Maçã Paulista: características da produção e comercialização em 2015

A maçã é uma das principais frutas de clima temperado produzida e consumida no mundo, sendo a China o principal país produtor (Figura 1)1, 2.

Maçã, banana, citros e uva são responsáveis por 90% do comércio internacional de frutas in natura. Todavia mais de 90% da produção mundial é consumida nos países de origem, ou seja, em seus mercados internos3.

No Brasil, o crescimento da importância da maçã nacional no mercado interno levou a investimentos significativos em inovação tecnológica na produção e comercialização da fruta e, consequentemente, na mudança expressiva na logística pós-produção com a construção de câmaras de armazenamento em atmosfera controlada, bem como de estrutura de mercado com a emergência de trading companies, pois as grandes empresas produtoras também adotaram organizações para comercialização, diferenciando-se em relação às demais frutas brasileiras4, 5.

O aumento da oferta de maçã, tanto em razão do progresso tecnológico quanto à ampliação da área plantada, foi devido a estímulos de mercado e de políticas públicas resultando em importantes ganhos de produtividade e de qualidade da fruta nacional e consequente queda de preços do produto, propiciando seu consumo pelas camadas de rendas mais baixas da população6.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)7 indicam diminuição de produção e área destinadas à colheita da fruta em 2015 quando comparada a 2014 no país.

Vale ressaltar que a participação paulista é muito pequena comparada aos outros estados da União, mas a pomicultura vem apresentando importância no desenvolvimento local em algumas regiões do Estado de São Paulo, onde estão avançando projetos bem-sucedidos de fruticultores que encontraram no agronegócio da maçã uma boa alternativa para diversificar seus pomares.

         No Estado de São Paulo, estudos relataram áreas propícias para o cultivo de fruteiras de clima temperado, incluindo as pomáceas, na zona montanhosa dos municípios próximos da capital paulista, onde o inverno se apresenta com valores térmicos médios, entre 60 e 120 "horas de frio" (< 7°C), ou entre 800 e 1.000 horas (< 13°C), compreendendo principalmente os arredores da capital. Abrangendo, em linhas gerais, uma faixa de território com mais de 600 metros de altitude, que se estende pouco acima e abaixo do trópico de Capricórnio, entre as latitudes de 22,5° e 24,5°S. Em direção ao sul do estado, municípios como Itapetininga, Angatuba, Buri, Piedade, São Miguel Arcanjo e Guapiara, que apresentam condições semelhantes. Nas regiões nordeste e leste, limítrofes com o Estado de Minas Gerais, nas encostas da serra da Mantiqueira, abrangendo os municípios de Monte Alegre do Sul, Lindóia e Espírito Santo do Pinhal, São José dos Campos, São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão, assim como em regiões próximas ao litoral Norte, nas vertentes da serra do Mar, em Redenção da Serra, Cunha e Bananal. Variedades rústicas em regiões mais quentes, com índices térmicos entre 40 e 80 horas (< 7°C) ou 600 e 800 horas (< 13°C), notadamente nas áreas próximas a Campinas, Tietê, Botucatu e até mesmo Bauru. Da mesma forma, algumas espécies e cultivares poderiam ser exploradas, com relativo sucesso, mediante técnicas especiais, em regiões com menos de 40 horas (< 7°C), nos arredores de Assis, Paraguaçu Paulista e Presidente Prudente (Figura 2).

O cultivo comercial de maçã no Estado de São Paulo teve início na década de 1960, mas o plantio de variedades exigentes em frio que tinham suas safras coincidentes com as dos estados do Sul tornou a maleicultura paulista não competitiva, fazendo com que muitos fruticultores abandonassem a cultura e migrassem para outras fruteiras de clima temperado.

 

Ao longo dos anos, com investimento da pesquisa no estado e trabalhos junto a fruticultores, as macieiras voltaram a fazer parte do cenário de algumas regiões de São Paulo, mostrando ser opção para diversificação para algumas propriedades.

Segundo os dados IEA/CATI8, em 2016, a produção paulista de maçã estava localizada nos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Avaré, Sorocaba, Itapetininga, Itapeva, Botucatu, Assis e Lins (Figura 3).

A variedade que melhor se adaptou às condições paulistas é a cultivar Eva, desenvolvida pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), cuja fruta apresenta boa coloração e vantagem de precocidade, uma vez que a colheita não coincide com a dos estados do Sul do país, o que em termos de estratégia de mercado torna a cultura interessante.

O município de Paranapanema (EDR de Avaré) é o maior produtor paulista de maçã, nele está a Cooperativa Agrícola Holambra II, produtora de frutas de clima temperado (Tabelas 1 e 2). A pomicultura teve seu ápice no município na década de 1970, mas entrou em declínio por não ser competitiva com a produção sulista até ser totalmente substituída pelas frutas de caroço.

 

A partir de 2005, com a introdução da cultivar Eva, com o objetivo de diversificar a produção de frutas de caroço, os fruticultores locais vêm apostando na maçã como opção para abastecer a janela de mercado deixada pela fruta do sul do país. Os produtores e os consultores da região desenvolveram tecnologia de produção para a cultura que proporcio-
nam boa produtividade, calibre e coloração, classificam a fruta segundo a norma brasileira e tem seu principal destino o Entreposto Terminal de São Paulo (ETSP) da CEAGESP9

Nos EDRs de Sorocaba, Itapetininga e Itapeva há investimentos em maçã que visam a oportunidade da entressafra sulista, a fruta é comercializada fresca e em sua maioria tem na CEAGESP seu principal destino (Tabelas 1 e 2)10.

No EDR de Botucatu, a produção encontra-se em declínio e, segundo informação dos produtores locais, há grande dificuldade para domínio da tecnologia da produção, o que se pode verificar no menor calibre da fruta.

Nos outros EDRs, onde a fruta está sendo introduzida, em sua maioria é cultivo incentivado pelas prefeituras a pequenos produtores que têm como objetivo atender à demanda dos programas de compra da agricultura familiar destinada à merenda. A maçã é uma excelente opção de compra para esses programas, mas existem dificuldades de produção, não há tradição na cultura e muitas vezes não se consegue obter qualidade adequada de calibre, coloração e forma de fruto.

 

 

Essas observações indicam: a grande importância da constância de investimentos em atividade de pesquisa com a espécie; a maior atenção a campo pelos agentes de extensão e, também, de um trabalho de maior divulgação aos consumidores da existência de cultivares “secundários”. Dessa forma, novas cultivares poderão ser obtidas; problemas a campo poderão ser prontamente relatados e os consumidores poderão desfrutar de novos sabores, texturas, etc. Estudos realizados na região leste paulista, com sete cultivares de macieiras, mostraram a viabilidade de produzir maçãs com características distintas em condições de inverno ameno11.

Taquarivaí, localizado no EDR de Itapeva, é o principal município paulista de origem da maçã comercializada na CEAGESP, tendo aumentado significativamente a quantidade nos últimos anos; Paranapanema é o segundo município enquanto para os demais há oscilação ao longo dos anos na quantidade comercializada (Tabela 3)12.

 


No mercado de maçã, os fatores que determinam a valoração da fruta no mercado atacadista são: coloração (quanto mais vermelha melhor o preço pago); formato (se prefere frutos arredondados em detrimento aos achatados); tipo ou calibre e a conservação pós-colheita (uma má conservação pós-colheita pode apressar o surgimento de diversos problemas fisiológicos internos e externos no fruto). A região de origem da fruta também é valorizada na formação do preço, assim como a cultivar13.

Atualmente, a cultivar predominante na produção paulista é a “Eva”. Cultivar de aparência que lembra a “Gala” apresentando como outras características importantes a precocidade; baixa necessidade de frio hibernal, o que a torna apta ao cultivo no estado, porém é de baixa resistência ao armazenamento na pós-colheita14. Essa afirmação comprova que a maçã paulista não poderá competir com as originárias da região Sul do Brasil em termos de qualidade.

De qualquer forma, existem períodos do ano e nichos de mercado que podem ser aproveitados pelos fruticultores paulistas para ofertar suas maçãs.

Entre os meses de novembro a janeiro praticamente não há mais “Gala” em estoque e estão escassas as reservas de “Fuji”, cultivar que é colhida em abril e maio, mas suporta ser armazenada por mais de 10 meses (Figura 4).

 

Nesse cenário, com o fim dos estoques da “Fuji” que tende a estar valorizada no período e à espera da nova safra da “Gala”, surge a oportunidade de mercado para a “Eva” e outras maçãs adaptadas ao clima subtropical. Observe-se que o Sistema de Informação e Estatística de Mercado (SIEM) da Seção de Economia e Desenvolvimento (SEDES) da CEAGESP não distingue a “Eva” da “Gala”, por isso a figura 4 ainda mostra uma oferta de ‘Gala’ entre os meses de dezembro e janeiro15.

Para melhor visualização, as curvas de oferta da maçã paulista e geral da CEAGESP foram colocadas em eixos separados. A figura 5 Ilustra perfeitamente a extrema sazonalidade da maçã paulista e o aproveitamento da janela de mercado16.

 

A produção de maçã no Estado de São Paulo, apesar do esforço tanto da pesquisa quanto da extensão e de produtores, ainda é incipiente.

 Apenas algumas regiões do estado se aproveitaram da pesquisa que já foi desenvolvida sobre cultivares de maçã para climas amenos e desenvolveram tecnologia suficien-
te para produzir frutas de qualidade e em volume suficiente para suprir o mercado.

Os dados de mercado apontam que além da oportunidade de suprir a entressafra da fruta sulista, a maçã paulista vem demonstrando potencial como diversificação na renda de pequenos agricultores como excelente oportunidade para acessar os programas federais e estaduais de compra de alimentos da agricultura familiar.

Incentivos por parte de algumas prefeituras e projetos locais, causa preocupação, pois não foram constatadas ações efetivas de política pública embasadas em pesquisa de mercado, ações interinstitucionais e maior divulgação.

Vista a dificuldade de produção de frutas de qualidade, apontada por vários técnicos extensionistas em diferentes regiões, seria de grande importância que fossem realizados projetos e workshops com a participação de pesquisadores e, principalmente, a extensão rural em regiões onde essa cultura vem se desenvolvendo, para auxiliar produtores e familiares em sua renda e diversificação de culturas na propriedade.

 

 

 

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1FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS - FAOSTAT. Crops and processed: apple. Roma: FAOSTAT, 2016. Disponível em: <http://www.faostat.fao.org>. Acesso em: 22 jul. 2016.

 

2PEREZ, L. H.; GONÇALVES, J. S.; SOUZA, S. A. M. Substituição da maçã importada pela nacional alteração na sazonalidade de preços e quantidades. Informações Econômicas, São Paulo, v. 28, n. 6, p. 7-25, jun. 1998. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/1998/tec1-0698.pdf>. Acesso em: mar. 2017.

 

3ALMEIDA, G. V. B.; ALVES, A. A. Mercado de maçã: situação atual, ameaças, oportunidades e estratégias para o futuro. In: SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO, 7., 2006, São Joaquim. Anais... São Joaquim?: Epagri?, 2006. p. 56 -65.

 

4GONÇALVES, J. S. et al. Produção, mercado e inserção internacional da maçã brasileira. Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 43, n. 1, p. 95-136, 1996. Disponível em: <ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/rea/tomo1_96/artigo3.pdf>. Acesso em: mar. 2017.

 

5ESCOBAR, M. R.; GONÇALVES, J. S.; CARDOSO, J. L. Maçã brasileira: desafios do ajustamento à economia aberta. Informações Econômicas, São Paulo, v. 27, n. 10, p. 13-22, out. 1997. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/1997/tec2-1097.pdf>. Acesso em: mar. 2017.

 

6Op. cit. nota 5.

 

7INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Produção agrícola: maçã. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 22 jul. 2016.

 

8INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA, 2016. Disponível em: <http://
www.iea.sp.gov.br/out/index.php>. Acesso em: jul. 2016.

 

9Relato do Engenheiro Agrônomo Fernando Mascaro, Sigma Agropecuária de Paranapanema/SP.

 

10Op. cit. nota 8.

 

11CHAGAS, E. A. et al. Produção e atributos de qualidade de cultivares de macieira nas condições subtropicais da região leste paulista. Ciência Rural, Santa Maria, v. 42, n. 10, p. 1764-1769, out. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cr/v42n10/a28512cr6502.pdf>. Acesso em: mar. 2017.

 

12GODAS, F. L. SIEM CEAGESP [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <galmeida@ceagesp.gov.br> em 4 jan. 2017.

 

13Op. cit. nota 3.

 

14INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR. Macieira IAPAR 75 eva. 2016. Paraná: IAPAR, 2016. Disponível em: <http://www.iapar.br/arquivos/File/zip_pdf/eva.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2016.

 

15Op. cit. nota 12.

 

16ALMEIDA, G. V. B. et al. Produção, mercado e aspectos econômicos. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 36, n. 288, p. 7-12, 2015.

Palavras-chave: maçã, comercialização, caracterização da produção.

Data de Publicação: 26/04/2017

Autor(es): Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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