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Como os Focos de PSC em Alagoas e PSA na Ásia e no Leste da Europa Afetam o Negócio de Suínos no Brasil
No dia 9 de outubro a Agência de Defesa e Inspeção
Agropecuária de Alagoas (ADEAL) informou, em seu site, a ocorrência do foco de peste suína clássica (PSC) no
município de Traipu, Estado de Alagoas1. O Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), confirmou o registro do foco,
interditou a propriedade e abateu todos seus animais, sendo realizadas ainda medidas
de segurança necessárias, como visitar as propriedades em um raio de 10 km em
torno do foco2. Ou seja, foram
tomadas as principais providências já que as fontes de infecção são o sangue,
os tecidos, as secreções e excreções de animais doentes e mortos3. A PSC, que foi reconhecida no século XIX,
difere da peste suína africana (PSA) – reconhecida no século XX4-
que está acometendo o rebanho suíno na China, Sudoeste Asiático e Leste Europeu,
causando graves problemas para estes países, grandes consumidores de carne
suína. No nível
internacional, a Organização Mundial de Saúde
Animal (OIE) informou que atualmente 22 países notificaram novos surtos ou focos em andamento, e
que no último período levantado pela organização, de 27 de setembro a 10 de
outubro, surgiram 507 novos focos da PSA relatados no mundo. Dentre estes, 330
foram notificados na Europa e a China não apresentou mais nenhum5. Outra notícia de
outubro é que 37.651 animais foram sacrificados, sendo que a grande maioria -
25.532 suínos - eram da Ásia e 12.997 apenas no Laos. Na África, foram abatidos
11.229 animais e na Europa 890 suínos, dentre os quais 619 da Romênia6. No caso da PSC, ela foi grande ameaça ao
mundo de década de 1970 e 1980. Agora novamente se tornou uma ameaça para a
suinocultura mundial7. As duas doenças são causadas por vírus diferentes, são
graves, altamente contagiosas e fatais apenas para os suínos8. Ambas
têm notificação obrigatória tanto aos órgãos oficiais nacionais como
internacionais de controle de saúde animal9. No Brasil, a PSA ocorreu no
final da década de 1970, tendo sido erradicada e é hoje considerada exótica no
país10. Em relação ao PSC, o
país tem zonas livres reconhecidas pela OIE, e Alagoas não está incluída nessas
áreas11. Ressalte-se que, antes de ocorrer o foco neste estado, outro
foi detectado em 2018, e alguns casos da doença foram observados no Ceará e no
Piauí em maio de 2019, o que é preocupante. Ou seja, não se tem conseguido
manter a doença isolada. No entanto, a ocorrência a princípio não
afeta o status do Brasil frente a
OIE, nem do Estado de São Paulo; não deve haver também problemas com as
exportações dos estados que estão livres da doença, já que 95% das indústrias
de produtos suínos exportados estão concentradas em 15 estados que são áreas
livres de PSC12. Além disso, há barreiras nos limites das zonas
livres com o intuito de evitar a chegada da doença nesses locais. Deve-se ficar
alerta, porém, com os casos ocorridos nos estados nordestinos. O Estado de São Paulo está entre aqueles
com status livre de PSC. Teve seu
último caso em 1998, quando a doença foi combatida e excluída definitivamente.
O reconhecimento pelo MAPA para todos estados incluídos na zona livre ocorreu
em 2001. A OIE reconheceu o status do
Estado de São Paulo mais recentemente, em 201613. O Brasil é exportador de carne suína e
tem a perspectiva de crescimento de suas exportações face a ocorrência da PSA
na China, Sudoeste da Ásia e países europeus. Este momento é uma grande
oportunidade para o país abrir mais mercados com preços mais elevados devido à
grande procura pelo produto. A
prevenção em países livres da doença está diretamente relacionada às políticas
de importação rígidas, garantindo que não entrem no país não apenas os suínos vivos infectados, mas também
os produtos de origem suína que vêm de outros países ou mesmo de regiões que
apresentam a PSA14; além disso, é necessário evitar a entrada de
resíduos de alimentos que possam ser utilizados para alimentar os animais, o
que ocorreu em 1978, quando a doença chegou por aqui provavelmente pela
utilização de restos de alimentos de produtos suínos crus ou curados, de voos
vindos da Europa15. O perigo de haver
uma expansão do PSC, assim como da PSA pelo Brasil, e de as doenças chegarem no
Estado de São Paulo existe, mas espera-se que o controle sistemático da defesa
sanitária tanto do país como nos estados seja suficiente para impedir o fato.
Mas todo cuidado é pouco, pois nos aeroportos, portos e fronteiras há
necessidade de maiores investimentos em recursos financeiros e de pessoal para
aumentar a fiscalização. A doença, caso ocorresse
no país poderia causar significativas consequências socioeconômicas, calculadas
em cerca de US$5,5 bilhões apenas no Brasil, já que o país tem grande volume de
vendas para o mercado externo16. O
país tem avanços importantes nas questões sanitárias para suínos, o que o levou
a se consolidar nas vendas ao mercado externo, sendo atualmente o quarto
exportador mundial17. A possibilidade de expansão das exportações,
principalmente para a China, é real, já que o rebanho está sendo dizimado no
país oriental que tem hábitos de consumo de carne suína consolidados
culturalmente, necessitando importá-la para atender seu consumidor. Este momento tem se
mostrado como uma grande oportunidade para o país abrir novos mercados,
consolidá-los e depender menos das importações da Rússia, que muitas vezes tem
suspendido suas compras do Brasil devido a questões sanitárias nem sempre
fundamentadas, e causado problemas aos produtores brasileiros e à balança
comercial do agronegócio. Em
São Paulo, segundo informações obtidas pela Coordenadoria de Defesa
Agropecuária (CDA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a preocupação
maior é com o controle de resíduos de animais, pois é o ponto mais frágil do
sistema, principalmente nas feiras típicas nordestinas realizadas no estado que
trazem as carnes suínas do Nordeste para serem vendidas aqui. A questão
genética não é preocupante porque é o Estado de São Paulo que envia matrizes
para os do Nordeste. No dia 17 de outubro,
a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) se reuniu com o MAPA para
debater medidas para o monitoramento e erradicação de focos de PSC no país a
serem realizados por esse ministério, após ser detectado recentemente em
Alagoas. Foram debatidas, ainda, estratégias de trabalho conjunto para
intensificar o monitoramento preventivo de PSA18. Decidiu-se, também,
erradicar a PSC do país e, para isso, foram discutidas estratégias a serem
usadas nas áreas que não são reconhecidas pela OIE como livres da doença. Para
Ricardo Santin, diretor-executivo da ABPA, nosso status sanitário é que nos torna diferenciados e competitivo19. Dentro
do grupo de carnes, a suína é responsável por 9,4% das exportações brasileiras20,
o menor nível em relação às outras carnes vendidas. Quanto
às exportações paulistas, o volume de carne suína exportada é baixo e não tem
expressão frente aos outros estados brasileiros das regiões Sul e Centro-Oeste.
onde ocorre a maior concentração da produção e exportação nacional, não
comprometendo as vendas nem no mercado interno nem as exportações nacionais. 1NOTA:
confirmação de foco de Peste Suína Clássica em Alagoas. Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas, Maceió, 9
out. 2019. Disponível em: http://www.defesaagropecuaria.al.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/confirmacao-de-foco-de-peste-suina-classica-em-alagoas.
Acesso em: 10 out. 2019. 2CONFIRMADO
foco de Peste Suína Clássica em Alagoas. Suinocultura
Industrial, Itu, 11 out. 2019. Disponível em:
https://www.suinoculturaindustrial.com.br/imprensa/confirmado-foco-de-peste-suina-classica-em-alagoas/20191011-084720-N748.
Acesso em: 11 out. 2019. 3PESTE
suína africana (PSA): tudo o que você precisa saber sobre a doença. Canal Rural, São Paulo, 12 maio 2019.
Disponível em:
https://canalrural.uol.com.br/noticias/pecuaria/suino/peste-suina-africana/.
Acesso em: 14 out. 2019. 4PESTE
suína. Agência de Defesa e Inspeção
Agropecuária de Alagoas, Maceió, [2019]. Disponível em:
http://www.defesaagropecuaria.al.gov.br/sanidade-animal/peste-suina. Acesso em:
11 out. 2019. 5OIE
notifica 507 novos focos da peste suína, para total de 9.491 surtos no mundo. Portal DBO, São Paulo, 15 out. 2019.
Disponível em:
https://www.portaldbo.com.br/oie-notifica-507-novos-focos-da-peste-suina-para-total-de-9-491-surtos-no-mundo/.
Acesso em: 15 out. 2019. 6Op.
cit. nota 5. 7CARON,
L. Peste suína africana causa dano severo a suinocultura do leste europeu e da
Ásia. Revista Suinocultura Industrial,
Itu, n. 5, ed. 290, p. 18-23, 2019. 8Op.
cit. nota 4. 9PESTE
Suína Africana. Portal EMBRAPA,
Concórdia, [2019]. Disponível em: https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/psa.
Acesso em: 14 out. 2019. 10Op.
cit. nota 7. 11Op.
cit. nota 2. 12Op.
cit. nota 2. 13PARANHOS,
T. et al. (Coord.). Defesa agropecuária
Estado de São Paulo: promovendo o agronegócio, protegendo o meio ambiente,
a saúde pública e a sanidade animal e vegetal. São Paulo: SAA: Campinas: DA,
2018. 59 p. Disponível em:
https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/livro/defesa/20-anos/. Acesso em: 11
out. 2019. 14CARDOSO,
L. S. Peste Suína Africana: desafio do Brasil é manter animais livres da doença
letal e sem cura, mas que não afeta humanos. Portal EMBRAPA, Tamanduá, 10 jun. 2019. Disponível em:
https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/43987217/peste-suina-africana-desafio-do-brasil-e-manter-animais-livres-da-doenca-letal-e-sem-cura-mas-que-nao-afeta-humanos.
Acesso em: 15 out. 2019. 15Op.
cit. nota 14. 16Op.
cit. nota 14. 17Op.
cit. nota 14. 18GOVERNO
e setor produtivo discutem defesa sanitária na sede da ABPA. ABPA na Mídia, São Paulo, 17 out. 2019.
Disponível em:
http://abpa-br.com.br/noticia/governo-e-setor-produtivo-discutem-defesa-sanitaria-na-sede-da-abpa-2926.
Acesso em: 21 out. 2019. 19Op.
cit. nota 18. 20GHOBRIL,
C. N. et al. Balança comercial dos
agronegócios paulista e brasileiro de janeiro a setembro de 2019. Análise e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 14, n. 10, p. 1-14, out. 2019. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-77-2019.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. Palavras-chave: suínos,
peste suína clássica, peste suína africana.
Data de Publicação: 04/11/2019
Autor(es): Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor