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A Produção Agropecuária Paulista e a anomalia climática
A anomalia climática iniciada no final de
2013 e que perdurou até princípio de 2015, no Centro-Sul brasileiro, ocasionou
diferentes impactos sobre o ciclo das lavouras, notadamente, no caso das
culturas perenes. Crê-se que a recuperação econômica das perdas das culturas
poderá não acontecer nesta safra, influenciando, assim, o planejamento dos
produtores nas diversas regiões do Estado de São Paulo. O déficit
hídrico pode alterar, também, o calendário agrícola das culturas por não
oferecer as condições necessárias para plantio. Essas alterações influenciam a
produção, qualidade e preços, informa o Instituto de Economia Agrícola
(IEA/Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo.
O grau em que cada cultura foi afetada não foi
homogêneo. As chuvas ocorridas em janeiro, fevereiro e até meados de março de
2015, aliadas aos demais fatores climáticos (temperaturas e irradiação solar)
que se mantiveram acima da média para o período, podem resultar em diferentes
respostas em termos de perspectivas de cada produto para a safra 2015/16.
Quanto às condições hídricas, as diferentes exigências das diversas culturas
associadas à distribuição e volume de chuvas em cada região e, principalmente,
ao grau de retenção de umidade do solo nos vários extratos de profundidade tornam
as mensurações dessas perdas mais complexas, afirmam Ana Victória Monteiro,
Celso Vegro, Célia Roncato Ferreira, Marisa Barbosa, Katia Nachiluk, Rejane
Cecília Ramos, Maximiliano Miura, Priscilla Fagundes, Rosana Pithan, Waldemar
Camargo Filho e Yara Chagas de Carvalho, pesquisadores do IEA responsáveis pelo
estudo.
Cana-de-açúcar
Na lavoura de cana-de-açúcar, principal cultivo, as
condições climáticas desfavoráveis (escassez de precipitações associada às
altas temperaturas) ocorridas do final de 2013 até março de 2014, período de
desenvolvimento e plantio de novas áreas e também de renovação de talhões de
cana, afetaram a produção da safra de 2014/15. Evidência desse quadro são os
dados apresentados no levantamento final da safra 2013/14 que apontaram diminuições
na área plantada (1,5%), sendo que a maior parcela cabe à área nova (12,8%),
visto que a área em produção pouco se alterou (-0,13%), e queda na produção
(9,7%), com volume de 401,2 milhões de toneladas, principalmente pela
diminuição da produtividade que foi de 9,6%, em relação à safra passada. Esse
conjunto de reduções, portanto, afeta diretamente a produção esperada.
Café
Observada no primeiro trimestre de 2014, a anomalia
climática que incidiu sobre os principais cinturões de cultivo de arábica no
Brasil afetou a produtividade das lavouras, apresentando elevada ocorrência de
favas pequenas, malformadas, chochas e mumificadas (sem valor comercial).
Diante do depauperamento das plantas, contingente expressivo de cafeicultores
adotou o manejo agronômico de podas (decote, esqueletamento e recepa). A safra
2014/15, antevista como de bienalidade positiva, rapidamente se converteu em
consecutivo ciclo de baixa de produção brasileira. Não seria exagero imaginar a
safra 2015/16 nos mesmos patamares da anterior ou ligeiramente inferior (cerca
de 5% a 10% menos), estabelecendo-se assim limite inferior de 40,8 e superior
de 43,1 milhões de sacas para a safra em curso.
Laranja
As escassas precipitações ocorridas desde o final de
2013, somadas às elevadas temperaturas, tem causado impacto à formação e
desenvolvimento dos pomares de citros nas últimas safras. Em 2014/15, houve
descontinuidade na temporada das chuvas, mostrando-se insuficientes para que as
floradas tivessem desenvolvimento satisfatório. Estima-se para a safra 2014/15
volume total produzido de 284,38 milhões de caixas de 40,8 kg (11.603 mil
toneladas), ou seja, 2,2% inferior ao obtido na safra passada. Prevê-se
produtividade de 25.909 kg/ha (equivalente a 1,73 cx./pé ou 635 cx./ha), inferior
àquela obtida na estimativa final da safra anterior em 1,7%. Ademais, outro
fator que contribuiu na redução da produtividade foi a restrição de tratos
culturais decorrentes da descapitalização do citricultor.
Hortaliças
A produção da maioria das hortaliças, por ser de ciclo
curto, depende do padrão estacional do clima, sendo igualmente influenciadas
pelas cotações vigentes na decisão sobre a área ser plantada. O Estado de São
Paulo é o principal produtor de hortaliças no Brasil em três grupos: verduras,
legumes frutos, bulbos raízes e tubérculos. O estado é importante produtor de
folhosas, batata, cebola e tomate, que também são cultivadas nas outras regiões
brasileiras, a exceção da região Norte.
Em 2014, o tomate de mesa teve retração de área
de 2,6% (8.170 ha) e produção 5% menor que em 2013, devido à retração da
produtividade; fato agravado pelas condições propícias às viroses. Ou seja, o
tomate de mesa depende de irrigação, no entanto, a variável mais influente é o
calor que, além de aumentar a incidência de viroses, acelera a maturação
(encurtamento de seu intervalo), o que ocasiona concentração da oferta e
consequente queda nos preços recebidos pelos produtores.
No Estado de São Paulo é produzido cerca de 18,5% da batata
do Brasil. Nas regiões produtoras do Sudeste, onde se fazem três cultivos, os
bataticultores optam por duas épocas e o terceiro plantio é de milho ou outro
grão, para completar as atividades do ano agrícola e fazer rotação de culturas.
Assim algumas regiões têm maior expressão em determinado cultivo. A opção
depende da melhor vantagem comparativa, levando em conta o mercado do grão ou
cereal.
As principais folhosas respondem por 25% da
área de hortaliças, é o grupo que mais depende de irrigação e da estabilidade
do clima e as que mais perdem em produção e qualidade com a falta de água e
calor. A situação especialmente das hortaliças, cultivadas no cinturão verde de
São Paulo que se estende pela Serra da Mantiqueira e do Mar abrangendo as
macrobacias do Rio Paraíba do Sul, Tietê, de Piracicaba, de Mogi Guaçu, do Rio
Pardo, é bastante delicada, pois em todas essas regiões a irrigação foi
prejudicada.
A produção média brasileira de mandioca para
indústria e para mesa no biênio 2013-14 foi de 22 milhões de t/ano. A maior
parte é para indústria de farinha, amido e outros. Em 2013 a área cultivada em
produção de mandioca de mesa em São Paulo foi de 11.942 ha e em 2014 aumentou
em 1,2%. No entanto, a produtividade diminuiu 5% e foi de 16,3 t/ha. O Estado
de São Paulo produz cerca de 4,0% do total brasileiro de mandioca de mesa.
Espera-se queda na produção em 2015 em razão da redução do cultivo de áreas
novas decorrentes tanto das condições climáticas desfavoráveis quanto dos
baixos preços praticados pelos intermediários.
Milho
Enquanto na safra 2012/13 a estimativa das colheitas
(safra e safrinha) totalizou 5,15 milhões de toneladas, na safra 2013/14 foram
produzidas 3,71 milhões de t, queda de 28% e na safra 2014/15 atingiu a marca
de 3,654 milhões de t, evidenciando nova queda de 1,6%, resultando em declínio
de cerca de 30% na estimativa de volume colhido no período 2012/13-2014/15.
A primeira safra 2014/15 do milho, nas principais
regiões produtoras (Itapeva, Itapetininga, São João da Boa Vista e Avaré),
sofreu com a escassez de precipitações no início de setembro 2014. Esse fato
provocou atrasos no plantio que, a partir de outubro, representou riscos para
sua produtividade. Mas as chuvas voltaram em praticamente todas as regiões em
dezembro e janeiro, permitindo finalizar o plantio do milho restante. Para a
safrinha (segunda safra) 2014/15, cujas principais regiões produtoras são os
EDRs de Assis, Ourinhos e Itapeva, levantamento preliminar indica que ela
deverá repetir o desempenho da safra anterior, com área cultivada de 326,5 mil
ha, produtividade de 4.582 kg/ha e produção de 1.495 mil t, representando
aumento de 2% frente à 2013/14, indicando, portanto, que foram insignificantes
os reflexos da anomalia climática sobre milho safrinha.
Soja
A produção de soja no Estado de São Paulo em 2014/15
está prevista em 1,8 milhão de toneladas, 26,3% maior que a obtida na safra
anterior, em função do aumento de 21% na produtividade esperada de 2.691kg/ha.
A ausência de chuvas regulares no transcorrer do desenvolvimento das
lavouras, entretanto, implica a expectativa de queda na produção prevista
inicialmente.
Aves e Ovos
A produção de frangos continua sendo prejudicada pelas
altas temperaturas pelo segundo ano consecutivo no estado. Ademais, os
prejuízos se tornaram mais agudos em função da falta de energia elétrica, nas
horas críticas, para os equipamentos de circulação e refrigeração de ar. Assim,
criadores que não estavam equipados com geradores contabilizaram perdas. A
produção paulista em 2014 foi de 1,6 milhão de t de carne de frango, enquanto
em 2013 foram produzidas 1,5 milhão de t, um aumento de 6,7%.
Quanto à produção de ovos no Estado de São Paulo em
2014 o valor da produção foi de R$1,9 bilhão, posicionando-se em 5° lugar no ranking
ficando atrás dos mencionados acima, acrescidos da carne de frango e da
laranja. Em 2013 o valor alcançado foi de R$2,0 bilhões, ou seja, queda de 5%
no período. A produção de ovos em 2014 foi de 32,7 milhões/cx., enquanto em
2013 foi de 35,4 milhões/cx. produzidas, representando queda de 7,6% e
legitimando a baixa contabilizada no valor da produção.
Produção de Leite
A seca associada às altas temperaturas, em grande
parte de do ano passado, comprometeram as pastagens paulistas, trazendo
dificuldades para as explorações leiteiras. Entretanto, essa ocorrência afetou
de modo diferenciado as regiões produtoras do estado. Com pastos ruins os
produtores precisaram suplementar a alimentação do gado com ração balanceada.
Alguns criadores possuíam silagem e/ou milho e isso permitiu atenuar os custos
para produzir leite. A produção de leite no estado teve recuperação em 2014,
esse crescimento pode ter ocorrido em algumas regiões do estado, pelas
diferenças de precipitações por região e, ainda, devido às chuvas ocorridas no
último trimestre do ano que repercutiram em melhoria das pastagens.
Tendo em conta que há previsão de que as precipitações
sejam abaixo da média ao longo dos próximos meses, em São Paulo, espera-se que
ocorra elevação nos preços recebidos pelos criadores. Grande parte deles já
efetuou o plantio das forrageiras empregadas para a produção de silagem.
Ademais, o bom comportamento dos preços do milho não indica pressão sobre os
custos de produção.
Segmento de Insumos para A Produção
Houve expansão do mercado brasileiro de fertilizantes
em 2014 da ordem de 4,9%, contabilizando a entrega ao consumidor final de
32.209 mil toneladas de produto. Em termos de nutrientes registrou-se
crescimento com evolução de 3,3% no período. Todavia, em janeiro de 2015, as
entregas reduziram-se em 7,6% frente ao mesmo mês do ano anterior, totalizando
857 mil toneladas de produto. O mercado para os defensivos agrícolas
(inseticidas, fungicidas, herbicidas e acaricidas) exibiu, em 2014, crescimento
de 6% em valor. Houve maiores vendas de inseticidas, pois em razão da anomalia
climática não se teve condições favoráveis para o ataque de fungos nas
lavouras.
Medidas de adaptação e mitigação às mudanças
climáticas têm feito parte da pauta das decisões públicas e privadas. No
entanto, a sua implementação ainda enseja maiores agilidade e estratégias para
melhoria das estruturas dos diversos setores, envolvendo os agentes públicos,
bem como a sociedade civil, quanto ao uso dos recursos naturais, sobretudo água
e petróleo.
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Nara Guimarães
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naraguimaraes@sp.gov.br
Data de Publicação: 24/04/2015
Autor(es): Nara Guimarães (naraguimaraes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor