Análise do Primeiro Quadrimestre de 2018 da Cesta de Mercado de Produtos Alimentícios no Município de São Paulo

O levantamento mensal de preços de alimentos no município de São Paulo é estruturado na forma de cesta de mercado, em que, dos 145 itens alimentícios acompanhados sistematicamente (sem considerar as diferentes unidades e marcas), há uma composição de tipos e variedades dos produtos, totalizando 88 itens distribuídos em sete subgrupos, três de origem animal e quatro de origem vegetal.

Para se obter o preço final do produto no mês, seguem-se algumas etapas: a) é levantado diariamente um número suficiente de amostras para se obter um erro amostral de até 5%; b) o modelo amostral utilizado baseia-se em dois níveis de estratificação, o primeiro considerando os aspectos socioeconômicos dos 96 distritos paulistanos e, o segundo, os locais de aquisição dos produtos; c) preparação dos dados (cálculo das médias simples e padronização de unidades); e d) três níveis de ponderação (tipo/variedade, equipamento e renda).

Depois de obtido o preço final do produto, há um processo de consistência no qual, através do desvio padrão em função da média, são excluídos preços fora de um intervalo específico e novamente recalculados. Por fim, são calculados índices por grupo de produtos de origem animal (IPCMA), vegetal (IPCMV) e total (IPCMT), considerando-se o peso de cada produto na cesta de mercado.        

Essas etapas são fielmente cumpridas para que se possa oferecer um índice capaz de refletir a evolução do valor despendido, mês a mês, pelas famílias do município de São Paulo.

Neste trabalho, serão apresentadas as variações por grupos e subgrupos de produtos ocorridas nos quatro primeiros meses (janeiro a abril) de levantamento do mercado varejista de alimentos do município de São Paulo em 2018.

A tabela 1 mostra os valores dos três índices calculados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA). No grupo de produtos vegetais, observa-se que em janeiro e abril houve acréscimo no dispêndio de 0,21% e 0,12%, respectivamente. Contudo, em fevereiro e mar- 


 

ço, foram observadas quedas de 1,87% e 0,38% no valor despendido para aquisição da cesta vegetal. No período completo, houve redução do valor da cesta em 1,92%. Quando a análise é realizada por subgrupos, observa-se na figura 1 que o único mês que apresentou queda em todos os subgrupos foi o de fevereiro, e o único subgrupo que se manteve em queda durante os quatro meses foi o de “Produtos básicos”; o subgrupo “Hortaliças” apresentou em janeiro acréscimo de 2,46%, queda de 0,67% em fevereiro e aumentos de 3,63% em março e de 3,05% em abril. O subgrupo “Frutas” teve comportamento semelhante, apresentando queda em fevereiro e acréscimo nos demais meses. Essa situação mostra que os produtos FLV (frutas, legumes e hortaliças) pesaram no dispêndio familiar no pe-
ríodo; entretanto, os produtos básicos como arroz, feijão, açúcar, café e pão francês, que possuem grande peso na composição da cesta, determinaram a queda acumulada de 1,92% do valor dispendido no agrupamento vegetal (Figura 1).

           

Em relação aos produtos de origem animal, a queda no dispêndio foi maior comparado ao grupo vegetal. O IPCMA acumulado no período apontou retração de 3,56%. Nos quatro meses em análise, dos três subgrupos, apenas o de “Ovos”, composto pelos diversos tipos e tamanhos, apresentou forte recuperação de preços no mês de março, refletida no índice de 8,41%; “Leites e derivados”, em abril, apresentou aumento de 1,70%. Destaca- -se o comportamento do subgrupo “Carnes”, que apresentou retração no dispêndio em todos os meses, colaborando significativamente para o índice negativo do agrupamento animal (Figura 2).

           

Em relação à variação por produtos de origem animal, no mês de janeiro, destaca-se a queda de 3,10% no dispêndio por salsicha; entretanto, os produtos que mais pesaram para o resultado de queda do IPCMA, devido à sua maior importância no consumo das famílias paulistanas foram o frango inteiro e os ovos. O primeiro, apresentou variação negativa de 1,04% enquanto os preços médios dos ovos recuaram em 3,51%. Informações setoriais1, 2 apontaram para o desempenho negativo dos preços desses produtos em janeiro, justificando-os, principalmente, pela demanda enfraquecida e pelo período de férias escolares que influencia negativamente a demanda por ovos (Figura 3).

Em relação aos produtos de origem vegetal, destacam-se os produtos que formam o grupo “Hortaliças”, em especial, o tomate, com aumento mensal de 13,79%. Segundo o portal HORTIFRUTIBRASIL3, quando comparadas às cotações do início de janeiro de 2018 com as primeiras semanas de janeiro de 2017, as altas das cotações superam 100%, e essa valorização está sendo repassada para os consumidores no segmento varejista (Figura 3).

 

Em fevereiro, o subgrupo “Carnes”, formado pelos cortes de carnes bovina, de frango e suína e seus derivados, teve decréscimo de 1,74%. Em termos percentuais, a queda mais significativa foi da mortadela, que teve recuo de 4,50% no valor de dispêndio (Figura 4). A queda de preços dos produtos desse subgrupo está possivelmente relacionada à queda de preços pagos aos produtores de boi gordo no estado, onde, em fevereiro de 2018, o pecuarista recebia R$145,30 por arroba, enquanto há um ano o valor era de R$147,36 (valores nominais)4.

“Frutas” foi o agrupamento de maior queda no mês (-3,16%). A laranja, importante item da cesta do paulistano, caiu 4,56%, queda influenciada pela boa oferta, mesmo no final do período de safra. Entre os produtos básicos, o açúcar teve redução de 3,28% em fevereiro (Figura 4). Segundo o Centro de Estudos Avançados em Pesquisa Agropecuária (CEPEA)5, a cotação do açúcar cristal em fevereiro foi a mais baixa do ciclo 2017/18.

 

No mês de março, a recuperação dos preços dos ovos foi significativa e o dispêndio nesse subgrupo aumentou em 8,41% no mês. A menor oferta do produto no período foi ocasionada pelo calor. A variação negativa de mais de 23% da tangerina, influenciada pela boa oferta do produto no mercado, e o aumento do tomate em quase 13%, devido ao período de entressafra, foram os destaques dos produtos de origem vegetal (Figura 5).

Em abril, o IPCMT negativo em 0,33% foi influenciado, especialmente, pelo subgrupo “Carnes”. Contudo, o produto leite, depois de um longo período apontando quedas, apresentou aumento de 4,82% no tipo longa vida. Com esse cenário, a variação dos produtos de origem animal teve variação de -0,77% no mês. No grupo vegetal, destacam-se os produtos FLV. A laranja, em entressafra, teve variação positiva de 9,52%, a cenoura foi valorizada em 8,20%, enquanto a tangerina continua em queda (Figura 6).

 

 

COMO INTERPRETAR AS FIGURAS 3 A 6

         Nas figuras estão dispostos os seguintes resultados:

1) Índice total, que equivale ao Índice de Preços da Cesta de Mercado Total (IPCMT), divulgado mensalmente pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), é obtido pelo cálculo de variação de preços no mês atual em relação ao anterior, ponderados pela sua importância na cesta de mercado das famílias paulistanas;

2) Índice por grupos, que equivale ao Índice de Preços da Cesta de Mercado de Produtos de Origem Animal (IPCMA) para os produtos de origem animal, e ao Índice de Preços da Cesta de Mercado de Produtos de Origem Vegetal (IPCMV) para os produtos de origem vegetal. É calculado de forma análoga ao índice total; a diferença é que é composta por produtos conforme a origem, animal ou vegetal;

3) Indicadores por subgrupos, que são calculados seguindo a mesma regra dos anteriores. O objetivo é indicar a contribuição do subgrupo na formação dos índices por grupos e total; e

4) Variação por produtos, cujo objetivo é mostrar quais produtos tiveram maior influência na formação do índice no mês.

 

  

 

1Informações obtidas em: OVOSITE. Banco de dados. Campinas: Ovosite. Disponível em: <http://www.ovosite.com.br>.  Acesso em: abr. 2018.

 

2Informações obtidas em: FOODNEWS. Banco de dados. São Paulo: Foodnews. Disponível em: <http://www.foodnewsoficial.com.br/mercado/>. Acesso em: abr. 2018.

 

3Informações obtidas em: HFBRASIL. Banco de dados. Piracicaba: HFBrasil. <http://www.hfbrasil.org.br>. Acesso em: abr. 2018.

 

4INSTITUTO DE ECONIMA AGRÍCOLA - IEA. Preços médios recebidos pelos produtores paulistas. Informações obtidas em <http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=2>. Acesso em: 9 maio 2018.

 

5Informações obtidas em: CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA - CEPEA. Açúcar/CEPEA: preço em fevereiro é o menor da safra 2017/18. Piracicaba: CEPEA/ESALQ. Disponível em: <https://www.cepea.esalq.usp.br/br/diarias-de-mercado/acucar-cepea-preco-em-fevereiro-e-o-menor-da-safra-2017-18.aspx>. Acesso em: 3 maio 2018.

 

Palavras-chave: alimentos, varejo, município de São Paulo.







Data de Publicação: 28/05/2018

Autor(es): Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor