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Curva Futura do Café – bear’s market ancorando a formação dos preços
Os sinais de retomada da economia brasileira são
robustos. A expansão de 1% do PIB em 2017, associado ao avanço das exportações
(quantum e valor) e a geração de modestos empregos, indica que 2018 terá ainda
maiores possibilidades de crescimento econômico com as mais recentes previsões
oscilado entre 2,8% e 3,0% no acumulado do ano. O desempenho do agronegócio no
ano é controverso. Sendo comparativamente menor a safra, é de se imaginar que o
segmento não contribua de forma tão relevante como no ano anterior. Entretanto,
com o início da colheita dos grãos, têm-se observado rendimentos bastante
satisfatórios que, apoiados na ligeira melhoria das cotações, tendem a refletir
positivamente na formação do PIB da economia. O avanço da produção industrial
sobre capacidade ociosa tem ainda longo caminho a percorrer. De qualquer modo,
produzir para atender as demandas (interna e/ou internacional) começa a se
sobrepor à preferência pela liquidez tão característica de economias com
inflação resiliente como a brasileira. O atual momento em que a inflação
persiste em permanecer abaixo da meta associada à ação forte do BACEN em
reduzir a SELIC conformam ambiente em que o investimento privado buscando maior
produtividade é drive inescapável. Os investidores no mercado de juros futuros da B3
mantêm sua apreciação favorável em relação ao desempenho da economia em 2018.
Com a aproximação do calendário eleitoral, aumentam as incertezas sobre as
expectativas futuras de desempenho da economia, resultando em alavancagem nas
cotações futuras a partir de janeiro de 2019 (Figura 1). A partir de uma melhor
definição das chances de êxito dos pré-candidatos no certame eleitoral, o
mercado poderá realinhar suas expectativas de alta para as cotações futuras dos
juros (cenário com centro-esquerda à frente) ou declínio (centro-direita na
dianteira). No mercado de dólar futuro, os investidores da B3
não vislumbram possibilidades razoáveis de ganhos no curto prazo. O avanço mês
a mês do saldo da balança comercial, associado ao ingresso de capitais
internacionais para melhor se posicionar diante do contexto de crescimento que se instaurou, abastece a
economia com excedentes de moeda forte, ampliando ainda mais o montante das
reservas internacionais. Dessa forma, as médias das cotações futuras do dólar
oscilaram apenas na margem ao longo de fevereiro de 2018 (Figura 2). O acirramento das disputas comerciais poderá, no
contexto internacional, ter potencial para causar grande ruído na economia
global. Caso se somem as retaliações, o Brasil poderá ocupar espaços dos atuais
e novos clientes antes exclusivos dos produtos estadunidenses, especialmente no
rol dos itens que constituem o agronegócio nacional. Esse fenômeno pode mais
que compensar barreiras aos embarques brasileiros aos EUA. No mercado de contratos futuros da Bolsa de Nova
York, a média das cotações semanais do café arábica contabilizadas em fevereiro
de 2018 exibiu tendência de baixa no comparativo dos patamares da primeira para
a terceira semana do mês. Na média das cotações semanais da quarta semana,
houve ligeira recuperação na cotação futura, típico movimento, porém, de ajuste
de margem (Figura 3). A expectativa dos investidores desse mercado de
safra cheia nos mais relevantes players
(Brasil, Vietnã a Colômbia) não concedeu espaço para movimentos especulativos.
A média semanal das cotações futuras na quarta semana do contrato C na Bolsa de
Nova York para a posição de setembro (mês de início da comercialização mais
forte da origem Brasil no mercado internacional) foi de US$¢126,55/lbp.
Efetuando-se as devidas conversões com dólar futuro em R$3,45/US$1,00 e
imputando-se 20% de diferencial para o café brasileiro e custo de carregamento
frente ao contrato C, obtêm-se R$461,00/sc. Cotejando tal cotação com aquela
contabilizada pelo IEA/CATI em fevereiro de 2018 para o cinturão de Franca, de
R$434,15/sc.2, constata-se que há possibilidade
de obtenção de vantagem financeira de R$27,84/sc., ágio que deveria ser
considerado pelos cafeicultores em suas estratégias comerciais. A confirmada recuperação da safra de conilon no
Brasil associado a ligeiro incremento na vietnamita pressionaram o mercado
futuro de robusta na Bolsa de Londres. Observou-se movimento das cotações muito
similar ao exibido pelo café arábica, prevalecendo a tendência de baixa nas
cotações (Figura 4). Maior oferta de conilon no mercado mundial será
âncora para uma possível recuperação nas cotações do arábica. Somente fenômenos
climáticos radicais poderão modificar a tendência de baixa sustentável para as
cotações ao longo do ano. Esse diagnóstico tem como consequência a recomendação
de que os cafeicultores, assim que concluírem a colheita, comercializem sua
produção para quitar os empréstimos/dívidas, especulando com a menor parte do
total obtido. Em fevereiro de 2018, os fundos e grandes
investidores do mercado de café da Bolsa de Nova York mantiveram posição
vendida na dianteira da comprada, resultando em cerca de 50 mil contratos
vendidos na posição líquida. A grande quantidade de contratos vendidos é o que
traz as cotações para os atuais níveis (Tabela 1). Os cinturões brasileiros de
arábica e robusta não exibem qualquer impacto da ocorrência do La Niña. Ainda
que as precipitações tenham ficado aquém da média para o mês nos cinturões mais
meridionais, aqueles mais acima do Trópico de Capricórnio (parte majoritária
das lavouras) foram bem providos com chuvas regulares. Aparentemente, as safras
estão garantidas e, ainda que de elevado volume, exibirão em média qualidade
satisfatória. No Brasil, os cafeicultores sinalizam que nesse
patamar de cotações o governo federal precisaria intervir adquirindo contratos
de opções públicas. Nas duas vezes em que essa política foi implementada, não
houve dilapidação do Tesouro, mas sim ganhos ao erário. O cenário futuro não
permite grande otimismo com a evolução das cotações nesse mercado sendo,
portanto, conveniente que se antecipe a temática em âmbito dos tomadores de
decisão do governo. 1O autor agradece
o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente
de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas
Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2Disponível para assinantes em: INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA/ CATI. Disponível
em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6>.
Acesso em: mar. 2018.
Palavras-chave: mercado de
café, cotações do café, Bolsa de Valores.
Data de Publicação: 14/03/2018
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor