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Menor Número de Admissões no Setor Sucroalcooleiro Paulista no Primeiro Semestre de 2015
No primeiro semestre
de 2015, o setor sucroalcooleiro paulista registrou queda de 15,5% no total de
admissões com carteira assinada em relação ao mesmo período do ano anterior.
Este resultado foi obtido a partir das informações do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)2,
divulgadas mensalmente. Esta queda reforça a tendência da crise nos empregos
formais envolvendo diferentes elos deste setor, que o Instituto de Economia
Agrícola tem acompanhado semestralmente. O setor
sucroalcooleiro aqui analisado é composto de atividades econômicas definidas
pelas Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE2.0) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE): cultivo de cana-de-açúcar (setor
agropecuário), fabricação de açúcar bruto, fabricação de açúcar refinado e
produção de álcool, estas pertencentes ao setor industrial. A análise dos
empregos formais no primeiro semestre de 2014 verificou um total de 83.833
admissões, 42.251 demissões e, da diferença entre estes totais, resultou um
saldo positivo de 41.582 empregos3 (Tabela 1). Já o primeiro
semestre de 2015 apresentou um total de 70.869 admissões, ou seja, quase 13 mil
trabalhadores a menos foram demandados no primeiro semestre no setor. O número
de demissões para o primeiro semestre de 2015 foi de 32.071, total inferior ao
de 2014, explicado, porém, por conta do menor número de admissões que ocorreram
em 2015, ou seja menor número de admissões ocasionou um número menor de
desligamentos do setor. A saber, o primeiro
semestre no setor sucroalcooleiro é o período com maior número de admissões de
trabalhadores envolvidos nas mais diferentes etapas desta cadeia produtiva, que
vão desde o cultivo, manejo, colheita, transporte até o processamento em açúcar
e álcool, e também atividades administrativas e de apoio à produção. Assim, o
primeiro semestre de 2015, mesmo com alta demanda de mão de obra, resultou em
desempenho inferior ao ano anterior. Conforme
já citado, da diferença entre admissões e desligamentos resulta o saldo ou
estoque de postos de trabalho. O saldo para o primeiro semestre de 2015
registrou 38.798 postos de trabalho, ainda um estoque positivo. Porém, no
segundo semestre, a colheita da cana está basicamente finalizada, bem como seu processamento, dispensando-se assim a maior parte da mão de obra
de suas funções, intensificando o número de demissões. Assim, infere-se para o
término de 2015 um novo estoque negativo semelhante ao ano anterior, ou até (em
números absolutos) maior ao registrado anteriormente. São os reflexos da
crise instaurada no setor sucroalcooleiro, que vem diminuindo suas contratações
ano a ano, seja por conta de inovações tecnológicas introduzidas no sistema
produtivo, como é o caso da colheita mecanizada que tem substituído o corte
manual e eliminando a figura do cortador de cana-de-açúcar do setor, seja pelo
fechamento de usinas processadoras de cana-de-açúcar e também dos fornecedores
que deixaram a atividade. Nota-se que o impacto da mecanização sobre os
empregos vem se refletindo em queda nas contratações desde 20084. É interessante
observar também a dinâmica dos empregos no que se refere às ocupações dos
trabalhadores no setor sucroalcooleiro. As informações do CAGED com base na
Classificação Nacional Brasileira de Ocupações permitem esta análise por meio
de dois grupos distintos de trabalhadores: os diretamente ocupados na atividade
agrícola, como tratoristas e cortadores de cana-de-açúcar, estes que ainda estão
presentes no setor sucroalcooleiro, pois o sistema mecanizado de colheita ainda
não é total no Estado de São Paulo (84,8% de áreas colhidas de forma
mecanizada)5, e os não agrícolas, que se fazem presentes
nos trabalhadores ligados às atividades administrativas, transporte e de apoio
à produção industrial. Observa-se que os
trabalhadores ligados diretamente às atividades agrícolas ainda são a maioria
no total das admissões. Eles correspondiam a uma média de 63,5% das
contratações formais em 2014 e, em 2015, são em média 60,9% do total. Sobre as
movimentações, tanto as ocupações agrícolas quanto as não agrícolas
apresentaram menor número de demissões, ainda que recaia sobre as ocupações
agrícolas uma diminuição em quase 10 mil contratações com carteira assinada
(Tabela 2). Os dados sobre
admissões e desligamentos no setor sucroalcooleiro a respeito das Regiões Administrativas
de São Paulo6 apontam que, dentre todas, apenas Ribeirão Preto,
região tradicional na produção de cana-de-açúcar, não apenas manteve o ritmo
das contratações, mas também se superou no primeiro semestre de 2015 (Tabela 3).
Com isso, o estoque de empregos no primeiro semestre chega a 8 mil postos de
trabalho seguida por Campinas com cerca de 7 mil postos de trabalho. Porém, no
segundo semestre, o estoque passa a decrescer por conta das demissões ao
término da safra. Estas duas regiões administrativas, mais a de São José do Rio
Preto, são as responsáveis por 47,7% das admissões no setor sucroalcooleiro no
primeiro semestre de 2015. Os dados
apresentados apenas retratam a crise no setor sucroalcooleiro que se reflete
sobre o mercado de trabalho, seja no setor agropecuário, seja no industrial,
que basicamente diminuiu o número das admissões. O estoque de postos de
trabalho ainda que no primeiro semestre seja positivo irá se alterar ao longo
do segundo semestre. Informações do CAGED sobre os próximos meses sobre o setor
sucroalcooleiro ilustrarão melhor o desempenho do mercado de trabalho para o
ano de 2015. O fechamento das
usinas de moagem de cana-de-açúcar, a retração de áreas novas de cana no Estado
de São Paulo e a mecanização da colheita da cana-de-açúcar que influencia na
demanda de mão de obra são alguns fatores7 que agem negativamente sobre
o mercado de trabalho e, segundo os dados apresentados aqui, não apontam para
uma reversão deste quadro. 1Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa NRP-4874. 2As informações do CAGED registram a movimentação mensal de admissões e
demissões com carteira assinada em todas as atividades econômicas brasileiras e
estão disponíveis no MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO - MTE. Banco de dados. Brasília: MTE.
Disponível em: <htpp://www.mte.gov.br/pdet>. Acesso em: 11 ago. 2015. 3FREDO, C. E. Número de contratações formais diminui no setor
sucroalcooleiro paulista no primeiro semestre de 2014. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 9, n. 8, ago.
2014. Disponível em: </ftpiea/AIA/AIA-35-2014.pdf>.
Acesso em: ago. 2015. 4FREDO, C. E. Setor sucroalcooleiro paulista: crise nos empregos em
2014. Análises e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v. 10, n. 3, mar. 2015. Disponível em: </ftpiea/AIA/AIA-22-2015.pdf>.
Acesso em: ago. 2015. 5FREDO, C. E. et al. Mecanização da colheita de cana-de-açúcar atinge
84,8% na safra agrícola 2013/14. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 10, n. 2, fev. 2015. Disponível
em: <ftp://ftp.sp. 6SÃO PAULO (Estado). Decreto n. 60.135, de 10 de fevereiro de 2014.
Regulamenta a Lei n. 12.517, de 2 de janeiro de 2007, que cria a Região
Administrativa de Itapeva, e dá providências correlatas. Diário Oficial, São Paulo, 11 fev. 2014. 7ANGELO, J. A. et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do
Estado de São Paulo, ano agrícola 2014/15, junho de 2015. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 10, n. 8, ago.
2015. Disponível em: </ftpiea/AIA/AIA-57-2015.pdf>.
Acesso em: ago. 2015. Palavras-chave: setor
sucroalcooleiro, Estado de São Paulo, CAGED, emprego formal
gov.br/ftpiea/AIA/AIA-12-2015.pdf>. Acesso em: ago. 2015.
Data de Publicação: 04/09/2015
Autor(es): Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor