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Custos de Manutenção e Rentabilidade da Seringueira em Plena Produção, Região Noroeste do Estado de São Paulo, 2014
1 - INTRODUÇÃO Os preços de mercado da borracha natural, segundo
Rosmann1, iniciaram ciclo ascendente em 2000, alcançando pico acima
de R$6/kg em 2011. A partir daí decresceram, atingindo valores médios abaixo da
metade desse montante em 2014, com queda ainda mais acentuada por negócios
efetuados a R$1,71/kg, no mês de setembro desse ano. Essa rota descendente, conforme o autor, é consequência
de vários fatores, entre eles: a crise imobiliária dos EUA, de 2008, que em
2010 levou de roldão os países europeus; menores compras de borracha pela
China, em 2012/13, tendo como consequência o aumento dos estoques mundiais; e a
pressão baixista derivada do aumento da produção na Tailândia. Pelo lado do mercado interno, as condições foram
também desfavoráveis. A economia brasileira tem indicadores de desempenho muito
baixos, com a expansão do PIB próxima de zero, ou mesmo zero em 2014,
prevendo-se repetir igual taxa em 20152. Essas condições para a economia nacional afetam
diretamente a cadeia da seringueira em São Paulo, com produção de borracha
natural, em 2013, de 175.044 toneladas, representando 56,5% do total
brasileiro, e área colhida de 55.456 hectares, 40% da área colhida total3,
4. Em situações de crise, acentua-se a necessidade de,
pelo lado interno das atividades econômicas, concentrar-se na gestão de custos.
Por essa razão, este artigo busca proporcionar elementos decisórios por meio da
elaboração de estimativa de custos operacionais e análise de indicadores de
rentabilidade de um sistema de produção de seringueira considerado
representativo da cultura na região noroeste de São Paulo, principal região da
cultura do Estado. 2 - METODOLOGIA
DE CUSTOS OPERACIONAIS, DE RENTABILIDADE E PROCEDIMENTOS DO ESTUDO A metodologia de custo de produção
utilizada é baseada em Martin et al.5. Sua concepção é de curto
prazo, sendo que as remunerações do capital, terra e empresário não são
computadas, supondo-se que isso se fará pela renda líquida. A estrutura de
custos do sistema de produção é composta de: a) custo operacional efetivo (COE):
despesas efetuadas com mão de obra, encargos sociais (40% sobre o valor da
despesa com mão de obra), operações de máquinas/equipamentos, veículos e
materiais consumidos ao longo do ciclo da cultura; e b) custo operacional total
(COT): o COE acrescido da contribuição à seguridade social rural, CSSR (2,3% do
valor da renda bruta), depreciação de máquinas e do seringal, encargos
financeiros que se referem aos juros de custeio à taxa de 6,75% a.a. sobre o
COE, despesas com mão de obra de fiscal e serviços de assistência técnica. Os indicadores de análise de resultados utilizados
são os seguintes: receita bruta (RB)
é a produção x preço; margem bruta (MB) é a receita bruta/custos, em
percentagem; ponto de nivelamento (PN) é a produção necessária para remunerar
os custos; lucro operacional (LO) é a receita bruta menos o COT; e índice de
lucratividade (IL) é a relação percentual entre LO e MB. Para efetuar o levantamento dos questionários,
realizou-se treinamento aos componentes da Comissão Especial para Estudo de
Custos e Preços Reais de Borracha Natural6, na metodologia do IEA.
Em seguida, foram levantados dez questionários em campo com vistas a compor um
sistema de produção representativo da região noroeste do Estado de São Paulo.
Na sequência, realizaram-se três rodadas de sistematização, efetuando-se
alterações e ajustes para o sistema, composto da seguinte maneira: área
plantada de 50 hectares, clone RRIM 600, espaçamento de 2,5 x 8 m2,
20 m2/pé, 500 pés plantados, 400 em produção, 25 anos de idade do
seringal, sistema de sangria D4, produtividade de 7 kg de coágulo/pé, 2.800 kg
de coágulo/hectare, e ano agrícola set./ago. de 2014. 3 – ANÁLISE DOS RESULTADOS O COT para o kg de coágulo foi
estimado em R$2,32. O maior peso nos custos é o da mão de obra, que soma 37,3%
(comum, sangria e tratorista), seguido dos custos dos encargos sociais (15%), neste caso, estimado em 40% do valor das despesas com mão
de obra. Seguem-se as operações com
defensivos (7,8%), máquinas (7,6%) e adubos (6,4%) (Tabela 1). O custo em si representa pouco em termos de gestão,
por isso, realiza-se a avaliação dos indicadores de rentabilidade, os quais
conseguem situar a produção da seringueira em relação ao seu desempenho
econômico. Isso é feito para o COT, produção em coágulo (Tabela 2). A receita bruta estimada em função de preços médios
dos últimos 3 anos (2012, 2013 e 2014) gera margem bruta positiva, porém
pequena, mas superior quando comparada às margens brutas das duas situações de
preços, médio de 2014 e de setembro de 2014. O ponto de equilíbrio representa o nível de
produção em que a receita é igual ao custo. No cenário é de 2.635 kg de coágulo, ou seja, a produção de
2.800 kg de coágulo custa 2.635 kg de coágulo, restando 165 kg para remunerar o
capital e a terra, sem contar a retirada do empresário e outros custos aqui não
contemplados. Nos dois outros cenários, a produção é inviável por custar mais
em kg de coágulos do que se produz. O lucro operacional espelha fielmente o quadro
descrito acima, referendado pelo baixo índice de lucratividade na primeira
situação e negativos nos dois restantes. Conclui-se que a situação econômica dessa importante
atividade encontra-se em estágio comprometedor, dado o nível baixo de preços
recebidos pelos produtores de seringueira. Note-se que a região noroeste do Estado
de São Paulo é essencialmente agrícola e, tendo essa atividade afetada,
presume-se que todo o ciclo comercial e agroindustrial também o será
diretamente, sem ou com poucas alternativas econômicas no setor industrial para
gerar renda e emprego. 4
– CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo realizado demonstra que, nos níveis de
preços atuais, a atividade da seringueira em São Paulo, a considerar o sistema
de produção avaliado como representativo, encontra-se em situação de crise.
Sabe-se, ademais, que ainda se importa borracha para abastecer o mercado, pois
o Brasil produz apenas cerca de 30% a 40% de suas necessidades e, dada essa
condição de falta de incentivos, a cadeia de produção poderá ser afetada para
pior, com possíveis decréscimos de produção futura. Várias ações devem ser tomadas, tanto pelo lado dos
produtores, que passam a viver em condições que os obrigam a fazer uma gestão
profissional de custos, como pelo lado da política pública. Nesse caso, deve-se
lembrar que duas características devem ser levadas em conta. A primeira,
conforme Ambrósio7, consiste na sustentabilidade ambiental, devido
ao fato do sistema dessa cultura utilizar mais recursos naturais para a
produção de borracha do que recursos não renováveis, quando medidos em unidades
equivalentes. E a segunda diz respeito ao potencial de utilização da força de
trabalho. A partir de dados do IEA e da Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI) sobre a área em produção e produtividade do trabalhador no
Estado de São Paulo, constatou-se que a seringueira é a segunda mais
importante, dentre as culturas permanentes, demandando 9,7 equivalentes-homens-ano
(EHA) a cada 100 hectares colhidos. Esta cultura perde apenas para o café (14,8
EHA), superando a laranja (4,9 EHA) e o que resta da colheita manual da
cana-de-açúcar (4,2 EHA)8. _______________________________________________ 1ROSMANN, H. Entenda a queda dos preços pagos
aos heveicultores. In: CICLO DE PALESTRAS SOBRE A HEVEICULTURA,
2014, São José do Rio Preto. Anais
... São José do Rio Preto: APADOR, nov. 2014. 2MARTELLO, A. Mercado prevê crescimento zero do PIB e
inflação de 7,15% em 2015. G1-Economia Online, Brasília, 9 fev. 2015.
Disponível em:
<http://g1.globo.com/economia/mercados/noticia/2015/02/mercado-preve-pib-zero-e-inflacao-de-715-em-2015.html>. Acesso em:
Fev. 2015. 3INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Lavoura permanente 2013.
Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=sp>. Acesso em:
fev. 2015. 4Levantamento
IEA/CATI para 2014 informa uma produção da ordem de 167 mil toneladas e área
colhida de 52.000 hectares. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de
dados. São Paulo: IEA. Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/subjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma=1>. Acesso em:
fev. 2015. 5MARTIN, N. B. et
al. Sistema integrado de custos agropecuários. Informações Econômicas, São Paulo, v. 28, n. 1, jan. 1998. 6SÃO PAULO
(Estado). Portaria Codeagro 5, de 25 de abril de 2014. Diário Oficial do
Estado de São Paulo, São Paulo, 29 abr. 2014. 7AMBRÓSIO,
L. A. Síntese emergética da heveicultura. Instituto de
Economia Agrícola, Relatório 2014. (mimeo). 8EHA/100 ha - é a quantidade de força de trabalho demandada por hectare,
medida em equivalente-homem-ano por 100 hectares. Ver em PETTI, R.; FREDO, C. E.
Emprego formal na cana-de-açúcar. Análises
e Indicadores do Agronegócio, v. 4, n. 4, abr. 2009. Palavras-chave: custos,
rentabilidade, seringueira.
Data de Publicação: 20/02/2015
Autor(es):
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Alceu De Arruda Veiga Filho Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor