Excedentes de Produção de Café em Ascensão com Pressão Baixista Sobre as Cotações


 

A crescente escalada de hostilidades sino-americanos sedimenta previsões de que tanto o comércio mundial quanto a riqueza por meio dele criada deverá encolher. O aumento das incertezas no ambiente geopolítico tende a pressionar a taxa de crescimento econômico mundial. Tal constatação reflete-se na demanda do mercado de commodities, na medida em que uma menor taxa de crescimento tende a arrefecê-la. No cenário doméstico, a desvalorização do real frente ao dólar, ao longo do mês, adicionou mais pressão sobre as cotações das principais commodities negociadas em bolsa.

         Os investidores do mercado de contratos futuros de café na Bolsa de Nova York permanecem reticentes quanto ao potencial de alavancagem desse mercado no curto prazo. Assim, a média da primeira semana de agosto das cotações em segunda posição atingiu US$¢104,15/lbp, declinando para US$¢100,40/lbp na quarta semana, ou seja, baixa de 3,6% no mês (Figura 1).

         As estimativas informais dos operadores de mercado de que poderia haver aumento da oferta mundial do produto foram confirmadas pela Organização Internacional do Café em seu relatório de julho de 20191, apontando expansão de 2,8% nas exportações mundiais frente ao mês anterior. Informou em seu relatório, ainda, que houve crescimento na produção, totalizando 168,77 milhões de sacas (1,9% acima do estimado em junho). Ademais, em 15 de agosto a Green Coffee Association publicou que houve, em julho de 2019, incremento de 279 mil sacas em estoques de café verde nos terminais portuários estadunidenses2. Tais resultados estatísticos pressionaram as cotações ao longo do mês, retirando qualquer possibilidade de sustentação para os preços.

Em agosto, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério da Economia, as exportações atingiram 2,98 milhões de sacas (incremento de 32,3% frente ao mesmo mês do ano anterior). O montante embarcado em agosto superou em 5,5% o volume das vendas de julho. Nos primeiros oito meses de 2019, as exportações brasileiras já superam em 47,5% o total embarcado em igual período do ano anterior3.

Na principal praça de comercialização de café no Estado de São Paulo (regional de Franca), os cafeicultores receberam R$406,43/sc. (média de agosto de 2019)4. Convertendo-se a cotação em segunda posição da quarta semana do mês, obtêm-se US$132,80/sc. que, ao câmbio médio de agosto (R$4,13/US$)5, resultou em R$548,46/sc., ou seja, R$142,03/sc. de margem, patamar suficientemente elevado para estimular a contratação de hedge.

         No mercado futuro de café robusta negociado na Bolsa de Londres, constatou-se relativa estabilidade das médias semanais das cotações. A falta de sustentação para as cotações do arábica impediu qualquer reação para as cotações do robusta (Figura 2).

Em 2019, o Vietnã, embora tenha alcançado a segunda maior produção de robusta de sua história evidencia desaceleração de suas exportações, com queda de 3,9% frente a igual período do ano anterior6. Aparentemente, deve-se a esse fato a menor queda das cotações do produto em agosto comparativamente às observadas no arábica.

O movimento de investidores na compra e venda de contratos refletiu a percepção de existência de volume de oferta excedente no mercado. Entre a primeira e última semana do mês, os fundos e grandes investidores incrementaram a posição líquida em quase 10 mil contratos (Tabela 1).

 

Em movimento contrário, caminhou a posição líquida dos investidores comerciais e industriais com quantidades de contratos comprados e vendidos em volumes bastante equilibrados. Aparentemente, houve incremento das aquisições do produto para aproveitar a baixa registrada nas cotações, recompor estoques para fazer frente a inverno no Hemisfério Norte e/ou se precaver de problemas comerciais com a escalada das tensões sino-americana.

         A Câmara de Deputados aprovou, ao início de setembro, o PL n. 312 que versa sobre a Política Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA)7. O projeto prevê a remuneração monetária ou por melhorias sociais à comunidade, responsabilizando o poder público pela conservação da biodiversidade. Os cafeicultores certificados com selos de sustentabilidade socioeconômica e ambiental podem ser beneficiados pelo PL aprovado.

 

 

 

1INTERNATIONAL COFFEE ASSOCIATION. What’s new, Londres, jul. 2019. Disponível em: http://www.ico.org/. Acesso em: 4 set. 2019. O relatório informa ainda que o excedente mundial alcançou nos dois últimos anos safras 8 milhões de sacas.

 

2GREEN COFFEE ASSOCIATION, INC. Warehouse information, Nova Iorque, 2019. Disponível em: http://greencoffeeassociation.org/professionalresources/warehouse_information. Acesso em: 4 set. 2019. Em 15/07/2019 o balanço dos estoques disponíveis havia indicado aumento de 210 mil sacas em seus armazéns certificados.

 

3BRASIL embarca 2,985 mi de sacas de café em agosto. Isto É, São Paulo, 2 set. 2019. Disponível em: http://bit.ly/2kqUniu. Acesso em: set. 2019.

 

4INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2019. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx? cod_sis=6. Acesso em: set. 2019. (Acesso exclusivo para assinantes do serviço).

 

5BANCO CENTRAL. Indicadores econômicos consolidados. Brasília: BC, set. 2019. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/indicadoresconsolidados. Acesso em: 4 set. 2019.

 

6Op. cit. nota 1.

 

7MOTA, E. Câmara aprova projeto que prevê pagamento para quem preservar meio ambiente. Congresso em foco, Brasília, 3 set. 2019. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/congresso-em-foco/camara-aprova-projeto-que-preve-pagamento-para-quem-preservar-meio-ambiente/. Acesso em: set. 2019.

 

 

 

Palavras-chave: Bolsa de Valores, cotações do café, políticas públicas. 

Data de Publicação: 19/09/2019

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor