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Recorde de Produção no Brasil e Câmbio Disciplinado Mantêm Estáveis as Cotações Futuras do Café
Em maio de 2016, os investidores no mercado futuro
de dólar da BM&F-Bovespa, nas duas primeiras semanas do mês, reagiram
positivamente ao processo de afastamento provisório da mandatária do país. Com
isso, o patamar das cotações do dólar futuro exibiu baixa consistente nas
médias das posições futuras entre a primeira e a segunda semanas. Todavia, a
combinação com outros fatores, entre eles a insegurança propiciada pelo perfil
de recrutados pelo governo que ascendeu provisoriamente ao poder e a sinalização
de aumento dos juros nos EUA, ainda que contrabalanceado pelo afluxo de dólares
decorrente da aceleração do ritmo das exportações brasileiras, associado ao
represamento de remessas dessa moeda pela retração nas importações, não foi
suficiente para que o real perdesse valor na média das cotações futuras das
duas últimas semanas do mês (Figura 1). Na Bolsa de Nova York, o mercado futuro de café
arábica exibiu mudança de patamar da média das cotações semanais das posições
futuras desde a primeira semana até a terceira, para em seguida, na quarta,
devolver todo ganho. Assim, no mês, o mercado permaneceu relativamente estável
(Figura 2). Essa oscilação da média das cotações futuras
semanais possui conexão estreita com a taxa de paridade cambial brasileira. A
valorização observada nas primeiras três semanas do mês é coerente com o
fortalecimento do real frente ao dólar futuro em igual periodização. A reversão
dessa tendência (câmbio) na quarta semana, fez também recuar as cotações do
café2. Ademais, o início da safra 2016/17 no Brasil que, segundo
estimativas, sinaliza quantidade recorde de colheita nessa década, atuou no
sentido de pressionar as cotações3. Tal fato se junta ao início do
verão no Hemisfério Norte que, sazonalmente, exibe retração na demanda pela
bebida e a constatação de ligeiro declínio da demanda no seu maior mercado4.
Os cafeicultores francanos, do principal cinturão
produtor paulista, receberam, em maio, R$460,90/sc. (tipo 6, bebida dura)5.
Cotejando esse preço médio recebido com o praticado em Nova York, para o
contrato em segunda posição (set./2016) em reais (convertido em reais pelo
dólar futuro para a mesma posição), alcança-se R$603,30/sc. Imputando-se
deságio de 20% relativo ao diferencial para naturais, custo de registro da
operação, carregamento de estoque (custo financeiro) e logística de frete até o
porto de Santos, chega-se a cotação de
R$482,64/sc. para entrega em setembro, ou seja, apenas 4,7% de incremento na
remuneração pelo produto, percentual, aparentemente, insuficiente para
estimular a contratação de hedge
pelos cafeicultores. No mercado futuro de café robusta na Bolsa de
Londres, a média das cotações semanais para posições futuras exibiu oscilação
similar aos do arábica nos patamares das curvas, subindo nas três primeiras
semanas e devolvendo os ganhos na quarta (Figura 3). A política comercial de
ordenamento dos embarques, adotada pela autoridade vietnamita,
não resultou em elevação substancial nas cotações do produto. Com a aproximação
da nova safra, houve a necessidade de revertê-la acelerando-se os embarques do
país e obstando possibilidade de valorização. Repercussões dos distúrbios
climáticos sobre a dimensão da safra corrente, tanto no Vietnã quanto no
Brasil, tampouco foram capazes de modificar a percepção dos investidores quanto
às possibilidades de valorização futura do produto, permanecendo assim estáveis
suas cotações (em termos de médias semanais). A posição líquida de contratos negociados, por parte
dos fundos e grandes investidores na Bolsa de Nova York, exibiu dois momentos
distintos. Não houve movimento expressivo na aquisição de contratos futuros,
mas sim corrida para liquidação da posição vendida, o que propiciou a virada do
mercado para líquida comprada. Tal movimentação sinaliza que os investidores que
possuíam contratos vendidos temem elevação nas cotações o que lhes faria
suportar perdas no ajuste diário (Tabela 1). Na última estimativa da CONAB para a produção de
café no Brasil, procedeu-se revisão na quantidade a ser colhida de café
conilon. Na primeira estimativa de janeiro de 2016, a entidade previa colheita
de 11,73 milhões de sacas, reduzindo esse montante para 9,40 milhões de sacas na
segunda previsão de maio, ou seja, quebra de 20% no total a ser produzido na
corrente safra. Diante do contexto de aperto no balanço oferta e demanda tanto
no país quanto mundial, essa redução poderá alicerçar expectativas otimistas
para o futuro das cotações, particularmente, ao início da entressafra
brasileira (novembro a março). ________________________________________________________________ 1O autor agradece o trabalho de
sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à
Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio
Caldeira Franco. 2VEGRO, C. L. R.
Curva futura das cotações do café: “Café é câmbio”. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 10, n. 4, abr.
2015. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto= 3Nos últimos 12
meses (maio/2015 a abril/2016), as exportações mundiais de café arábica
totalizaram 71,14 milhões de sacas. INTERNATIONAL COFFEE ORGANIZATION - ICO. Banco de dados. London: ICO. Disponível
em: <http://www.ico.org/monthly_coffee_trade_stats.asp>. Acesso em: maio
2016. Nesse mesmo período, o Brasil exportou 29,44 milhões de sacas, ou seja, o
país respondeu por 41% da oferta mundial do produto. CONSELHO DOS EXPORTADORES
DE CAFÉ DO BRASIL - CECAFÉ. Banco de
dados. São Paulo: CECAFÉ. Disponível
em: <http://www.cecafe.com.br>. Acesso em: maio 2016. 4Palestra
proferida no Seminário Internacional do Café de Santos. Relacionou o boom do mercado de cápsulas como o encolhimento
da demanda por T&M (estimada em 2,5% em 2015). Trata-se de fenômeno
denominado autofagia do mercado. 5INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri. Palavras-chave: mercado
futuro, cotações do café, preços recebidos.
13657>. Acesso em: maio 2016.
iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=2>. Acesso em: maio 2016.
Data de Publicação: 06/06/2016
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor