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Gradual Retomada do Mercado de Máquinas Agrícolas Automotrizes
O segmento de máquinas agrícolas automotrizes, após
se aproximar das 100 mil máquinas produzidas e vendidas em 20132,
vem ao longo dos últimos três anos exibindo profunda queda na produção e vendas
totais, encolhendo, a partir de 2015 e 2016, a quase metade daquilo que seu
negócio já chegou a representar (Figura 1). Os tratores de rodas tiveram queda no total das vendas entre 2015 e 2016, com diminuição do mercado de -5,6% (de 44.719 para 42.233 unidades). Esse resultado foi fortemente puxado pelo encolhimento das exportações, que diminuiu os embarques de tratores em 1.061 unidades no período. Tal queda foi parcialmente compensada pela expansão do total de vendas de colheitadeiras, com incremento de 14,6% de melhoria do desempenho (de 4.300 salta para 4.929 unidades vendidas). Essa melhor performance das colheitadeiras foi acompanhada pela demanda por colhedoras de cana que, entre 2015 e 2016, exibiu expansão de 23,2% no total de vendas. Todavia, o mercado, para o conjunto das máquinas agrícolas automotrizes, contabilizou mais um ano de deterioração de seu desempenho com total de vendas, caindo -4,6%, ou seja, das 55.890 unidades comercializadas em 2015, houve recuo para 53.299 unidades em 2016 (Tabela 1). Na prolongada recessão econômica que o país vem
percorrendo, as exportações têm sido a única janela de oportunidades comerciais
para a indústria brasileira. Assim, entre 2015 e 2016, o segmento de máquinas
agrícolas registrou embarques que totalizaram US$1,78 bilhão, ou seja,
incremento de 4,7% frente ao ano anterior. O dinamismo das transações
internacionais se refletiu, também, na elevação da ocupação formal do segmento
com expansão de 8,6% nos postos de trabalho. No primeiro semestre de 2017, após três
anos registrando diminuição tanto da produção como das vendas, o segmento de
máquinas agrícolas automotrizes ensaia retomada do mercado. Seus indicadores
econômicos (produção, vendas e exportações) exibem expansão de dois dígitos.
Assim, no período, elevou-se a produção em 40,6%, totalizando 28.795 máquinas
fabricadas. Por sua vez, as vendas para o mercado interno e as exportações
cresceram 21,7% e 35,0%, respectivamente, gerando total de vendas 24,4%
superior ao registrado no mesmo período o ano anterior (Tabela 1). Tratores de rodas e colheitadeiras
foram as máquinas de maior expansão da produção, com salto de 45,5% e 57,3%,
respectivamente. A reação das vendas no mercado interno tem motivado a retomada
da capacidade produtiva, uma vez que apenas no primeiro semestre de 2017 foram
comercializados 18.113 tratores de rodas (expansão de 26,4% frente a igual
período do ano anterior) e de 1.917 colheitadeiras (aumento de 14,2%). Sobre
este último tipo de máquina, houve forte aumento dos negócios com o exterior, totalizando
472 colheitadeiras vendidas a outras países (incremento de 131,4%). As máquinas típicas para o uso em obras
de infraestrutura (tratores de esteiras e retroescavadeiras) também tiveram
expansão na produção e total de vendas no semestre, pautadas exclusivamente pelas
exportações, uma vez que as vendas para o mercado interno continuam a encolher
em razão da severidade da recessão que atravessa o país. Destoando desse contexto promissor, o
mercado de máquinas destinadas ao segmento sucroenergético não exibiu
desempenho positivo no primeiro semestre de 2017. Embora tenha havido expansão
da produção de 8,1%, todos os demais indicadores (vendas para o mercado interno
e exportações) tiveram retração, contabilizando-se no semestre queda de 10,5%
do total de vendas no semestre. Tal resultado é algo surpreendente, tendo em
conta que, após a mudança da política de precificação dos combustíveis, o
segmento passou a contar com ambiente de negócios mais favorável à
rentabilização da atividade. O relativo avanço do segmento nesse
primeiro semestre fez saltar tanto o número de empregos quanto o saldo cambial
com exportações. Contabilizando 18.344 trabalhadores ocupados no semestre, o
segmento retoma o montante que exibia em 2014. A expansão de 35,1% das
exportações, entre janeiro a junho de 2017, permitiu a internalização de
US$1,21 bilhão de saldo cambial. Espera-se que o resultado final das
exportações seja ainda melhor no segundo semestre, pois a maior parte dos
mercados de destino das máquinas agrícolas brasileiras (MERCOSUL e países
africanos) tem sazonalidade positiva para tratores de rodas nesse período. O recorde registrado na safra de grãos
2016/17 responde por parte do desempenho do segmento contabilizado no semestre.
Com cerca de 230 milhões de toneladas produzidas associados ao ambiente de
preços recebidos relativamente favoráveis por conta de menor pressão de custos,
houve melhores condições econômicas para a tomada de decisão de investimento
por parte dos agricultores. Recorte regional do mercado indica que
o Estado de São Paulo representa quase um quarto do total das vendas de
máquinas agrícolas no Brasil3. Somadas as vendas para os estados da
região Sul do país àquelas destinadas ao mercado paulista, constata-se que 59%
do mercado de máquinas agrícolas se concentrou nesses quatro estados (Figura
2). Normalmente, o mercado de máquinas
agrícolas automotrizes exibe sazonalidade com maiores vendas ocorrendo no
segundo semestre do ano. Em 2016, tal tipicidade voltou a ser observada, pois
no segundo semestre do ano anterior o mercado praticamente para- lisou-se.
Espera-se que os próximos meses do ano mantenham essa tipicidade com incremento
das vendas, especialmente, do principal item desse mercado que são os tratores
de rodas (Figura 3). O Plano Agrícola Pecuário 2017/18 prevê
recursos da ordem de R$9,2 bilhões para o MODERFROTA e de R$3,71 bilhões em
crédito de investimento para o Programa de Apoio ao Médio Produtor Rural
(PRONAMP). Consulta à Matriz de Dados do Crédito Rural do Banco Central do
Brasil4 revela que, no primeiro semestre de 2017, já haviam sido
empenhados R$3,05 bilhões pelo MODERFROTA e outros R$162,60 milhões pelo
PRONAMP. Se não houver contingenciamento desses recursos por parte do
Ministério da Fazenda, é possível que a disponibilidade do MODERFROTA seja
integralmente empenhada,
dinamizando os negócios do segmento. A tendência para o mercado de máquinas
agrícolas automotrizes é de ainda melhor ambiente de negócios para o segundo
semestre do ano, conforme se comentou sobre a sazonalidade existente nas vendas
para o mercado interno do segmento. Com a manutenção da taxa de câmbio no atual
patamar, espera-se que as exportações também mantenham bom dinamismo,
acrescentando mais saldo à superavitária balança comercial do país. ________________________________________________ 1O autor agradece
o apoio na sistematização dos dados e preparação das figuras e das tabelas
efetuados pela Diretora do Núcleo de Comunicação Institucional Talita Tavares
Ferreira, do CCTC. 2VEGRO, C. L. R.
Colapso econômico do segmento de máquinas agrícolas automotrizes. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 11, n. 8, p. 1-5, ago. 2016. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea 3Em 2016, o Fundo
para Expansão da Agropecuária e Pesca (FEAP) do Governo do Estado de São Paulo,
subvencionou os juros do financiamento para a aquisição de 1.848 tratores de
rodas e 1.280 implementos (demais máquinas). Somadas essas vendas formam 7,16%
do total das vendas internas, ou seja, um terço do total comercializado no
estado. 4BANCO CENTRAL DO BRASIL - BCB. Banco de dados. Brasília: BCB, 2017.
Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/r/micrrural/?path=conteudo%2FMDCR%2FReports%
Palavras-chave: mercado de
máquinas agrícolas, vendas de máquinas agrícolas, tratores.
/AIA/AIA-45-2016.pdf>. Acesso em: ago. 2017.
2FqvcInvestimentoProdutoRegiaoUf.rdl&nome=Quantidade%20e%20
Valor%20dos%20Contratos%20de%20Investimento%20por%20Produto,
%20Regi%C3%A3o%20e%20UF&exibeparametros=true&botoesExportar=true>.
Acesso em: 29 ago. 2017.
Data de Publicação: 31/08/2017
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor