Artigos
Cotações e Câmbio: blindagem para a cafeicultura brasileira
Após o pleito presidencial no Brasil, houve grandes
oscilações tanto nas cotações do café quanto na paridade cambial. Tal
movimentação não foi exclusividade do país, uma vez que colombianos e
vietnamitas (dois principais concorrentes do país no mercado internacional)
também observaram variações nos dois quesitos mencionados. No último trimestre
de 2018 e primeiro mês de 2019, constatou-se no Brasil ligeiro declínio nas
cotações do arábica (média dos preços de todas as bebidas) com valorização
cambial do real frente ao dólar, especialmente após dezembro de 2018,
auxiliando na manutenção relativamente estável das cotações (Figura 1). Para o caso da arábica, cujo principal concorrente
brasileiro internacional consiste na produção colombiana, observou-se, no
intervalo considerado, que houve forte queda nas cotações (aproximadamente
US$¢10,20/lbp ou US$13,50/sc.). Concomitantemente, o peso colombiano manteve
relativamente estável sua cotação frente ao dólar, acarretando perda de valor
do café em consonância com a situação satisfatória da safra 2019/20 para o
suprimento global. Considerando o mercado brasileira de conilon, que
tem como principal concorrente o robusta vietnamita, é constatada situação
similar ao caso do arábica. Entre outubro/2018 e janeiro/2019, as cotações do
conilon brasileiro estiveram entre US$/91,00 e US$97,00/sc., variação
significativa, porém, bem aquém da verificada para o robusta vietnamita, em que
a queda foi de US$98,00/sc. para US$77,00/sc. A valorização cambial do real
defendeu as cotações do produto o que não se observou para o caso vietnamita às
expensas de uma política cambial administrada pela autoridade monetária central
do país (Figura 2). No contexto
internacional, analistas financeiros acreditam que o dólar continuará a ganhar
valor frente a cesta de moedas, valorizando-se em 8% ao longo de 20181.
Acredita-se que apenas a possibilidade de início de uma guerra comercial com os
chineses já seja combustível suficiente para incrementar o resultado líquido
das companhias americanas e disso reforçar a tendência de valorização da moeda. A expectativa de que no
atual governo sejam adotadas políticas liberalizantes/desestatizantes,
associadas à condução de diversas reformas de impacto para a economia
brasileira (fiscal, tributária), terão potencialmente como reflexo o ingresso
de quantidades substanciais de dólares, o que pode permitir relativa
valorização do real. Essa condição, diferente da observada nos demais países,
tende a proteger a cotação das commodities,
em especial, do café. Isso blinda os cafeicultores de acentuada crise de preços,
sob a qual padece desde a safra 2017/18 a maior parte, senão todos, dos
concorrentes do Brasil no suprimento global de café para as indústrias de
torrefação, moagem e solubilização instaladas tanto nos países importadores quanto
nos produtores do grão. 1COSTA, R. Dólar forte vira fator de preocupação para os EUA. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 15
fev. 2019. Disponível em:
<https://www.valor.com.br/financas/6119479/dolar-forte-vira-fator-de-preocupacao-para-eua>.
Acesso em: fev. 2019. Palavras-chave:
mercado de café, câmbio, cotação de commodities.
Data de Publicação: 28/02/2019
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor