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Algoritmos Determinam Formação dos Preços do Café
Em junho de 2017, a crise política institucional
pela qual passa o país, contaminou definitivamente a economia. Os investidores
do mercado de juros na Brasil Bolsa Balcão [B]3 (antiga BMF-Bovespa) reverteram suas
expectativas para continuidade de queda da taxa de juros futuros, que passaram
a sinalizar ligeira alta no segundo semestre de 2018. Com imensas dificuldades
para manter a previsão de deficit em
R$139 bilhões, o mercado antevê a necessidade do governo federal ampliar os
cortes de orçamento e eventualmente elevar impostos (CIDE?) como saída para não
aprofundar ainda mais os rombos das contas públicas. Ambas medidas, de caráter
contracionista, terão por reflexo o adiamento da retomada da economia. Menor
arrecadação fiscal demanda juros mais elevados para fechamento das contas,
fenômeno perfeitamente sinalizado pelo mercado (Figura 1). As médias das cotações semanais de café da bolsa de
Nova York foram seguidamente baixistas, semana após semana de junho.
Aparentemente, os investidores desse mercado estão apostando que o aumento de
5,01% das exportações mundiais registrado entre outubro 2016 e maio de 20172
seja elemento determinante para não antever escassez do produto para os
próximos meses. Ademais, relatório de junho da USDA confirmou estimativa para a
safra brasileira 2017/18 em 52,1 milhões de sacas (40,5 msc. arábica e 11,6 msc.
em robusta)3, posicionando-se 6,5 msc. acima da mais recente
previsão de safra da CONAB4 (Figura 2). Essa expectativa de aparente tranquilidade para o
suprimento mundial não tem amparo na posição da relação consumo anual versus formação de estoques. Segundo o
mesmo relatório do USDA, a tendência para o acúmulo de estoques continua
decrescente, sinalizando que o mercado poderá vivenciar ciclo de escassez mesmo
sob a imprecisa previsão de que a safra brasileira 2018/19 estará acima das 55
milhões de sacas (Figura 3). Em junho, a média dos preços recebidos pelos
cafeicultores da região de Franca levantada pelo Instituto de Economia Agrícola
(IEA), em parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),
atingiu R$445,76/sc.5. Cotejando-se esse preço com o registrado pela
média da quarta semana de junho para a posição de setembro de 2017 (US$¢125,25/lbp), constata-se que não há
interesse pelo hedge pois, efetuadas
as conversões e adicionando-se 20% para o diferencial (mais comissões e taxas)
frente ao contrato C para o natural brasileiro, chega-se à cotação de
R$445,00/sc. (dólar futuro a câmbio de R$3,36), representando, portanto,
montante similar ao registrado pelo mercado físico. Na Bolsa de Londres, em que são oferecidos os
contratos de café robusta, observou--se movimento contrário ao registrado com o
arábica em Nova York, elevando-se semana após semana as cotações para o
produto. Em setembro (segunda posição), a cotação média da primeira semana de
junho contabilizou US$¢91,00/lbp,
saltando para a média de US$¢95,70/lbp
na quarta semana do mês para a mesma posição, ou seja, incremento de 5,16% da
cotação futura em segunda posição dentro do mês (Figura 4). Entre os fundos e grandes investidores, houve forte
movimento de venda ao longo de junho, alcançando posição líquida vendida mais
de 42 mil contratos na quarta semana do mês. A aceleração das vendas dos fundos
e grandes investidores é a explicação para a queda persistente nas cotações do
arábica em Nova York. Entretanto, se esse movimento constituiu pressão baixista
para o mercado, atinge-se um patamar em que o próprio mercado começa a cogitar
a razoabilidade dessa especulação, com início de saldo líquido comprado entre
comerciais e indústrias (Tabela 1). A chegada das primeiras ondas de massa de ar polar
nos principais cinturões produtores brasileiros deflagrou maior volatilidade
para a formação dos preços. Esse fenômeno pode vir a mascarar relativa pressão
altista que advinda da força dos fundamentos que, ao menos para o caso das
cotações do robusta, já se fazem sentir no mercado. Em algum momento os
fundamentos passarão a determinar a formação das cotações, suplantando a
orientação formulada pelos algoritmos de curto prazo. __________________________________________________________ 1O autor agradece o trabalho de sistematização do banco de
dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica
do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2Ver relatório mensal da ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO CAFÉ
- OIC. Banco de dados. London: OIC.
Disponível em: <http://www.ico.org/>. Acesso em: 3 jul. 2017. 3Relatório disponível em: UNITED STATES DEPARTMENT OF
AGRICULTURE - USDA. Foreign Agricultural Service. Banco de dados. USDA: United States. Disponível em: <http://www.fas.usda.gov/data/coffee-world-markets-and-trade>.
Acesso em: jul. 2017. 4Relatório disponível em: ACOMPANHAMENTO da safra
brasileira: café. Segundo levantamento. CONAB,
Brasília, v. 4, n. 2, maio 2017. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/17_05_18_15_37_37_boletim_cafe_-_maio_2017.pdf
>. Acesso em: 3 jul. 2017. 5INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA/ CATI.
Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6>.
Acesso em: jul. 2017. Palavras-chave: mercado futuro,
cotações de café, Bolsas de mercadorias.
Data de Publicação: 11/07/2017
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor