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Dinâmica da Fruticultura Paulista: aspectos mercadológicos 2013-2017
Em 2017, a fruticultura paulista gerou 64.197 postos de
emprego formal1 e,
dispersa em cerca de 553,6 mil hectares, produziu, aproximadamente, 16,9
milhões de toneladas de frutas frescas, ou seja, 45% da produção nacional2. Os destaques foram para a
quantidade produzida de laranja e de limão, ambas representando 76% do total brasileiro,
abacate e caqui, com 56% figo (42%), bem como tangerina e goiaba, com 38%
(Figura 1). Esse desempenho contribuiu para que o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) estimasse, em 2018, o valor da produção do Estado
de São Paulo em R$10,6 bilhões, o que correspondeu a 32% do valor arrecadado
pelo setor frutícola nacional3. No entanto, embora aparentemente positivas, essas
informações não explicitam as alterações na
distribuição espacial das frutíferas no Estado de São Paulo e/ou os
impactos no saldo da balança comercial que o setor frutícola enfrenta. As modificações quanto
ao uso do solo com frutíferas no Estado de São Paulo podem ser observadas pelo
desempenho da área colhida, onde se destacam os cultivos de frutas tropicais. Nesse texto, consideram-se características do ponto de vista
do consumidor, como o sabor (teor de açúcar acentuado), polpa e suco, aspectos
usualmente utilizados na rede varejista e atacadista. Dessa forma, incluem-se
nessa análise produtos como laranja, limão, tangerina, originado em pés, bem
como a melancia, hortaliça de fruto, rasteira, e até a banana, não considerado
como fruta. Inicialmente, um dos pontos a se considerar é que, com
exceção da laranja, nem todas as frutas cultivadas em território paulista que
se destacam no cenário nacional têm a mesma relevância sob o ponto de vista
estadual. Por exemplo, a banana que, apesar de ser a segunda fruta mais
cultivada no estado, representa apenas 10,2% do país, pois Estados como a Bahia
e Pará, em 2017, responderam pela maior área cultivada, 15,6% e 9,3%,
respectivamente. Comparativamente com o Brasil, em 2017, os laranjais
paulistas ocupavam 63,8% da área brasileira. Em seguida vinham limão com 53,8%,
caqui com 45,2% e abacate (42,6%)4. Mas,
numa análise mais restrita ao âmbito estadual, verifica-se que no período
2013-2017, com exceção do limão, cuja área expandiu 12,1%, as áreas paulistas
cultivadas com laranja e com tangerina decaíram 9,7% e 4,4%, respectivamente
(Figura 2). No entanto, cabe destacar que, até o momento, a redução dessas
áreas não interferiu na quantidade produzida provavelmente devido à introdução
de tecnologias como o adensamento e/ou de novas cultivares no campo que induzem
ao aumento de produtividade tanto para a laranja quanto para a tangerina. A produção
de tangerina está distribuída entre 68 municípios paulistas, sendo que apenas
quatro concentram 50% da produção: Quintana (9,2%), Iperó (6,9%), Itápolis
(6,9%) e Casa Branca, com 33,3% do total da produção. No
que se refere ao declínio da área de laranja com aumento de produção, estudos
apontam riscos à melhoria da produtividade da cultura. Por meio do modelo ETA foi avaliado o potencial climático e
os e os cenários a partir do aquecimento global para a produção de laranjas na
década de 2020-2030, nos três principais municípios produtores: São José do Rio
Preto, Araraquara e Limeira5.
Os resultados apontaram aumento das temperaturas nas três localidades, bem como
a possibilidade de secas mais prolongadas em São José do Rio Preto e chuvas em
excesso em Limeira, condições que levam a redução na produtividade dos citros.
Segundo os autores, temperaturas elevadas e estresse hídrico contribuem para a
abscisão dos frutos, sendo que a disponibilidade hídrica tem relação direta com
a taxa de crescimento dos frutos, a quantidade e qualidade do suco dos frutos
maduros. Além
da reorganização espacial, a laranja deverá passar também por modificações na
estrutura mercadológica, pois 82% da produção de laranja era destinada ao
processamento de suco com vistas à exportação e 17% ao mercado interno para o
consumo in natura, e somente 0,6% da
fruta fresca era exportada6.
No entanto, desde 2010 o consumo do suco brasileiro no mercado internacional
está estagnado, gerando excedente de laranja fresca no mercado doméstico.
Assim, ultimamente o setor tem driblado essa situação aumentando a exportação
da fruta fresca e tentando abrir o consumo doméstico para o suco de laranja
industrializado 100% natural, uma vez que no Brasil predominam as vendas de
néctares, que chegam a conter até 70% de água em detrimento do suco natural7. Além do
declínio nas áreas colhidas de laranja e tangerina no Estado de São Paulo,
houve reduções também para abacaxi (64,0%), melão (22,2%), mamão (18,7%), manga
(18,7%), uva (16,6%), pera (4,4%), banana (3,3%) e caqui, 0,9% (Figura 2). Em
compensação, culturas tradicionalmente com menor expressão em área colhida têm
apresentado aumentos significativos: melancia, maracujá, abacate, goiaba e
maçã, o que pode ser um indicativo de substituição de culturas. A maçã tradicionalmente cultivada no sul do Brasil
vem ganhando espaço nas áreas paulistas. No período que compreende os últimos
cinco anos, 2013 a 2017, a área cultivada com maçãs aumentou 20,8% no Estado de
São Paulo (Figura 2). Os principais municípios produtores são Cajati, Sete
Barbas, Eldorado, Itariri e Registro que, juntos, respondem por 37,0% da área
paulista cultivada com macieiras. Tais municípios caracterizam-se também pela
tradição na produção de banana, fruta tropical que ocupa o segundo lugar em
área dentre as principais frutas cultivadas no Estado de São Paulo (8,8%), mas
que nos últimos cinco anos teve uma retração de 3,3% na área destinada à
colheita. São Paulo é o maior produtor de goiaba do Brasil. No
período 2013-2017, a área expandiu 24,0% (Figura 2). A produção paulista de
goiaba divide-se basicamente em dois grupos: o primeiro destinado à indústria e
que perfaz 86% do total do estado, e outro para consumo in natura. Os
municípios paulistas Valinhos (27,7%), Vista Alegre do Alto (10,4%), Taicú
(8,3%), respondem por 46,4% da goiaba de mesa produzida no estado. Já Arealva
(20,9%), Taquaritinga (17,9%) e Itápolis (13,8%) respondem juntos por 52,7% da
goiaba para a indústria. No entanto, a região central paulista, tradicional
área produtora de cana-de-açúcar e de laranja, vem se destacando com o cultivo
da goiaba8.O grande
estimulo na substituição da laranja pela goiaba, segundo produtor da região,
está no preço da fruta: “Uma caixa de
goiaba vale 30% a mais do que uma caixa de laranja. Fora que a produtividade de
um pé de goiaba, é quatro vezes maior do que um de laranja”9. Toda
produção de goiaba dessa região destina-se à indústria de alimentos, que recebe
1.000 toneladas por dia. A principal indústria processadora é a Predilecta,
sediada em Matão (SP), e que tem 350 produtores parceiros que cultivam entre
900 e 1.000 hectares10. A
empresa também produz tanto no município quanto nos arredores. Do volume total
recebido pela Predileta, 70% têm como destino o mercado interno, sendo 90%
utilizados para a produção de doces. Os outros 30% são destinados a produção de
polpa e destinada ao mercado externo. O abacate tem
seu domínio no Estado de São Paulo com 56% da produção nacional (Figura 1). Os
abacateiros distribuem-se por quase todo o estado, no qual se destacam as
produções de Jardinópolis (9,2%), Mogi Mirim (8,4%), Altinópolis (8,4%) e Aguaí
(8,0%). No quinquênio 2013-2017, a área paulista com abacateiros cresceu 26,7%
(Figura 2). Do total da fruta comercializada na Companhia de Entrepostos e Armazéns
Gerais de São Paulo (CEAGESP), os abacates tropicais representam 98,7%, e os avocados,
1,28%11. A denominação avocado
identifica as cultivares hass e fuerte originados nos
Estados Unidos e no México, as quais são valorizadas pelo seu tamanho
reduzido e alto teor de lipídeos12.
Os avocados são
adequados para preparações salgadas, que, aliás, é a maneira como o abacate
costuma ser consumido no restante do mundo. A principal empresa que
comercializa os avocados é a Jaguacy, localizada em Bauru. Ela produz em
parceria com agricultores de São Paulo, Minas e Goiás, e detém 85% do mercado
da fruta do país. A empresa exporta 90% da sua produção. A área com maracujá registrou crescimento de 28,5%
no período (Figura 2) e, apesar disso, são recorrentes os períodos de
oscilações na área cultivada e volume produzido no Estado de São Paulo, o que
pode indicar em médio prazo nova redução de área. Tais alterações decorrem de
ordem econômica (maior demanda pela fruta), clima, pragas e doenças, sendo as
mais comuns o vírus do endurecimento dos frutos do maracujazeiro (VEFM) e a
fusariose – fungo que ataca os solos inviabilizando o replantio da cultura13. No passado, a produção era concentrada no Vale do
Ribeira, mas, devido aos problemas fitossanitários já citados, apenas o
município de Iguape manteve a tradição na região, produzindo 7,5% do total do
estado. Atualmente 50% da produção está polarizada em 11 municípios com
destaque para São Miguel Arcanjo (7,1%) e Mariápolis (5,7%). Dentre as frutas, a melancia foi a que teve o maior
aumento de área, 60,5%. Enquanto a melancia apresentou queda de rendimento em
6,3% para o Brasil, em São Paulo houve incremento de 4,0%, aumentando a
competitividade do estado frente aos demais produtores que, devido a incidência
de pragas decorrentes da alta umidade, tiveram perda de produtividade. Esses
efeitos climáticos elevaram os custos de produção dos estados produtores de
melancia restringindo-lhes a margem de lucro. Em São Paulo, os produtores não
enfrentaram esses problemas: os preços praticados e custos reduzidos têm
estimulado a expansão de área da cultura14.
A produção paulista em 2017 foi de 290 mil toneladas, destacando-se Oscar
Bressane com 17,4%, Itápolis com 4,9%, e Pongaí com 4,0 %, montante capaz de
abastecer o consumo doméstico. De acordo com o exposto, deve-se considerar que as
informações positivas da mídia com relação ao sucesso da fruticultura paulista
omitem alguns problemas que precisam ser solucionados. Percebe-se que, apesar
do aumento do cultivo da maioria das frutíferas mencionadas, essa expansão não
tem sido suficiente para suprir o consumo estadual, culminando na necessidade
de importações e repercutindo no deficit
da balança comercial,
uma vez que o volume importado da maioria das frutíferas tem sido superior à
quantidade exportada (Figura 3). O Estado
de São Paulo é autossuficiente na produção de melão, melancia, goiaba,
mangostões e manga (Figura 3). No entanto, nos últimos anos a quantidade
exportada dessas frutas tem diminuído. No último ano a manga contribuiu com
6,0% das exportações estaduais. A produção de manga concentra-se na região de
Jaboticabal, com destaque para Monte Alto (28,0%), Candido Rodrigues (8,8%) e
Taquaritinga (8,0%). O figo se aclimatou muito bem em
Valinhos. A cidade é a segunda do país em área plantada (perde apenas para a
vizinha Campinas)15. Frente a um declínio de 7,9% na área cultivada
nacional, o Estado de São Paulo registrou aumento de 8,5%, o que contribuiu para
o superavit comercial da fruta de
US$5,1 milhões (Figura 3). Em média,
no triênio 2015-2017, culturas como pera, maçã, uva, tangerina e caqui têm
acentuado o deficit da balança
comercial, registrando US$77 milhões em importações. Agrava-se o saldo negativo
da balança com a importação de “outras frutas” menos tradicionais, cuja ordem
de dispêndio foi de US$131 milhões. Ainda assim, frutas como limão,
manga, abacate e figo têm contribuído para atenuar o deficit estadual, pois suas exportações no triênio em média
atingiram US$78 milhões. Chamam a atenção as alterações no
padrão de consumo alimentar da população mundial, cuja preferência tem se
voltado para as frutas processadas em detrimento das in natura. O aumento das exportações de “conservas e preparações de
frutas (exceto suco)” tem contribuído para minimizar o deficit da balança estadual, que na média do triênio foi de US$19
milhões. 1MINISTÉRIO DO
TRABALHO E EMPREGO. Relação anual de informações sociais. Brasília:
MTE/2018. Disponível em:
<http://pdet.mte.gov.br/acesso-online-as-bases-de-dados>. Acesso em: mar.
2019. 2INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS - IBGE. Produção agrícola municipal:
área destinada à colheita, quantidade produzida, rendimento médio e valor da
produção das lavouras permanentes. Rio de Janeiro: IBGE/2018. Disponível em:
<https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1613>. Acesso em: mar. 2019. 3Op. cit. nota
2. 4Op. cit. nota
2. 5AVILA, A.
M. H. et al. O efeito das mudanças climáticas na produção de citros para algumas
localidades do estado de São Paulo. In: Congresso Brasileiro de
Agrometeorologia, 27., jul. 2011, Guarapari, ES. Anais eletrônicos...
Guarapari: SBAGRO, 2011. p. 1-5. 6NEVES, M. F.;
LOPES, F. F. Estratégias para a laranja no Brasil. São Paulo: Atlas,
2005. 225 p. 7EXPORTADORES
de suco de laranja se voltam para o Brasil. Revista Globo Rural, São
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Acesso em: mar. 2019. 8CASTRO, R.
Lavouras de goiaba avançam sobre áreas de cana e laranja em SP. Revista Globo Rural, São Paulo, 8
abr. 2018. Disponível em <http://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2018/04/lavouras-de-goiaba-avancam-sobre-areas-de-cana-e-laranja-em-sp.html>. Acesso
em: 2 mar. 2019. 9Op. cit. nota
8. 10CAETANO, M.
Safra de goiaba deve crescer até 8% em São Paulo. DCI: fruticultura, São
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<https://www.dci.com.br/agronegocios/safra-de-goiaba-deve-crescer-ate-8-em-sp-1.752314>.
Acesso em: 5 mar. 2019. 11ALMEIDA, G.
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Acesso em: mar. 2019. 12FRANCISCO, V.
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mercado de frutas, fruticultura, balança comercial.
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Data de Publicação: 26/03/2019
Autor(es):
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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