Cana-de-açúcar - safra 2013/14 – e Fatores Climáticos: panorama dos impactos na produtividade nos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) no Estado de São Paulo

1 – INTRODUÇÃO

O Instituto de Economia Agrícola (IEA) e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) divulgaram em 29/01/2015 as estimativas finais para a safra 2013/14 para a cana-de-açúcar obtidas em levantamento realizado entre os dias 3 e 24 de novembro de 2014, em todos os municípios que compõem os 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs).

Os resultados finais em termos estaduais registraram diminuições na área plantada (1,5%), sendo que a maior parcela cabe à área nova (12,8%), visto que a área em produção pouco se alterou (-0,13%), e na produção (9,7%), com volume de 401,2 milhões de toneladas, principalmente pela queda da produtividade que foi de 9,6%, em relação à safra passada. Este quadro é decorrente da conjunção de dois fatores: o primeiro refere-se à política econômica de administração dos preços da gasolina, que inviabilizou a competitividade do etanol, causando desestímulo e, por conseguinte, a crise do setor; o segundo é devido aos baixos índices pluviométricos registrados durante a safra, afetando a produtividade. Este último quadro implicou diferentes comportamentos na queda da produtividade nas regiões produtoras (Figura 1).

Diante desse último, este artigo tem como finalidade analisar a influência das precipitações pluviométricas e temperaturas, ocorridas durante o ano de 2014, nos EDRs onde essa atividade é desenvolvida. Visto serem essas variáveis fundamentais para a cultura da cana-de-açúcar nos seus diferentes ciclos de vida. Para tanto foram utilizadas as informações disponibilizadas pelo CIIAGRO, UNESP e FATEC/JAHU1, 2, 3. A distribuição dos postos meteorológicos está na figura 2.

Para situar a influência dos fatores climáticos tomou-se como base artigos, dissertações4 e teses5 realizadas em um passado recente na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ).

 

 

2 – BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS FATORES CLIMÁTICOS

Em estudo realizado por Marin (2008)6, analisando variabilidade espacial e temporal da eficiência produtiva da cana-de-açúcar e o déficit de produtividade ao longo de 16 safras agrícolas, considera-se que os fatores climáticos explicam 43% da variabilidade da eficiência produtiva da cana-de-açúcar, na seguinte ordem de importância: radiação solar, deficiência hídrica, temperatura máxima do ar, precipitação e temperatura mínima do ar. O solo explicou 15% da variabilidade, na média de todas as safras. Fatores socioeconômicos, bióticos e de manejo da cultura explicam, em conjunto, 42% da variabilidade na eficiência produtiva da cana no Estado de São Paulo.

Gouvêa (2008, p. 20)7 registra que a

disponibilidade de água para a cana-de-açúcar é o principal fator climático causador da variabilidade da produtividade. Entretanto, devido às variações locais de clima e de variedades, é difícil estabelecer uma relação entre produção e consumo de água pela ca-na-de-açúcar.

Scardua e Rosenfeld (1987 apud GOUVÊA, 2008)8 acrescentam que esse consumo também varia em função do estágio fenológico, do ciclo da cultura (cana planta ou cana soca), das variações climáticas e da água disponível no solo, entre outros fatores.

Barbieri e Vila Nova (1977 apud MARCHIORI, 2004, p. 25)9 citam

que a cana requer boa quantidade de umidade no solo no período de crescimento, uma vez que a água tem papel fundamental na turgescência, translocação e na pressão de crescimento e de tugor, porém durante o período de maturação o ideal é que haja redução na água disponível, não drasticamente, mas o suficiente para reduzir o crescimento e induzir a maior concentração de açúcar nos colmos,

e que para alguns autores que durante a safra ou até dois meses antes da época de maturação, a produção de sacarose é inversamente proporcional à quantidade de chuva que ocorreu na região.

Durante os meses iniciais de crescimento e desenvolvimento da cana-de-açúcar, os processos de armazenamento de açúcar operam em tecidos imaturos e nos colmos com pequeno número de nós com internoidios completamente desenvolvidos perto da base do talo. Nessa fase, é o crescimento, ao invés de armazenamento de açúcar, a preocupação primária da planta10.

Em relação à temperatura, a cana-de-açúcar necessita de calor e umidade para uma boa produtividade, temperatura ideal é de 30 a 34°C, se a temperatura estiver maior de 35°C o crescimento é lento, com menor de 20°C é muito lento e acima de 38°C é nulo11.

 

3 – DISCUSSÃO

No quadro geral estadual, cerca de 80,0% da área explorada com a cultura da cana-   -de-açúcar apresenta precipitações abaixo dos 1.200 mm (Tabela 1). Já, em relação às tem-


 

peraturas médias máximas, foi registrado aumento de 5,5% quando comparado, o ano de 2014 em relação ao anterior e de 3,2% para as temperaturas médias mínimas para o mesmo período, portanto, além de baixa precipitação o ano de 2014 apresentou aumento nas temperaturas médias mínima e máxima (Tabela 2). 

 

 

Segundo Marin (2015)12, a quantidade de água necessária para a cultura atingir seu máximo potencial é em torno de 1.200 a 1.300 milímetros anuais, porém, pode-se observar na figura 3 que todos os principais EDRs do estado, produtores de cana-de-açúcar, encontram-se abaixo do limite inferior, notadamente os situados ao norte e região central de São Paulo (Figura 4). Analisando a importância dessas regiões em termos de participação da área cultivada em relação à área total plantada no Estado de São Paulo em 2014 (Tabela 1), ratificam-se os impactos negativos que as baixas precipitações ocasionaram. Este resultado está consolidado na queda da produtividade apontada na safra 2013/14 (Figura 1).

Pode-se verificar que, regionalmente, os impactos do menor índice pluviométrico afetaram em diferentes escalas esses EDRs na questão relativa à queda da produtividade em comparação à safra anterior (2012/13). Os situados ao norte foram os que sofreram  menores quedas: Barretos (-8,1%), Orlândia (-2,8%) e Ribeirão Preto (-3,0%), já os da região central de Araraquara (-8,6%) e Jaboticabal (-21,6%). Cabe ressaltar, em relação a esse último EDR, que na safra 2012/13 o rendimento dessa cultura foi de 102 toneladas por hectares, enquanto para a safra 2013/14 foi em torno de 80 t/ha, ou seja, mesmo com as adversidades ocorridas, essa região apresentou uma produtividade dentro dos patamares aceitáveis, visto a média estadual ser de 73 t/ha para a safra em análise.

Como já mencionado, pode-se justificar esses resultados devido às variações locais de clima e de variedades, como também a existência de uma relação entre produção e consumo de água pela cana-de-açúcar que varia em função do estágio fenológico, do ciclo da cultura (cana planta ou cana soca), das variações climáticas e da água disponível no solo, entre outros fatores. Assim, pode-se inferir que em tais regiões esses aspectos estão implícitos nos resultados da safra 2013/14.

Para essas mesmas regiões13, verifica-se na tabela 3 que os índices pluviométricos se apresentam nos mesmos patamares para os anos de 2012 e 2013, com uma ressalva para o EDR de Jaboticabal onde em 2012 esses índices ficaram abaixo da média. Em relação à temperatura, verifica-se que não somente nessas cinco regiões do estado como também nas demais, ela foi mais elevada na safra 2013/14, como pode ser observado na tabela 2. Apesar desses aumentos da temperatura, admite-se que eles não foram os determinantes para a queda da produtividade, por estarem dentro dos parâmetros ideais para o ciclo no qual a temperatura deve estar entre 30°C e 34°C, assim sugere que a baixa umidade afetou uma boa produtividade.

Ao se analisar dois municípios historicamente tradicionais no cultivo da cana-de-açúcar, Ribeirão Preto e Piracicaba, e tomando como base comparativa a safra 2008/09, até então as safras estavam ocorrendo dentro da “normalidade”, pois, após esse período o setor passou a enfrentar adversidades relativas à política econômica.

Optou-se por iniciar a série nos meses de dezembro do ano anterior, tendo ao menos duas situações em relação à época de plantio, como os pressupostos acima mencionados, como também considerar as características fenológicas da cultura no Estado de São Paulo, ou seja, a época de plantio é fundamental para o bom desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar, que necessita de condições climáticas ideais para se desenvolver e acumular açúcar. Para seu crescimento, necessita de disponibilidade de água, temperaturas adequadas e alto índice de radiação solar. A cultura pode ser plantada em épocas diferentes. A cana-de-açúcar pode ser plantada no sistema de ano-e-meio (cana de 18 meses) entre os meses de janeiro e março, quando nos primeiros três meses, a planta inicia seu desenvolvimento e, com a chegada da seca e do inverno, o crescimento passa a ser muito lento durante os meses de abril a agosto, voltando a vegetar nos sete meses seguintes de setembro a abril, para, então, amadurecer nos demais meses, até completar 16 a 18 meses. Logo, o período de janeiro a março é ideal para o plantio da cana-de-açúcar, pois apresenta boas condições de temperatura e umidade, garantindo o desenvolvimento das gemas, em condições favoráveis a brotação é rápida, o que também reduz a incidência de doenças nos toletes.


Existem outros sistemas como o de ano (cana de 12 meses) que é plantada no período de outubro a novembro.

3 - MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PRETO

No período entre dezembro de 2013 e dezembro de 2014, a precipitação acumulada no município foi de 1.118,8 mm, este valor é 40,24% menor do que o registrado entre dezembro de 2008 e dezembro de 2009, quando o acumulado foi de 1.872,20 mm (Figura 5).

 

4 - MUNICÍPIO DE PIRACICABA

No período entre dezembro de 2013 e dezembro de 2014, a precipitação acumulada no município foi de 981,30 mm, este valor é 30,93% menor do que o registrado entre dezembro de 2008 e dezembro de 2009, quando o acumulado foi de 1.420,80 mm (Figura 6).

 

Observa-se que nessas duas localidades nos meses (janeiro a março) críticos para o bom desenvolvimento da planta sofreram drasticamente a queda pluviométrica, o mesmo acontecendo nos meses de setembro a dezembro de 2014. Esse panorama sugere que a safra 2014/15 sofrerá ainda os efeitos dessa adversidade, mesmo que ocorram chuvas dentro da normalidade nos meses de janeiro a março de 2015, outro ponto extrapolando, o exemplo desses municípios para os demais produtores no Estado de São Paulo, prevê-se uma manutenção do volume produzido e mesmo uma queda para esta safra, no quadro geral do Estado.

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1Das 111 amostras coletadas, 109 são provenientes do Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas, CENTRO INTEGRADO DE INFORMAÇÕES AGROMETEOROLÓGICAS - CIIAGRO. Banco de dados. São Paulo: CIIAGRO. Disponível em: <http://www.ciiagro.sp.gov.br/>. Acesso em: mar. 2015.

 

2Os dados referentes ao município de Bauru foram obtidos da UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP. Estação meteorológica automática. São Paulo: UNESP. Disponível em: <http://www.ipmet.unesp.br/index2.php?menu_esq1=&abre=ipmet_html/estacao/historico.php>. Acesso em: mar. 2015.

 

3As informações referentes ao município de Jaú, foram obtidas da FACULDADE DE TECNOLOGIA DE JAHU - FATEC/JAHU. Estação Hidrometeorológica. São Paulo: FATEC/JAHU. Disponível em: <http://www.fatecjahu.edu.br/estacao/index.php?page=bol_diario>. Acesso em: mar. 2015.

 

4GOUVÊA, J. R. F. Mudanças climáticas e a expectativa de seus impactos na cultura da cana-de-açúcar na região de Piracicaba, SP. 2008. 98 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2008.

 

5MARCHIORI, L. F. S. Influência da época de plantio e corte na produtividade da cana-de-açúcar. 2004. 273 p. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004.

 

6MARIN, F. R. et al. Sugarcane crop efficiency in two growing seasons in São Paulo State, Brazil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 43, n. 11, p. 1449-1455, nov. 2008.

 

7Op. cit. nota 4.

 

8Op. cit. nota 4.

 

9Op. cit. nota 5.

 

10Op. cit. nota 5.

 

11FREITAS, C. E. Qualidade da matéria prima. Brasília: Embrapa, 2007.

 

12MARIN, F. R. Árvore do conhecimento cana-de-açúcar. Brasília: AGEITEC. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_10_711200516716.html>. Acesso em: 20 fev. 2015.

 

13Dada a representatividade do EDR de Orlândia na produção de cana-de-açúcar, foi calculada a média dos EDRs vizinhos (fronteira), que são Barretos, Ribeirão Preto e Franca, o resultado deste cálculo foi utilizado como aproximação da média de precipitação do EDR de Orlândia para os anos de 2013 e 2014.

Palavras-chave: cana-de-açúcar, produtividade, safra 2013/14, fatores climáticos, Estado de São Paulo.



Data de Publicação: 13/03/2015

Autor(es): Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Mario Pires De Almeida Olivette (olivette@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor