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Curva Futura das Cotações do Café: “café é câmbio”
Em março de 2015, as expectativas de curto e médio
prazo para o mercado de juros futuros da BM&F-Bovespa mantiveram-se pressionadas,
especialmente entre a segunda e a terceira semanas do mês (Figura 1). As
dificuldades políticas e econômicas enfrentadas para a implementação do ajuste
da economia brasileira são as aparentes causas da alavancagem nas taxas futuras
de contratos de juros futuros. Tendência similar a dos juros futuros foi observada
no mercado de contratos de dólar futuro da BM&F-Bovespa, pois houve forte
mudança de patamar para a paridade cambial também nas médias das segunda e
terceira semanas do mês (Figura 2). O acúmulo de resultados negativos, tanto da
balança comercial quanto da de serviços, aumentou a crença dos investidores de
que, apesar da acentuada desvalorização da moeda brasileira, esta ainda não
alcançou seu valor considerado de “equilíbrio”. Em março de 2015, os investidores do mercado de
contratos futuros de café arábica na Bolsa de Nova York atuaram de modo
divergente ao longo do mês. Enquanto nas duas primeiras semanas as médias das
cotações declinaram, nas duas últimas houve recuperação (Figura 3). Na posição
de setembro de 2015 os contratos negociados na primeira semana fecharam com
média de US$¢141,99/lbp, saltando para US$¢153,45/lbp na média da última
semana. A cafeicultura já foi o
componente mais importante da economia brasileira em passado recente2.
Naquela altura, o economista Dr. Eugênio Gudin criou o aforismo “café é câmbio”,
que foi assim explicado pelo emérito prof. Dr. Antônio Delfim Netto3:
1) uma quebra da safra
cafeeira por um acidente climático aumentava de forma dramática os preços
externos do café (devido à inelasticidade da demanda); 2) isso aumentava a
oferta de divisas e valorizava a taxa cambial; 3) essa valorização abortava
todas as iniciativas de exportações nascentes que, com a taxa de câmbio de
"equilíbrio", seriam competitivas, isto é, tinham "vantagem
comparativa". O problema sério durou quase um século. O grande economista
brasileiro dr. Eugênio Gudin inventou o aforisma "Café é câmbio!"
para descrevê-lo. O
reverso desse fenômeno, ou seja, ao longo de episódios em que o real se
desvaloriza frente ao dólar, seus efeitos sobre as cotações do café são mais
que proporcionais, acarretando em pressão baixista aos preços praticados. Aparentemente,
nas duas primeiras semanas do mês essa foi a tendência prevalecente. Todavia,
fatores estruturais como anúncio de previsões pouco otimistas para safra
brasileira4, embora ainda não expresso pelo ritmo dos embarques
internacionais da commodity5,
produziram realinhamento das cotações em patamares ligeiramente superiores nas
duas últimas semanas do mês. As direções contrárias
para o movimento do câmbio (desvalorização do real), em contraposição à queda
nas cotações, produzem efeito neutro sobre os preços recebidos pelos
cafeicultores. Resulta dessa dinâmica a captura de vantagens por parte dos
consumidores internacionais. Na bolsa londrina, os
contratos futuros de café robusta, após três semanas sem variações
significativas nos patamares médios das cotações futuras, tiveram uma disparada
na quarta semana (Figura 4). O arrefecimento dos embarques de café robusta por
parte do Vietnã, associado à constatação de que o cinturão robusta capixaba
venha a exibir menor quantidade colhida na corrente safra, pode ser a causa
dessa alavancagem. A intensificação da posição vendida entre os fundos
e grandes investidores comprovou o efeito manada, já apontado na análise
anterior. Na primeira semana do mês a posição, já eram somados 6.710 contratos
líquidos vendidos, enquanto na última semana esse montante quase dobrou (Tabela
1). Em atitude preventiva,
diante das incertezas do clima nos cinturões cafeeiros do Brasil, compradores
internacionais buscaram incrementar seus estoques. Estoques recompostos e
câmbio tensionado formaram quadro justo para que o mercado teste novas baixas
para as cotações futuras. Se for juntada essa perspectiva à abertura da
especulação com relação às ondas de frio que atingem o cinturão cafeeiro
brasileiro a partir de maio, espera-se grande volatilidade nas cotações do
produto nas próximas semanas. ___________________________________________________ 1O autor agradece
o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos, conduzido pelo
Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de
sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2A perda foi
relativa, na medida em que o agronegócio café se posiciona em quinto lugar no
ranking das exportações do agronegócio de 2014. 3DELFIM NETTO, A.
A doença está aqui. Folha de S. Paulo,
São Paulo, 1 mar. 2006. 4Previsão de safra
brasileira de café conduzida pela consultoria FCStone
estimou colheita entre 44 e 45,5 milhões de sacas. CAFÉ registra preços mais
altos no Brasil com alta em NY e dólar. Revista
Cafeicultura, Minas Gerais, 25 mar. 2015. Disponível em: <http://www.revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo 5No primeiro
trimestre de 2015 houve aceleração no ritmo dos embarques de café,
contabilizando-se 8,84 milhões de sacas (4,11% acima do mesmo período do ano
anterior), estabelecendo-se novo recorde para o período. Essa quantidade
contribui para a recomposição dos estoques dos importadores, fortalecendo
posicionamento baixista para as cotações. CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO
BRASIL - CECAFÉ. Banco de dados. São
Paulo: CECAFÉ. Disponível em: <http://www.cecafe.com.br>. Acesso em: abr.
2015. Palavras-chave:
cotações futuras, mercado de café, Bolsa de Valores.
=ler&mat=57121>. Acesso em: abr. 2015.
Data de Publicação: 22/04/2015
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor