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Controle Biológico: tecnologias na construção de oportunidades no Brasil
Os desafios tecnológicos relacionados à sanidade
vegetal constantemente criam novos caminhos na busca pela qualidade e
produtividade das produções agrícolas, aliadas à conservação e proteção
ambiental e ao desenvolvimento socioeconômico. Essa condição construiu
trajetórias tecnológicas apoiadas no avanço da indústria da química fina somado
aos conhecimentos das ciências agronômicas e na formação de mercado com a
participação de empresas, em sua maioria, sediadas na Alemanha, Estados Unidos
e Japão e atuan- No Brasil, os agroquímicos associados a outras
tecnologias, inclusive as organizacio- Em 2016 a queda nos valores comercializados se
mantém, registrando retração de 22% em relação ao ano de 2014 e condiciona
expectativas de continuidade da tendência de queda para os anos seguintes. Ao
se considerar as vendas de agroquímicos por classe de produto, ainda em 2016,
verifica-se que os fungicidas passaram a ser os produtos mais comercializados,
respondendo por 33% do total, uma situação vinculada à ferrugem da soja. Na
sequência estão os herbicidas com 32%, seguidos dos inseticidas com 29%. A nova
distribuição das vendas por classe de produtos também está relacionada à
redução de 12% na comercialização dos inseticidas que, apesar da demanda
aquecida, disputa espaço com o comércio ilegal de produtos. Por outro lado, é
mantido o crescimento das importações de agroquímicos, respondendo por 85% do
total comercializado6. Essa indústria e seus mercados, atuantes e atentos
ao vigoroso agronegócio brasileiro, além das questões relacionadas ao comércio
ilegal, convive com a necessidade de alto investimento em pesquisa e
desenvolvimento (P&D) na busca por novos produtos e processos, em negócios
tratados no ambiente de patentes e produtos genéricos, e na construção de
estratégias de posicionamento no mercado e lucratividade. Da mesma forma,
embora diante da facilidade e previsibilidade de aplicação dos agroquímicos, a
realidade da produção agrícola e a preocupação da sociedade com os impactos da
agricultura expõem lacunas importantes, tais como: elevada participação nos
custos de produção; redução e perda de eficiência dos produtos químicos; a
chamada resistência, alertas aos padrões ambientais e de saúde humana,
expressos na contaminação ambiental; desequilíbrio biológico; perda da
diversidade ecossistêmica; intoxicação de agricultores; e contaminação da
cadeia alimentar7, 8. A complexidade colocada demanda por soluções que não
envolvem, apenas, a simples substituição de tecnologias e sim a adequação dos
sistemas de produção. Nesse cenário, o controle biológico em interação com
outras tecnologias, a exemplo das técnicas do Manejo Integrado de Pragas (MIP)
e da produção orgânica, contribui para traçar caminho alicerçado no balanço
entre a produção de alimentos e os seus impactos. O desenvolvimento de
tecnologias de base biológica para controle fitossanitário, no Brasil, é
colocado como recente e marcado por interrupções. Porém, na década de 1980,
podem ser pontuadas ações voltadas à organização da estrutura de pesquisa e
ensino, associada à formação de empresas e ao registro e comercialização de
produtos9. Essa estrutura avança, e nos 1990 são intensificadas
as construções de marcos regulatórios por meio da edição de instruções
normativas, resoluções, decretos, leis e outros, vinculadas a órgãos como
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Nos
anos mais recentes, as várias atividades voltadas ao desenvolvimento do
controle biológico vêm tomando espaço e incorporando novas estratégias, a
exemplo da criação da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico
(ABCBIO)10. O ambiente institucional estabelecido proporciona o
registro dos biodefensivos compondo banco de informações disponibilizadas junto
à ABCBIO e ao Sistema AGROFIT do MAPA, que também agrega o registro dos
agrotóxicos. No exame das informações sobre os biodefensivos é possível
verificar o registro de quase 300 itens para vários alvos biológicos e aptos
para utilização em todos os cultivos agrícolas. Ao se considerar o registro dos
biodefensivos por classe é possível notar que os produtos voltados ao controle
de insetos se destacam, com 65% de bioinseticidas e 7% de inseticidas
microbiológicos (Figura 1). Dentre
os bioinseticidas tem destaque ingredientes ativos como a bactéria Bacillus thurngiensis e seus alvos,
helicoverpas, lagartas e brocas que respondem por 38% do total de registros,
além dos fungos Beauveria bassiana
para moscas, ácaros e brocas e Metarhizium anisopliae para cigarrinhas das pastagens e de
raízes, que representam, respectivamente, 9% e 11% do total de produtos
registrados. Conforme apresenta a figura 1, a classe dos agentes
de controle biológico corresponde a 15% do total de registros. Nessa classe de
produtos, 45% têm como ingrediente ativo a Cotesia
flavipes e 11% para Trichogramma
galloi, ambos insetos destinados ao controle da broca da cana e broca do
colmo, assim como 30% para Trichogramma
pretiosum destinado ao controle de lagartas. Cabe destacar os biofungicidas
que representam 6% do total de registros e, ainda, os registros de inseticidas
biológicos, bionematicidas e nematicidas microbiológicos, agrupados em outros. O reconhecido espaço que vem ocupando as tecnologias
em controle biológico está presente nas perspectivas de expansão do mercado
para os próximos anos, na movimentação das empresas tanto aquelas dedicadas à
produção de biodefensivos quanto aquelas que atuam e dominam parte do mercado
de agroquímicos. Ao mesmo tempo, esse movimento mobiliza oportunidades
colocadas pela busca por soluções para a superação das questões ligadas ao
controle dos agroquímicos e expõe desafios. Dentre os desafios, é possível destacar a necessária
ampliação da disponibilidade de produtos, como aqui discutido, que se mostra,
ainda, um tanto concentrada em classes de produtos e ingredientes ativos,
reflexo não só da demanda pelo desenvolvimento de pesquisas envolvendo a
identificação de novos agentes e suas interfaces com pragas e doenças
importantes na diversidade de culturas exploradas pela agricultura brasileira e
seus vários modelos de produção, mas também no avanço das tecnologias de
produção, acondicionamento e aplicação dos biodefensivos. Nesse sentido, além da
geração de conhecimento, ações voltadas ao aprimoramento da legislação que
norteia o registro e a disponibilização desses produtos, associadas a trabalhos
de divulgação, interação, treinamento e assistência técnica ao produtor, podem
compor um ambiente favorável à inovação dos sistemas de produção agrícola,
contribuindo para a superação de questões colocadas pelo padrão agroquímico. 1SILVA, M. F. O.;
COSTA, L. M. A indústria de defensivos agrícolas. BNDES Setorial 35,
Brasília, p. 233-276, 2011. Disponível em:
<https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/?locale=pt_BR>. Acesso em: dez.
2017. 2GASQUES, J. G. et
al. Produtividade da agricultura brasileira e os efeitos de algumas políticas. Revista de Política Agrícola, Brasília,
Ano 21, n. 83, p. 83-92, jul./ago./set. 2002. Disponível em:
<https://seer.sede. 3VEGRO, C. L. R. Defensivos
agrícolas: câmbio, importações e clandestinidade impactam o segmento. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 11, n. 10, p. 1-5,
out. 2016. Disponível em: <http://www. 4SINDICATO
NACIONAL DA INDUSTRIA DE PRODUTOS PARA DEFESA VEGETAL - SINDIVEG. Balanço 2015: setor de agroquímicos
confirma queda de vendas. São Paulo: SINDIVEG. Disponível em: <http://sindiveg.org.br/ 5_____. Setor de defensivos agrícolas registra
queda nas vendas em 2016. São Paulo: SINDIVEG. Disponível em:
<http://sindiveg.org.br/wp-content/uploads/2017/06/Release-03abr2017-FINAL.pdf>.
Acesso em: fev. 2018. 6Op.
cit. nota 3. 7Op.
cit. nota 1. 8MORANDI, M. A.
B.; BETTIOL, W. Controle biológico de doenças de plantas no Brasil. In:
BETTIOL, W.; MORANDI, M. A. B. (Eds.) Biocontrole
de doenças de plantas: uso e perspectivas. Jaguariúna: Embrapa Meio
Ambiente, 2009. p. 7-14. 9Op.
cit. nota 8. 10Op.
cit. nota 8.
Palavras-chave: agrotóxicos, pesquisa
e desenvolvimento, defensivos, biodefensivos.
tes em ambiente competitivo, porém, as dez maiores empresas dominam mais de 80%
do mercado1.
nais e políticas, contribuíram para o avanço da produtividade da agricultura
brasileira que, na década de 1990, cresceu a uma taxa anual de 2,64%, passando
para 5,62% nos anos 2000, destacando-se no contexto mundial entre os países de
maior produtividade2. No período recente, 2011 a 2014, o comércio
daqueles insumos registrou incremento anual nos volumes vendidos, encerrando o
ano de 2014 com quase 350 mil toneladas comercializadas para os ingredientes
ativos e pouco mais de 900 mil toneladas para os produtos comerciais. Em 2015 a
retração das vendas para os produtos comerciais chegou a 3% e mesmo com aumento
de 12% para os ingredientes ativos, verificou-se retração de 22% nos valores comercializados,
totalizando US$9,6 bilhões3, 4, 5.
embrapa.br/index.php/RPA/article/viewFile/248/208>. Acesso em: fev. 2018.
iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-62-2016.pdf>.
Acesso em: fev. 2018.
balanco-2015-setor-de-agroquimicos-confirma-queda-de-vendas/>. Acesso em: fev. 2018.
Data de Publicação: 09/03/2018
Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor