O Abacate no Estado de São Paulo: 2009 a 2018

Como o modismo alimentar pode atuar de forma negativa e positiva em um produto: por décadas o abacate foi combatido por ter excesso de gordura. Atualmente, deixou de ser vilão e passa a ter aspecto mais positivo na opinião dos estudiosos em nutrição, por possuir inúmeros nutrientes importantes para a saúde, como sua gordura de boa qualidade2. Influenciado por isso, os hábitos alimentares em mudança têm pautado a expansão da produção de abacate no Estado de São Paulo.

O sucesso da fruta que é consumida no mundo como refeição, no Brasil ainda é muito associada a sobremesas e vitaminas. O aumento do consumo tem sido facilitado pela proliferação de restaurantes mexicanos, movimento também visível no mercado doméstico que, nos últimos anos, passou a entender melhor a fruta e começou a colocá-la em pratos salgados3, 4.

         É uma planta com origem na América Central, mais precisamente da região entre o Peru e o México. O abacateiro é cultivado na maioria das regiões tropicais e subtropicais, principalmente: no México, onde em 2016 seu cultivo ocupou uma área de 180,5 mil hectares e produziu 1.889,4 mil toneladas; República Dominicana, com uma área de 13,4 mil ha e produção de 601,3 t; Peru, com 37,9 mil ha de área plantada e produção de 455,4 mil t; Colômbia, com área de 35,1 mil ha e produção de 309,4 mil t; e Indonésia com área de 24,0 mil ha e produção de 304,9 mil t. A fruta tomou conta do mundo inteiro pelo seu sabor, valor nutricional e pela sua versatilidade, podendo ser usado em receitas doces e salgadas (Figura 1).

O Brasil em 2017 produziu 213 mil t de abacate e boa parte da comercialização se deu internamente (97,9%). No entanto, em 2017, o país exportou para vários países de diferentes continentes um total de 4,5 mil t, com valor FOB de US$5,3 milhões. O continente europeu foi o principal destino das exportações brasileiras do produto, atingindo o volume de 4,4 mil t, representando 99,1% do total, com valor FOB de US$5,19 milhões (Tabela 1).

Este volume comercializado se deu principalmente por via marítima. Este meio de transporte não prejudica o abacate pois “é uma das únicas frutas que deve ser colhida antes de madura, pois se deixada no pé apodrece antes que chegue ao ponto de consumo”5 favorecendo, dessa maneira, maior tempo entre a colheita e o consumo (Tabela 2). Dos estados brasileiros, São Paulo foi responsável por 89,0% das exportações, atingindo o volume de 4.0 mil t (Tabelas 3 e 4).

 

 

 

Mesmo o país tendo exportado um volume considerável de abacate em 2017, o Chile foi o único país do qual o Brasil importou o fruto totalizando 467,5 t, nesse mesmo ano (Tabela 5).

 

 

No Brasil, 18 estados e o Distrito Federal produziram a fruta, sendo o principal o Estado de São Paulo (121.216 t). Os outros principais Estados produtores de abacate em 2017 foram: Minas Gerais (50.751 t), Paraná (20.003 t), Rio Grande do Sul (4.520 t) e Distrito Federal (3.050 t).

O valor da produção gerado pelo abacate no Brasil em 2017 foi de R$245,6 milhões. Três Estados foram responsáveis por 85,7% do total: São Paulo (49,8%), Minas Gerais (25,4%) e Paraná (10,4%) (Figura 2).

O preço médio recebido pelos produtores de abacate no Estado de São Paulo nesses últimos dez anos apresentou taxa de crescimento de 10,5%, indicando que houve uma valorização do produto no período. Os preços de abacate entre 2009 a 2017 (levantamentos finais) foram calculados ao longo dos 12 meses do ano. Em 2018 (levantamento parcial), o cálculo deste só contemplou valores entre janeiro e julho. Salienta-se que a formação do preço do produto se dá, principalmente, no segundo semestre (Figura 3).

 

No ranking dos 50 principais produtos do valor da produção em 2018, o abacate ocupou a 24ª posição, com o valor de R$321,53 milhões. No grupo de frutas frescas do qual faz parte, o abacate ocupou a 7ª posição no mesmo ano, ficando atrás da laranja para mesa, da banana, do limão, da uva para mesa, da tangerina e da manga.

As informações sobre os pés plantados (novos e em produção) e a produção de abacate tiveram como fonte os levantamentos sistemáticos de Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas Paulistas, realizados conjuntamente pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), órgãos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA)6.

Ao se observar os dados de 2009 a 2018, a evolução de plantas novas de abacate em São Paulo mostrou-se significativa, principalmente em 2018, totalizando 232,52 mil pés novos no estado. O EDR de Ourinhos foi o que indicou o maior número de pés novos, nos municípios de Piraju (20,0 mil pés) e Óleo (10,2 mil pés). O EDR de Limeira, nos municípios de Araras (6,0 mil pés), Cordeirópolis (3,0 mil pés) e o município de Santa Cruz da Conceição (que não indicou pés em produção), plantou 14,0 mil pés novos neste ano. O EDR de Mogi-Mirim nos municípios de Mogi-Mirim (5,7 mil pés), Santo Antônio da Posse (2,0 mil pés) e Engenheiro Coelho (1,8 mil pés). No EDR de Bauru, somente o município de Arealva plantou 9,8 mil pés novos. No EDR de São João da Boa Vista, foram totalizados 8,0 mil pés novos nos municípios de Aguaí e Casa Branca. No EDR de Franca, somente o município de Santo Antônio da Alegria, que também não possui pés em produção, informou que havia plantado 800 pés novos. Esse aumento reflete, obviamente, nos pés em produção e na produção, que certamente aumentarão muito daqui a quatro anos, quando os pés plantados em 2018 passarão a produzir (Figuras 4 e 5).

Em 2018, constatou-se que 92,5% dos EDRs cultivaram plantas de abacate. Contudo, a maior concentração dos pomares deu-se nos EDRs de Mogi-Mirim, que totalizou produção de 27,7 mil t, de São João da Boa Vista, com 18,0 mil t, de Ourinhos, com 14,9 mil t, de Limeira, com 12,9 mil t, de Franca, com 11,0 mil t, e de Bauru, com 9,8 mil t.

O cultivo do abacate se espalha por quase todos os EDRs do estado; sendo uma fruta que necessita de cuidados ao ser colhido, cria-se mais uma fonte de ocupação e, consequentemente, de renda aos trabalhadores e produtores rurais7.

 

 

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1Os autores agradecem a Josilene Ferreira Coelho pelas contribuições auferidas no texto.

 

2O abacate é uma das frutas tropicais mais valiosas, rica em proteínas e vitaminas liposolúveis A, D e B, com quantidade variável de óleo na polpa, grandemente utilizada na indústria farmacêutica e de cosméticos, e na obtenção de óleos comerciais substitutivos do óleo de oliva. In: FRANCISCO, V. L. F. S.; BAPTISTELLA, C. S. L. Cultura do abacate no estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v. 35, n. 5, p. 27-41, maio 2005.

 

3VILARINO, C. Abacate cai no gosto dos consumidores e engorda exportação. Valor Econômico: Agronegócios, São Paulo, 22 out. 2018. Disponível em: <https://www.valor.com.br/agro/5939725/abacate-cai-no-gosto-dos-consumidores-e-engorda-exportacao>. Acesso em: 22 mar. 2019.

 

4Apontado como superalimento, tem aparecido cada vez mais em fatias dentro dos sanduíches ou mesmo em cubos, para acompanhar o poke (prato de origem havaiana a base de arroz e peixe fresco). Disponível em: ABACATE, superalimento da vez para repor as energias sem engordar. Comidas e bebidas, São Paulo, 20 fev. 2019. Disponível em: <https://comidasebebidas.uol.com.br/listas/abacate-superalimento-da-vez-para-repor-as-energias-sem-engordar.htm>. Acesso em: 20 fev. 2019.

 

5ABACATE manteiga - muda enxertada. Jardim exótico mudas, s. l., 2019. Disponível em: <https://www.jardimexotico.com.br/abacate>. Acesso em: 15 fev. 2019.

 

6Esses levantamentos são chamados de municipais ou subjetivos, pois consistem da coleta de dados em 645 municípios do estado, segundo o conhecimento regional do técnico da CATI.

 

7Após 2 ou 3 anos do plantio, ocorrem as primeiras colheitas, e cada árvore adulta, em pomares bem cuidados, produzem de 200 a 800 frutos. Devido à grande variedade de cultivares, a época de colher os frutos ocorre durante todo o ano. Para colheita, utilizam-se escadas e tesouras, ou ainda os apanhadores de sacos que são varas de bambu com cerca de 4 m de comprimento, com uma sacola de lona presa na extremidade por um aro de ferro com cerca de 25 cm de diâmetro, e no extremo oposto à vara, uma lâmina de metal cortante de 5 cm. O apanhador coloca na sacola o fruto e, com um puxão, corta o pedúnculo. Deve ser cortado com o máximo de comprimento e cuidado para que não ocorram batidas ou rachaduras que venham diminuir sua durabilidade. In: CULTIVO do abacate. Frutas no Brasil, s. l., s. d. Disponível em: <http://www.frutasnobrasil.com/cultivo_do_abacate.html>. Acesso em: 28 fev. 2019.

 

 

 

Palavras-chave: abacate, regiões produtoras, comercialização.

Data de Publicação: 25/03/2019

Autor(es): Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor