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Amendoim em grão: Rússia é o principal destino das exportações brasileiras
Nos últimos cinco anos, de 2013 a 2017, as
exportações brasileiras de amendoim em grão e de óleo de amendoim somaram US$1
bilhão1. A expansão das exportações impressa, principalmente para o
grão e a partir de 2015, é discutida a
seguir, tomando como apoio a coleta e análise de informações sobre as
exportações brasileiras de amendoim em grão e de óleo de amendoim.
Nos anos de 2015 a 2018, considerando o período de
janeiro a julho, tem destaque a ampliação da quantidade exportada. Tanto assim
que, ao comparar o mencionando período de 2018 com o ano de 2017, é possível observar crescimento de 19% nos
valores exportados e de 43% na quantidade exportada. A diferença nos
percentuais de alta reflete a retração nas cotações alcançadas pelo produto
brasileiro, registrando, portanto, condições semelhantes às vivenciadas no de
2015 (Figura 1). A dinâmica estabelecida nas cotações das exportações
do amendoim em grão tem relação com os níveis de oferta e suas interações com a
demanda. Nesse universo, o comportamento
da produção de amendoim em países que participam do mercado internacional deve
ser observado. Dentre eles estão a Argentina que, nos últimos dois anos,
respondeu por 20% das exportações mundiais do produto em grão, e os Estados
Unidos, que representaram 15% desse mercado2. No período de 2015 a 2018, a produção na Argentina e
nos Estados Unidos intercala momentos
de expansão e retração que, em média, resultam no aumento da oferta de amendoim
e em certa estabilidade na soma dos volumes exportados pelos dois países,
perfazendo um total em torno
1,4 milhão de toneladas3. Esse volume tem como principal destino os países
europeus, e seus padrões de qualidade e critérios de consumo são importantes na
definição das cotações. O Brasil, que responde por cerca de 6% das
exportações mundiais de amendoim em grão4, tinha, até 2014, a
Holanda como principal destino, representando 30% do total, mas reduziu sua
participação para 15% nos anos seguintes. Do outro lado, a partir de 2016,
Argélia e, especialmente, Rússia, passaram a ocupar esse espaço5.
Esse posicionamento da Rússia é ampliado quando observado o período de janeiro
a julho dos anos de 2017 e 2018, passando a representar, respectivamente, 34% e
37%6. Ao observar a relação entre valores e volumes
exportados, é possível verificar, no período de janeiro a julho de 2017, a
proximidade entre as cotações registradas pelas exportações para a Holanda e
para a Rússia. Já em 2018, considerando o mesmo período, as exportações à
Holanda apresentam melhor relação entre valores e volumes, e Rússia e Argélia
como destinos do produto de menor valor (Figura 2). Essa variação de valores coloca em evidência a
construção de um cenário marcado pela participação do amendoim em grão brasileiro
em mercados pautados por menores cotações e suas interações com os níveis de
oferta, padrões de qualidade e condições de negociação das remessas de
mercadorias. Nesse contexto de mudanças, também tem destaque o aumento das
exportações para países da América Latina, a exemplo da Colômbia, que nos meses
de janeiro a julho de 2017 foi destino de apenas 550 toneladas e, em 2018, já
importou mais de 3,3 mil toneladas de amendoim do Brasil. Da mesma forma, em
2017, o México foi destino de 2,4 mil toneladas e, em 2018, de 6,8 mil
toneladas7. Os novos contornos das exportações brasileiras são
formados também pelo recente aumento do número de notificações do Rapid Alert
System for Food And Feed (RASFF). Esse sistema constitui uma ferramenta que
compartilha informações entre os países membros da União Europeia, visando
evitar a exposição de consumidores a riscos de segurança alimentar, conforme
legislação vigente que busca garantir alimentos seguros ao consumo. Para o
amendoim, o principal aspecto motivador das notificações é a presença de
aflatoxina em níveis acima do permitido pela legislação. Nos últimos anos, os exportadores brasileiros de
amendoim, em associação com a implantação de novas normas e ações dos órgãos
públicos competentes, implementaram um conjunto de tecnologias e novas práticas8
que resultaram na redução das notificações
do RASFF.
Essa redução pode ser observada no período de 2014 a 2017, quando o número de
notificações passou de 14 em 2014, para 4
em 2016, e apenas 2 no ano de 2017[A6] .
Mas, no ano de 2018, as notificações voltam a aumentar, totalizando 8
indicações até 28 de agosto de 2018 (Figura 3). Do total de notificações recebidas em 2014, em torno
de 30% é relacionada às exportações de amendoim em grão destinadas à Holanda,
entreposto comercial europeu. Nos anos
seguintes, 2015 e 2016, esse percentual passa para 50%. No ano de 2017, as duas
notificações recebidas estão relacionadas ao Reino Unido.
Já em 2018, além de exportações com destino à Holanda, também figuram, entre as
notificações, destinos como Alemanha, Bulgária, Grécia e Polônia. A interação entre valores e volumes exportados e os
padrões de qualidade são elementos importantes na definição das estratégias de
participação dos exportadores no mercado, sendo essa equação fundamental para o
planejamento e condução da produção agrícola, seguida das atividades de
beneficiamento, estocagem, preparação e transporte do produto até seu destino.
Essa interação também se estende ao óleo de amendoim em bruto, outra mercadoria
importante na pauta de exportações vinculada à cadeia de produção do amendoim. Em 2018, no período de janeiro a julho, as exportações
de óleo de amendoim apresentam aumento de 67% para os volumes e de 41% para
valores exportados, quando comparados ao mesmo período do ano de 2017 (Figura 4).
Essa mercadoria de maior valor agregado, tem como principais destinos, Itália e
China, sendo a demanda chinesa, o
principal impulsionador do acréscimo nas exportações, passando de 6 mil
toneladas em 2017 para 20 mil toneladas em 20189. A
participação do Brasil nas exportações mundiais de amendoim tem sua origem no
Estado de São Paulo, que responde por mais de 90% da produção brasileira do
grão. Na safra 2017/18, a produção paulista alcançou 530 mil toneladas, 15%
superior à safra anterior10, mantendo assim a expansão da produção
registrada desde 2015. As expectativas de crescimento
da produção permeiam o planejamento da próxima safra em conjunto com a dinâmica
de renovação dos canaviais e do espaço para o amendoim nessas áreas. Além
disso, cabe considerar a alta nos valores de arrendamento de terras que, em
2016, alcançaram em média R$778,19 o hectare/ano, passando para R$914,05
hectare/ano em 201711. Somam-se ainda as oscilações e incertezas que
contornam as cotações do dólar e sua influência na aquisição de insumos para a
produção e nas negociações do amendoim no exterior, o principal mercado da
produção paulista de amendoim. 1MINISTÉRIO
DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Secretaria de Comércio
Exterior - MDIC/SECEX. Sistema Comex
Stat. Brasília: MDIC/SECEX. Disponível em: <http://comexstat.mdic 2UNITED
STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE - USDA. PSD
Online. Washington: USDA. Disponível em: <https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/advQuery>.
Acesso em: 29 ago. 2018. 3Op.
cit. nota 2. 4Op.
cit. nota 2. 5SAMPAIO,
R. M. Amendoim:
exportações do grão em alta e do óleo em queda. Análise e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 1-4, mar. 2017.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ 6Op.
cit. nota 1. 7Op.
cit. nota 1. 8SAMPAIO,
R. M. Tecnologia e inovação: evolução e demandas na produção paulista de
amendoim. Informações Econômicas,
São Paulo, v. 46, n. 4, p. 27-42, jul./ago. 2016. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/ 9Op.
cit. nota 1. 10MARTINS, V. A.
et al. Previsões e estimativas das safras
agrícolas do estado de São Paulo, ano agrícola 2017/18, junho de 2018. Análise e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 13, n. 8, p. 1-11, ago. 2018. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/aia/AIA-52-2018.pdf>. Acesso em: 3 set.
2018. 11INSTITUTO
DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Arrendamento
em dinheiro. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precor.aspx?cod_tipo=5&cod_sis=12>.
Acesso em: 3 set. 2018. Palavras-chave: comércio
exterior, nozes e castanhas, óleos vegetais.
.gov.br/pt/geral>. Acesso em: 29 ago. 2018.
ftpiea/AIA/AIA-11-2017.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2018.
ftpiea/IE/2016/tec3-0816.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2018.
Data de Publicação: 14/09/2018
Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor