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Mecanização da Colheita da Cana-de-açúcar Atinge 90% na Safra 2016/17
Em 2008, o Instituto de Economia Agrícola (IEA), em
parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), apresentou
a primeira estimativa estadual paulista sobre o percentual de áreas colhidas de
cana-de-açúcar com uso de máquinas - índice de mecanização. Esta inovação nos
levantamentos estatísticos da instituição supriu lacunas existentes no setor
sucroenergético, pois até então não existia uma estimativa para essa questão. A avaliação da evolução da mecanização da colheita, em
níveis regionais, era dificultada pela ausência deste índice. Outro problema
era o acompanhamento das metas de erradicação da queima da palha de
cana-de-açúcar, instituídas pelos marcos regulatórios do Protocolo
Agroambiental de 20071 e a Lei n. 11.241 de 20022, que
apresentavam cronogramas com metas percentuais de proibição da queima, tanto
para áreas com maior facilidade para mecanização, quanto para outras em que a
declividade ou área do terreno eram mais difíceis para mecanizar (Quadros 1 e
2). Outra contribuição deste índice foi estimar o total de
cortadores de cana-de-açúcar ainda absorvidos na colheita, bem como o número de
trabalhadores dispensados desta etapa de produção, decorrente da mecanização.
Este índice surgiu para responder todas essas questões, permitindo análises
quantificadas e verossímeis, subsidiando estudos para criar alternativas para
minimizar o impacto social sobre estes trabalhadores dispensados. Na safra 2007/08, o índice de mecanização foi de 40,7%
e o restante da área colhida manualmente absorvia um total de 163.098 trabalhadores.
A divulgação de tais resultados alertava que 1% de aumento na mecanização, com
parâmetros da época, significava o desemprego de cerca de 2.700 trabalhadores3. Por meio do
levantamento "Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas do Estado de
São Paulo, Ano Agrícola 2016/17, Novembro de 2016”, ou seja nove anos
depois, o índice de mecanização atingiu 90%, mais que o dobro em pontos
nominais sobre uma área de corte de 5,6 milhões de hectares. Este índice é coletado em nível municipal por meio das
Casas de Agricultura com seus técnicos e engenheiros agrônomos com conhecimento para
avaliar quantitativamente a adoção de máquinas para o corte mecanizado, em um
total de 504 municípios produtores de cana-de-açúcar, em 39 Escritórios de
Desenvolvimento Rural (EDR). A figura 1 permite ilustrar como a mecanização, sobre
a área de corte, já está disseminada pelo Estado de São Paulo. Mais da metade
dos municípios produtores apresentou percentual superior a 90% de cana colhida
por máquinas. Cerca de 100 municípios apresentam percentual variando desde 0%
até 80%, apontando assim indícios de que têm dificuldades
para mecanizarem a colheita, em que pese a declividade do solo acima de 12% e/ou áreas cultivadas inferiores a 150 ha, que dificultam o trabalho das
máquinas. Há de se considerar também que municípios com percentual nulo
destinam a cana-de-açúcar para alambiques, ou seja, é colhida manualmente e sem
queima, pois prejudica a qualidade da cachaça4. Em nível de EDRs,
82% delas já atingiram a meta da Lei n. 11.241/2002, isto é, o índice de
mecanização é superior a 80%, inferindo que houve a eliminação da queima
(Figura 2). Nas regionais que somam 50% da produção de cana-de-açúcar estadual
(Barretos, Orlândia, Ribeirão Preto, Jaboticabal, São José do Rio Preto,
Araraquara, Andradina, Catanduva e Presidente Prudente), os índices de redução
no uso de queima oscilaram entre 84,4% em Ribeirão Preto e 99,5% em Andradina
(Tabela 1). Os EDRs de Registro e São Paulo possuem área irrisória de
cana-de-açúcar, e as regionais de Guaratinguetá e Pindamonhangaba,
especializadas em alambiques e destilarias, possuem muitas unidades de produção
(UPA) com cana-de-açúcar de tamanho abaixo de 2,0 ha e máximo de 100,0 ha, em
média; portanto, têm ainda até 2021 para encontrar formas de eliminação da
queima (2.434 UPAs com cana; tamanho médio de uma UPA com cana é de 1,5 ha e o
tamanho máximo é de 90,3 ha; 1.783 UPAs com cana; tamanho médio de uma UPA com
cana é de 2,1 ha e o tamanho máximo é de 100,0 ha, respectivamente). Bragança
Paulista, também especializada em alambiques e destilarias, apresenta em 2016
índice de mecanização da ordem de 26%, que poderá se manter em anos seguintes,
visto que as UPAs com cana-de-açúcar apresentam tamanho médio de
5,3 ha e tamanho máximo de 1.046,0 ha. Sobre os cortadores de cana-de-açúcar na safra
2016/2017, o total de empregados foi de 38.768, considerando uma produtividade
média de 8,7 t/dia e período de colheita de 132 dias6. Nove dos EDRs
absorvem 53% do total desta mão de obra, em que se destacam Ribeirão Preto,
Jaú, Orlândia e Barretos. Juntos, estes EDRs representam 27% do total ou 10.642
cortadores. Atualmente, sobre a produção ainda colhida de forma manual, 43,6
milhões de toneladas (que representam 10% do total produzido na safra), o
avanço de um por cento de mecanização significa a dispensa de 909
trabalhadores. Os dados do estudo evidenciam que, ao término do
Protocolo Agroambiental em 2017, dezenas de municípios ainda não terão atingido
a meta de 100%, que abrange as áreas não mecanizáveis. Os dados apresentados neste
trabalho, porém, representam a atividade sucroalcooleira como um todo, não distinguindo
usinas e fornecedores, se signatários ou não do Protocolo Agroambiental. Assim, considerando a Lei n. 11.241 de 2002 ,
os municípios ainda têm tempo suficiente para atingir tanto o prazo de 2021
para áreas mecanizáveis, quanto o ano de 2031 para áreas não mecanizáveis. Autores chamam a atenção para os produtores com áreas não
mecanizáveis e com dificuldades para cumprir os marcos regulatórios: buscar
outras formas de atividades econômicas agrícolas, sustentáveis agronomicamente7,
8. Esta alternativa de migrar para outras atividades agropecuárias pode
vir ao encontro como solução para permanência tanto dos produtores rurais
quanto dos trabalhadores no setor sucroalcooleiro, evitando assim seu
desemprego, apontado neste trabalho. Porém, a crítica aqui feita é sobre a dificuldade desses
produtores habituados e capacitados nesta exploração agrícola, a
cana-de-açúcar, desenvolverem-se numa nova atividade. Para isso, a extensão
rural e instituições para aprendizado rural são fundamentais para que esta alternativa
se concretize. ________________________________________________________ 1SECRETARIA
DO MEIO AMBIENTE - SMA. Etanol Verde. Protocolo
Ambiental. São Paulo: SMA, 2007. Disponível em <http://www.ambiente.sp.gov.br/etanolverde/protocolo-agroambiental/>. Acesso em: 3 mar. 2017. 2SÃO PAULO (Estado). Lei n. 11.241, de 19
de setembro de 2002. Dispõe sobre a eliminação gradativa da queima da palha da
cana-de-açúcar e dá providências correlatas. Diário
Oficial do Estado, 20 set. 2002. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2002/lei-11241-19.09.2002.html>. Acesso em: jun. 2017. 3FREDO, C. E. et. al. Índice
de mecanização na colheita da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo e nas
regiões produtoras paulistas, junho de 2007. Análises e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v. 3, n. 3, mar. 2008. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/mercado/hp-27-2008.pdf>. Acesso em: jun.
2017. 4SOARES, A. A, SOUZA, C. F. Produção da cachaça de alambique. Minas Gerais: Cachaça Dedo de
Prosa. Disponível em: <http://www.cachacadedodeprosa.com.br/dedodeprosa/Paginaf3ca.html?idSecao=70&>. Aces- so em: 17 maio 2017. 5SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Agricultura e
Abastecimento. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Instituto de
Economia Agrícola. Levantamento
censitário de unidades de produção agrícola do Estado de São Paulo - LUPA 2007/2008. São Paulo:
SAA/CATI/IEA, 2008. Disponível em: <http://www.cati. 6Op. cit. nota 3. 7OLIVEIRA, M. D. M.; NACHILUK, K. Custo da cana-de-açúcar
em distintos sistemas de produção no Estado de São Paulo. In: SANTOS, G. R.
(Org.) Quarenta anos de etanol em larga
escala no brasil desafios, crises e oportunidades. Brasília: IPEA. 2016. p. 143-164. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/livrosexternos/quarentanosetano.pdf>.
Acesso em: 17 maio 2017. 8Auxiliando o cumprimento do
Protocolo Agroambiental pelos fornecedores e usineiros, a Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, junto ao Conselho de
Orientação do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista – Banco do Agronegócio
Familiar (FEAP/BANAGRO), abriu linha de financiamento em 2013 para a aquisição
de máquinas e equipamentos auxiliares (Projeto Máquinas e Equipamentos
Comunitários), permitindo aos produtores com previsão de juros subsidiados e
prazos de carência de 24 meses, exclusivo a associações e cooperativas rurais.
Mais informações: SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO -
SAA. FEAP: Linhas de financiamento.
São Paulo: SAA. Disponível em: <http://www.agricultura.sp.gov.br/quem-somos/feap-credito-e-seguro-rural/feap-linhas-de-financiamento/>.
Acesso em: 9 mar. 2017. Palavras-chave: mecanização,
cana-de-açúcar, trabalhadores.
sp.gov.br/projetolupa/dadosregionais.php>. Acesso em: 9 mar.
2017.
Data de Publicação: 12/06/2017
Autor(es):
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Denise Viani Caser (dcaser@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor