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Mercados Florestais em São Paulo: retrospectiva 2015
Em uma visão sintética, o mercado de florestas em São
Paulo fechou o segundo semestre de 2015 com as cotações inferiores às do ano
anterior, refletindo setorialmente o quadro de desaquecimento em que se
encontrou a economia brasileira. As perdas de valor real dos produtos
madeireiros continuaram a se agravar e tornaram a atividade pouco rentável nas
regiões de custo maior ou produtividade menor. COTAÇÕES As cotações dos produtos florestais continuaram nos
mesmos patamares em dezembro, tendo se aproximado bastante da média anual,
refletindo o agravamento da crise econômica, principalmente no setor industrial.
Neste, salvaram-se poucos segmentos ligados à exportação, que se valeram da
taxa de câmbio desvalorizada. É o caso da celulose, que tem mantido as cotações
internacionais e conservou algum dinamismo no declinante setor industrial
brasileiro. O setor de chapas reconstituídas por outro lado
continuou marcando passo, em consequência da retração do consumo e da queda de
renda da população. Setor que apresentou desempenho
razoável e que se refletiu positivamente nos mercados madeireiros foi o de tratamento
de madeira, refletindo o desempenho da pecuária notadamente voltada
para o mercado exterior. A tecnificação setorial tem demandado material para
cercamento e subdivisão de pastagens, e, portanto, de madeira tratada. Apesar
de oscilações durante o ano, que não indicaram uma tendência definida de
mercado, terminou na estabilidade (Tabela 1). As flutuações das cotações para energia (-7,8%) e
para processo (-2,3%) traduziram- -se em ajustes técnicos e seus respectivos
mercados permaneceram desaquecidos, com tendência à redução de cotações em
termos reais. Os preços para energia refletiram, sobretudo, diferenças
regionais e foram, portanto, mais agudas devido às flutuações de demanda.
Regionalmente, as cotações do eucalipto continuaram mais
deprimidas no Sul/Sudoeste, Pontal do Paranapanema e Vale do Paraíba. A procura por madeira para serraria permaneceu
constante e apresentou em algumas regiões abastecimento inadequado de matéria-prima,
o que, no entanto, não se refletiu nas cotações que permaneceram praticamente
inalteradas (-2,5%) (Figura 1). MUDAS A procura por
mudas para plantio variou muito regionalmente e esteve abaixo do potencial. As
indefinições acerca da aplicação da lei da reposição parecem ter tido
influência sobre a demanda. No norte e centro-oeste do estado, devido às condições
climáticas desfavoráveis, a procura por mudas também se retraiu, fato que
provavelmente se refletirá nas cotações futuras nessas regiões. Paralelamente, houve um aumento da procura por
mudas de nativas, decorrente das exigências relativas à recomposição das áreas
de reservas e Áreas de Preservação Permanentes (APPs), oriundas das demandas
provocadas pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR). No entanto, com o adiamento da
entrega do cadastro para maio de 2016, houve uma redução no segundo semestre na
procura por elaboração dos projetos, o que permitiu maior preparação das
equipes da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), dos municípios e
das cooperativas. Estimava-se, no final do ano, que 65% das áreas das
propriedades já estivessem cadastradas, aparentemente, porém, com níveis ainda
muito grandes de incorreções, dada a relativa complexidade do cadastro e às
oscilações no sistema. PERSPECTIVAS No final do ano, com a realização da COP-21 em
Paris, a importância das florestas foi palco dos debates sobre as mudanças
climáticas e, nesse sentido, o governo do Estado de São Paulo lançou alguns
instrumentos que visam à ampliação/preservação das árvores. O ambicioso
programa federal de plantio de 12 milhões de hectares de florestas, se vier a
ser realmente implementado, certamente dará um impulso à atividade no estado. Em 2013, a SAA
estimou que mais de 6 milhões de hectares no Estado de São Paulo estavam com
algum grau de degradação e, para solucionar esse problema, foi lançado o
Programa Integra São Paulo, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).
Visava basicamente à implementação da Integração Lavoura, Pecuária e Floresta
(ILPF) no estado. Mais recentemente, no segundo
semestre, o governo estadual paulista e a BM&FBOVESPA lançaram as bases de
um novo mercado de títulos - os Ativos Ambientais -, no qual os produtores do
Estado de São Paulo poderão compensar suas reservas legais por meio de uma Cota
de Reserva Ambiental. Verificou-se também um movimento
incipiente no sentido de aumentar o uso de cavacos para produção de energia
elétrica pelas caldeiras das usinas de cana-de-açúcar. Assim, elas reduziriam a
ociosidade do equipamento durante a entressafra e, conforme a rentabilidade,
seria uma opção interessante para o uso das terras impróprias à mecanização de
acordo com o Protocolo Agroambiental do setor. Essa opção poderia também
contribuir para um alívio na demanda por recursos hídricos na geração de
eletricidade, recompondo a reserva do sistema paulista. VALOR DA PRODUÇÃO FLORESTAL
ESTADUAL Em 2015, foram completados também sete
anos em que o Instituto de Economia Agrícola (IEA) passou a calcular o Valor da
Produção Florestal (VPF). Para tanto, foi desenvolvida uma metodologia própria,
que passou por uma revisão em 2013. Observou-se que nesses anos a
participação setorial veio diminuindo sistematicamente na composição do Valor
da Produção Agropecuária (VPA) estadual, apesar de permanecer entre os quatro
principais produtos da agropecuária paulista. A tendência de declínio é
bastante evidente e transparece nas cotações praticadas no setor em que ficam
claras as tendências divergentes das trajetórias do VPA e do VPF (Figura 2). O índice de preços calculado pelo IEA
mostrou uma redução de quase 10 pontos, ou seja, em sete anos as cotações
nominais diminuíram 10%. A inflação no período, medida pelo IPCA integral, foi
de 61,17%. Esteve aí a explicação, pelo menos parcial, da redução na
participação dos produtos florestais que, de 9,46% em 2008, caiu para 4,43% no VPA
de São Paulo em 2015 (Tabela 2). Agregue-se a essa perda em valores
nominais a redução de valor trazida pela inflação. Verifica-se que, no período,
a redução foi superior a 45%. Assim, o valor bruto da produção
florestal recuou de um nível de R$4 bilhões em 2008 para estimados R$2,7 bilhões
em 2015, o que vem se refletindo na perda de vitalidade do setor frente a
outros segmentos da agropecuária paulista. _______________________________________________ Palavras-chave: mercado
florestal paulista, retrospectiva 2015.
Data de Publicação: 01/03/2016
Autor(es):
Eduardo Pires Castanho Filho (castanho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Adriana Damiani Correia Campos (adccampos@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor