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Defensivos: preços em alta e mercado em baixa pós-desvalorização cambial
De acordo com
dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal
(SINDIVEG)2, em 2015, considerando
as vendas de produto comercial, as vendas de defensivos
agrícolas no Brasil alcançaram US$9,61 bilhões, representando queda de 21,56%,
quando comparadas com aquelas registradas no ano anterior3 (Figura
1). A classe
dos inseticidas foi a que respondeu pelo maior valor das vendas, sendo
responsável por 33,00% do faturamento total, ou seja, US$3,17 bilhões em 2015.
No cômputo geral, observou-se queda no valor das vendas de todas as classes de
produto comercial, em especial dos inseticidas, cuja comercialização em valor
baixou em 35,18% comparativamente a 2014. Declínio acentuado também ocorreu
entre os herbicidas, registrando queda de 26,38% em igual período. Em 2015, a
quantidade comercializada de produto comercial atingiu 887,87 mil toneladas,
representando diminuição de 2,88% frente ao ano anterior. Contrariamente, em
termos de ingrediente ativo, houve expansão de 12,29% na demanda. Tal
divergência indica que os defensivos comercializados estão portando maiores
concentrações de ingrediente ativo, permitindo redução com embalagens
empregadas e maior rendimento da calda de aplicação, indicando que tecnologia
mais eficiente tem sido difundida pelo segmento em benefício dos agricultores
(Figura 2). Na análise por
classe de produto comercial, observou-se que, em 2015, frente ao ano anterior,
houve crescimento nas vendas de herbicidas (4,36%) e de fungicidas (12,14%).
Entretanto, tais incrementos não foram suficientes para mitigar a queda
contabilizada pelos inseticidas (-27,72%). A desvalorização do real frente ao
dólar contribuiu para deprimir o mercado de defensivos agrícolas, uma vez que
mais de 90% dos princípios ativos das formulações provêm do exterior4.
Ademais, deve-se considerar que, na safra 2015/16, embora tenha sido registrado
aumento da área cultivada de 1,03%, segundo o sexto levantamento da Companhia
Nacional de Abastecimento (CONAB), excetuando-se o amendoim, feijão (segunda
safra), mamona e o milho (primeira e segunda safra), todas as demais lavouras
de grãos exigiram retração de área. A soja se notabilizou por ocupar 56,82% do
total de área cultivada, estimando-se produção de 101.179 mil toneladas da
oleaginosa, representando incremento de 5,10% em relação à safra anterior5.
As elevadas
temperaturas médias, associadas ao favorável regime de precipitações observadas
ao longo do desenvolvimento da safra corrente, alavancaram a venda dos
fungicidas e dos herbicidas, classes de produto que, como já mencionado,
incrementaram as quantidades vendidas. De acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto de Economia Agrícola
(IEA), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), nas
principais regiões agrícolas paulistas, a média
dos índices de preços de janeiro de 20166, em valores corrigidos
pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas (FGV)7, revelou elevação de
17,14% das cotações de venda para o conjunto dos 82 defensivos monitorados,
quando comparados com os preços praticados no mesmo mês de
2015 (Figura 3). Diante da trajetória de
desvalorização do real frente ao dólar, o repasse do encarecimento dos
princípios ativos importados para o preço final dos defensivos agrícolas foi
bastante modesto. Ao longo de 2015, o real se desvalorizou frente ao dólar em
45,01%8, enquanto o preço dos defensivos (produto comercial) foi
majorado em aproximadamente um terço desse percentual. Na análise das relações de troca,
constatou-se que, em janeiro de 2016, as lavouras de algodão, feijão das águas,
laranja para indústria, milho safra e soja tiveram condições mais favoráveis
para a aquisição da respectiva cesta de defensivos, enquanto o café e a cana-de-açúcar,
contrariamente, tiveram piora na relação de troca. Para essas duas últimas
lavouras, diferentemente das demais, a majoração dos preços recebidos pós-desvalorização
do real foi aquém do repasse aos preços dos defensivos, resultando na
constatada piora da relação de troca9 (Tabela 1). O encolhimento
da demanda registrado associado a majoração dos preços médios dos defensivos
agrícolas em 2015 estabelece cenário de forte competição entre os fabricantes
ao longo de 2016. Os agricultores podem ser beneficiados dessa conjuntura,
recomendando-se que realizem pesquisas da lista de defensivos necessários para
o próximo ciclo produtivo. Ademais, podem estabelecer leilões entre os
fabricantes que, ávidos por fechar negócios em momento de encolhimento de
mercado, estarão predispostos a oferecer vantagens substantivas para os
potenciais compradores. _____________________________________________ 1Colaboraram
com o estudo os seguintes Técnicos de Apoio e Pesquisadores Científicos:
Cristina Almeida Paes, José Alberto Ângelo, Maria Helena Jardim, Paulo José
Coelho e Talita Tavares Ferreira. 2SINDICATO
NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA DEFESA VEGETAL - SINDIVEG. Banco de dados. São Paulo: SINDIVEG.
Disponível em:
<http://sindiveg.org.br/?p=764>. Acesso em: 1 mar. 2016. 3CAETANO, M. Em
dólar, vendas de defensivos caíram 22% no país em 2015. Valor Econômico, São Paulo, 9 mar. 2016. Caderno B, p. 12. 4Op. cit. nota 3. 5COMPANHIA
NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Acompanhamento
da safra brasileira: grãos safra 2015/2016. Brasília: CONAB, mar. 2016. v.
3, n. 6. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads
/arquivos/16_03_10_11_29_39_boletim_graos_marco_2016.pdf>. Acesso
em: mar.
2015. 6INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Defensivos
agrícolas. São Paulo: IEA, 2016. Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/defensivos.aspx>. Acesso em: mar. 2016. 7FUNDAÇÃO GETÚLIO
VARGAS - FGV. Índices gerais de preços. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, 2015.
Disponível em: <http://portalibre.fgv.br/>. Acesso em: mar. 2015. 9INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Relação
de troca entre defensivos e produtos agrícola. São Paulo: IEA, 2015. Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/RelaTroca.aspx>. Acesso em: mar. 2016. Palavras-chave: mercado de defensivos,
indústria de defensivos, fitossanidade, pragas, doenças.8BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN.
Banco de dados. São Paulo: BACEN. Disponível em:
<http://www4.bcb.gov.br/pec/conversao/conversao.asp>. Acesso em: 11 mar.
2016.
Data de Publicação: 29/03/2016
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor