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Custo de Produção e Rentabilidade da Cultura da Seringueira: uma estimativa para a nova safra 2017/18
Na última safra encerrada em junho de 2017
observou-se que houve um aumento significativo da produção. Esse resultado pode
ser atribuído tanto ao aumento de pés em produção como à melhora dos preços
ocorrida em meados de 2017, influenciando os produtores a realizar melhor
manejo na cultura aliado ao clima propício o que resultou em melhor
produtividade. De acordo com o IEA, 20173,
a exploração da seringueira situa-se, principalmente, na região norte/noroeste
do estado, sendo o Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de São José do Rio
Preto o maior polo produtor, com 28,9% da produção paulista, seguido pelos EDRs
de General Salgado (17,9%) e Barretos (9,9%) (Figura 1). Os dados do IEA de
2017 apon- taram
que os EDRs que tiveram altas expressivas de produção na safra 2016/17, foram
General Salgado, Presidente Prudente e Jales. Em relação aos preços
recebidos observa-se pelo levantamento do IEA4 que houve melhora em relação à safra anterior
principalmente pelo fato de ter ocorrido chuvas excessivas nos países
produtores da Ásia no início de 2017, influenciando na oferta do produto, o que
fez os preços subirem no mercado, além da elevação da cotação do dólar nesse
mesmo período. A cultura da seringueira ocupa o 19º
lugar da economia agropecuária do Estado de São Paulo (0,77%). O preço médio mensal recebido pelos produtores paulistas
durante a safra 2016/17 teve média de R$2,94/kg de coágulo. Os aumentos do
preço e da produção contribuíram para elevação do valor bruto da produção em
3,58% atingindo o total de R$590.307.564,255. As diferenças que ocorrem entre oferta e demanda de
borracha natural posicionam o Brasil em situação vulnerável às importações e
consequentemente às variações de preço do mercado internacional, além das
incertezas que cercam a oferta da matéria-prima. Uma das formas de mitigar os
riscos inerentes a produção é a gestão profissional do seringal e dos custos de
produção numa tentativa de racionalização do uso dos fatores de produção como
forma de buscar rentabilidade positiva. Com a finalidade de contribuir no
planejamento de início da safra agrícola da seringueira, que ocorre no mês de
setembro, este artigo apresenta estimativas de custo de produção de
implantação, formação e produção de seringueira e uma
análise de resultados econômicos em função desses custos de produção, preços
recebidos pelos produtores e diferentes níveis de produtividade. A metodologia de custo de produção
utilizada é baseada em Martin et al. (1998)6. Sua concepção é de
curto prazo, sendo que as remunerações do capital, terra e empresário não são
computadas, supondo-se que isso se fará pela renda líquida. A estrutura de
custos do sistema é a de Custo Operacional do Instituto de Economia7
e composta de: a) custo operacional efetivo (COE): despesas efetuadas com mão
de obra, encargos sociais (40% sobre o valor da despesa com mão de obra),
operações de máquinas/equipamentos, veículos e materiais consumidos ao longo do
ciclo da cultura; e b) custo operacional total (COT): o COE acrescido da
contribuição à seguridade social rural, CSSR (2,3% do valor da renda bruta),
depreciação de máquinas e do seringal, encargos financeiros que se referem aos
juros de custeio à taxa de 8,5% a.a. sobre o COE e despesas com serviços de
assistência técnica. Os indicadores de análise de resultados utilizados são os
seguintes: receita bruta (RB) é a produção x preço; margem bruta (MB) é a
receita bruta/custos, em percentagem; ponto de equilíbrio (PE) é a produção
necessária para remunerar os custos; lucro operacional (LO) é a receita bruta
menos o COT; e índice de lucratividade (IL) é a relação percentual entre LO e
MB. As matrizes de coeficientes técnicos de
fatores de produção referem-se a uma propriedade padrão composta da seguinte
maneira: área plantada de 50 hectares, clone RRIM 600, espaçamento de 2,5 x 8 m2,
20 m2/planta, 500 pés plantados, 400 em produção, 25 anos de idade
do seringal (para o seringal em plena produção), sistema de sangria D4,
produtividade de 7 kg de coágulo/planta, 2.800 kg de coágulo/hectare e ano
agrícola set./ago.8. A atividade da seringueira, constituída da fase de implantação
(primeiro ano) e seguida como fase de formação até o sexto ano, apresenta
produção de borracha a partir do sétimo ano em que 50% das plantas entram em
sangria, a partir do décimo ano considera-se que o seringal tenha 100% de suas
árvores em sangria. Os preços dos fatores de produção são aqueles praticados no
mês de setembro de 2017 na região noroeste do Estado de São Paulo[A1] [A2] . O custo de
implantação, ou seja, o primeiro ano da cultura é o de maior valor, pois são
consideradas as operações como o preparo do solo, plantio, replantio, molhação
e outras operações de instalação da cultura (Tabela 2). Esse custo apresenta
valor de R$15.499,64 para o COE e COT de R$17.483,29 por hectare. O custo de
implantação até o sexto ano é de R$24.021,05 para o COE, enquanto o do COT é
R$28.170,09 por hectare. Nos anos subsequentes (2º ao 6º ano), o custo de
produção apresenta valores menores em relação ao 1º ano por apresentar
operações de manejo sem sofrer o impacto, principalmente, dos custos com
operações de máquinas os maiores ocorridos quando de sua implantação.
A partir do 7º ano dá-se início da sangria e os custos
de produção sofrem um aumento, principalmente, pelo impacto da aquisição dos
materiais para a sangria e do uso da mão de obra do sangrador. A partir do 10º
ano o seringal entra em plena produção com 100% das árvores em sangria tendendo
a estabilização da produção. Considerando-se o seringal adulto em plena produção,
calculou-se o custo de produção para análise de seus resultados econômicos (Tabela
3). O COE para o quilograma de coágulo foi estimado em R$2,95 (R$8.269,75/ha) e o COT
atingiu o valor de R$9.790,54/ha ou R$3,50 por kg de coágulo. O item de maior participação percentual no custo de
produção (COT) é o da mão de obra, que soma 41,4% (comum, sangria tratorista e
fiscal), seguido dos custos dos encargos sociais (16,6%). A seguir os
maiores são com defensivos (8,4%), operação de máquinas (6,0%) seguidos dos gastos
com transporte de pessoal (6,3%) e adubos (4,7%). A análise dos
itens de participação percentual dos componentes do custo de produção permite
em primeira análise visualizar quais os principais itens que impactam as
despesas com a produção.
Conhecendo os itens que mais oneram os custos pode o
produtor, a partir dessas informações, exercer maior controle em seu uso e
determinar prioridades em sua gestão. No caso da seringueira observa-se que os
custos associados ao uso da mão de obra, representam 68,5% do COE, e que ao
somá-la ao custo com transporte de pessoal atinge 75,9% do COE, incorrendo nesse
fator de produção o maior impacto nos custos de produção de borracha. Deve-se
observar que somente o custo da sangria onera a produção em 23,9% e o sangrador
é o trabalhador que passa maior tempo em contato com a planta, estando sua
atividade estritamente ligada ao manejo da sangria, responsável pela obtenção
do produto final. Quando avaliado
em relação às despesas totais, esse percentual aponta 64,3% do COT,
corroborando o impacto do item nas despesas com a produção. Nas tabelas 3, 4 e 5 estão
discriminados os valores recebidos pela produção em diferentes níveis de
produtividade. A
receita bruta estimada em função de preços médios recebidos pelos produtores de
borracha do Estado de São Paulo no mês de setembro de 2017 e o preço médio
recebido na safra 2016/17 publicados pelo IEA e o preço mínimo de garantia do
governo federal apresentam margem bruta negativa para os níveis de
produtividade de 2.200, 2.800 e 3.200,00 kg de coágulo por hectare (Tabelas 4,
5 e 6). O ponto de equilíbrio que representa o nível de produção em que a
receita é igual ao custo também não apresenta produção suficiente para
remunerar os custos tanto em nível de COE como no COT o que resultou em lucro
operacional negativo, portanto não remunerando os custos de produção aqui
estimados.
Além
dos custos aqui calculados há de se levar em conta que existem outros gastos
envolvidos na produção que dependem da renda líquida para serem remunerados: o
capital e a terra, o pró-labore do empresário e ainda outras despesas da propriedade.
Assim, em todos os casos contemplados nessa análise a produção avaliada
apresenta-se inviável em termos de resultados econômicos por custar mais do que
o valor recebido. Uma vez
que os custos operacionais aqui mensurados servem como remuneração da atividade
no curto prazo, os preços recebidos pelos produtores devem remunerar os custos
aqui considerados e apresentar margem para remunerar os demais custos
incorridos na produção que não foram contemplados no estudo. Os dados
apresentados mostram duas questões relevantes: o controle dos custos na gestão
eficiente dos fatores de produção no caso, a mão de obra que onera mais de 70%
a atividade e a busca de alternativas para aumento da produtividade, uma vez
que os produtores não possuem poder de controle dos preços recebidos pois estes
são “dados“ pelo mercado. 1Os autores agradecem a
colaboração da Associação Brasileira dos Produtores de Látex (APOTEX) e do Eng.
Agrônomo Carlos Alberto De Luca, Diretor Técnico do Escritório de
Desenvolvimento Rural (EDR) de Votuporanga, a coleta dos preços dos fatores de
produção. 2MARTINS, V. A. et al. Previsões e estimativas das safras
agrícolas do Estado de São Paulo, Ano Agrícola 2016/17, junho de 2017. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 12,
n. 8, p. 1-13, ago. 2017. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-48-2017.pdf>.
Acesso em: nov. 2017. 3INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/bancodedados.html>. Acesso em: set. 2017. 4Op. cit.
nota 3. 5Silva, J. R. et al. Valor da produção agropecuária do
Estado de São Paulo: resultado preliminar 2017. Análises e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v.
12, n. 10, p. 1-7, out. 2017. Disponível
em: <http:// 6MARTIN, N. B. et al. Sistema
integrado de custos agropecuários - CUSTAGRI. Informações Econômicas, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 7-28, jan. 1998.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/1998/tec1-0198.pdf >.
Acesso em: nov. 2017. 7MATSUNAGA, M. et. al.
Metodologia de custo utilizada pelo IEA. Agricultura
8O detalhamento da metodologia,
bem
como a coleta dos dados com os produtores é encontrado em: OLIVEIRA, M. D. M.,
VEIGA FILHO, A. de A., FREDO, C. E. Custos de
manutenção e rentabilidade da seringueira em plena produção, região noroeste do
Estado de São Paulo, 2014. Análise e Indicadores do Agronegócio, São
Paulo, v. 10, n. 2, p. 1-5, fev.
2015. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13598>. Acesso em:
out. 2017. Palavras-chave: custo
de produção, seringueira, rentabilidade, borracha natural.
www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-59-2017.pdf>. Acesso em: nov. 2017.
Data de Publicação: 11/12/2017
Autor(es):
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
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