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Buscam-se Alternativas Comerciais para o Desabe das Cotações do Café
No Brasil, estando a inflação
dentro das expectativas dos agentes econômicos, passam-se a sinalizar
possibilidades de redução na taxa básica de juros para encorajar o investimento
privado, visando produzir algum aquecimento da economia que ainda se mantém
andando de lado (crescimento de apenas 1,1% em 2018). No mercado cambial, o mês
de fevereiro surpreendeu com a desvalorização do real que intensificou ao
princípio de março. Esse fato tem repercussões diretas sobre as cotações das commodities em geral e do café em
particular, pressionando para baixo os preços negociados em bolsas de derivativos.
Ainda em fevereiro de 2019, a média das cotações
semanais dos contratos de café arábica negociados na Bolsa de Nova York exibiu,
sistematicamente, declínios. Considerando as cotações em segunda posição
(junho/2019), a diferença entre a média das cotações na primeira e quarta semanas foi de -US$¢8,38/lbp, ou seja,
representando -US$11,08/sc. no período (Figura 1). Garantindo pelas quantidades expressivas
colhidas entre os principais países produtores da commodity, o contexto internacional mantém satisfatório suprimento
da demanda mundial, A trajetória de queda nas
cotações que se iniciou há mais de dois anos se mantém, empurrando os preços ao
início de 2019 para mínimos históricos. A comunidade cafeeira internacional
busca alternativas para confrontar essa tendência de baixa, articulando
propostas que vão desde a interrupção de negócios na ICE (colombianos) e novo
esforço de organização do mercado por meio de acordos multilaterais, diligência
tentada ao início do século, resultando em retumbante fracasso particularmente
para a fatia de mercado brasileira. No
cinturão cafeeiro paulista de Franca, os produtores receberam em fevereiro de
2019 R$399,75/sc (café tipo 6 bebida dura)2. Espelhando esse preço
com a média das cotações em quarta posição de setembro de 2019, praticada em fevereiro
na Bolsa de Nova York de US$¢104,54/lbp, e efetuando-se as devidas conversões,
acrescida de 20% de deságio (diferencial e gastos com registros e demais taxas
incidentes nas operações futuras), resulta em preço de US$110,40/sc. que, ao
câmbio médio de fevereiro (compra e venda)3 de R$3,723/ US$1,00,
obtêm-se R$411,02/sc., ou seja valor pouco atrativo para a contratação de hedge em bolsa devido a estreita margem
frente ao mercado spot. As políticas econômicas e comerciais (diminuição dos
impostos e elevação das alíquotas sobre bens importados) adotadas pelo governo
estadunidense têm produzido valorização da cotação do dólar frente a cesta de
moedas4. Com desvalorização do real frente ao dólar de
aproximadamente 2% em fevereiro, a proteção cambial que o cafeicultor
brasileiro gozava, diferentemente dos demais cafeicultores de países produtores
concorrentes do Brasil, começa a se esvair. Na
Bolsa de Londres, onde são negociados os contratos futuros de café robusta, a
média das cotações em fevereiro de 2019 exibiram comportamento similar ao
observado para o caso dos futuros de arábica na Bolsa de Nova York (Figura 2).
A média das cotações, para a posição de julho de 2019, registrou queda de
US$1,48/lbp, equivalendo à diminuição de US$1,96/sc.; consiste, todavia, em
baixa muito menos expressiva do que a registrada para o arábica no mesmo
período. A maior sustentação para as cotações da robusta
frente à arábica decorre, em parte, do maior dinamismo do consumo entre
asiáticos, cuja preferência consiste no café solúvel. Ademais, os embarques
brasileiros de conilon, apesar de exibirem incremento em 2018 (2,47 milhões de
sacas embarcadas)5, ainda estão distantes dos recordes registrados
de exportações de 2015. A evolução semanal crescente na
posição líquida de compra e venda de contratos futuros de café na Bolsa de Nova
York, especialmente entre fundos e grandes investidores, coaduna-se com o
declínio persistente na trajetória das cotações registradas. No mês houve
incremento de -19.213 no estoque de posição líquida, sinalizando que os
investidores não anteveem oportunidades de ganho especulativo no mercado futuro
de café (Tabela 1). Em março de 2019, o mercado começa a precificar a
próxima safra, apoiando-se principalmente nas estimativas da oferta brasileira
2019/20. O reflexo dos baixos preços praticados pelo mercado para o produto
(todos os tipos) trará profundas repercussões sobre a produtividade e qualidade
da oferta futura. A reacomodação para baixo no patamar da produção permitirá
que se instale novo ciclo de alta para a commodity.
1O autor agradece
pelo trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo agente
de apoio à pesquisa científica e tecnológica do IEA, o analista de sistemas
Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2Disponível em: INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA - IEA. Preços médios diários
recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2019. Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6>.
Acesso em mar. 2019. Acesso exclusivo para assinantes do serviço. 3BANCO CENTRAL DO BRASIL - BC. Cotações e boletins. Brasília: BC,
2019. Disponível em: <https://www. 4Ver artigo: VEGRO, C. L. R. Cotações e câmbio: blindagem para a
cafeicultura brasileira. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 1-3, fev. 2019.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br 5Informação disponível em CONSELHO DE
EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL - CECAFÉ. Exportações
brasileiras. São Paulo: CECAFÉ, 2019. Disponível em: <https://www.cecafe.com.br/dados-estatisticos/exportacoes-brasileiras/>. Acesso em: mar. 2019.
bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww4.bcb.gov.br%2Fpec%2Ftaxas%2Fport%2Fptaxnpesq.asp>.
Acesso em: mar. 2019.
/out/TerTexto.php?codTexto=14574>. Acesso em: mar. 2019.
Data de Publicação: 18/03/2019
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor