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Fertilizantes: aumento dos preços pagos pelos agricultores em 2015
No Brasil, as entregas de
fertilizantes ao consumidor final, nos cinco primeiros meses de 2015,
totalizaram 9.044 mil t de produto, com retração de 12,0%, em relação ao mesmo
período de 2014, que contabilizou 10.276 mil t (Tabela 1). Em termos de
nutrientes (N, P2O5 e
K2O), foram entregues 3.826 mil t, com queda de 14,3% em relação ao
mesmo período do ano anterior1. Esse declínio pode ser explicado por
fatores, como: a) menor antecipação de compras pelos agricultores para a safra
2015/16, especialmente, para soja; b) aumento nos preços pagos de fertilizantes
pelos agricultores, em função da valorização do dólar e repasse aos preços de
diversos fertilizantes importados; c) a elevação da taxa de juros básico da
economia2; e d) queda dos preços recebidos pelos agricultores para
algumas culturas, como o algodão. As entregas de nitrogenados (N), em nutrientes, no
período de janeiro a maio de 2015, atingiram 1.332 mil t, com decréscimo de
5,3%, em relação ao mesmo período do ano anterior (quando perfizeram 1.407 mil
t). Os fosfatados (P2O5), no mesmo período, registraram
retração de 19,1%, totalizando comercialização de 1.147 mil t no período contra
1.419 mil t entre janeiro e maio de 2014. No caso dos potássicos (K2O),
observou-se queda de 17,9%, baixando de 1.640 mil t de nutrientes, de janeiro a
maio de 2014, para 1.346 mil t no mesmo período de 2015. A generalizada redução
da demanda pelos nutrientes pode ser atribuída a menor entrega às culturas de:
milho safrinha; algodão; renovação de canaviais; trigo; e menor taxa de
antecipação das entregas para soja em abril e maio desse ano3. No período de janeiro a maio de
2015, em todas as regiões brasileiras ocorreu retração nas vendas,
especialmente na Norte/Nordeste, cujas entregas de fertilizantes, em relação ao
mesmo período de 2014, decresceram 16,7%, seguida da Centro-Oeste, 12,4%, Sul,
10,9%, e Sudeste, 9,6%; de acordo com o critério de regionalização, para o
Brasil, do Sindicato das Indústrias de Adubo do Estado de São Paulo (SIACESP)
(Tabela 1). Entre janeiro e maio de 2015, o Estado do Mato Grosso, maior produtor
nacional de soja e de algodão, liderou o ranking nas entregas (1.730 mil toneladas de
produtos), sendo responsável
por 19,1% do total nacional. As vendas nesse estado, nos primeiros cinco meses
de 2015, contabilizaram
decréscimo de 18,5%, quando comparadas com igual período do ano anterior. O segundo lugar, em participação na
quantidade vendida, foi ocupado pelo Estado do Paraná com 1.361 mil t.
São Paulo e Goiás com 1.136 mil e 1.003 mil t, respectivamente, sucedem-se no ranking dos maiores compradores (Tabela
1). A indústria
nacional de fertilizantes iniciou 2015 com o maior estoque de passagem dos
últimos cinco anos, ou seja, 5.659 mil t de produto, com aumento de 13,0% em
relação ao ano anterior. Esse fato, aliado à constatada queda da demanda no
período de janeiro a maio de 2015, assim como o aumento dos preços de vários
fertilizantes no mercado internacional, decorrente da alta do dólar,
contribuíram para que as importações brasileiras, nos cinco primeiros meses de
2015, apresentassem decréscimo de 18,4%, em relação ao mesmo período do ano
anterior, somando 7.255 mil t de produto4. Houve queda nas
importações de todos os tipos de fertilizantes: nitrogenados, fosfatados e
potássicos. O principal porto de desembarque de fertilizantes foi Paranaguá
(PR), representando 48,3% do total, seguido de Rio Grande (RS) (14,7%), Santos
(SP) (9,5%) e Vitória (ES) (6,7%). A diminuição no
ingresso de produtos importados nos cinco primeiros meses de 2015 contribuiu
para que a produção da indústria
nacional de produtos intermediários crescesse 5,5%, em relação ao registrado no
mesmo período do ano anterior, totalizando 3.612 mil t de produto. Em 2014, as
entregas de fertilizantes ao consumidor final no Brasil cresceram 4,9% em
relação ao ano anterior, perfazendo o total de 32.209 mil toneladas de produto,
quantidade que se constituiu em
recorde histórico (Tabela 2). Destaque-se que, em termos de nutrientes, o aumento das
entregas, em 2014, foi de 4,4%, em relação ao ano anterior. Segundo fontes do
setor, as entregas de fertilizantes nitrogenados (N) apresentaram evolução de
4,7%, em função do aumento de demanda para as culturas de milho safrinha,
algodão, café e trigo. Também, os fosfatados (P2O5)
registraram aumento de 2,4%, com destaque para cultura da soja. No caso dos potássicos (K2O),
constatou-se crescimento de 5,9%, em função da expansão tanto nas entregas dos
produtos formulados quanto sob forma de elementos simples, para emprego
na adubação de cobertura, sobretudo para o milho safrinha, algodão, trigo e
soja5, 6. Segundo
estimativas da ANDA, a soja é a principal cultura demandante de fertilizantes
no Brasil, apresentando em 2014 incremento nas entregas de 9,2% em relação ao
ano anterior, totalizando 13.028 mil t de produto (40,4% do total nacional).
Ademais, constatou-se, no referido período, expansão nas entregas para diversas
culturas, como: trigo (20,6%), café (11,4%) e algodão herbáceo (6,1%). Também,
houve aumento para: pastagens (11,7%), reflorestamento (6,8%) e feijão (2,0%).
Em contrapartida, registrou-se queda nas entregas para várias culturas, como:
cana-de-açúcar (-3,7%), arroz (-2,8%), milho (-0,7%) e laranja (-0,4%). Para a maioria
dos estados brasileiros, observou-se aumento na comercialização de
fertilizantes em 2014. O Estado do Mato Grosso liderou as entregas com 5.844
mil de t de produto (aumento de 6,6% em relação ao ano anterior); representando
18,1% das entregas totais, seguido pelo Rio Grande do Sul (12,6%), Paraná
(12,3%), São Paulo (11,9%), Minas Gerais (11,5%), Goiás (9,2%) e Bahia (6,5%)
(Tabela 1). Ressalte-se que os estados acima mencionados apresentaram aumento
nas vendas em 2014, em relação ao ano anterior, com exceção de São Paulo, que
registrou queda de 1,4%, fato influenciado pela estiagem registrada em 2014. A
comercialização de fertilizantes em 2014 seguiu o padrão sazonal convencional
de concentração das vendas no segundo semestre, simultaneamente ao plantio das
culturas de verão. Constatou-se que 59,8% das entregas (19.250 milhões de t de
produto) ocorreram no segundo semestre, com pico das vendas em setembro (12,2%
do total das entregas) (Figura 1). Na análise das
relações de troca entre fertilizantes e principais produtos agrícolas no
Brasil, constatou-se que em 2014 as culturas de soja, milho, algodão em caroço
e cana- -de-açúcar apresentaram relações de troca mais desfavoráveis, quando
comparadas com as de 2013, ou seja, perda do poder aquisitivo dos produtores
para compra de fertilizantes agrícolas. Em contrapartida, o café apresentou
relação de troca mais favorável para os agricultores, no referido período7. A produção da
indústria nacional de produtos intermediários para fertilizantes em 2014 foi de
8.817 mil t de produto, quantidade 5,2% inferior ao registrado no ano anterior
(Tabela 2). Verificou-se, assim, decréscimo nas quantidades produzidas, em
termos de nu- trientes, dos nitrogenados (7,0%) e
dos fosfatados (5,2%), sendo que a produção de potássicos ficou praticamente
estável. No caso das matérias-primas, utilizadas em sua fabricação,
constatou-se menor produção de amônia, ácido fosfórico e ácido sulfúrico,
enquanto a produção de rocha fosfática ficou estável, no referido período. Em 2014,
aumentaram as importações brasileiras de fertilizantes (11,2%), as quais
totalizaram 24.036 mil t de produto. O cloreto de potássio continuou sendo o principal
produto importado, respondendo por 37,8% do total8. O dispêndio de divisas com importações de matérias-primas e produtos
intermediários para fertilizantes, em 2014, foi
estimado em US$9.165 milhões (FOB), com decréscimo de 4,9% em relação ao ano
anterior, influenciados pela queda dos preços médios dos fertilizantes
importados, os quais, em valores FOB, se situaram em US$391,81/t em 2013
decrescendo para US$339,05/t em 2014, com retração de 13,5%9. Nos cinco
primeiros meses de 2015, o preço médio dos fertilizantes importados pelo Brasil
situou-se em US$347,20/t (FOB), ou seja, 6,8% acima do observado no mesmo
período do ano anterior (em US$325,11/t-FOB), tendo em vista o aumento das
cotações de diversos produtos no mercado internacional, como os preços do
cloreto de potássio, fosfato monoamônico (MAP) e sulfato de amônio importados.
Por exemplo, a cotação média do cloreto de potássio importado situou-se em
US$302,25/t (FOB) no período de janeiro a maio de 2014, subiu para US$345,77/t
(FOB) em janeiro a maio de 2015 (aumento de 14,3%)10. A
previsão para o mercado de fertilizantes para 2015 é de retração na demanda, em
relação a 2014. Consulta junto aos informantes atuantes no segmento, estima-se
que as entregas de fertilizantes ao consumidor final no Brasil devem fechar
2015 com a comercialização em cerca de 31,7 milhões de t de produto, quantidade
1,5% abaixo da atingida em 2014, que foi de 32,2 milhões de t, porém superior à
observada em todos os anos precedentes. Para a safra
2015/16, há previsão de aumento dos custos de produção para os agricultores,
tendo em vista a elevação dos preços de insumos agrícolas, dependentes de
importações, dentre eles os fertilizantes, aliado à elevação das taxas de juros
praticadas pelo crédito rural conforme estabeleceu o novo Plano Safra11. A cultura da soja
tem apresentado preços em baixa nos últimos meses. Todavia, com a valorização
do dólar, ela permanece oferecendo satisfatória remuneração se comparada com
culturas concorrentes, como milho, algodão e arroz12. Por sua vez,
com o recente aumento dos preços internacionais da soja na Bolsa em Chicago,
aparentemente em razão da elevada especulação no produto, aliado à
desvalorização do real reforçam a previsão de ligeiro aumento na área plantada
de soja no Brasil na 2015/16, estimando-se possível acréscimo entre 1,0% e
3,0%, em relação à safra anterior13. ________________________________________________________ 1ASSOCIAÇÃO
NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS - ANDA. Mercado
de fertilizantes: janeiro-maio/2015. São Paulo: ANDA. Disponível em: <http://www.anda.org.br/estatistica/comentarios.pdf>.
Acesso em: jun. 2015. 3Op. cit. nota 1. 4ASSOCIAÇÃO
NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS - ANDA. Principais indicadores do setor de
fertilizantes. São Paulo:
ANDA, 2015. Disponível em: <http://www.anda.org.br/estatisticas.aspx>.
Acesso em: jun. 2015. 5______. Anuário estatístico do setor de
fertilizantes 2010-2014. São Paulo: ANDA, 2011-2015. 7Op. cit. nota 4. 8Op. cit. nota 5. 9Op. cit. nota 5. 10SINDICATO DA
INDÚSTRIA DE ADUBOS E CORRETIVOS AGRÍCOLAS NO DE SÃO PAULO - SIACESP. Brasil:
Fertilizantes e matérias-primas para fertilizantes. São Paulo: SIACESP, jun.
2015. 12CANAL
RURAL. Sete desafios para a safra de
soja 2015/2016. São Paulo, 8 jun. 2015. Disponível em:
<http://www.canalrural.com.br/noticias/mercado-e-cia/sete-desafios-para-safra-soja-2015-2016-56886>. Acesso: jun. 2015. Palavras-chave:
mercado de fertilizantes, indústria de fertilizantes, relações de trocas.2LIMA
FILHO, R. R. Forte queda nas vendas de fertilizantes em 2015. Globo Rural,
Rio de Janeiro, 19 jun. 2015. Disponível em:
<http://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2015/06/forte-queda-nas-vendas-de-fertilizantes-em-2015.html>. Acesso: jun. 2015.
6MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO. Câmara Temática de Insumos Agropecuários - MAPA/CTIA. Fertilizantes. Brasília: MAPA/CTIA. Disponível em:
<http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/
file/camaras_tematicas/Insumos_agropecuarios/77RO/App_Fertilizantes_77RO_Insumos.pdf>.
Acesso em: jun. 2015.11SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA
- SNA. Custo
de financiamento da próxima safra vai subir, afirma Fernando Pimentel.
Rio de Janeiro: SNA. Disponível em: <http://sna.agr.br/
custo-de-financiamento-da-proxima-safra-vai-subir-afirma-fernando-pimentel/>. Acesso: jun. 2015.
13GOMES, L. Soja
dispara em Chicago e reacende planos de expansão no Brasil. Agrolink, 30 jun. 2015. Disponível em: <http://www.agrolink.com.br/noticias/clipping/soja-dispara-em-chicago-e-reacende-planos-de-expansao-no-brasil_219891.html>. Acesso: jun. 2015.
Data de Publicação: 07/07/2015
Autor(es):
Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor