novos espaços nas gôndolas dos mercados in natura com novas roupagens, ou
processadas com diferentes usos e destinos. A jabuticaba pode ser encontrada em todo território,
pois se adapta desde o clima tropical até ao subtropical úmido, sendo
encontrada tanto em regiões com temperaturas médias baixas, como no Rio Grande
do Sul, como em regiões mais quentes, como no Pará2. Em especial,
são produzidas nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná,
Espírito Santo e Goiás onde está localizado o maior pomar da fruta no país. A
fruta também pode ser encontrada em certas regiões do México,
Bolívia, Argentina, Paraguai e Uruguai3. “A jabuticabeira é uma árvore de crescimento lento,
que demanda cerca de 10 anos para sua primeira frutificação. Quando adulta ela
pode alcançar cerca de 15 metros de altura e apresenta copa em formato
piramidal. Após a polinização, as flores gradativamente vão sendo substituídas
por pequenos frutos verdes, esféricos, que se tornam vermelhos e depois negros,
quando completamente amadurecidos. Os frutos com formato arredondado e
coloração que varia entre verde e roxo-escura são do tipo baga, apresentam
casca brilhante e fina, a polpa branca que envolve cerca de 1 a 4 sementes”4. As jabuticabeiras produzem de agosto a setembro e de
janeiro a fevereiro. A safra, embora de período curto, é abundante. Existem
cerca de 12 a 15 diferentes espécies de jabuticaba. “Os frutos atualmente
consumidos são provenientes de três espécies: Plinia jaboticaba, conhecida como
Sabará, cultivada principalmente em Minas Gerais; Plinia cauliflora,
Açu-paulista, com distribuição de São Paulo até norte do Rio Grande do Sul; e
Plinia trunciflora, ou jabuticaba de cabinho, de ocorrência generalizada, sendo
esta a espécie que apresenta a maior diversidade de frutos. Alguns viveiristas
estão comercializando mudas de jabuticabeira híbrida, com produção precoce e
mais de duas safras por ano, porém a origem desse genótipo não está totalmente
elucidada. Portanto, é notável a variabilidade genética existente entre as
jabuticabeiras cultivadas em vários locais do Brasil, que se expressa também na
qualidade de seus frutos”5. A comercialização vem crescendo nos
últimos anos e alguns analistas sinalizam o potencial econômico da fruta, dado
seu alto consumo "in natura". Não obstante, há dificuldade de se
realizar a colheita e o período de pós-colheita é curto. A fruta é rica em ferro, cálcio, fósforo, vitamina
C, vitaminas do complexo B, em compostos bioativos com função antioxidante que
possuem a função de evitar problemas de pele, reumatismo e queda de cabelo.
Entre outras coisas, essas substâncias neutralizam os radicais livres,
moléculas desemparelhadas acusadas de danificar as células e provocar estragos
no organismo6,7 e 8. A jabuticaba tem despertado o grande interesse da
indústria alimentícia, por isso vem sendo utilizada na produção de diversos
produtos como: vinhos, sucos, geleias, compotas, licores, aguardente e
vinagres. Pelo seu alto teor de fibras e boas qualidades nutricionais, o bagaço
da jabuticaba é utilizado na elaboração de farinhas destinadas ao preparo de
pudins, purê pré-pronto, bolo, pães, cookies, bolacha, macarrão, até mesmo
bebidas isotônicas9,10. A parceria entre o Instituto de Economia Agrícola
(IEA) e a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), órgãos da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA),
realizam o levantamento de dados sobre a cultura de jabuticaba como: pés novos,
pés em produção e produção da cultura de no estado. A coleta de dados é
realizada pelos técnicos das Casas de Agricultura e posteriormente encaminhada
ao IEA onde são depurados. De acordo com dados elaborados entre 2014 a 2018 a
produção paulista de jabuticaba foi em média de 2.646,8 toneladas anuais. Esta
produção concentrou-se no EDR de São João da Boa Vista que foi responsável por
82,1% do total da produção estadual, ou seja, uma média anual de 2.114,2
toneladas. Neste EDR os principais municípios produtores são Casa Branca e
Aguaí. Em um total de treze EDRs com informações de produção, destacam-se São
José do Rio Preto (Ipiguá, principal município produtor) e Mogi das Cruzes
(Guararema, principal município produtor) com médias anuais no período de 144,1
t e 105,5 t, respectivamente. Não obstante, a produção de jabuticaba nos
últimos cinco anos (2014 a 2018) teve crescimento negativo de 1,6%, segundo
informações obtidas no levantamento de campo (Tabela 1 e Figura 1). O Estado de São Paulo, em 2018, possuía 34,43 mil
pés em produção, essa informação guarda relação com as regiões e municípios
produtores (Tabela 2) Não obstante, no período estudado, os EDRs que
apresentaram o maior número de pés novos foram São João da Boa Vista, São José
do Rio Preto, Bragança Paulista e Ribeirão Preto, com total de 10,6 mil pés. É
interessante observar o número de pés novos nos EDRs, pois este número indica
que a cultura está se estabelecendo no estado como mais uma fonte de renda aos
produtores rurais (Tabela 3). Para traçar um panorama da cultura de jabuticaba no
interior das propriedades rurais do Estado de São Paulo, utilizou-se o último
Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuário do Estado de São
Paulo (LUPA), realizado pelo IEA e CDRS, em 2016 e 2017. O número total de Unidades de Produção Agropecuária
(UPAs) com jabuticaba foi de 210. As UPAs entre 2 ha a 200 ha, corresponderam a
uma área de 4.807 ha (68,1% da área total de jabuticaba), ou seja 191 UPAs.
Convém destacar que 5 UPAs apresentaram área entre de 200 ha a 500 ha,
perfazendo, no conjunto, um total de 1.606 ha (Tabela 4). As características da ocupação do solo das UPAs que
possuem a cultura foram 210 UPAs com culturas perenes, 201 com área
complementar, 125 com vegetação natural, 114 com pastagem e 94 com culturas
temporárias, além de 55 com reflorestamento, 33 com vegetação de brejo e várzea
e 29 com área de descanso (Tabela 5). O nível de instrução dos produtores da UPAs
apresentou a seguinte distribuição: 65 com superior completo, 50 alfabetizados,
43 com 1º grau/ensino fundamental, 42 com 2º grau/ensino médio (Figura 2). Esse
nível educacional tem corroborado para uma boa prática dos proprietários, o que
tem levado a uma boa participação em cooperativas, associações, acesso ao
crédito, assistência técnica, enfim, ao que está disponível no mercado. Outro importante informe deste Levantamento
Censitário está na possibilidade de quantificar a origem da renda familiar nas
UPAs, ou seja, 112 UPAs tinham na produção agropecuária a principal fonte de
renda familiar (entre 41% a 100% da renda) e em 98 UPAs a principal fonte de
renda vinha de outros setores da economia. As 210 UPAs totalizaram área de 7.061,5ha, desta
área 315,3 ha estavam ocupadas com a cultura da jabuticaba. A relação entre a
área plantada com jabuticaba e a área total da UPA apresentou uma distribuição
nas seguintes faixas: 173 UPAs na faixa de até 20%, 22 UPAs na faixa de 20,1% a
40%, na faixa de 40,1% a 60% apresentou 5 UPAs, na faixa de 60,1% a 80%
apresentou 2 UPAs e na faixa de 80,1% a 100% apresentou 8 UPAs. Essa
distribuição indica que as áreas ocupadas por jabuticaba são pequenas em
relação ao tamanho da propriedade. As principais culturas nas propriedades com
jabuticaba foram as forrageiras/pastagens onde a braquiária foi o principal
destaque com uma área de 1.735,6 ha. As frutas apresentaram um total de 430,0
ha, onde as principais foram a manga, a laranja e o caqui. Outras culturas que
se destacaram foram: cana-de-açúcar finalidade indústria com 1.106,2 ha, milho
safra com 342,3 ha, eucalipto com 230,7 ha e soja com 226,2 ha. Interessante observar a ocupação de pessoas nas UPAs
com jabuticaba. Certamente estas pessoas disponibilizam parte de sua jornada
anual de trabalho nos cuidados com a cultura. Da totalidade das UPAs, 160
possuíam proprietários e seus familiares que trabalhavam nas unidades num total
de 300 pessoas e 66 UPAs detinham 197 mensalistas, ou seja, trabalhadores com
registro em carteira. A assistência técnica utilizada pelos produtores de
jabuticaba foi em 71 UPAs para a governamental, 32 UPAs para a privada e 57
UPAs utilizaram tanto a assistência técnica governamental quanto a privada, e
ainda, 50 UPAs não utilizaram nenhuma assistência técnica (Figura 3). A adoção de tecnologias agronômicas para o
incremento da produtividade também pode ser apreciada pelos resultados obtidos
pelo atual levantamento censitário. A práticas de conservação do solo foi
informado por 144 UPAs (68,6%) e que 118 UPAs realizaram análise de solo.
Quanto a prática de adubação, 149 UPAs fizeram a mineral, 108 UPAs a orgânica e
33 UPAs utilizaram a adubação verde. A calagem foi realizada em 85 UPAs. Esses
indicadores mostram o cuidado na manutenção da fertilidade do solo nas
propriedades. Dos 315,3 ha ocupados com jabuticaba, a irrigação foi utilizada
em 60 UPAs, ou seja, em 167 ha. Foi informado que 19,6 ha estavam arrendados e
que a totalidade da colheita foi realizada manualmente. Nos aspectos socioeconômicos, 104 UPAs seus
proprietários faziam parte de sindicato de produtores, 50 UPAs de cooperativas
de produtores e 47 UPAs de associações de produtores. A utilização de crédito
rural foi realizada por 63 UPAs (30,0%) e 27 UPAs (12,9%) utilizaram o seguro
rural. A utilização de energia elétrica para uso na
atividade agrícola se fez presente quase que na totalidade das UPAs, alcançando
uma participação de 91,9%, ou seja, 193 UPAs. O emprego de computadores na
exploração agrícola como acesso à internet para fins na agropecuária, quanto a
utilização de computadores nas atividades agropecuárias apresentaram baixa ocorrência
49 UPAs e 47 UPAs, respectivamente. Ou seja, foram poucas as UPAs que contaram
com essa importante ferramenta de gestão. Com a crescente procura da população por alimentação
saudável, essa cultura é impulsionada a crescer no estado, uma vez que ela traz
muitos benefícios à saúde, contribui para a recuperação dos atletas pós-jogo;
equilibra as taxas de colesterol e atua contra o depósito de gordura no fígado;
previne a obesidade; baixa a pressão arterial; atua como anti-inflamatório;
protege estruturas do cérebro, caso do hipocampo, que está ligado à regulação e
à preservação da memória (caso do Alzheimer); além desses benefícios, a casca
da jabuticaba é rica em fibras alimentares, tanto as solúveis quanto as
insolúveis, aumentando a produção de glutationa, substância produzida no fígado
que auxilia na proteção antioxidante. Estudos estão sendo desenvolvidos
utilizando o extrato da casca de jabuticaba no atraso da progressão do câncer
de próstata. Finalmente,
essa árvore tipicamente sul americana ganha novos horizontes. Com a autorização
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Brasil exportou em
2017 dez jabuticabeiras, medindo, aproximadamente, seis metros de altura, para
a China. Foram embarcadas no porto de Paranaguá com destino ao porto de Ningbo,
tendo sido a primeira operação do tipo realizada no local. Elas foram
acondicionadas em contêiner aberto com irrigação forçada para viagem. Como esse
tipo de carga precisa de sol, foram colocadas na parte de cima dos contêineres
e também para que as árvores fossem as primeiras a serem descarregadas. A
tendência é de ampliar essa modalidade de exportação, podendo chegar a 2 mil
árvores “Made in Brazil” exportadas em até dez anos para o país asiático11. 1Os autores agradecem a Josilene Ferreira Coelho pelas contribuições
auferidas no texto. 2JABUTICABA. Brasil Escola,
São Paulo, 2019. Disponível em
https://brasilescola.uol.com.br/frutas/jabuticaba.htm. Acesso em: 8 ago. 2019. 3JABUTICABA. In: WIKIPEDIA: the free encyclopedia. São
Francisco: Wikimedia Foundation, 2019. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jabuticaba. Acesso em: 8 ago. 2019. 4PATRO, R. Jabuticaba - Myrciaria cauliflora. Jardineiro.net, s. l., 12 ago. 2013. Disponível em:
https://www.jardineiro.net/plantas/jabuticaba-myrciaria-cauliflora.html. Acesso
em: 15 ago. 2019. 5Jabuticaba, uma fruta deliciosa e brasileira!. Fruitíferas.com.br, s. l., 2018. Disponível em https://www.frutiferas.com.br/jabuticaba.
Acesso em 8 ago. 2019. 6Vários estudos estão sendo desenvolvidos em Universidades com a
jabuticaba. Na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, o
desenvolvimento de bebida na recuperação dos atletas pós-jogo; outros trabalhos
foram equilibrar as taxas de colesterol e a atuação do produto contra o
depósito de gordura no fígado. Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo (USP) foi avaliado o potencial da jabuticaba na
prevenção da obesidade. No Laboratório de Farmacologia Cardiovascular da
Universidade Federal de Goiás (UFG) verificou-se que compostos encontrados na
casca provocam um considerável relaxamento das artérias, esse efeito contribui
para baixar a pressão. Outro grupo que tem deparado com excelentes resultados é
o do engenheiro de alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que
os compostos da jabuticaba têm atributos anti-inflamatórios. “As substâncias
interferem na cascata de inflamações que é marcante na obesidade. Esse
mecanismo protege estruturas do cérebro, caso do hipocampo, que está ligado à
regulação e à preservação da memória. Assim, o Alzheimer engrossa a lista de
males potencialmente combatidos pela frutinha”. Pesquisadores, também da
Unicamp, estão realizando estudo em que avaliam o uso do extrato da casca de
jabuticaba no atraso da progressão do câncer de próstata Na Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, foi observado que a casca
da jabuticaba é rica em fibras alimentares, tanto as solúveis quanto as
insolúveis, aumentando a produção de glutationa, substância produzida no fígado
que auxilia na proteção antioxidante. PEREIRA, R. C. Jabuticaba é bom pra quê? Conheça os benefícios da nossa joia
nacional. Saúde, São Paulo, 5 jan. 2019. Disponível em:
https://saude.abril.com.br/alimentacao/jabuticaba-e-bom-pra-que-conheca-os-beneficios-da-fruta/.
Acesso em: 8 ago. 2019. 7OCTAVIANO, C. Extrato de jabuticaba pode prevenir doenças. Jornal da Unicamp, Campinas, s. d.
Disponível em:
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2019/05/30/extrato-de-jabuticaba-pode-prevenir-doencas.
Acesso em: 8 ago. 2019. 8ALISSON, E. Extrato da casca de jabuticaba promove efeitos benéficos à
saúde. Jornal da Unicamp, Campinas,
6 nov. 2018. Disponível em:
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2018/11/06/extrato-da-casca-de-jabuticaba-promove-efeitos-beneficos-saude.
Acesso em: 15 ago. 2019. 9ASCHERI, D. P. R. et al. Caracterização da farinha de bagaço de
jabuticaba e propriedades funcionais dos extrusados. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 26, n. 4, p.
897-905, out./dez. 2006. 10ZAGO, M. F. C. Aproveitamento de
resíduo agroindustrial de jabuticaba no desenvolvimento de formulação de cookie
para a alimentação escolar. 129 f. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciência e
Tecnologia de Alimentos) - Escola de Agronomia, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2014. 11DAL MOLIN, G. Brasil exporta jabuticabeiras adultas e gera árvores ‘Made
in China’. Gazeta do Povo, Curitiba,
12 abr. 2017. Disponível em:
https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/logistica/brasil-exporta-jabuticabeiras-adultas-e-gera-arvores-made-in-china-6xbowg0i73webob7wnc58wg8j/.
Acesso em: ago. 2019. Palavras-chave: jabuticaba,
previsão de safra, LUPA, Estado de São Paulo.
Data de Publicação: 05/12/2019
Autor(es):
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor