É possível produzir sem poluir? Pesquisadora do IEA propõe o debate

Que a agricultura brasileira é a mais exitosa dos trópicos e ajuda o País a equilibrar as contas da balança comercial, ostentando saldo superavitário mês após mês, todos já sabem. Que o Estado de São Paulo é o maior produtor e exportador mundial de cana-de-açúcar e citros, também não é novidade. Que as tecnologias desenvolvidas nos Institutos de Pesquisa são fonte de estudos em diversos países do Cone Sul, África, Europa e América do Norte, é igualmente de conhecimento geral. Mesmo com tantos fatores a seu favor, a agricultura brasileira, e a paulista em particular, frequentemente se vê envolvida em grandes polêmicas. A última ocorreu durante a anomalia climática, fenômeno que, segundo pesquisadores, é caracterizado pelas altas temperaturas, luminosidade excessiva e queda no índice pluviométrico, que atingiu o Estado de São Paulo a partir do segundo semestre de 2013, quando foi acusada de ser a vilã da crise hídrica.

 

Fato é que a agricultura, assim como qualquer atividade econômica, é um processo produtivo que se desenvolve por meio de fluxos de matéria e energia, que entram como matérias-primas para gerar um ou mais produtos, liberando rejeitos e energia. Como esses processos ocorrem em um sistema fechado: o planeta Terra; independentemente da atividade, quando ela libera rejeitos (ou poluentes), estes ficam retidos na atmosfera terrestre, alerta Silene Maria de Freitas, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, lotada.

 

No momento, são os gases de efeito estufa responsáveis por elevar a temperatura média do planeta, que mais preocupam a humanidade. As emissões brasileiras de gases de efeito estufa (GEF) totalizaram 1.203,424 GgCO2eq, em 2012, colocando o país entre os 10 principais poluidores do globo terrestre. Desse total, 37% são emitidos pelo setor agropecuário. Dentre os principais gases emitidos pela agropecuária, destacam-se o carbônico (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).

 

As emissões de gás carbônico decorrem principalmente de alterações no uso do solo ou, mais especificamente, do desmatamento para expansão de cultivos e, principalmente, de pastagem. A liberação do metano ocorre, sobretudo, de um processo inerente à digestão dos animais ruminantes, chamado fermentação entérica, enquanto o óxido nitroso tem como principal fonte emissora o manejo dos solos, o qual depende de decisões antrópicas como, por exemplo, a aplicação de fertilizantes nitrogenados.

 

Considerando-se as correlações positivas entre a adubação nitrogenada e a produção de alimentos, bem como a proporcionalidade ascendente entre o uso desse energético e a emissão de óxido nitroso, a aplicação de fertilizantes nitrogenados pode ser vista como um dilema entre o aumento da produção agrícola e o aumento da poluição atmosférica? “A resposta a essa pergunta deve perpassar por uma análise das estimativas oficiais das emissões de gases de efeito estufa do setor agropecuário”, afirma a pesquisadora.

 

No Estado de São Paulo, por exemplo, a resposta na produtividade da cana-planta devido à aplicação de nitrogênio é pequena, mesmo assim, são utilizadas entre 30 e 60 quilogramas de nitrogênio por hectare. Já nas soqueiras, a produtividade é altamente influenciada pela aplicação do nitrogênio, sendo comum a utilização de 80 a 150 quilogramas por hectare, dependendo do ambiente de produção, da variedade e da idade do canavial.

 

De acordo com o exposto, percebe-se que as emissões de óxido nitroso decorrentes da volatilização da ureia variam de acordo com a técnica de aplicação, bem como entre culturas e com as especificidades de cada uma, seja com relação ao volume aplicado, seja a fase do processo produtivo. “Somente com fatores de emissão que respeitem as condições específicas de cada país no que se refere à solo, clima e manejo das culturas, bem como com melhorias na forma de cálculo das emissões, será possível saber a real contribuição dos fertilizantes na liberação brasileira de gases de efeito estufa”, reforça Silene Maria de Freitas.

 

Responsabilidade

 

A Secretaria de Agricultura resolveu encarar de frente a questão dos agroquímicos e tem especial preocupação com a questão da aplicação correta e destinação das embalagens”, afirma Arnaldo Jardim, titular da Pasta.

 

Entre as ações empreendidas pela Secretaria, Arnaldo Jardim destaca o programa Aplique Bem, desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC/Apta), em parceria com a iniciativa privada, no qual um veículo adaptado percorre as propriedades ensinando a maneira correta de aplicação dos produtos, além de avaliar os pulverizadores utilizados na aplicação. O secretário também ressaltou o excelente trabalho realizado pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (INPEV), entidade criada pelos fabricantes de agrotóxicos com o objetivo de recolher as embalagens vazias, de acordo com o sistema de logística reversa, promovendo a conservação do meio ambiente e pontuou a atuação da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), também ligada à Pasta que fiscaliza todo o processo.

 

O controle natural das pragas também é tema de pesquisa, destaca o secretário. O Instituto Biológico está desenvolvendo um agente para combater o ácaro rajado. A técnica reduz em até 70% a aplicação de acaricidas em flores como gérberas e crisântemos e, praticamente elimina a necessidade de aplicação desses produtos em orquídeas. “A redução de defensivos químicos diminui o custo com mão de obra para aplicação do produto. Mais importante, no entanto, é a redução do risco à saúde dos aplicadores (alguns produtores chegam a aplicar acaricidas até três vezes por semana) e a diminuição dos danos ao meio ambiente”, ressalta Arnaldo Jardim. 

 

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Data de Publicação: 06/11/2015

Autor(es): Instituto de Economia Agrícola (iea@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor