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Custos Operacionais de Produção e Rentabilidade Econômica da Cultura de Seringueira nos Sistemas de Sangria D5 e D7, Estado de São Paulo - safra 2018/19
A cultura da seringueira foi introduzida em São
Paulo na década de 1980 graças aos esforços efetuados por empreendedores, com
sólido apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo, por meio das suas instituições de pesquisa e de extensão rural,
apresentando-a como uma nova alternativa econômica para o planalto paulista e
regiões circunvizinhas. Isso ocorreu pela geração/adaptação, adoção e difusão
de tecnologias modernas representadas por clones mais produtivos e técnicas
racionais de manejo. A cultura desenvolveu-se em ambiente propício e livre do
mal das folhas, doença que castigava os seringais de exploração extrativista em
outras regiões do país. Em consequência, o número de pés de seringueira cresceu
de menos de 5 milhões, em 1983, para 56 milhões (20 milhões de pés em formação
e 36 milhões de pés em produção) na safra 2017/18 (Figura 1)2. Em artigo recente3, divulgou-se estudo
com estimativas de custos operacionais de produção para a safra 2018/19,
apontando valores do custo operacional efetivo (COE), que representam os
desembolsos financeiros diretamente efetuados para produzir no montante de R$3,63/kg de coágulo (R$10.162,49/ha), e para o custo
operacional total (COT), de R$11.773,25/ha
ou R$4,20 por kg de
coágulo no sistema de produção D4, com valores de rentabilidade econômica
negativos para todos os indicadores Na
análise da participação percentual dos componentes do custo de produção,
apurou-se que os custos associados ao uso da mão de obra representam 65,5% do
COE, e que somado o custo com transporte de pessoal, atingem a expressiva
participação de 72,1%, sendo este fator de produção o que causa maior impacto
nos custos de produção de borracha. Somente a operação de sangria representa
25% dos gastos com a cultura, afora outros custos envolvidos. Dessa
forma, buscar alternativas de manejos poupadores de recursos em diferentes
sistemas de produção pode ser uma alternativa de economicidade nos custos de
produção. Nesse sentido, elaboram-se os custos de produção da cultura da
seringueira com opções de sangria nos sistemas D5 e D7, como forma de diminuir
a frequência do uso de mão de obra e analisar seus impactos na rentabilidade
econômica da cultura. As matrizes de coeficientes técnicos de fatores de
produção referem-se a uma propriedade padrão composta da seguinte maneira: área
plantada de 50 hectares, clone RRIM 600, espaçamento de 2,5 x 8 m2,
20 m2/planta, 500 pés plantados, 400 em produção, 25 anos de idade
do seringal (para o seringal em plena produção), sistema de sangria D5 e D7,
produtividade de 7 kg de coágulo/planta, 2.800 kg de coágulo/hectare, e ano
agrícola setembro/agosto4. Para o
sistema D5/S2, que consiste em uma intervenção na casca com formato de meia
espiral, a sangria é efetuada a cada cinco dias, num total de 52 sangrias por
planta/ano, no período de outubro a julho. Nesse sistema, necessita-se de um
sangrador para cada 11,25 hectares. No sistema D7/S2, que consiste em uma
intervenção na casca com formato de meia espiral, a sangria é efetuada a cada
sete dias, num total de 43 sangrias por planta/ano, no período de outubro a
julho. Nesse sistema, necessita-se de um sangrador para cada 15,75 hectares. Verifica-se na tabela 1 que o COE foi estimado em R$3,33 kg/coágulo (R$9.311,53/ha) e o COT em R$10.898,53/ha ou R$3,89 por kg de coágulo. O item de maior participação percentual no custo de
produção (COT) é o da mão de obra, que soma 43,0% (comum, sangria, tratorista e
fiscal), seguido dos custos dos encargos sociais (14,5%). A seguir, os maiores gastos
são de defensivos (15,7%) e operação de máquinas (6,7%), seguidos dos gastos com
transporte de pessoal (5,7%) e adubos (6,8%). Analisando-se os gastos envolvidos no COE,
observa-se que os gastos com mão de obra continuam sendo os maiores ocorridos e,
ao somar-se estes com outros associados ao seu uso, chega-se a 67,1%. O custo
com a sangria é o que tem a maior participação, de 19,8% e 16,7% no COE e COT,
respectivamente. No sistema D7 (Tabela 2), os custos estimados
apresentam valores de COE para o quilograma de coágulo de R$3,03 (R$8.481,94/ha), enquanto o COT atingiu o
valor de R$10.045,65/ha ou
R$3,59 por kg de coágulo. O item de maior participação percentual no custo de
produção (COT) é o da mão de obra, que soma 44,7% (comum, sangria, tratorista e
fiscal), seguido dos custos dos encargos sociais (17,9%). A seguir, os maiores
são de defensivos (14,9%) e operação de máquinas (6,2%), seguidos dos gastos
com transporte de pessoal (5,9%) e adubos (5,3%). Analisando-se os gastos envolvidos no COE,
observa-se novamente que os gastos com mão de obra são os maiores e, ao
somar-se estes com outros associados ao seu uso, chega-se a 69,4%. O custo com
a sangria é o que tem maior participação, de 21,8% e 18,3% no COE e COT,
respectivamente. No sistema D7 (Tabela 2), os custos
estimados apresentam valores de COE para o quilograma de coágulo de R$3,03
(R$8.481,94/ha) e o COT atingiu o valor de R$10045,65/ha ou R$3,59 por kg de coágulo. O item de maior participação percentual
no custo de produção (COT) é o da mão de obra, que soma 43,0% (comum, sangria,
tratorista e fiscal), seguido dos custos dos encargos sociais (14,5%). A seguir, os maiores são de defensivos
(15,7%) e operação de máquinas (6,7%), seguidos dos gastos com transporte de
pessoal (5,7%) e adubos (6,8%). Analisando-se os gastos envolvidos no
COE, observa-se que os gastos com mão de obra continuam sendo os maiores
ocorridos e, ao somar-se estes com outros associados ao seu uso, chega-se a
67,1%. O custo com a sangria é o que tem a maior participação, de 19,8% e 16,7%
no COE e COT, respectivamente. Comparando-se a participação do item sangria nos
dois sistemas analisados, observa-se que o diferencial em percentuais é
favorável para o sistema D7 em relação ao D5 em 2,0 pontos percentuais no COE,
e de 1,9 ponto percentual no COT, o que indica maior economicidade para a
sangria no sistema D7. É uma evidência de possíveis ganhos de escala à medida
que se aumenta a área trabalhada. Embora os sistemas D5 e D7 apresentem menores
valores de custos de produção em relação ao sistema D4, mesmo assim, ao
analisar-se os indicadores rentabilidade com diferentes níveis de
produtividades e diferentes preços recebidos pelos produtores, estes mostram-se
negativos em todas as situações. (Tabelas 3, 4 e 5). Esses resultados evidenciam os enormes prejuízos
para a atividade, pois sem remunerar nenhum dos custos de produção para os
sistemas estudados, em vários níveis de preços e de produtividade, demonstram
que ficam comprometidas as produções a curto, médio e longo prazos,
inviabilizando a obtenção de capital de giro para manter o seringal. Com isso,
o produtor pode deixar de realizar operações de manejo que reduzem a
produtividade e, ainda, numa decisão mais extrema, induzi-los a deixar de
realizar a sangria. Ademais,
a continuar o comportamento declinante dos preços da borracha natural, causado
principalmente pela queda de preços internacionais e pelo aumento crescente dos
custos de produção impactado pela greve dos caminhoneiros que provocou aumento
nos preços dos insumos, acentua-se mais a crise no setor. Como
conclusão, indica-se a urgência, não somente na direção da busca eficiente no
uso dos fatores de produção e no manejo da cultura por parte dos produtores,
como também a necessidade de medidas que estimulem a produção, a fim de
diminuir a dependência interna do produto importado, de evitar o desemprego dos
trabalhadores envolvidos e de evitar queda na renda da atividade. Entre algumas destas medidas, tem-se como pleito5
o aumento da tarifa de importação da borracha natural, pois esta tarifa é de 4%, enquanto o da
borracha sintética é de 14% e da nitrílica6 de 25%; e legislações
específicas para os sangradores e/ou criação de categorias diferenciadas que
garantam segurança jurídica aos produtores e reduzam o impacto do uso da mão de
obra, dentro do custo de produção da borracha. ___________________________________________________ 1Os autores agradecem a colaboração da Associação
Nacional dos Produtores de Látex (APOTEX), na coleta dos preços dos fatores de
produção. 2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco
de dados. São Paulo: IEA, 2018. Disponível em: <http:// 3OLIVEIRA, M. D.
O.; GONÇALVES, E. C. P. Custo
de produção e rentabilidade da cultura da seringueira: safra 2018/19. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 1-7,
fev. 2019.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-09-2019.pdf>.
Acesso em: fev. 2019. 4O detalhamento da
metodologia e outras informações estão em: OLIVEIRA, M. D.
M.; GONÇALVES, E. C. P.; NINA, L. C. D.; SOBRINHO, J. J.; PUTZ, P. Custo de
implantação, produção e rentabilidade do cultivo da seringueira no estado de
São Paulo, 2016. Informações Econômicas,
São Paulo, v. 47, n. 1, p. 31-49, jan./mar. 2017. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=14327>. Acesso em:
fev. 2019. 5Refere-se às
discussões ocorridas na Câmara Setorial da Borracha Natural da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. 6A borracha nitrílica pertence à classe das borrachas especiais resistentes ao óleo
e é um copolímero de butadieno e
acrilonitrilo, sendo a polimerização feita por um processo de emulsão,
como o usado para o SBR, podendo ser realizada a quente ou a frio, obtendo-se
os denominados hot nitriles e cold nitriles, quando a temperatura é
superior a 30°C ou se situa entre 5°C e 30°C, respectivamente. Conforme GOMES, M. M. Borracha de nitrilo-butadieno. Rubberpedia, s. l., s. d. Disponível
em: <http://www.rubberpedia.com/borrachas/borracha-nitrilica.php>. Acesso em: fev. 2019. e
BARLOW, F. W. Rubber compounding:
principles, materials and techniques. M.
Dekker, 1988. 325 p. Palavras-chave: custo
de produção, sistemas de produção, rentabilidade, seringueira.
www.iea.sp.gov.br/out/bancodedados.html>. Acesso em: fev. 2019.
Data de Publicação: 11/03/2019
Autor(es):
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Elaine Cristine Piffer Gonçalves (elaine.piffer@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor