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Inviáveis Preços
Finalizou 2014 sob a cena da repentina queda nas
cotações do petróleo (rainha das commodities).
Decisão da OPEP em manter sua oferta ao redor dos 30 milhões de barris ao dia2
associada à súbita elevação da produção estadunidense3, que já
supera os 9 milhões de barris/dia em uma clara estratégia de alcance da
autossuficiência energética, acelerou a tendência de queda nas cotações do
produto. Tal feito é resultado da difusão acelerada da tecnologia de
fraturamento de rocha de xisto para a produção de hidrocarbonetos4,
processo custoso e ambientalmente bastante questionável, porém, a pleno vapor
naquele país. Ademais, a economia global ainda não conseguiu
trilhar nova rota de crescimento pós-ruptura de 2008. Estagnação europeia e
japonesa, ligeiro crescimento da economia estadunidense – porém, sem criação de
empregos e a desaceleração chinesa - remetem a um contexto de redução da
demanda por commodities em geral e
petróleo em particular, desencadeando incremento de estoques e acentuando a
baixa dos seus preços. Concomitantemente, o conflito na província da Crimeia
e o movimento separatista em demais regiões ucranianas desencadearam no
Ocidente levantamento de sanções comerciais/econômicas contra a Federação
Russa, grande exportador de petróleo e gás para a União Europeia.
Aparentemente, assiste-se à reedição da Guerra Fria – temática ainda
controversa no debate, em que, ao invés da exibição do poderio armamentista,
passa-se na atualidade para a adoção de mecanismos de estrangulamento do
mercado como bloqueio ao acesso a fornecedores de gêneros de variadas
naturezas, inclusive os de primeira necessidade, suspensão das aquisições de
itens de fabricação russa e substituição de insumos oriundos daquele
território. A queda nas cotações do petróleo contribui na aceleração da
produção de crise fiscal na Federação, sendo provável que em algum momento
demandará socorro financeiro das instituições responsáveis pela saúde econômica
das nações (FMI, Banco Mundial, Banco dos BRICS). A sinalização de que haverá elevação nas taxas de
juros por parte do Federal Reserve (banco central estadunidense) estimula a
indústria petroleira a incrementar sua produção (amortizar o endividamento
antes da majoração dos juros) e, paralelamente, pressiona os armazenadores que,
ao arcar com maiores custos financeiros de estocagem, repassam-nos aos preços
correntes, sendo esse movimento contraditório mais um fator de depressão no mercado
do produto. É sabido que o custo dos derivados do petróleo na
matriz produtiva dos mais distintos segmentos é bastante significativo, estando
a economia global a transitar pela vizinhança da deflação. A drástica redução
nas cotações do petróleo e seu repasse aos derivados poderão lançar a economia
global definitivamente na rota da deflação, produzindo a mais temível das
doenças que a economia pode exibir. Trata-se, portanto, de espécie de jogo
perde-perde com potencial de acelerar conflitos e o alastramento da
desigualdade e da penúria das populações mais fragilizadas. Aparentemente, o atual contexto possui
capacidade potencial de promover ação disrruptora da atividade econômica à
semelhança daquilo que se observou em 2008. Lançou-se sobre a dinâmica dos
negócios um recrudescer da incerteza, acercando perigosamente o colapso. Assim, o longo período de cotações do petróleo em
altos patamares permitiu a viabilização econômica/estratégica da tecnologia do
fraturamento que desencadeou rearranjo da matriz econômica/organizacional
global a partir da postura do cartel dos concorrentes. A destruição criativa
far-se-á valer por meio de onda de fusões & aquisições (F&A) entre as
empresas líderes, incrementando a concentração do capital e restringindo a
margem de manobra para as nações adotarem medidas contraciclícas, largamente
empregadas entre 2009 e 2010. Estabelecer patamar para as cotações do petróleo
exige quadro normativo, ainda inexistente – cotações formadas pelo mercado,
porém, de elevado custo social, tendo em vista que os países encontram-se
esgotados após a dinamização das despesas visando debelar a passada crise. A
busca de tal novo arranjo, caso conduzido por fóruns de decisão supranacionais,
também carece de mecanismos de financiamento do esforço, pois entre os países
que compõem tais fóruns encontram-se aqueles que se beneficiam dos preços baixo
(China, por exemplo). A solução de mercado pautada pela reversão do ciclo
econômico parece inadequada, na medida em que, desde 2008, espera-se tal
inflexão, porém, não ainda atingida. Mesmo a exceção representada pelos Estados
Unidos é, aparentemente, insustentável, pois incrementou os níveis de
desigualdade na sociedade civil, abalando o espírito do way of life. A concentração do capital como resultado da queda
nas cotações do petróleo (e das demais commodities
em função da tendência histórica de proporções de paridade entre elas) pode
ensejar a construção de arquitetura capaz de administrar os preços, o que
representaria solução de curto prazo para a crise. A aposta é arriscada na
medida em que, para se contrapor a um cartel, chancela-se a construção de
outro. Para o agronegócio brasileiro,
os efeitos combinados de estresse econômico e geopolítico
poderão promover, por hipótese, acirramento da competitividade nos mercados de commodities devido sua provável
contração. Tal fenômeno pode ser benéfico, pois preços mais baixos exigiram
maiores subsídios por parte de nossos concorrentes, conduzindo-os a um
esgotamento da política de intervenção nos mercados. Os efeitos podem variar
dependendo do atributo de elasticidade/inelasticidade de cada produto. Na
agroenergia pode ser devastador, enquanto no café a demanda global permanece
relativamente estável devido a sua conhecida inelasticidade. Inicia-se 2015 sob a incerteza dos efeitos da
chamada petrorruptura5. A abrangência e profundidade das mudanças
que induzidas pelo fenômeno serão ainda objeto de averiguação permanente. A
instabilidade provocada pode redirecionar a dinâmica econômica produzindo
crescimento mais baixo, demanda mais fraca e necessidade de adoção de inovações
capazes de intensificar a tenacidade dos sistemas produtivos. No agronegócio
café não será diferente. ____________________________________________________ 1O autor agradece
os comentários e as sugestões do Agente de Apoio a Pesquisa Científica e
Tecnológica do IEA, Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2Isso sem
mobilizar toda a capacidade ociosa da Arábia Saudita. que permanece em stand by para acirrar a guerra de preços,
se ela vier a se concretizar. 3E também
canadense, porém, por meio da extração a partir de areias betuminosas, com
custos ambientais igualmente elevadíssimos. 4Os custos do
fraturamento rondam US$70/barril. Componente importante na matriz de formação
desse custo consiste no pagamento de renda aos proprietários particulares das
jazidas exploradas. 5VEGRO, C. L. R.
Petrorrupturas. Análises e Indicadores
do Agronegócio, São Paulo, v. 9, n. 12, dez. 2014. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13551>. Acesso em:
jan. 2015. Palavras-chave:
preços relativos, cotações de petróleo, cotações de commodities.
Data de Publicação: 14/01/2015
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor