Artigos
Estoques em Alta Pressionam as Cotações no Mercado Futuro de Café
As médias das cotações semanais de café arábica na
Bolsa de Nova York exibiram, ao longo do mês de março de 2019, persistente
declínio (Figura 1). Na posição de julho de 2019, a média de preços da primeira
semana do mês foi de US$¢101,09/lbp, encerrando o mês na quarta semana com
contratos sendo negociados a US$¢96,99/lbp, ou seja, -4,05% de queda. A
relativa estabilidade na paridade cambial ao longo do mês impediu que houvesse
maiores quedas nas cotações do produto. Houve aumento de 23,7% nos estoques mundiais para o
ano safra 2018/19, conforme contabilizados pelo USDA em seu relatório de
dezembro de 20182, totalizando 37,05 milhões de sacas do produto.
Tal elevação atua como âncora no processo de formação dos preços em Nova York,
promovendo a queda constatada em março e que se arrasta desde meados de
2017. No principal cinturão cafeeiro paulista, a região de
Franca, os cafeicultores receberam em média, pelo café tipo 6 bebida dura,
R$385,26/sc.3, montante que exibe Na
Bolsa de Londres, o mercado futuro de café robusta seguiu mesma trajetória
observada para o caso do arábica, com seguidas baixa nas médias semanais das
posições futuras (Figura 2). A recuperação dos embarques brasileiros de café
conilon (529.892 sacas exportadas no primeiro trimestre de 2019, representando
avanço de 352% frente a igual mês do ano anterior)5 e o recorde de
produção e exportação vietnamita, pressionam o mercado mundial que vivencia
momento de expansão dos estoques. Usualmente,
os torrefadores internacionais aproveitam-se do ciclo de baixa nas cotações
para incrementar a participação do arábica em suas ligas de T&M. Tal
estratégia repercute em maior pressão sobre as cotações do robusta. Sem
reversão do atual ciclo, não se pode esperar recuperação nos atuais preços no
médio prazo. O
balanço das posições líquidas dos contratos em Nova York reflete todo o
contexto mencionado (Tabela 1). Entre fundos e grandes investidores, existiam
mais de 75 mil contratos em posição vendida frente aos comprados, indicando que
o sentimento do mercado é de novas baixas para o produto ao menos no curto
prazo. As
expectativas para a safra brasileira 2019/20 indicam montantes entre 56 e 58
milhões de sacas, com forte recuperação da safra de conilon sem, contudo,
reverter o ciclo de baixa na produção. Esse montante, mesmo considerando
aumento de produção em países concorrentes (particularmente no Vietnã e em
Honduras), poderá ser insuficiente para fazer frete ao aumento de demanda do
consumo mundial estimado em mais de 3 milhões de sacas ao ano. A depender dos
reflexos dos baixos preços praticados sobre a tecnologia adotada pelos
cafeicultores, o ano de 2020 poderá trazer grande redução na oferta mundial do
produto, posicionando a cafeicultura brasileira como a que mais se aproveitará
de uma eventual alavancagem nas cotações. ------------------------------------------------------------ 1O
autor agradece pelo trabalho de sistematização do banco de dados econômicos
conduzido pelo agente de apoio à pesquisa científica e tecnológica do IEA o
analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Foreign Agricultural Service. Coffee: world market and trade. Washington:
USDA, dez. 2018. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/coffee. 3Disponível
em INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços
médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2019. Disponível
em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx? 4ECONOMIC
FORECAST AGENCY. Brasil: previsões
do dólar e do euro. S. l.: EFA, 2019. Disponível em:
http://usdforecast.com/br/previs%C3%A3o-do-d%C3%B3lar.html. Acesso em: abr.
2019. 5CONSELHO
DE EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL. Relatório
mensal: março 2019. São Paulo: CECAFE, 2019. Disponível em: http://cecafe.com.br.
Acesso em: 11 abr. 2019. Palavras-chave: mercado
futuro, bolsa de valores, cotação de café.
queda de -3,62% frente ao mês anterior. Assumindo a cotação média da quarta
semana
do mês na posição de julho de 2019 de US$¢96,99/lbp, representa aproximadamente
US$102,63/sc. para a cotação do arábica natural brasileiro (diferencial de
20%). Assumindo a cotação futura do dólar para maio/2019 de R$3,73/US$4,
obtêm-se R$384,86/sc., ou seja, valor sem margem frente ao mercado spot suficiente para legitimar a
contração do hedge.
pdf. Acesso em: abr. 2019.
cod_sis=6. Acesso em: abr. 2019. Acesso exclusivo para assinantes do serviço.
Data de Publicação: 18/04/2019
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor