Artigos
Deterioração do Contexto Macroeconômico Incrementa a Volatilidade das Cotações Futuras
A sedimentação da análise entre os operadores do
mercado de dólar futuro na BMF-Bovespa de que a crise econômica e fiscal
brasileira é mais severa do que se previa anteriormente fez aumentar o
interesse pela aquisição de contratos de dólar futuro, pressionando suas
cotações. As médias das cotações semanais mudaram sistematicamente de patamar,
denotando incremento especulativo em torno da paridade cambial com o real
(Figura 1). O reajuste da paridade cambial poderá ser
revertida a médio prazo na medida que o país reencontre a rota do crescimento
econômico. Recentes resultados das exportações, já transacionadas sob a
maxidesvalorização, indicam potencial do comércio exterior em consolidar vetor
para a retomada da confiança dos empresários. Essa hipótese terá maior chance
de êxito caso não ocorram repiques inflacionários, permitindo à autoridade monetária
iniciar a redução da taxa de juros básica da economia, como inclusive já
assinala as posições futuras para esse mercado. A maxidesvalorização do real ao longo dos oito
primeiros meses do ano refletiu-se nas médias das cotações do café arábica em
segunda posição dos contratos negociados em agosto. Do ponto de vista do
importador, a perda de valor do real permite que sejam pressionadas as cotações
para baixo pois, após a conversão, os cafeicultores terão preservados o
montante monetário recebido. De outro lado, o exportador, no ímpeto de
aproveitar a desvalorização, acelera o ritmo dos embarques, contribuindo assim
para que a posição baixista se firme na formação das cotações. Como essa
movimentação não é orquestrada entre os agentes, num primeiro momento há
intensificação da volatilidade nas cotações (Figura 2). Para a segunda posição de dezembro de 2015, a média
das cotações na primeira semana atingiam os US$¢131,90/lbp,
declinando para US$¢126,08/lbp
na média da última semana, ou seja, 4,41% de queda. Todavia, nas semanas
posições intermediárias (segunda e terceira semanas), houve significativa
variação, evidenciando que o mercado foi volátil em razão, aparentemente, da
mudança cambial. Para o cafeicultor paulista, as cotações foram
bastante instáveis. Na praça de Franca, Estado de São Paulo, o preço médio
praticado em agosto de 2015 foi de R$446,86/sc. para a bebida dura tipo 62.
Entretanto, os preços diários oscilaram entre o máximo de R$478,73/sc. e a
mínima de R$415,22/sc. no mês, indicando de fato um mercado muito volátil para
o produto. Sob esse ambiente de negócios é necessário que o cafeicultor
estabeleça estratégia comercial que inclua a transferência do risco de preços
de seu negócio. A opção por contratação de hedge
no mercado futuro com base na média das cotações da primeira semana para a
posição de março de 2016 (US$¢131,90/lbp
para o café e US$1=R$3,72 para o câmbio), negociadas em agosto de 2015 em Nova
York (assumindo 20% de deságio para o natural brasileiro), resultaria em
R$519,24/sc., ou seja, vantagem de R$72,38/sc. frente a média dos preços
recebidos no mês. Na Bolsa de Londres, a média das cotações para o
robusta acompanharam a mesma movimentação da observada no arábica. A maior
média de cotações ocorreu na segunda semana do mês de agosto de 2015 que, porém,
não se sustentou, atingindo as menores cotações na quarta semana. Na posição de
janeiro, por exemplo, registrou-se média de US$¢78,83
(ou US$104,27/sc.) na segunda semana, declinando para US$¢74,33/sc. (ou US$98,32/sc.) na
última (Figura 3). A informação de que as
autoridades vietnamitas que controlam o comércio exterior do país implementaram
política de ordenamento dos embarques despertou desconfiança entre os agentes
de mercado, que começam a crer que não exista de fato toda a disponibilidade
estatisticamente contabilizada pelos dados oficiais. A falta de vigor para as
vendas externas vietnamitas tem redirecionado os pedidos para os exportadores
brasileiros. Ademais, sob efeito do El Niño, lavouras situadas na Indonésia têm
exibido produtividade mais baixa, que poderá fazer encolher a oferta do país em
até 3 milhões de sacas. Em razão desse cenário
incerto para o mercado do produto, os embarques de conilon brasileiro, até
julho de 2015, já superam os 2,6 milhões de sacas, podendo alcançar os 3
milhões de sacas embarcadas já em agosto. O deslocamento dos concorrentes em
razão da aparente escassez manterá pressionada as cotações do conilon, pois,
como se forma consenso entre os analistas desse mercado, de que a oferta
brasileira (safra mais estoques) será insuficiente para o atender a demanda
(doméstica e internacional), espera-se que as cotações para o produto
mantenham-se alavancadas. Houve em agosto movimento
bastante especulativo, pois a quantidade de contratos negociados em Nova York
pelos fundos e grandes investidores oscilou entre líquido vendido de 24.300
contratos para 872 comprados na terceira semana, justamente o período em que as
cotações médias semanais das curvas futuras mudaram de patamar. As publicações
de relatório de importante trader,
revendo suas estimativas para a safra brasileira, e da pesquisa da CONAB sobre
estoques remanescentes, aparentemente, formaram o gatilho para o maior interesse
especulativo pelo produto (Tabela 1). A partir do
encerramento da colheita no Brasil, que deverá se estender até outubro, o
dimensionamento da safra será mais preciso pois cafeicultores e cooperativas
terão estimativas reais da disponibilidade de produto para entressafra. De
outro lado, o cenário para o mercado global dependerá muito das condições
climáticas que venham a ocorrer, especialmente, no que diz respeito a evolução
do aquecimento do Pacífico e seus impactos sobre os cinturões produtores. __________________________________________________ 1O autor agradece
o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente
de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas
Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso em: ago.
2015. Palavras-chave: cotações
futuras, Bolsa de Valores, café arábica.
Data de Publicação: 10/09/2015
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor