Artigos
Embarques em Alta Arrefecem Cotações do Café
A especulação por parte dos investidores do mercado
de dólar no Brasil Bolsa Balcão [B3]
(antiga BMF-Bovespa) não trouxe grandes variações para a cotação da moeda,
exibindo apenas ligeira alta, na média das semanas, para a posição de junho/2017.
Posições futuras de 2017, de menor liquidez em termos de contratos negociados no
mercado, sinalizam câmbio entre R$3,20/US$ e R$3,30/US$. Ainda que ligeira, a
desvalorização do real é condição suficiente para que ocorra maior interesse
pelo café brasileiro em âmbito internacional (Figura 1). O mercado de café arábica na Bolsa de Nova York
exibiu, em abril de 2017, movimento díspar. Enquanto na média das duas
primeiras semanas prevaleceu a tendência de alta, nas duas últimas, a baixa foi
predominante especialmente na média da última quando a queda foi acentuada. Em
julho de 2017, segunda posição para as negociações correntes em abril, a média
da segunda semana atingiu US$¢141,60/lbp,
declinando para US$¢131,58/lbp,
ou seja, mais de US$¢10/lbp
em 15 dias (Figura 2). Em abril, a média dos preços recebidos pelos
cafeicultores da região de Franca, levantada pelo Instituto de Economia
Agrícola (IEA) em parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
(CATI), atingiu R$462,44/sc.2 Cotejando-se esse preço com o
registrado pela média da quarta semana de abril para a posição de setembro de
2017 (US$¢133,96/lbp),
constata-se que não há interesse pelo hedge
pois, efetuadas as conversões e adicionando-se 20% para o diferencial (mais
comissões e taxas) frente ao contrato C para o natural brasileiro, chega-se à
cotação de R$453,60/sc. (dólar futuro a câmbio de R$3,24), representando,
portanto, montante inferior ao registrado pelo mercado físico. Relatório de março de 2017, divulgado pela Organização
Internacional do Café, apontou expansão das exportações mundiais de café no
período out./2016 a mar./2017 (primeiros seis meses do ano cafeeiro
comparativamente ao mesmo período do ano anterior), saltando de 71,87 milhões
de sacas para 73,60 milhões para o tipo arábica (crescimento de 2,41%)3.
Na contramão desses resultados, os embarques brasileiros de café arábica
reduziram-se de 16.233.523 sc. registrados entre out./2015 e mar./2016 para
15.906.315 sc. contabilizados no período out./2016 a mar./2017, ou seja, queda
de 1,95%4. Na Bolsa de Londres em que são oferecidos os
contratos de café robusta observou-se movimento similar ao registrado com o
arábica em Nova York. A cotação média da primeira semana de abril em segunda
posição (julho) contabilizou US$¢98,82/lbp,
baixando na média da quarta semana na mesma posição para US$¢87,43/lbp, ou seja, declínio de 11,52%
dentro do mês. Tal mudança de patamar para a curva futura do
robusta origina-se nos fundamentos desse mercado. Segundo o relatório da OIC houve
aumento das exportações de café, saltando o acumulado entre out./2015 e mar./2016
de 43,53 msc. para 45,27 msc. no acumulado entre out./2016 e mar./2017,
representando, portanto, 4,00% de expansão no suprimento5. Na
contramão dessa tendência, os embarques brasileiros de café conilon para os
períodos mencionados somaram 963.654 sc. entre out./2015 e mar./2016,
reduzindo- -se para 103.736 sc. entre
out./2016 e mar./2017, ou seja, queda de 89,23% nos embarques brasileiros do
produto6. Portanto, considerando os dois tipos de cafés,
diferentemente da conjuntura brasileira, o conjunto dos demais países
produtores de café não se ressentem de escassez de oferta do produto,
incrementando seus embarques e consubstanciando queda observada nas cotações
(Figura 3). Entre os fundos e grandes investidores foi notável,
a partir da terceira semana, a reversão na posição líquida comprada para
vendida (Tabela 1). Em contrapartida, incrementou-se a posição comprada dos
comerciais e indústrias (aproveitando a baixa nas cotações), sem contudo,
reverter a prevalência da posição líquida vendida. Aparentemente, os
investidores do mercado enxergam condições futuras de normalidade para o
abastecimento, desalavancando seus investimentos em café. ________________________________________________________ 1O autor agradece o trabalho de sistematização do banco de
dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica
do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA.
Disponível em: <http://ciagri. 3Conforme notícia publicada pela International Coffee
Organization. Disponível em: <www.ico.org>. Acesso em: maio 2017. 4CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ - CECAFÉ. Relatório Mensal. São Paulo: Cecafé.
Disponível em: <www.cecafe.com.br>. Acesso em: maio 2017. 5Op. cit. nota 3. 6Op. cit. nota 4. Palavras-chave: mercado futuro,
cotações de café, Bolsa de Valores.
iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6>. Acesso
em: maio 2017.
Data de Publicação: 18/05/2017
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor