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Reestruturação do Sistema de Levantamento de Preços no Mercado Atacadista de São Paulo, 2015
1 -
INTRODUÇÃO O Instituto de Economia
Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo (SAA) há mais de 50 anos tem disponibilizado à sociedade os informes dos
preços no mercado atacadista na cidade de São Paulo. O objetivo, em suas décadas
iniciais, foi de produzir de forma sistemática informações rápidas e precisas
de preços, de modo a orientar produtores e intermediários na comercialização de
seus produtos. O tempo de acesso às
informações de preços bem como a capacidade de prever suas tendências podem
determinar a diferença entre lucro e prejuízo. Por isso, muitas
são as empresas e entidades que elaboram estatísticas de preços, ou estudos a
partir delas, mas poucas são as que mostram preocupação com a maneira como elas
são obtidas. O nível atacadista oferece maiores facilidades de
coleta de preços pelo número de participantes do que em qualquer dos outros
níveis da comercialização agrícola, uma vez que assume a função de concentrar
as mercadorias que serão distribuídas aos consumidores da rede varejista,
propiciando visão aproximada da posição de cada produto na conjuntura
mercadológica2. No final do século passado, o mercado de produtos
alimentícios passou por grande transformação. O centro nacional de distribuição
física de alimentos foi deslocado da cidade de São Paulo para o Triângulo
Mineiro (Uberlândia principalmente). Ora,
considera-se que as características da região do Triângulo Mineiro,
particularmente sua localização geográfica, foram extremamente favoráveis ao
papel de região abastecedora de São Paulo quanto a alimentos, e intermediadora
de produtos industrializados tanto para o Centro-Oeste do país quanto para
Brasília. O comércio atacadista fortaleceu-se, viabilizando uma rápida
modernização da agricultura regional, inclusive3. A rede
de supermercados consolidou seu predomínio no comércio varejista e, ao comprar
diretamente da indústria, reduziu a participação de equipamentos atacadistas,
que se limitaram a atender o pequeno comércio, restaurantes, lanchonetes,
pizzarias e as feiras livres. Já no
início do século XXI, ganharam grande expressão as redes de lojas de cash & carry,
popularmente chamadas de ”atacarejo”, nas quais consumidores e pequenos
comerciantes podem comprar em unidades de atacado ou de varejo. As maiores
redes varejistas do Brasil ampliaram aceleradamente suas lojas com este novo
formato (o Carrefour expandiu o Atacadão, e o Pão de Açúcar a Assaí, por
exemplo). No final de 2014, foi criada a Associação Brasileira dos Atacadistas
de Autosserviço (ABAS), com a adesão das principais redes de “atacarejo”, reunindo
representantes das empresas Assaí, Atacadão, Atacadista Roldão, Makro, Mart
Minas, Maxxi Atacado, Spani, Tenda e Villefor. Cerca de R$47 bilhões é o faturamento somado das nove empresas que
compõem a recém-criada ABAAS, entidade que vai representar as empresas de “atacarejo”
no país. As empresas associadas têm atualmente 400 lojas e empregam 70 mil
funcionários diretos. A ideia é se unir para fortalecer o setor e atender as
demandas específicas do atacado de autosserviço. Para
os representantes das empresas de autosserviço, este sistema de vendas é muito
estratégico para as indústrias, pois atinge um grande número de pequenos
comerciantes, pequenos supermercados, mercearias, transformadores, padarias,
confeitarias, pizzarias, restaurantes, sorveterias, donos de carrinhos de
cachorro-quente, hotéis, bares, lanchonetes, cozinhas industriais, produtores
rurais e grandes consumidores4. Mais
recentemente, estas mesmas redes passaram a expandir também o pequeno comércio
de produtos básicos nas lojas tipo express
ou mini. Houve intenso processo de interiorização da
agroindústria e da produção avícola, o que promoveu a descentralização da
comercialização de produtos como soja, milho e trigo. A conclusão do Rodoanel
na Região Metropolitana de São Paulo deverá permitir a proibição do ingresso de
veículos de grande porte em seu interior, forçando a criação de entrepostos
para o transbordo para veículos menores ao longo do seu circuito. A própria Companhia
de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) ultima preparativos para se adaptar à nova situação. O fluxo de
caminhões para a tradicional zona cerealista do Brás sofrerá fortes restrições. Acompanhando a evolução
do mercado e as mudanças estruturais que vêm ocorrendo na comercialização dos
produtos agropecuários, o IEA buscou reformular o levantamento de forma a
coletar de maneira mais eficiente os preços de atacado e intensificou os
esforços para fornecer subsídios às licitações dos grandes compradores
institucionais públicos (escolas – merenda ou restaurantes universitários,
hospitais, penitenciárias, quartéis, etc.) ou
privados (restaurantes industriais e outros). Com esta mudança, deixou-se de
coletar preços de commodities (soja,
milho e trigo, cujos preços se formam no mercado internacional) e outros
produtos que perderam expressão na capital do estado e passou-se a
coletar preços de produtos utilizados na merenda escolar e/ou restaurantes
(cortes de carne bovina, suína e de frango, e salsicha, por exemplo). Para tanto, também foi
expandida a área de coleta, primeiramente para a Região Metropolitana de São
Paulo e, mais recentemente, para a Grande Metrópole contida no quadrilátero
Santos, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. O levantamento de preços,
que era realizado principalmente na CEAGESP e na Zona Cerealista do Brás,
passou a incluir as principais redes de ”atacarejo”, por meio de suas lojas
localizadas na Grande Área Metropolitana. Até recentemente o
levantamento divulgou diariamente os preços mínimos, máximos e o mais comum
para cada tipo e/ou variedade do produto. Essa forma de apresentação das
informações só foi alterada em 2015, quando se adotou um novo sistema de
processamento dos dados e passou-se a divulgar os preços mínimos, médios e
máximos. Com isso, os agentes públicos ou prIvados dispõem de uma faixa de
preços para orientar seus processos de licitação de alimentos. 2 -
METODOLOGIA Para melhor entendimento
e clareza dos procedimentos executados pelo IEA, apresentam-se a metodologia de
levantamento, a metodologia de cálculo, o conceito adotado para a formação de
preços e as limitações provenientes da adoção do método estatístico. 2.1 -
Metodologia de Levantamento O levantamento de preços
no nível de atacado é realizado diariamente, no período da manhã. São coletados
atualmente preços de 62 a 66 produtos5. O número de produtos
levantados varia porque alguns deles não têm frequência de informações
suficientes para ter divulgação diária, apenas mensal (charque, leite B e leite
C); outros ainda são sazonais (alho, batata e cebola). A coleta de preços é
realizada em uma amostra intencional de 178 informantes, divididos em 7 grupos
que são pesquisados em sequência. Ela é feita por entrevistas telefônicas
diretas, com os comerciantes, e também por e-mails, boletins e consultas de sites. 2.2 -
Metodologia de Cálculo Os preços coletados
diariamente são criticados subjetivamente a fim de se eliminar os dados não
condizentes com as demais informações obtidas pelos enumeradores e com a
evolução do comportamento dos preços de mercado. Os preços diários são
calculados segundo as seguintes fórmulas: 1) Preço mínimo = (0,75 x preço mínimo digitado no dia
+ 0,25 do preço mínimo finalizado no dia anterior); 2) Preço médio = (0,75 da média dos preços mínimos e
máximos digitados no dia + 0,25 do preço médio finalizado no dia anterior); e 3) Preço máximo = (0,75 x preço máximo digitado no dia
+ 0,25 do preço máximo finalizado no dia anterior). Tais fórmulas foram
adotadas para atenuar variações acentuadas devido à diferença de qualidade dos
produtos e não se aplicam a produtos que têm apenas um informante (como o
feijão em saco coletado na Bolsinha). Os preços diários de
atacado são agregados aos preços recebidos pelos produtores e preços
internacionais, para constituição do Boletim Diário de Preços do IEA, divulgado
em seu site, em média, às 11h30, e pela
lista de e-mail. Ao final de cada mês, são
calculados os preços médios mensais e disponibilizados no site, dentro do Banco
de Dados do IEA. 2.3 -
Conceito Os preços médios dos produtos
agrícolas no mercado atacadista da Região Metropolitana de São Paulo referem-se
aos preços obtidos durante a venda das mercadorias com o pagamento à vista.
Para os produtos que não apresentam especificações, mas que podem possuir
diferentes marcas, tipos ou variedades, os preços referem-se a uma média dos
preços das mercadorias mais comumente encontradas no mercado atacadista de São
Paulo. 2.4 -
Limitação das Séries A amostra de informações de preços no mercado
atacadista da cidade de São Paulo não é probabilística, razão pela qual não é
realizada análise de qualidade das informações coletadas pela utilização do
cálculo de variância. A escolha dos agentes de comercialização ou centros
atacadistas entrevistados foi feita de acordo com o Censo Nielsen realizado
pela Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos
Industrializados (ABAD) e agregando-se informações do balanço anual de
grandes empresas que não responderam ao Censo Nielsen. Buscou-se a
representatividade das redes atacadistas responsáveis por mais de 20% do valor
comercializado no Brasil (apenas as redes Atacadão, Makro e Assaí respondem por
cerca de 20% do faturamento do atacado no Brasil). Atualmente, esta pesquisa
denomina-se ”Ranking ABAD/Nielsen”. O Ranking ABAD/Nielsen é
realizado anualmente desde 1994, com o objetivo de fornecer uma radiografia do segmento atacadista distribuidor, a partir de respostas elaboradas
pelas próprias empresas. Ele é resultado de uma parceria da entidade com a
consultoria Nielsen e a FIA (Fundação Instituto de Administração). Os dados
obtidos permitem visualizar a evolução do segmento e dos negócios realizados
pelas empresas no período, bem como suas relações com a economia como um todo. Segundo
a consultoria Nielsen, 95% dos supermercados pequenos (de
um a quatro checkouts) e 40%
dos supermercados médios (de cinco a 19 checkouts) são abastecidos por empresas
atacadistas distribuidoras. O pequeno e o médio varejo são os que mais atendem
os consumidores das classes C, D e E, cujo grande crescimento do poder de
compra está mudando o perfil do consumo no país6. Alguns
produtos englobam diferentes tipos ou variedades, enquanto outros apresentam diferentes marcas que resultam numa grande amplitude da faixa de
variações dos preços. 3 –
RESULTADOS/CONCLUSÕES Em função da evolução da estrutura de produção,
industrialização e comercialização de alimentos no Brasil, particularmente em
São Paulo, o IEA reorganizou o seu levantamento de preços no atacado, ampliando
a área de coleta e adequando a relação de produtos às necessidades de uma nova
clientela. Agentes públicos e privados encontram uma faixa de preços que lhes
fornece apoio na realização de licitações, visando aquisição de alimentos. A
revisão na lista de produtos abrangidos pelo levantamento do IEA permitiu a
redução da sobreposição e o aumento da complementariedade com os boletins
diários da CEAGESP (que há 50 anos levanta e divulga preços de hortigranjeiros
e produtos diversos)7 e da Bolsa de Cereais de São Paulo (que há 92
anos divulga os preços de cereais na capital)8. 2SANTIAGO, M. M. D. et al. Estatísticas de preços agrícolas no Estado de São Paulo. São Paulo:
IEA, 1990. (Séries Informações Estatística da Agricultura). 3ALMEIDA FILHO, N. Mudanças
na Dinâmica Regional: Alterações Estruturais na economia do Triângulo Mineiro:
1985-1996. In: SEMINÁRIO SOBRE A ECONOMIA MINEIRA, 9., 2000. Diamantina. Anais... Diamantina: UFMG, 2000.
Disponível em: <http://www.researchgate.net/publication/4927477_Mudanças_na_dinâmica_regional:
_alterações_estruturais_na_economia_do_Triângulo_Mineiro>. Acesso em: 26
out. 2015. 5INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA -
IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA.
Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/>. Acesso em: out. 2015. 6ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ATACADISTAS
E DISTRIBUIDORES DE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS - ABAD. Banco de dados. São Paulo: ABAD. Disponível em:
<http://www.abad.com.br/ds_ranking.php>. Acesso em: 27 out. 2015. 7COMPANHIA DE ENTREPOSTOS E
ARMAZÉNS GERAIS DE SÃO PAULO - CEAGESP. Preços
de atacado. São Paulo. Disponível em:
<http://www.ceagesp.gov.br/entrepostos/servicos/cotacoes/>. Acesso em:
out. 2015. 8BOLSA DE CEREAIS DE SÃO
PAULO - BCSP. Boletim informativo diário.
São Paulo: BCSP. Disponível em: <http://www.bcsp.com.br/Boletim.asp>.
Acesso em: out. 2015. Palavras-chave: preços,
atacado, São Paulo.4ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE SUPERMERCADOS - AMIS. Atacadistas de autosserviço criam associação com faturamento de R$ 47 bi
- 17/12/2014. Prado Belo Horizonte: AMIS. Disponível em: <http://www.portalamis.org.br/?secao=noticias&id=614>. Acesso em: 27 out. 2015.
Data de Publicação: 18/11/2015
Autor(es): Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor