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Em Julho, as Cotações Futuras no Mercado de Café se Mantêm Pressionadas
O acirramento do conflito comercial desencadeado
pela incapacidade das autoridades governamentais responsáveis pelo comércio bilateral
de EUA e China incrementa o cenário global de incertezas sobre as
potencialidades de expansão econômica de médio prazo. Enquanto reflexo de
assunção de ordem mundial assentada no aumento do protecionismo, emerge
ambiente menos amigável para a realização de trocas comerciais internacionais,
o que, efetivamente, reflete-se no agro brasileiro com quedas generalizadas nas
cotações das principais commodities
exportadas pelo país. Em
julho de 2019, os investidores no mercado de café da Bolsa de Nova York, após
receberem relatórios sobre de previsões climáticas para a primeira quinzena do
mês incidindo sobre os cinturões arábicos do Brasil, iniciaram movimento de
compra de posições na expectativa da possibilidade de que as massas polares
pudessem trazer maiores danos às lavouras. Tal movimentação repercutiu nas
cotações que, na média primeira semana do mês, estabeleceu patamares mais
elevados para as posições futuras, marcando para entrega em março de 2020
US$¢119,23/lbp (Figura 1). Nas
semanas seguintes do mês de julho de 2019, com a sinalização de que onda No principal cinturão cafeeiro do Estado de São
Paulo, situado na região de Franca, os cafeicultores receberam pelo produto
(tipo 6 bebida dura), em julho de 2019, em média R$420,11/sc., tendo oscilado
no mês de R$449,20/sc. de máxima a R$390,80/sc. na mínima, ou seja, perda de
R$58,40/sc. ao longo do mês2. Considerando a média da cotação do
dólar em julho de R$3,78/US$, a média do preço recebido alcança US$111,14/sc.
Convertendo-se o melhor preço para entrega em março de 2020 (US$¢119,23/lbp)
ocorrido na primeira semana de julho, para dólar por saca, obtêm-se
US$157,72/sc., ou seja US$46,58/sc. acima do preço médio recebido, sendo, aparentemente,
montante atrativo para a contratação de hedge. No
mercado de robusta transacionado na Bolsa de Londres, a média das cotações
semanais seguiu o mesmo movimento observado para o caso do arábica em Nova
York. As cotações registradas na primeira semana, para as posições futuras, não
se sustentaram e seguidamente exibiram novos declínios. Na primeira semana do
mês, a cotação média registrou US$¢67,47/lbp para a posição de novembro de
2019. Na última semana do mês, para a mesma posição, a cotação média havia
baixado para US$¢63,08, ou seja, declínio de 6,96% no mês, ainda assim menos
agudo do que o registrado para a arábica no mesmo período (Figura 2). Os
investidores no mercado de café em Nova York (fundos e grandes) desfizeram
posições vendidas entre a primeira e segunda semana do mês, resultando no menor
volume no balanço de posições líquidas (17,8 mil). Todavia, não houve
simultaneamente movimento de incremento das posições compradas que permaneceram
relativamente estáveis. Essa sinalização refletia, em parte, o ceticismo dos
investidores quanto à intensidade da massa polar sobre as regiões cafeeiras e
os danos que poderiam acarretar aos cafeeiros. Avançando mais para o final do
mês, a posição líquida quase que dobra, saltando para 32,6 mil contratos,
confirmando o sentimento do mercado que não havia suporte para as cotações
(Tabela 1). A Green Coffee Association3 dos EUA
divulgou, em 15/07/2019, o balanço dos estoques disponíveis nos diversos portos
de recebimento da mercadoria, apontando aumento de 210 mil sacas em seus
armazéns certificados. A informação foi decisiva para o fortalecimento da baixa
nas cotações observadas, especialmente na segunda quinzena do mês. Em
junho de 2019 se encerrou o ano cafeeiro no Brasil (julho/18 a junho/19). O
período registrou recorde nas exportações brasileiras de café, totalizando
embarques de 41,1 milhões de sacas (+35%) distribuídas entre arábica (33,6 msc.),
conilon (3,6 msc.) e solúvel (3,9 msc.)4. Esse expressivo volume de
embarques contribuiu para o aumento do saldo cambial, que contabilizou US$5,3
bilhões (+9,8%). Ainda que as condições internacionais não estejam propícias
para as trocas, o país ampliou seu market
share nas vendas globais de café ao substituir outras origens na composição
dos blends das torrefadoras globais. Considerando o ciclo de queda nas cotações, a
resiliência da oferta brasileira frente aos demais concorrentes desse mercado
consiste em posicionamento estratégico, na medida em que, numa eventual
alavancagem das cotações, a origem Brasil estará melhor talhada para se
beneficiar de eventual fase propícia para os cafeicultores com elevação nas
cotações. Saliente-se que a OIC estima que o consumo da bebida deverá manter o
crescimento de 2,0% a.a., atingindo 164,6 milhões de saca5 e
reduzindo as possibilidades de acúmulo de estoques no ano cafeeiro que se
inicia. Caso a oferta brasileira não tenha o desempenho futuro esperado, pode
haver inclusive consumo dos estoques, favorecendo a alavancagem nas cotações
futuras. 1O
autor agradece o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos
conduzido pelo analista de sistema Paulo Sérgio Caldeira Franco, Agente de Apoio
à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA. 2Disponível
em: INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços
médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2019. Disponível
em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod 3Ver: GREEN COFFEE ASSOCIATION, INC. Warehouse
coffee stocks. New York: jul. 2019. Disponível em:
http://greencoffeeassociation.org/images/uploads/6-2019_Warehouse_Stocks.pdf.
Acesso em: ago. 2019. 4CONSELHO
DE EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL. Relatório
mensal: junho 2019. São Paulo: CECAFE, 2019. Disponível em:
http://cecafe.com.br. Acesso em: 6 ago. 2019. 5Disponível em: INTERNATIONAL COFFEE ORGANIZATION. What’s new. Londres, jul. 2019. Disponível em:
http://www.ico.org/. Acesso em: ago. 2019. Palavras-chave: mercado
futuro, bolsa de valores, cotações do café.
de frio não havia danificado severamente as lavouras, a média das cotações baixou,
encerrando na média da quinta semana para a posição futura de março cotado a
US$¢106,42/lbp, ou seja, declínio de 12,04% no mês.
_sis=6. Acesso em: ago. 2019. Acesso exclusivo para assinantes do serviço.
Data de Publicação: 09/08/2019
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor