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Pesquisadores do IEA avaliam Reflexos potenciais do ajuste fiscal sobre o Agronegócio
O agravamento da crise fiscal no Brasil obrigou as
autoridades monetárias do país a promover ajustamento da economia, visando a
retomada do crescimento. Todavia, a recente deterioração do contexto
macroeconômico agravou-se com o recrudescimento da escalada inflacionária e
reiterada diminuição no saldo da balança comercial, acompanhada de consecutivas
elevações na taxa básica de juros. A combinação desses fatores tem promovido
crescente desconfiança do setor produtivo na capacidade de coordenação do
governo, induzindo redução progressiva da atividade econômica, aceleração da
perda de postos de trabalho e a disparada da cotação do dólar, informa a Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Economia
Agrícola (IEA/Apta). Estima-se que, em 2015, o PIB apresente declínio
entre -2,5% e -3,0%, acompanhado pelo fechamento de aproximadamente 1 milhão de
postos formais de trabalho (30 mil deles no setor agropecuário). É provável que
nem a partir do segundo semestre de 2016 ocorra o almejado crescimento,
indicando que o ajuste fiscal terá que ser ainda mais profundo e duradouro com
redução drástica dos investimentos públicos, encolhimento dos benefícios
concedidos e racionalização da estrutura de governo, afirmam Celso Luís Vegro e
Carlos Fredo, pesquisadores do IEA. O encolhimento da renda das famílias repercute em
seus hábitos de consumo. Recente balanço de empresa de consultoria de varejo
apontou que os consumidores substituíram marcas de produtos (alimentos,
bebidas, higiene e limpeza) por outras de menores preços ao longo do primeiro
semestre de 2015. Assim, comparativamente a 2014, o varejo enfrenta queda de
1,4% de sua receita bruta. Dentre os segmentos que compõem a matriz econômica
brasileira, o agronegócio tem se constituído no mais dinâmico e competitivo,
exibindo crescentes níveis de qualidade e agregação de valor aos produtos. O segmento
tem sido responsável pela geração de saldos positivos na balança comercial. Nos
primeiros oito meses do ano, segundo análise do Instituto de Economia Agrícola,
as exportações somaram US$ 59,71 bilhões, frente a importações de apenas US$ 9,18
bilhões, repercutindo em saldo acumulado de US$ 50,53 bilhões. Embora pareça um
excelente resultado, em relação ao mesmo período de 2014 representa queda de
10,34%. Entre janeiro e agosto de 2015, o agronegócio contribuiu com US$ 7,05
bilhões para a balança comercial paulista, por meio de US$ 10,60 bilhões em
exportações e US$ 3,55 bilhões em importações, representando queda de 12,2%. O efeito da desaceleração do ritmo de negócios das
cadeias agropecuárias exibe impactos na geração de novos postos de trabalho. Dados
consolidados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do
Trabalho e Emprego (Caged) indicam que, no primeiro semestre de 2014, o saldo
entre contrações e demissões atingiu 102.282 trabalhadores com carteira
assinada, enquanto, no mesmo período de 2015, esse resultado foi de 74.909
postos, ou seja, declínio da demanda por trabalhadores de 26,76%. Algumas das medidas anunciadas, visando o
ajustamento fiscal, devem repercutir negativamente sobre o agronegócio. O corte
orçamentário de R$ 500 milhões, efetuado na Política
de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), e o de formação de estoques
reguladores (operado por meio dos leilões de aquisições federais), geram
problemas para os agricultores na comercialização de arroz, feijão, mandioca e
milho, produtos amparados por esta política. A restrição de verbas implicará
ausência de travas para a formação dos preços, concedendo poder aos operadores
do mercado para pressionar para baixo as cotações e, consequentemente, a
remuneração e renda dos agricultores que se somará à pressão dos custos
representada pela majoração do dólar (especialmente fertilizantes). Ademais, a temporada de milho safrinha foi de
safra recorde em 2015, havendo a possibilidade de excesso de oferta e pressão
negativa sobre as cotações. Enfim, sob estresse de renda, dificilmente ocorrerá
aumento da intenção de plantio dessas culturas, acarretando provável escassez e
repiques inflacionários já em 2016, alertam os pesquisadores. Mesmo que as medidas do ajuste resultem em quebra
da trajetória inflacionária e solvência do Tesouro Federal, favorecendo a
retomada do crescimento, na avaliação dos autores deste artigo, as propostas de
ajuste fiscal encaminhadas pelo poder executivo terão impactos negativos sobre
os agronegócios. Sob efeito dessas medidas, haverá redução de seu dinamismo no
curto e médio prazo, arrefecendo sua capacidade em suportar os revezes
econômicos que o contexto tem infringido à sociedade brasileira. O Estado de São Paulo, capitaneado pelo governador
Geraldo Alckmin, está utilizando todos os recursos para apoiar os produtores
rurais, afirmou o secretário de Agricultura
e Abastecimento, Arnaldo Jardim. De acordo com o titular da Pasta, “no momento em que todos estão cortando
investimentos, o governo de São Paulo inova
destinando recursos para recuperação de estradas rurais, importantes para o
escoamento da produção e fechando parcerias com instituições financeiras para
ajudar os pequenos produtores a modernizar e ampliar sua produção. Por outro lado, ao diminuir a alíquota de imposto de alguns produtos,
favorece o setor produtivo e diminui a pressão sobre a folha de pagamento das
empresas”.
Data de Publicação: 29/10/2015
Autor(es): Nara Guimarães (naraguimaraes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor