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Terceira Florada dos Cafezais Brasileiros Eleva as Expectativas de Colheita
Ao longo de novembro de 2014, manteve-se a
trajetória de desvalorização da moeda brasileira no mercado futuro da
BM&F-Bovespa, fenômeno que reflete o contexto de baixa previsibilidade no
qual foi lançada a economia brasileira em razão da indisciplina em sua condução
(Figura 1). Assim, a cotação média para os contratos com vencimento em julho/2015,
por exemplo, assinalou paridade de US$1,00=R$2,71, sinalizando desvalorização
de 5,20% no período frente à cotação de fechamento registrada em 02/12/2014. Dois momentos distintos e inversos protagonizaram a trajetória
do mercado de juros futuros em novembro na BM&F-Bovespa. Até a terceira
semana, a tendência era de alta nos contratos que foi revertida a partir da
quarta semana do mês. Essa mudança de percepção dos investidores está associada ao anúncio da nova equipe econômica
que assumirá o segundo mandato da atual presidente cujo perfil, de natureza
ortodoxa, atende ao imaginário dos investidores. Ainda assim, a cotação
futura para julho/2015 registrou 12,07% a.a., ou seja, 7,29% acima da
referencial de 11,25% a.a. (SELIC) (Figura 2). Comprova-se estatisticamente que,
em anos de ciclo bienal de baixa, o primeiro trimestre do ano constitui período
de alta nas cotações internacionais do arábica, influenciado,
especialmente, pela entressafra brasileira e o recrudescimento do inverno no
Hemisfério Norte. Assim, na Bolsa de Nova York, os contratos de café arábica
(em segunda posição – março/2015) exibiram três semanas consecutivas de
incremento das cotações médias futuras com pequena variação na margem na quarta
semana (Figura 3). Na posição futura de julho/2015, a média das cotações da
terceira semana foi de US$¢197,25/lbp. As incertezas quanto ao percentual de
pegamento das duas primeiras floradas foram parcialmente minimizadas na
terceira pois, com o retorno das precipitações e a normalização do clima,
aumentou a chance do país ao menos a colheita da safra 2014/15, trazendo as
cotações para patamar inferior (Figura 3).
A cotação futura do café de julho/2015 do café em
Nova York, trazido para São Paulo (diferença entre o preço de NY e da BM&F
para o primeiro vencimento em aberto), convertido pelo dólar médio futuro de
julho/2015 da BM&F, foi de R$634,84/sc. (na média das cotações de novembro/2014).
Se comparada com a média dos preços recebidos, no mesmo mês, pelos
cafeicultores em Franca, de R$458,05/sc. 60 kg de café beneficiado bebida dura2,
tem-se R$176,79/sc. de valor adicional para aqueles que optarem por contratar
concomitantemente o hedge do café na
bolsa estadunidense e o câmbio na bolsa paulista. Na Bolsa de Londres, o mercado de robusta acompanhou
as variações nas cotações de arábica, elevando-se na média das três primeiras
semanas, sem exibir, porém, queda na média da quarta (Figura 4). Na posição
futura de julho/2015, a média das cotações na quarta semana do mês registrou
US$¢95,81/lbp, mantendo o diferencial para o arábica ligeiramente acima de 2x1,
considerado patamar psicológico além do qual a substituição do arábica no blend se torna irrefreável. Em novembro, os gestores dos fundos e grandes
investidores incrementaram suas posições compradas em café arábica. Na primeira
semana, a posição líquida contabilizava 28.231 contratos saltando para 35.433
na última semana do mês. Tendo o carregamento de contratos avançando
positivamente, sinaliza que a maior parte do mercado entende que o suprimento
para 2015/16 poderá ser comprometido, com consequente repercussão sobre as
cotações (Tabela 1). Em novembro/2013, comparativamente, havia deficit na posição líquida de contratos
transacionados pelos fundos e grandes investidores da ordem de 36 mil contratos
vendidos. Essa constatação denota a avidez dos investidores pelo ativo café3. Se 2014 tem sido marcado por grandes incertezas para
a produção e preços do café no Brasil, há uma probabilidade de que elas
persistam em 2015 em razão do pegamento majoritário de frutos ocorrer somente
na terceira florada. Como consequência desse fenômeno, existe a possibilidade
de que as cotações se mantenham alavancadas até às vésperas do início da
próxima colheita. ______________________________________________ 1Os autores
agradecem o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido
pelo Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de
sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>.
Acesso em: dez. 2014. Aparentemente, os intermediários atuantes na
comercialização de café não acompanharam prontamente a elevação das cotações
internacionais, refletindo o momento de incerteza prevalecente no mercado. 3VEGRO, C. L. R.;
SCHOUCHANNA, F. Café arábica: curva futura das cotações. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 8, n. 12, dez.
2013. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=12854>. Acesso em: dez. 2014. Palavras-chave: cotações futuras,
mercado de café, Bolsa de Valores.
Data de Publicação: 16/12/2014
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Félix Schouchana (felixsh@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor