Artigos
Diagnóstico do Setor Sucroenergético em 2014
O setor sucroenergético brasileiro, na safra 2014/15,
movimentou R$70 bilhões com a produção de cana-de-açúcar, etanol, açúcar e
bioeletricidade, representando 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, e
gerou 4,5 milhões de empregos diretos e indiretos. As 423 unidades industriais
processaram nesta safra 638 milhões de toneladas, produzindo 36 milhões de
toneladas de açúcar e 30 bilhões de litros de etanol, além de comercializar
19.400 GW/h excedentes de bioeletricidade, em uma área plantada de 10 milhões
de hectares, correspondendo a 4,5% da área agricultável do país2. O Brasil exportou 24 milhões de toneladas de açúcar,
no valor de U$$10 bilhões de dólares, e 1,4 bilhão de litros de etanol, em um
total de U$$900 milhões de dólares3. O destino de 67,6% das exportações brasileiras de
açúcar foi: China, Emirados Árabes Unidos, Bangladesh, Índia, Argélia, Nigéria,
Egito, Federação Russa, Arábia Saudita e Malásia4 (Tabela 1). Em relação às exportações de etanol, 98,4% delas tiveram
como destino os seguintes países (Tabela 2): Estados Unidos, Coreia do Sul,
Japão, Nigéria, Taiwan, Cingapura, Angola, Gana, México e Suíça5. A maior produção no país concentra-se na região Centro-Sul,
na qual se destaca o Estado de São Paulo, que representou, em 2014, 53,8% da
produção nacional de cana-de- -açúcar, 49,4% da produção de etanol (14,1
bilhões de litros) e 61,6% da produção do açúcar (21,9 milhões de toneladas)6. Segundo o Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), 42,5% das usinas produtoras de açúcar e álcool situam-se
no Estado de São Paulo, com 158 unidades industriais7. O número de
fornecedores ligados à Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul
do Brasil (ORPLANA)8 é de 15.306. Em São Paulo, a área nova plantada de cana na última
década aumentou em 25%. Já a área em produção cresceu 87,7%, tendo a produção,
porém, aumentado em 67,2%, refletindo a queda da produtividade nos anos de 2011
a 2012, consequência da falta de investimento decorrente das crises dos anos de
2008 e de 2014 (este ano em razão da estiagem)9 (Tabela 3). Ao analisar o ano de 2014, as dez principais regiões
produtoras de cana-de-açúcar pertencentes aos Escritórios de Desenvolvimento
Rural (EDRs) foram: Barretos, Orlândia, Ribeirão Preto, Jaboticabal, São José
do Rio Preto, Jaú, Presidente Prudente, Araraquara, Andradina e Catanduva. Elas
foram responsáveis por 55,2% da produção total de cana10 (Figura 1). A cana-de-açúcar foi o produto mais importante do valor da produção agropecuária e florestal paulista em 2014, correspondendo a 42,6% (R$25,47 bilhões), seguido por carne bovina (12,2%), carne de frango (6,3%), madeira de eucalipto (4,2%), laranja para indústria (3,6%), leite (3,2%), café beneficiado (3,1%), ovo de galinha (3,0%), soja (2,7%) e milho (2,5%)11 (Figura 2). Em relação à produção de açúcar no estado, no
período das safras 2006/07 a 2014/15, houve um incremento de 12,8%12.
No entanto, quando se compara a safra 2013/14 com a de 2014/15, houve um
decréscimo de 8,5%, em razão da menor produção de cana-de açúcar nesta última
safra (Figura 3). A evolução da produção do etanol total no mesmo
período apresentou um aumento de 26,1%, sendo que a produção de etanol
hidratado foi de 28,8% e de etanol anidro 23,2%13 (Figura 4). O mix de produção de açúcar e etanol é decidido pelas usinas de
acordo com os preços do mercado, como pode ser observado no primeiro semestre
do ano de 2015. A preferência das usinas tem sido pela produção de etanol
hidratado, tendo em vista o aumento da demanda nas bombas resultado do aumento
da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE)
na gasolina, tornando a relação de 70% mais favorável ao etanol. O
setor sucroenergético, em razão do Protocolo Agroambiental no Estado de São
Paulo, termo de adesão voluntário pioneiro, evoluiu em ganhos ambientais, como
a redução da queima para colheita, decorrente da mudança no sistema de
produção, evoluindo de 34,2% colhidos sem o uso do fogo na safra 2006/07 para
83,7% da cana crua na safra 2013/14, e também na diminuição do consumo de água
para o processamento de cana, resultado de fatores da colheita crua, limpeza da
cana a seco e o fechamento de circuitos de circulação de água14. Além
da produção de açúcar e etanol, a cultura possibilita a inserção do setor na
produção de energia elétrica no período de inverno, principalmente no período
de seca. Essa complementaridade entre diversas fontes de energia é importante
para evitar períodos críticos e de riscos de desabastecimento. A capacidade
instalada das usinas signatárias na safra 2013/2014 foi de 5 mil MW de
potência, representando cerca de 35,7% da potência instalada da usina de Itaipu
(14 mil MW). As usinas signatárias do Protocolo Agroambiental produziram, na
safra 2013/14, cerca de 14.731 Gwh (unidade de consumo) de energia elétrica15. Nos últimos anos, o setor vem atravessando uma crise
com incertezas em relação ao preço interno dos
combustíveis fósseis e da falta de política pública, tanto para os
biocombustíveis quanto para a exportação da energia gerada a partir da
biomassa, contribuindo para a expansão do endividamento do segmento. É necessário que sejam adotadas políticas públicas
adequadas de longo prazo, como melhorias no sistema de transporte,
infraestrutura logística (a predominância do modal rodoviário é acima de 90%)16,
bem como avanços no sistema tributário e judiciário, e que valorizem uma matriz
energética diversificada e de baixo carbono, reconhecendo as contribuições
ambientais do etanol e da bioeletricidade. ___________________________________________________________
Data de Publicação: 05/10/2015
Autor(es):
Rejane Cecília Ramos Consulte outros textos deste autor
Katia Nachiluk (katia.nachiluk@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor