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Estudos Sobre a Ocupação e Uso do Solo Agrícola no Estado de São Paulo, Período de 1990 a 2015
O Instituto de Economia Agrícola (IEA) em parceria
com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) realizam
sistematicamente o levantamento de Previsões e Estimativas de Safras Agrícolas
de, aproximadamente, 150 produtos agropecuários no estado cinco vezes ao ano,
que contempla informações de área de plantio, desenvolvimento, produção e
produtividade de cada produto. Esse levantamento utiliza o método subjetivo, ou
seja, são informações pesquisadas em todos os municípios paulistas pelos
técnicos das Casas de Agricultura (CA) embasadas em seu conhecimento local,
através de contatos com produtores, associações, cooperativas, agentes do setor
entre outras fontes, que informam a estimativa de área e produção de cada
cultura durante a safra. Em seguida, essas informações são enviadas para o IEA
por meio de questionários para serem digitados, depurados, analisados e
divulgados os resultados de cada levantamento. Um dos objetivos das Previsões e Estimativas de
Safras Agrícolas é fornecer ao setor informações sobre a conjuntura da
agricultura paulista em termos de área, produção e produtividade. Essa série de
dados fica armazenada em banco de dados, permitindo o desenvolvimento de
diversos estudos baseados nas transformações ocorridas na agricultura do Estado
de São Paulo. Esse estudo específico tem como objetivo principal
apontar as mudanças ocorridas na ocupação e no uso do solo paulista em um
período de 25 anos, de As modificações na composição agropecuária e
florestal paulista1 estão associadas com a intensificação do
comércio internacional, o desenvolvimento da bioenergia, principalmente etanol,
e a modernização e uso de novas tecnologias, que produziram alterações
quantitativas e qualitativas no novo arranjo do espaço agropecuário paulista. A figura 1 apresenta as principais modificações
ocorridas no período, com a ocupação de áreas destinadas à agricultura e à
cobertura natural. De 1990 até 2005, o grupo predominante era o de
pastagens com mais de 10 milhões de hectares, que correspondia a cerca de 50%
da área rural do estado. A partir de 2005, os números mostram significativa
redução de área e, em 2015, o estado destinava 6,9 milhões de hectares para as
pastagens, equivalentes a 33% da área rural do estado. Essa redução de área de pastagens teve início a
partir dos anos 2000 com a entrada dos carros bicombustíveis e o aumento da
venda dos automóveis em consequência do crescimento econômico do País,
acompanhado do bom momento do mercado internacional. Isso refletiu em uma demanda
maior por produtos derivados da cana-de-açúcar (açúcar, etanol hidratado e
anidro), sinalizando outro panorama para a agricultura. Nesse sentido, foram
feitos investimentos no setor sucroalcooleiro para a expansão das atividades
com a ampliação e a instalação de novas usinas e a busca de terras para a
expansão da cultura, arrendando terras de produtores rurais e de pecuaristas,
oferecendo boas perspectivas de negócios, inclusive com a condução da lavoura
por conta das próprias usinas. Assim o grupo de culturas semiperenes, em que a cana
para indústria predomina com 97,3% da área do grupo, ocupava pouco menos de 3
milhões de hectares em 2000, teve um aumento significativo em 15 anos, dobrando
sua área, finalizando o ano de 2015 com 6,3 milhões de hectares, que representa
30% da área rural paulista. Nota-se que a partir de 2010 esse crescimento foi
reduzido, devido à crise que o setor e o País vêm enfrentando, com queda no
crescimento econômico e falta de investimentos. A figura 1 ilustra dois movimentos principais no
período analisado: o crescimento das culturas semiperenes e a redução da área
de pastagens. Observam-se, em 2015, áreas muito próximas para estas atividades,
com 6,3 milhões de hectares de culturas semiperenes e 6,9 milhões de hectares
de pastagens. As reduções na área disponível
para a criação de bovinos e no número total de animais (redução de 35,1% entre
2005 e 2014) são coerentes e podem indicar que a atividade está se readequando
às condições do estado quanto à demanda por
área de outras atividades, ou seja, a pecuária extensiva perde espaço frente a
outras explorações, como a cana-de-açúcar, por exemplo2.
O grupo de culturas anuais, formado pela exploração
das culturas de milho, soja, trigo, amendoim, feijão, arroz, batata, algodão,
tomate e olerícolas, teve suas áreas de cultivos reduzidas em aproximadamente 3
milhões de hectares até 1990, recuando para 1,9 milhão em 2010 e elevando-se
para 2,1 milhões de hectares em 2015. Esta retomada ocorreu principalmente com
a ampliação das lavouras de soja e milho, com incremento da utilização do
sistema de rotação para o cultivo do milho safrinha ou segunda safra,
impulsionado pela conjuntura econômica favorável para os produtores. Destaca-se que esse grupo de culturas é formado em
grande parte pela agricultura familiar, principalmente nos produtos que se destinam
à alimentação básica da população. Se, por um lado, as culturas anuais perderam espaço
em São Paulo, principalmente culturas como as de algodão, amendoim, arroz,
feijão, batata, tomates e outras, por outro, houve ganhos de produtividade, por
conta do impacto das pesquisas realizadas, com as melhorias das sementes e das
tecnologias de produção implementadas. A figura 2 mostra a evolução das
produtividades médias de algumas culturas: o feijão passa de 11 sc. 60 kg/ha em
1990 para 35 sc. 60 kg/ha em 2015 e a produtividade do milho no mesmo período
cresce de 42 para 92 sc. 60 kg/ha. O grupo de culturas perenes também apresentou
redução de área cultivada superior a 30% no período 1990 a 2015, recuando de
1,40 para 0,94 milhão de hectares. O grupo abrange: frutas, café e seringueira.
Nesse grupo, a redução se deve principalmente diminuição de área para as
culturas de laranja e café. Na cafeicultura houve redução da área no período,
de 505 mil ha em 1990 para 212 mil ha em 2015, a exploração paulista ficou a
cargo dos produtores especializados com o uso de novas tecnologias de produção
(adensamento e superadensamento dentre outras) e aqueles com capacidade de
investimentos no manejo das lavouras. Já para a seringueira tem-se aumento de
área, ocupando aproximadamente 100 mil hectares em 2015. No caso da laranja, a diminuição de área é reflexo
dos problemas de doenças nos pomares que levaram à erradicação de pés
contaminados, associada ao aumento no custo de produção com o controle
fitossanitário e, ainda, resposta aos preços internacionais do suco com a
redução do consumo mundial, o que provocou a redução de área de 695 mil ha em
1990 para 472 mil ha em 2015. O avanço dos canaviais ocorreu sobre o chamado
corredor citrícola paulista, que vai desde Limeira a São José do Rio Preto,
provocando o deslocamento da área de cultivo. Porém, o adensamento e a evolução
das técnicas de plantio garantiram a manutenção da produção de laranja no
período analisado3. Para o grupo de reflorestamento, registra-se aumento
de ocupação de área da ordem de 22% entre 1990 e 2015, contando atualmente com
1,17 milhão de hectares. Essa elevação se deve em parte ao Plano de
Desenvolvimento Florestal Sustentável (PDFS)4. Outro dado relevante
são as exportações do grupo de produtos florestais, papel e celulose, um dos
principais itens da pauta do agronegócio paulista, que atingiu em 2015 a marca de US$1,68 bilhão com as vendas
externas, valor que representou 10,6% das exportações dos produtos dos
agronegócios do estado5. Os dados ajustados do levantamento indicam ainda que
o grupo de cobertura natural passou de 2,85 para 3,39 milhões de hectares entre
1990 e 2015, incluindo áreas de conservação ambiental, parques e áreas que
dificultam o uso para a agricultura. Os resultados apresentados neste trabalho mostram as
transformações ocorridas no curto período de 25 anos, um quarto de século,
demonstrando que a agricultura é dinâmica, ou seja, acompanha as mudanças no
mundo, quer por inovação de produção ou tecnológica, quer por mudança de comportamento
da sociedade ou por situações de ordem econômica. Os ganhos de produtividade
associados a práticas mais sustentáveis têm sido características da agricultura
moderna6. De uma forma geral, no período analisado, houve
pequena variação no tamanho da área rural no território bandeirante, que era de
20,5 milhões de hectares em 1990 e passou para 20,8 milhões de hectares em
2015. É importante ressaltar que essa área exprime o uso do solo e não a
ocupação territorial, pois algumas vezes o mesmo território pode ser utilizado
para exploração de uma ou mais culturas ao longo do ano. O patamar de 20
milhões de hectares (200 mil km2) está estabilizado no Estado de São
Paulo desde a década de 19707. No mesmo período, conforme indicado anteriormente,
houve aumento significativo na produção agropecuária estadual, denotando
aumento de produtividade, devido ao uso de tecnologias e dos resultados
advindos da pesquisa científica e da assistência técnica no setor. Este trabalho ilustra a importância do uso da
estatística na agricultura, pois registra e comprova as ocorrências ao longo do
tempo e fornece, assim, subsídios para tomadas de decisões, entendimento do
processo de desenvolvimento econômico e social do setor e suas cadeias
produtivas e para formulação de políticas públicas, fornece, ainda, elementos
para novos estudos e pesquisas que permitam produzir mais e oferecer a toda
sociedade maior qualidade de vida, redução de gastos e desenvolvimento para o
País. ___________________________________________________________________ 1ANGELO, J. A. et al. Mudanças na composição agropecuária e
florestal paulista, 1999 e 2008. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 5, n. 3, p. 1-5, mar. 2010.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-08-2010.pdf>.
Acesso em: jun. 2017. 2BUENO, C. R. F.; MARTINS,
V. A.; CASER, D. V. Efetivo de bovinos, suínos, frango de corte e
galinhas de postura no Estado de São Paulo, 2005 a 2014. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 10, n. 4, p. 1-7, abr. 2015.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-21-2015.pdf>. Acesso
em: 13 jun. 2017. 3CASTANHO FILHO, E. P. et al. A evolução da agropecuária
paulista e a implantação da legislação ambiental: impactos socioeconômicos e
ambientais. Informações Econômicas,
São Paulo, v. 43, n. 4, p 5-26, jul./ago. 2013. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/ie/2013/tec1-0813.pdf>.
Acesso em: jun. 2017. 4______.; FEIJÓ, L. F. da C. A. Cobertura florestal e
considerações da cobertura florestal. Informações
Econômicas, São Paulo, v. 39, n. 7, p. 5-9, jul. 2009. Disponível em:
<http://www.ciflorestas.com.br/arquivos/doc_cobertura_florestal_13760.pdf>.
Acesso em: jun. 2017. 5VICENTE, J. R. Balança comercial dos agronegócios paulista e
brasileiro no ano de 2015. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 1-9, jan. 2016.
Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-03-2016.pdf>.
Acesso em: jun. 2017. 6VEIGA, J. E. O
desenvolvimento agrícola: uma visão histórica. 2 ed. São Paulo: EDUSP,
2007. 236 p. 7VEIGA FILHO, A. de A. Mudanças
na composição das atividades agrícolas em São Paulo: conflito ou ajuste? São Paulo: Instituto de Economia Agrícola,
2003. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=724>. Acesso em: 26 maio 2017. Palavras-chave:
uso
do solo, ocupação do solo, transformações na agricultura paulista, estatísticas
agrícolas.
Data de Publicação: 27/06/2017
Autor(es):
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Nabil Ghobril (nabil@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor