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Mercado Futuro do Café: dúbia sinalização para as cotações
O arrefecimento da escalada inflacionária ocorrida
após a majoração dos preços administrados conduzido pelo governo
pós-impedimento tem propiciado o estabelecimento de expectativas favoráveis à
patamar de inflação próximo da banda da meta almejada pela autoridade
monetária. Tal perspectiva favorece a queda da taxa dos contratos de juros
futuros negociados na BM&F-Bovespa. Frente aos atuais 13,75% vigentes na
taxa básica, os investidores aceitavam taxas próximas aos 12,40% para os
vencimentos futuros a ocorrer no segundo semestre de 2017 (Figura 1). A deterioração do ambiente político-institucional,
associada à fragilidade do novo governo, tem impresso maior instabilidade à
economia e afugentado os eventuais investidores internacionais ainda dispostos
a aplicar seus recursos no Brasil. Ademais, a provável política expansionista a
ser implementada pelo novo titular estadunidense poderá fortalecer o dólar,
tornando mais atraentes aos investidores manter suas reservas no próprio país.
Com isso, as expectativas dos investidores nos contratos futuros de dólar na BM&F- -Bovespa é de contínua desvalorização do real
(Figura 2). Os contratos futuros de arábica negociados na Bolsa
de Nova York exibiram elevada volatilidade ao longo do mês. Entre a primeira e
segunda semanas houve forte majoração que não se sustentou nas seguintes. Os
contratos para entrega em maio de 2017, por exemplo, na média das cotações em
segunda semana do mês, registraram US$172,61/¢lbp,
declinando para US$154,62/¢lbp
na média da quinta semana, ou seja, contração de 10,42% no período.
Participaram dessa queda mais as variáveis macroeconômicas globais
(eventualmente um encolhimento ainda maior do crescimento econômico) do que
aquelas derivadas dos fundamentos, pois já se confirmam os menores volumes de
colheita do Brasil, Vietnã e Indonésia com redução generalizada dos estoques. O preço médio recebido pelos cafeicultores de Franca,
Estado de São Paulo, em novembro de 2016 foi de R$563,56/sc.2 Tal
preço, quando comparado com o praticado para a média da quinta semana do mês de
novembro para a segunda posição (que foi de US$154,62/¢lbp) e efetuadas as devidas
conversões, equivaleria a R$695,35/sc. Descontando-se aproximadamente 20%
(arbitragem contrato C, frete, taxas de registro da operação), não haveria
interesse na operação de hedge, tendo
em vista que no físico o valor pago equivaleria ao da entrega futura (Figura 3). O mercado futuro de café robusta negociado na Bolsa
de Londres também exibiu grande volatilidade na média das cotações semanais,
acompanhando aquilo que se observou para o arábica. A atual alavancagem nas
cotações está mais vinculada a particular escassez desse tipo decorrente das
quebras de safra de seus três maiores produtores. Porém, as incertezas quanto
aos rumos da economia mundial que, provavelmente, deverá conviver com um
comércio mundial menos dinâmico, podem ser as causas desse arrefecimento das
cotações além do ganho de valor do dólar frente ao real. Contribuiu para a queda nas cotações a revisão da
previsão do USDA em que foi elevada a safra brasileira para 56,1 milhões de
sacas. Tal patamar garante certo conforto para as projeções de oferta e demanda
mundial, mesmo considerando o menor otimismo com a safra vietnamita elaborado
pelo mesmo departamento. Outros analistas comentam ainda que a oferta de países
menos expressivos na produção global esteja sendo capaz de complementar a
restrição de suprimento dos quatro grandes (Brasil, Vietnã, Colômbia e
Indonésia), algo pouco plausível dado que os quatro grandes representam
aproximadamente 70% da oferta (Figura 4). Os números de contratos comprados negociados semanalmente
na Bolsa de Nova York superaram largamente as posições vendidas entre os fundos
e grandes investidores, indicando que existe o sentimento de que haverá falta
de produto no futuro, algo que já se percebe claramente no Brasil. Assim que
não houver mais arábicas baixos para substituir o conilon no blend da indústria doméstica e sob a
escassez de estoques disponíveis, as cotações tenderão a exibir fortes
elevações (Tabela 1). O clima continua favorecendo as lavouras
brasileiras, uma vez que o La Niña fraco não trouxe grandes mudanças no regime
pluviométrico. A desvalorização do real auxilia na rentabilidade dos
cafeicultores e os estimula a investir tecnologicamente nos cultivos. Ainda que
seja ano de baixa para arábica, deverá haverá quantidade razoável (em torno das
32 milhões de sacas) desse tipo e algum aumento no conilon advindo dos
cinturões do sul da Bahia e de Rondônia. ______________________________________________________ 1O autor agradece o trabalho de
sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à
Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio
Caldeira Franco. 2INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.iea. Palavras-chave: mercado futuro,
cotações de café, Bolsa de Valores.
sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso em: dez. 2016.
Data de Publicação: 14/12/2016
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor