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Dispêndio Familiar Permanece Inalterado em Dezembro de 2018 e Evolui Abaixo da Inflação no Ano¹
No mês de dezembro de 2018, o
levantamento mensal de preços de alimentos no mercado varejista de São Paulo,
realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), indicou que não houve
alteração no índice de preços da cesta de mercado total (IPCMT), descrito na
figura 1 como Índice Total. O valor de variação 0,00% indica que em dezembro o
valor dispendido pelas famílias paulistanas para adquirir a cesta de mercado de
alimentos foi o mesmo que em novembro. Entende-se por cesta de mercado, um
conjunto fixo de produtos e quantidades adquiridas mensalmente por famílias de
tamanho médio na capital paulista. Em relação aos grupos, a figura
1 mostra que o conjunto de produtos de origem animal variou negativamente em
0,13%, enquanto o de origem vegetal foi positivo, também em 0,13%. Na parte animal, as carnes
bovinas, em especial, os cortes mais nobres, como o filé mignon registraram variação
positiva (3,86%), o frango resfriado, produto muito demandado no final de ano
também registrou aumento (4,31%), enquanto que cortes menos nobres, como o
acém, registraram queda (-2,14%). No grupo de produtos lácteos, foi registrada
a queda de preços mais significativa deste levantamento (-2,25%), o leite LV
ainda segue em queda, em dezembro, o preço médio foi 4,99% inferior ao aferido
em novembro. Os ovos fecharam o último mês do ano em alta de 3,50%. Em relação aos grupos de alimentos de origem
vegetal, se observa na figura 1 uma variação positiva significativa das
hortaliças, em especial, a batata com aumento mensal de 14,20%. Nas frutas
foram verificados acréscimos e quedas; o abacaxi, produto de fraca oferta no
mercado teve aumento de 13,11%, enquanto que a manga, produto em safra marcou
redução de 8,01% nos seus preços médios. Entre os produtos básicos, observa-se
que a variação de preços do feijão em dezembro pressionou o dispêndio familiar
com um reajuste de 4,51%, em contrapartida, produtos importantes da cesta
apresentaram queda, como, óleo de soja e o açúcar. O pão francês com redução de
2,95% no período foi preponderante para o fechamento de -0,30% do grupo de
produtos básicos. Em relação ao ano de 2018, os indicadores de
variação total (IPCMT), agrupamento vegetal (IPCMV) e animal (IPCMA) variaram
abaixo da inflação oficial (IPCA/IBGE) que fechou o ano em 3,75%2
(Figura 2). O IPCMV fechou o ano com 3,46%, altamente influenciado pela
variação de preços dos produtos do grupo de hortaliças nos meses de outubro
(9,12%) e novembro (7,60%). O tomate foi o produto que mais aumentou nestes
dois meses, em outubro subiu 39,10% e em novembro registrou alta de 25,94%, o
alho foi reajustado em 18,15% em outubro e a cebola em 16,25% em novembro. O agrupamento de produtos de origem animal
apresentou em junho um aumento atípico devido à paralisação dos caminhoneiros.
O dispêndio do grupo de carnes variou apenas neste mês 7,79%, o frango
resfriado (inteiro) registrou alta em junho de 21,03% em relação a maio, entre
os produtos lácteos, o leite longa vida aumentou 9,91% e os ovos se valorizaram
em 8,33%, com isso, o IPCMA do mês chegou a 8,55%. Em novembro houve queda de
2,60% no índice, com a estabilidade apurada neste mês de dezembro, o acumulado
anual ficou em 1,57%, bem abaixo do IPCA em igual período. O IPCMT reflete a variação de toda a cesta de
mercado (animal e vegetal). No ano de 2018, o valor acumulado do IPCMT (2,62%)
ficou abaixo do índice nacional de inflação (3,75%) medido pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatísticas. A figura 3 mostra a evolução do índice
mês a mês durante o ano. No 1º quadrimestre, os índices foram negativos,
acumulando uma redução de 2,75% no valor do dispêndio familiar com alimentos,
os dois meses seguintes tiverem pressão da paralisação dos caminhoneiros,
situação refletida em junho quando foi apurado o maior valor do ano, alta de
4,84% nos últimos seis meses do ano houveram três meses de alta (agosto,
setembro e outubro) e três de baixa (julho, novembro e dezembro). Ressalta-se
que a variação do último mês do ano é praticamente nula (-0,003%). O levantamento mensal do varejo acompanha a
variação de 88 itens, conjunto de produtos que compõem a cesta de mercado,
desse grupo, esse estudo analisará a evolução dos preços médios mensais de doze
dos principais produtos dos grupos, carnes, leites e derivados, frutas,
hortaliças e produtos básicos. Na tabela 1 estão dispostos resultados de
preços e variações no mês, no ano e a um ano dos preços médios praticados no
varejo da capital paulistana para os seguintes produtos: banana nanica, batata,
carne bovina (média ponderada de todos os cortes bovinos); carne suína (média
ponderada de todos os cortes suínos); feijão, frango limpo, laranja (média
ponderada das variedades), leite longa vida, ovos (média dos ovos brancos e
vermelhos), pão francês, queijo tipo muçarela e tomate de mesa (média ponderada
das variedades). Pode-se observar na tabela 1 que dos 12
produtos, quatro itens, banana-nanica, carne suína, feijão e frango limpo
apresentaram variação negativa no ano: a batata, a carne bovina, os ovos e o
queijo tipo muçarela variaram positivamente no ano, entretanto, essa variação
foi inferior a inflação no período (3,75%). Os produtos laranja, leite longa
vida, pão francês e tomate de mesa terminaram o ano com aumentos que superaram
o IPCA do ano. Embora a área paulista de banana se mantenha
estável no estado paulista3 com produção inferior ao ano anterior,
em âmbito nacional ela cresceu 1,4%4, a maior oferta do produto
ocasionou queda de preços da banana nanica ao consumidor neste ano. A laranja,
mesmo em período de safra, apresentou pequena variação mensal positiva em
dezembro (0,42%) e no ano e há um ano acumula altas de 4,78% e 6,87%,
respectivamente. Embora a estimativa anual de produção ainda não esteja
concluída, espera-se volume nacional inferior ao da última safra5. A
batata foi o produto que mais aumentou no mês de dezembro (14,14%), entretanto,
no acumulado anual, sua variação ficou um pouco abaixo da inflação medida pelo
IBGE. O clima e a baixa oferta do produto em dezembro explicam a alta no mês. O
tomate foi o produto que mais pressionou o dispêndio familiar no município de
São Paulo em 2018, no ano acumula alta de quase 40% e quando a análise é há um
ano, verifica-se que o preço médio de dezembro de 2018 é 58,78% maior do
praticado há um ano atrás6. A queda de preços neste mês (-3,14%) já
reflete o aumento da oferta do produto no mercado. As variações anuais de carne bovina (0,78%),
suína (-2,48%) e de frango (-0,32%) ficaram abaixo do IPCA anual (3,75%). Neste
ano, qualquer análise deve ser realizada com muito cuidado devido a variação
ocorrida em maio, em virtude da paralisação dos caminhoneiros7. A
carne bovina variou pontualmente entre maio e junho 4,88%, sendo que até maio,
acumulava uma redução de 3,75% nos seus preços médios, a carne suína, que até
maio havia recuado 3,06%, aumentou entre maio e junho 3,48% e o frango inteiro,
produto mais atingido pela greve, sofreu aumento mensal (maio a junho) de
21,03%, contudo, acumulava até maio, redução de preços de 17,42%.
Considerando-se a variação mês a mês destes três produtos verifica-se uma
tendência de alta nos preços da carne bovina e de frango e queda nos preços da
carne suína. Entre os lácteos, o leite longa vida e queijo
tipo muçarela fecharam o ano com reduções de preços, 4,82% e 2,57%,
respectivamente em dezembro. No ano, estes itens acumulam alta de 9,72% e
1,69%. O leite longa vida, principal item de consumo entre os lácteos, alcançou
o pico de preços em 2018 no mês de julho (R$4,10), esse preço é 42,36% superior
ao valor praticado em janeiro (R$2,88). A paralisação dos caminhoneiros, o
clima seco (acima da média) entre maio e julho e a reposição de preços aos
produtores são os fatores apontados para explicação da alta8. A
partir de agosto os preços médios vêm em processo de queda, em relação a julho
(maior valor no ano), o preço médio em dezembro caiu 29,74%. O feijão e o pão francês, produtos de grande
peso na cesta de mercado do paulistano, tiveram comportamento distintos no ano.
O feijão apresentou em 2018 variação acumulada de -3,90%, de forma simplória
pode-se concluir que ao longo do ano houve recuo no valor dispensado pelo
consumidor, entretanto, ao esmiuçar os resultados mês a mês, verifica-se que
até o mês de abril, o preço do quilo caiu, os meses de maio e junho sofreram
com a paralisação dos caminhoneiros e a partir de julho, o preço médio vem
sendo sistematicamente reajustado, apenas neste período (julho a dezembro)
acumula alta de quase 10%. A quebra de safra em regiões produtoras devido ao
clima comprometeu a produtividade e já afeta os preços ao consumidor. O pão
francês é o produto de maior peso na cesta de mercado, neste ano acumula alta
de 9,67%, mas, ao contrário do feijão, o preço médio caiu em dezembro (-2,98%).
O clima e o dólar foram os dois principais fatores do acréscimo de preços neste
ano. Mesmo com o significativo aumento de preços
no mês de junho devido a paralisação dos caminhoneiros e o clima mais seco do
que a média afetando a produção de diversos produtos, o dispêndio familiar com
alimentos na capital paulista variou no ano abaixo da inflação acumulada em
2018 medida pelo IPCA/IBGE. 1Um
bom trabalho de acompanhamento de preços necessita de uma correta coleta de
preços no campo e, por isso, o autor reconhece o fundamental trabalho realizado
pelos técnicos Andréia Brazão, Cristina Almeida Paes e Valdecir Luchiari na
coleta diária de preços em centenas de equipamentos varejistas. Também agradece
o apoio na consolidação dos dados do assessor técnico Daniel Kiyoyudi Komesu. 2IPCA varia 0,15%
em dezembro e fecha 2018 em 3,75%. Rio de Janeiro: Agência IBGE Notícias.
Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/23558-ipca-varia-0-15-em-dezembro-e-fecha-2018-em-3-75>.
Acesso em: jan. 2019. 3CAMARGO,
F. P. et. al. Previsões e estimativas das safras agrícolas
do estado de São Paulo, intenção de plantio do ano agrícola 2018/19 e
levantamento final ano agrícola 2017/18, setembro de 2018. Análise e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 13, n. 11, p. 1-10, nov. 2018.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/aia/AIA-72-2018.pdf>.
Acesso em: jan. 2019. 4BARROS,
G. S. C. (Coord.). Anuário 2018 - 2019. Hortifruti
Brasil, Piracicaba, ano 17, n. 185, dez. 18/ jan. 19. Disponível em: <https://www.hfbrasil.org.br/br/revista/acessar/completo/anuario-2018-2019.aspx>.
Acesso em: jan. 2019. 5GRUPO TÉCNICO DE ASSISTÊNCIA E CONSULTORIA EM CITRUS -
GTACC. Estimativa GTACC de produção de
laranja, safra 2018/2019. Bebedouro: GTCAA (Boletim n. 1, maio 2018). Disponível em: <http://www.gtacc.com.br/revista/boletim/estimativa-gtacc-de-producao-de-laranja-safra-2018-2019>. Acesso em: jan. 2019. 6MARTINS, V. A. Preço do tomate dispara em outubro de 2018 e afeta o dispêndio familiar. Análise
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 13, n. 11, p. 1-4, nov. 2018.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ 7_____.
Paralisação dos caminhoneiros impacta os preços dos alimentos no mercado
varejista de São Paulo em junho de 2018. Análise e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v. 13, n.
7, p. 1-4, jul. 2018. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/aia/AIA-40-2018.pdf>.
Acesso em: jan. 2019. 8_____.; ANGELO,
J. A. Carnes em alta no mercado atacadista de São Paulo em setembro de 2018. Análise
e Indicadores do Agronegócio, São
Paulo, v. 13, n. 10, p. 1-7, out. 2018. Disponível em: <http://www. Palavras-chave: alimentos, cesta de mercado,
preços, índices e São Paulo.
ftpiea/aia/AIA-68-2018.pdf>. Acesso em jan. 2019.
iea.sp.gov.br/ftpiea/aia/AIA-64-2018.pdf>. Acesso em: jan. 2019.
Data de Publicação: 22/01/2019
Autor(es): Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor