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Carnes em Alta no Mercado Atacadista de São Paulo em Setembro de 2018
Este
estudo apresenta e analisa a variação dos preços médios do mercado atacadista da
Região Metropolitana de São Paulo² (RMSP) para o mês de setembro de 2018,
discutindo comparações em relação ao mês anterior e há um ano. Pontualmente,
também são utilizados períodos maiores de tempo para fazer uma melhor exposição
das motivações das variações em estudo. Tal esforço compõe uma série analítica
divulgada mensalmente pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), desde junho de
2018. O trabalho reúne preços dos 23 produtos de maior
importância no sistema de comercialização paulista extraídos de um conjunto
composto de 55 itens coletados diariamente, sendo 27 produtos de origem animal
e 28 de origem vegetal. Essa iniciativa busca apresentar possibilidades de
tratamento e análise das informações coletadas e divulgadas mensalmente pelo
IEA, desde meados da década de 1960. Dessa forma, aqui são agrupados os preços
médios mensais coletados diariamente obtidos pelo levantamento diário em
diversos estabelecimentos³ que comercializam produtos alimentícios no nível de
comercialização “atacado”. Com base nessa coleta, é calculada a média simples
mensal dos preços mínimos e máximos diários4 de venda dos produtos
divulgados no boletim diário de preços. Nesse mês, observa-se que 9 produtos apresentaram
alta de preços e os demais 14 itens tiveram queda de preços ao se comparar a
média dos preços de setembro confrontados com agosto de 2018 (Tabela 1). Em
relação à redução de preços, destaca-se a queda significativa de preços da
cebola no mês (27,59% para a proveniente da região Nordeste e 22,56% para a
paulista). A segunda parte deste trabalho abordará com maiores detalhes esse
produto. Também é importante citar a redução de preços do leite
longa vida (LV) (7,82%) em relação ao mês anterior, que já havia registrado em
agosto queda de 8,48%; porém, na variação anual, o preço do leite em setembro/2018
é 29,39% superior a setembro/2017. Com preços de leite LV corrigidos pelo IPCA
para setembro de 2018, verifica-se que a cotação desse item em setembro de 2017
foi a menor dos últimos cinco anos (considerando-se os meses de setembro de
cada ano), influenciada pelo clima favorável5 (Figura 1). Nos anos
de 2016 e 2018, houve problemas na produção devido ao clima
desfavorável, com redução significativa da captação de leite em 20166,
e o agravante da greve dos caminhoneiros em 2018. Regularmente, são acompanhadas
as cotações das seguintes carnes: bovina (dianteiro com osso, traseiro com osso
e ponta de agulha); suína (1/2 carcaça) e de frango (frango resfriado). Nesse
mês, todos esses itens variaram positivamente em relação ao mês anterior. Esse
mesmo comportamento é verificado nos preços ao produtor e varejo (Figura 2). Em relação à carne de frango,
houve aumento da demanda no mês de setembro e, com isso, os agentes dos setores
atacadista e varejista tiveram que repor estoques7. Para a carne
suína, houve expressivo aumento no preço médio para exportação em setembro e na
carne bovina verifica-se que o produto exportado gerou uma receita positiva de
1% no balanço entre volume comercializado e preço médio8. Essa
situação positiva para as carnes bovina e suína no mercado externo, aliada a um
possível aquecimento de demanda, pode justificar a valorização dos preços em
todos os níveis de comercialização em setembro. Dois produtos em particular
vêm chamando a atenção dos analistas do mercado atacadista de alimentos: a
cebola e o alho. A cebola, após um período de
significativa alta de preços (abril e maio/2018), vem apresentando quedas
significativas de preços nos últimos meses (Figura 3). O pico de preços médios da
cebola no mercado atacadista de São Paulo pode ser explicado com os dados da
tabela 2. Nela, observa-se uma redução de quase 8% na entrada do produto na
CEAGESP no trimestre abril a junho de 2018 em relação ao mesmo trimestre de
2017, ou seja, a entrada da cebola diminuiu em 2,1 mil toneladas (passou de
27,4 para 25,3 mil toneladas). Por outro lado, o valor médio do dólar ficou 15%
maior no mesmo período. Em contrapartida, a queda de preços verificada nos
últimos meses (de julho a setembro de 2018) se deve à entrada da cebola de São
Paulo e do Nordeste aumentando a oferta do produto. A figura 4 mostra tendência de queda de preços do
alho nos últimos três anos quando, em setembro de 2016, o preço médio da caixa
de 10 kg no mercado atacadista de São Paulo era cotado a R$150,00, e em
setembro de 2018 está sendo comercializado a R$99,67 (alho chinês) e R$106,02 (alho
nacional). A tendência de redução dos preços médios de alho
está bem caracterizada na figura 4, onde se observa que os preços estão caindo
a uma taxa de 2,30% ao mês, considerando-se o período de agosto de 2016 a
setembro de 2018. Embora essa situação aparente ser benéfica ao consumidor, ela
é preocupante para o produtor. A tabela 3 mostra a entrada de alho na CEAGESP nos anos
de 2016, 2017 e até julho de 2018. Observa-se que em 2016 o alho nacional
correspondia a 28% do total, em 2017 a 26% e até julho desse ano o percentual é
de 20%. Entretanto, estima-se que a participação do alho nacional deve crescer
até o final do ano, ficando com aproximadamente ¼ das entradas no entreposto. Nessa mesma tabela observa-se que o volume de
entrada do alho chinês superou o nacional em 2016 e 2017, aproximando-se de 5
milhões de kg/ano, fato que pode se repetir até o final de 2018. Segundo dados
nacionais9, a área destinada à cultura do alho em 2017 foi de 11,1
mil/ha, com produção de 126,0 mil/t e uma produtividade de 11.309 kg/ha. Esses
mesmos dados indicam que, no período entre 2004 a 2017, houve uma redução de 4
mil/ha na área em produção, mas com um significativo incremento na
produtividade, passando de 5.669 kg/ha (2004) para pouco mais de 11.000 kg/ha
(2017). Com isso, a produção atual é quase 50% superior à de 2004. Mesmo com
esses números positivos do aumento da produção brasileira de alho, a
concorrência com o chinês é difícil, pois o produto asiático chega ao mercado
com preço inferior ao nacional. Essa concorrência vem sendo debatida já há alguns
anos pelos analistas do setor, inclusive com denúncias que a lei antidumping imposta pelo governo federal,
que taxa o alho importado, não vem sendo cumprida em função de liminares
obtidas por importadores de alho10. Em resumo, o mês de setembro mostra aumento de
preços no conjunto das carnes no mercado atacadista da Região Metropolitana de
São Paulo, entretanto, a maior parte dos itens acompanhados por esse estudo (14
de 23 produtos) apresentou quedas. Este trabalho também procura explicar o
movimento de variação da cebola no ano de 2018, com pico de cotações e
posterior queda e, por fim, mostra a tendência de queda nos preços médios de
alho influenciados pela concorrência com o alho chinês. _______________________________________________________ 1Este é um trabalho
mensal que visa acompanhar as variações de preços do mercado atacadista de
alimentos na Região Metropolitana de São Paulo. Para viabilização desse estudo,
os autores agradecem o empenho dos técnicos Aldo Fernando de Lucca e Magali
Aparecida Schafer de Lucca, responsáveis pelo levantamento diário de preços, e
dos estagiários Beatriz Pontes Ruiz e Caio Daniel Pinto de Lima, que completam
a equipe de coleta de dados. Também agradecem a colaboração do assessor técnico
Daniel Kiyoyudi Komesu na formatação de tabelas e gráficos. 2Também conhecida
por Grande São Paulo, foi instituída em 1973 e reorganizada em 2011 pela L.C.
n. 1.139/2011, e é composta por 39 municípios. Sendo, a norte: Caieiras,
Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã; a leste: Arujá,
Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba,
Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano; a sudeste: Diadema,
Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Santo André, São Bernardo do Campo e
São Caetano do Sul; a sudoeste: Cotia, Embu das Artes, Embu-Guaçu, Itapecerica
da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande
Paulista; e a oeste: Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora
do Bom Jesus e Santana de Parnaíba. Ver em: EMPRESA PAULISTA DE PLANEJAMENTO
METROPOLITANO - EMPLASA. Sobre a RMSP.
São Paulo: Emplasa. Disponível em: <https://www.emplasa.sp.gov.br/RMSP>.
Acesso em: jul. 2018. 3Entende-se por
estabelecimento atacadista um local físico separado onde se processam vendas no
atacado, isto é, vendas em grande quantidade para empresas (em oposição a
vendas em pequena quantidade para o consumidor final). Os compradores utilizam
os bens adquiridos para: a) revender almejando lucro (comércio atacadista ou
varejista); b) produzir outros bens (indústria); ou c) usar para fins
institucionais (por exemplo, restaurantes industriais). Conforme: PINO, F. A.
et al. Levantamentos de preços por amostragem: mercado atacadista de produtos
agrícolas na cidade de São Paulo. Agricultura
em São Paulo, São Paulo, n. 47, v. 2, p. 1-19, 2000. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/OUT/verTexto.php?codTexto=416>. Acesso em: out.
2018. 4Os preços
coletados referem-se ao pagamento à vista, incluindo todos os gastos
(beneficiamento, industrialização, preparo, acondicionamento, transporte,
comissões, impostos, etc.). 5MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Clima favorece a produção de leite no país.
Brasília: Governo do Brasil. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2016/02/ 6CENTRO DE ESTUDOS
AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - CEPEA. Captação tem maior queda dos últimos
dez meses. Boletim do Leite,
Piracicaba, ano 22, n. 250, p. 1-8, mar. 2016. Disponível em:
<https://www.cepea.esalq.usp.br/upload/revista/pdf/0661999001468844009.pdf>.
Acesso em: out. 2018. 7BECK, P. Preços médios da carne de frango são
maiores em setembro. Brasil: Avinews, set. 2018. Disponível em: <https://avicultura.info/pt-br/precos-carne-de-frango-maiores-em-setembro/>. Acesso em: out. 2018. 8AVISITE. Desempenho externo das carnes em setembro
de 2018. Campinas: Avisite. Disponível em: <https://www.avisite.com.br/index.php?page=noticias&id=19241>. Acesso em:
out. 2018. 9SECRETARIA DE
ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO DE MINAS GERAIS -
SEAPA. Alho. Belo
Horizonte: SEAPA, jun. 2017. Disponível em:
<http://www.agricultura.mg.gov.br/images/ 10MACHADO, R. Produtores de alho denunciam prejuízos
causados por importações da China. Brasília: Câmara dos deputados, maio
2018. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/ Palavras-chave:
atacado, alimentos preços, variações, São Paulo.
cima-favorece-a-producao-de-leite-no-pais>. Acesso em: out. 2018.
Arq_Relatorios/Agricultura/2017/Jun/perfil_alho_jun_2017.pdf>. Acesso em:
out. 2018
AGROPECUARIA/557558-PRODUTORES-DE-ALHO-DENUNCIAM-PREJUIZOS-CAUSADOS-POR-IMPORTACOES-DA-CHI-NA.html>. Acesso em:
out. 2018.
Data de Publicação: 19/10/2018
Autor(es):
Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor