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Contenda Sino-Americana: e o café com isso?
Em 10/05/2019, o controverso presidente dos EUA
acionou unilateralmente e fora das regras da OMC nova fase da disputa comercial
com a China, elevando para 25% as alíquotas de importação sobre itens que
montam US$200 bilhões em aquisições americanas. De forma mais cautelosa, porque
tem mais a perder, houve retaliação por parte da autoridade chinesa,
estabelecendo novas alíquotas tributárias escalonadas para cerca de US$60
bilhões de suas importações provindas dos EUA1. A elevação tarifária de ambos contendedores
acrescenta piora no cenário macroeconômico global, reduz as estimativas de
crescimento do PIB chinês, promove possível aumento da inflação nos EUA (o que
não é das melhores políticas para quem almeja a reeleição) e incrementa a
procura por parte dos investidores de ativos defensivos como ouro e dólar em
aversão ao cenário de maiores riscos. No
mercado das commodities agrícolas, a
soja tem sido aquela que mais vem exibindo queda nas cotações internacionais.
Estima-se que a China deverá reduzir em 10 milhões de toneladas suas
importações dos EUA, beneficiando, em parte, os embarques brasileiros do
produto2 para o gigante asiático. Considerando
as exportações brasileiras de café (todos os tipos) no primeiro quadrimestre de
2018 e de 2019 para os dois destinos em disputa comercial, constata-se que
houve grande avanço dos embarques brasileiros no período analisado (Tabela 1). Nas
exportações de café do Brasil (todos os tipos) para os estadunidenses,
verificou-se expansão de quase 36%, com destaque para os embarques de conilon
com acréscimo de 544%. Ademias, como aponta o relatório mensal do CECAFÉ3,
as compras de cafés diferenciados desse país, entre janeiro e abril de 2109,
exibiram salto de 22,7%, contabilizando 580 mil sacas adquiridas a preço médio
de US$163,09/sc., ou seja, US$35,12/sc. de ágio por unidade comercializada. Embora
em volumes mais modestos, houve crescimento também nas quantidades de café
negociadas com a China (ampliada com o acréscimo dos embarques para Hong Kong e
Macau), que somente não foi percentualmente maior devido ao enfraquecimento das
transações com o tipo solúvel (queda de 56,45%). O aumento da concorrência
entre indústrias de solúvel do Brasil, do Vietnã e da Indonésia pode estar
contribuindo nessa queda nas compras chinesas do produto4. Os
resultados cambiais das exportações no período considerado, para ambos os
destinos, mostraram evolução favoráveis. O incremento de 22,85% e 27,63% dos
valores negociados, para EUA e China respectivamente, sob contexto de mais de
20% de queda nas cotações internacionais, demonstra
que esse mercado permanece muito dinâmico em que quantidades e valores mantêm-se
em trajetória de crescimento vigoroso (Tabela 2). O
mercado estadunidense constitui-se no maior cliente para as exportações
brasileiras, superando as compras da Alemanha, outro importante país
importador. Ser líder nesse mercado é posição que deve ser fortalecida, pois os
volumes demandados pelos EUA são grandes, concedendo escala para as operações
dos exportadores e para a atividade portuária e, por essa razão, incrementando
a liderança competitiva do Brasil no mercado global de café. Por
sua vez, as vendas de cafés para a China vêm numa trajetória crescente.
Atualmente, em detrimento do chá, o consumo de café por parte especialmente da
população jovem é percebido como comportamento moderno. O mercado chinês é o
mais dinâmico para a expansão de redes internacionais e nacionais de
cafeterias, sendo que as duas maiores redes projetam inaugurar ao menos dois
novos pontos de oferta da bebida diariamente. O mercado chinês vive um boom no
segmento, e o Brasil, precisa estar estrategicamente posicionado nesse cenário,
o que de fato vem acontecendo5. 1DENG,
C.; ZUMBRUN, J.; SALAMA, V. Após retaliação da China, EUA avaliam novas
tarifas. Valor Econômico, São Paulo,
14 maio 2019. Disponível em: https://www.valor.com.br/internacional/6253435/apos-retaliacao-da-china-eua-avaliam-novas-tarifas. Acesso em:
maio 2019. A cautela sinaliza que os chineses dispõem de outros mecanismos de
retaliação que já estão sendo empregados, como a alienação de Treasuris do
governo americano. 2LOPES,
F.; PRESSINOTT, F.; NAVARRO, K. Disputa comercial mantém mercado de soja sob
pressão. Valor Econômico, São Paulo,
14 maio 2019. Disponível em: https://www.valor.com.br/agro/6253309/disputa-comercial-mantem-mercado-de-soja-sob-pressao.
Acesso em: maio 2019. 3CONSELHO
DE EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL. Relatório
mensal: abril 2019. São Paulo: CECAFE, 2019. Disponível em: https://www.cecafe.com.br/publicacoes/relatorio-de-exportacoes/.
Acesso em: maio 2019. 4Embora
tenha havido declínio das vendas brasileiras de solúvel, estas ainda podem ser
compensadas ao longo do ano, mantendo volume importante de transações para
aquele destino. 5A
ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento visitou a China na segunda
semana de maio, onde promoveu, ao lado de entidades como a APEX e da BSCA,
rodada de degustação de cafés do Brasil com autoridades e empresários do ramo,
justamente para divulgar a qualidade, confiabilidade e excelência do produto
brasileiro. Palavras-chave: exportações
de café, guerra comercial, tarifas.
Data de Publicação: 24/05/2019
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor